sábado, 23 de fevereiro de 2013

Capítulo 21 - No light, No light


Trecho da música “No light, No light” – Florence + the machine :
You are the hole in my head (Você é o buraco na minha cabeça)
You are the space in my bed ( Você é o espaço na minha cama)
You are the silence in between (Você é o silêncio entre)
What I thought and what I said (o que eu pensei e o que eu disse)

You are the night-time fear (Você é o medo noturno)
You are the morning when it's clear(Você é a manhã quando está claro)
When it's over you’re  start (Quando acaba, você é o início)
You're my head, you're my heart (Você é a minha cabeça, você é o meu coração)

No light, no light in your bright blue eyes (Sem luz, sem luz nos seus brilhantes olhos azuis)
I never knew daylight could be so violent (Eu nunca soube que o a luz do dia poderia ser tão violenta)
A revelation in the light of day (Uma revelação à luz do dia)
You can’t choose what stays and what fades away (Você não pode escolher o que fica e o que desaparece)


Nicholas Narrando

                Eu não conseguia processar bem tudo o que tinha acabado de ouvir. Meu pai. Aquele homem que me criou, que me educou durante todos esses anos é um crápula. Como ele poderia ser capaz de fazer todas aquelas maldades? Eram pessoas inocentes! Ele foi o responsável de uma delas se transformar numa assassina fria e cruel. Isso tudo foi por causa da sua ambição em conseguir a maldita empresa só pra ele. Fiquei um tempo tentando refletir toda essa história. Me doía saber que sou filho de um homem que fez tanta crueldade por poder. Me doía ainda mais saber que a Miley, por mais que eu não queira, a mulher que eu amo tanto, sofreu coisas absurdas antes de ser o que é.
                Chad tentou me empurrar mais algumas bebidas para poder esquecer e relaxar, mas eu acho que agora seria impossível tomar até um gole de água. Como se um nó estivesse formado na minha garganta e impedisse a passagem de qualquer líquido.
                -Agora que você sabe de tudo, finja que não ouviu nada, ok? Se soubessem que você descobriu sobre a Miley, sobraria para mim. Ela recusa a demonstrar fraqueza para as pessoas, e acho que essa história ainda não se cicatrizou nela. Eu só contei para você porque o seu pai estava envolvido nisso e acho que você deveria mesmo saber quem é o verdadeiro Paul Jonas. Talvez assim, você possa nos ajudar de verdade nessa missão. – ele disse logo depois de tomar seu terceiro drinque.
                -Como eu falei, eu não vou contar para ninguém. Ninguém vai desconfiar de nada. – eu disse me levantando da cadeira.
                -Para onde você vai? – perguntou confuso.
                -Eu vou sair para respirar melhor e poder absorver essa história toda. - eu falei pegando uma nota de cinquenta dólares e deixando em cima do balcão, não me importando com o preço exato da minha bebida que eu nem sequer toquei.
                Saí do bar rapidamente e dei partida com o meu carro. Acelerado, levei o meu Ashton Martin até um lugar já conhecido. Estacionei em frente à praia e saí do automóvel e me apoiei no capô do carro para observar o mar a minha frente.  De alguma forma, o cheiro, o barulho das ondas ou até mesmo a visão de mar quase infinito, me deixa mais calmo. Por isso escolhi vir para cá. Para poder botar minha cabeça no lugar e decidir o que fazer a partir de agora. 
                Cenas se formavam em minha mente de acordo com os relatos de acordo com o Chad. O Billy sendo assassinado na frente da filha. A insistência da Miley por justiça e sendo totalmente ignorada por um policial corrupto. Lágrimas de desespero banhando seu rosto delicado. Miley enclausurada num quarto de um manicômio ouvindo todas as noites gritos insanos de outros pacientes.
                Tentei segurar lágrimas que ameaçavam cair de meus olhos, engolindo em seco e tentando respirar profundamente o ar carregado com o cheiro de maresia. Passei nervosamente meus dedos entre meus cabelos. Eu não posso fazer nada. Miley não pode saber que eu descobri sobre ela. Com certeza ela se sentiria humilhada e poderia perder a cabeça e tomar atitude precipitada. Mas não posso evitar sentir tristeza em saber o que tudo o que aconteceu com ela foi por culpa do meu pai. A amo demais para encarar isso com tanta facilidade. Por uma parte eu também me sinto mal. Como se apenas o fato de eu ser um herdeiro do Paul já me desse a culpa por tudo o que ela passou.
                Miley Narrando
                Sentada de frente a televisão, as imagens se passavam despercebidas por mim e os sons totalmente ignorados. Eu decidi descer para a sala para evitar qualquer drama.  Abracei meus joelhos, encolhendo meu corpo. A cada dia que se aproxima da minha tão esperada vingança, mais as memórias me assombravam cada vez mais. Como se estivessem testando a minha resistência. Realmente, elas conseguem fazer seu papel, me fazendo sentir cada vez mais enfraquecida.
                O barulho da campainha me fez despertar do meu próprio mundo. Então achei melhor eu mesma ir atender. O Chad ainda estava em seu quarto descansando do seu porre e o Steve subiu para seu quarto para tirar mais uma soneca e fazer mais planos, como sempre. Quando atendi a porta dei de cara com o intrometido do Nicholas. Rolei olhos ao vê-lo. Só falta ele ficar me chateando de novo para contar a verdade.
                -O que você quer? – eu perguntei impaciente.
                Ele estendeu um aparelho de celular para mim. – O Chad esqueceu no carro. – ele disse sem se afetar com a minha grosseria. E isso me pareceu muito esquisito. Talvez ele esteja tentando me ignorar para não discutir mais comigo.
                Eu peguei o celular em sua mão e inevitavelmente meus dedos roçaram nos seus. Puxei rapidamente o celular para perto do meu corpo e afastando nossas mãos. Eu ainda podia sentir o calor da sua pele irradiada na minha. Por um motivo totalmente estranho, cruzei os braços em frente ao meu corpo, me sentindo um pouco desconfortável com a sua presença. Levantei meu olhar ao perceber que eu fitava um ponto qualquer do chão e encontrei seus olhos castanhos me encarando de um modo totalmente indiscreto. Como se estivesse avaliando o meu semblante para descobrir o que penso. Eles não carregavam raiva, muito menos aquela paixão iludida... Me pareciam tristes. Respirei fundo decidi quebrar o silencio entre nós.

-Só isso? - perguntei fazendo Nicholas acordar de seus devaneios. Ele balançou a cabeça em afirmação.

-Só. - ele disse um pouco antes de me dar as costas e voltar o seu caminho para o seu carro.

 Estranho... Ele não insistiu novamente em contar a minha verdadeira história com o xerife Holmes. Normalmente ele ficaria teimando até que eu perdesse a paciência para contar.

-Nick! – eu o chamei. Ele automaticamente virou-se para mim de novo, parando no seu caminho até o seu automóvel. – Você desistiu de me chatear para contar aquela história? – eu me apoiei no batente de porta.

Ele deu de ombros. – De um jeito ou de outro, você nunca me contaria mesmo. Se você tiver alguma coisa pessoal com meu pai ou com o xerife isso é problema seu. Como você me mesma disse, não é nada que eu me importe. – ele respondeu de um modo frio e impassível.

De alguma forma, a sua resposta me surpreendeu. Então se eu tiver algum passado ruim com o pai dele, ele não vai se importar? Ele não se preocupa com o seu pai e muito menos de mim. Ele conseguiu superar rápido... Não sei por que, mas aquilo me incomodou. Talvez porque eu me acostumei em sempre ser o centro da sua atenção.

-Que bom. – eu respondi tentando ser tão fria quanto ele.

-Era só isso que queria falar? – ele perguntou.

-Não, amanhã nós vamos te levar ao banco para ver o esquema do seu acesso à conta bancária do seu pai. Nos encontramos uma hora da tarde em ponto aqui, ta bom?

-Tá. – ele assentiu. – Tchau, Miles. – ele pigarreou, se dando conta que me chamou pelo apelido. – Miley.

-Tchau. – eu esbocei um pequeno sorriso.

Nicholas Narrando


                Foi tão difícil encará-la e fingir que não sei de nada, que eu não me importo com nada. Por mais cruel que ela tenha sido ultimamente, eu ainda podia sentir a melancolia em seus olhos. Eu tive que me conter em não abraçá-la e me pedir desculpas por tudo o que meu pai fez. Mas infelizmente ela me odiara por isso. Além do mais, ela não está certa em escolher a vida do crime para preencher o vazio que sente. Isso nunca será uma justificativa. Ela poderia ter feito pessoas sofrerem como ela sofreu com meu pai. Mas como eu posso convencer isso ao meu coração, para me livrar dessa culpa que nem é minha, que só quer saber de confortá-la e de amá-la?

                Eu estacionei o meu carro em frente a minha casa. Minha casa... Acho que nem isso eu posso considerar agora, não é mesmo? Foi construída com dinheiro que deveria ser de outras pessoas. Subi a escadaria daquela enorme mansão em que eu costumava chamar de lar. A sensação é como se eu estivesse entrando numa casa de estranhos. Eu entrei na casa e percebi a maleta do meu pai em um dos sofás. Ele já deve ter chegado.

                -John, onde está meu pai? –eu perguntei para o mordomo.

                -Eu acho que o Sr. Jonas está no escritório dele. 

                -Ok, obrigado.

                Obviamente eu não contaria tudo o que sei para ele. Eu só pioraria as coisas. Mas eu precisava pelo menos confirmar pela boca do meu próprio pai se ele seria capaz disso. Subi as escadas até o segundo andar e bati algumas vezes na porta.

                -Pode entrar. – Paul disse.

                Entrei no cômodo e me deparei com meu pai vasculhando a sua escrivaninha, como se estivesse à procura de alguma coisa.

                -Nick, por acaso você viu onde está a minha agenda de contatos? Eu juro que a ultima vez que eu a vi, ela estava guardada aqui na gaveta. Eu já estou até começando a desconfiar que um dos empregados pegou. Você sabe que só tem contato de pessoas importantes, né? – ele falava ainda sem tirar os olhos da sua escrivaninha toda bagunçada.

Com certeza a Miley pegou. Eu lembro sobre o que o Joe me disse que havia a pego mexendo nas coisas de meu pai aqui no escritório. Ela não deve ter perdido tempo e levou a agenda. Talvez para conseguir contato com pessoas que a possam ajudar a armar contra meu pai... Quer saber? Tomara que consiga, porque ele merece cair do seu pedestal.

-Eu acho que peguei para procurar o número do Dj para minha festa e acabei não encontrando. Eu acho que esqueci na casa do Brian. Se quiser eu busco para você amanhã. – eu menti. Pelo menos assim, ele não teria que botar a culpa em nenhum empregado e ninguém seria demitido por uma coisa que não fez.

                -Então tá. Assim eu fico mais aliviado. Você sabe que não pode deixar nas mãos de qualquer um, não é? – ele me advertiu.

                -Eu sei. - eu respondi automaticamente. –Pai, eu estou com uma dúvida. Sabe, logo depois das férias eu vou entrar na faculdade, então só agora que eu estou me tocando mesmo que o meu futuro só depende de mim agora...

                Ele ignorou a bagunça no móvel a sua frente e deu mais atenção a mim. Um pequeno sorriso orgulhoso tomava conta de seu rosto.

                -Eu sei, e acho que você tomou a decisão certa, filho.

                -Pai, o que eu teria que fazer para conseguir o que quero? O que você é capaz de fazer para conseguir a liderança? – eu perguntei me aproximando mais dele e avaliando com mais precisão o seu rosto.

                Ele parou um pouco para refletir nisso, lembrando-se do que fez ao Billy e a Miley, talvez. Ou até mesmo outras coisas ruins com outras pessoas. Se ele foi capaz de fazer o que fez, pode fazer qualquer coisa. Mas eu queria ouvir isso vindo dele.

                - Qualquer coisa. – ele voltou seu olhar para mim. – Custe o que custar. – ele se levantou da sua cadeira e se aproximou de mim, apoiando sua mão em meu ombro. – Filho, infelizmente a vida não é tão fácil quanto vocês, jovens, imaginam. Você nunca vai chegar ao poder se não lutar por isso com unhas e dentes. – disse olhando em meus olhos de um modo firme. Espero que ele não perceba o ódio e o nojo que eu sinto por ele agora estampado no meu olhar. – Mas você não precisa se preocupar muito com isso. Você é o herdeiro da empresa, isso ninguém vai conseguir tirar de você. Além do mais, eu sei que você é bastante destemido quando quer, e que faria o que for preciso. – Não, nunca faria qualquer coisa por dinheiro. Não quero ser um homem repugnante como o meu pai.

                Eu balancei a cabeça, fingindo compreensão. – Obrigado pela dica.

                -Era só isso? – ele perguntou sorrindo.
               
                -Aham.
               
                -Essa fase é meia confusa mesmo, a gente começa a se preocupar com o nosso futuro, não é? – ele disse sorrindo.

                -Bastante. – eu não conseguia responder nada além de poucas palavras. Tinha medo de perder a paciência e falar mais o que deveria.

                -Seu futuro já  está traçado, garoto. Não tem necessidade para se esquentar com isso. – ele riu. Eu tentei fingir uma retribuição com um sorriso. Espero mesmo que tenha parecido um sorriso.

                -Você pode avisar o resto do pessoal que eu não vou jantar. Estou muito cansado, acho que eu vou pra cama mais cedo. - eu disse colocando as mãos no bolso.
               
                -Tudo bem. Tenha uma boa noite. – ele falou enquanto arrumava toda a sua escrivaninha do jeito que estava antes.

                -Para você também.

Miley Narrando

               
                Eu toquei apenas uma vez a campainha da enorme casa e como já era de se esperar, o mordomo atendeu prontamente. Ele abriu um simpático sorriso. Ainda bem que eu não acordei com um humor tão terrível quanto eu imaginei, pelo menos eu ainda tenho humor o suficiente para fingir simpatia com as pessoas.
                -Boa tarde, senhorita Cyrus. – ele cumprimentou.
                -Quantas vezes eu preciso pedir para você me chamar só de Miley? – eu perguntei em um tom descontraído.
                -Tudo bem. Boa tarde, Miley. – ele respondeu segurando o riso.
                -Agora, sim! Boa tarde, John. -  eu disse adentrando a casa.
                -Miley! Como você está, querida? – Christine apareceu descendo as escadas com o mesmo impecável sorriso de sempre.
                -Eu estou ótima, tirando o fato do Nick está atrasado há uma hora. Nós combinamos para ele me buscar para almoçarmos juntos num restaurante novo e ele simplesmente não apareceu. – eu disse. Sim, o Nick está atrasado uma hora comigo e com o Steve. Já era para ele estar naquele maldito banco! O que está dando nesse cara?
                -Sério? Ele ainda está dormindo. Acho que ele deve ter dormido tarde e perdeu a hora... Bom, o que foi estranho já que ele foi para o quarto dele antes de servir o jantar... Mas enfim, por que você mesma não vai lá chamá-lo? – ela perguntou animada com a sua própria ideia. – Só não pode brigar com o coitadinho agora! – nós duas rimos.
                -Só vou brigar um pouquinho... – eu disse bem humorada. – Deixa que eu acordo ele com jeitinho, não vou matar seu enteado. Pelo menos não hoje. – nós gargalhamos novamente.
                -Se hoje ele ainda estiver vivo, tudo bem para mim.
                Eu lancei mais um simpático sorriso para ela e subi as escadas. Dormindo? Aquele folgado está dormindo até agora? Que pessoa normal dorme até às duas horas da tarde com um compromisso – muito- importante? Ele vai ter que me ouvir muito! Nicholas vai ver só como eu vou acordá-lo com “jeitinho”.
                Abri a porta de seu quarto que estava encostada e entrei no cômodo silenciosamente. Fechei a porta novamente para evitar que ninguém fique ouvindo a nossa conversa ou a minha tentativa de massacrá-lo e acordá-lo ao mesmo tempo.
                -Acho melhor você levant... – eu comecei falando alto. Mas logo meu olhar se direcionou para ele.
                Nick dormia profundamente como um bebê. Seus cachos levemente bagunçados davam ainda mais um ar adorável para visão a minha frente. Maldito seja por ser tão fofo dormindo! Ele apenas vestia uma calça de moletom, deixando todo o seu tronco a amostra. Os seus lençóis estavam jogados no chão. Acho que alguém não teve uma noite muito boa...
                -Anda, Nicholas. Acorda! – eu falei. Ok, eu não falei alto o suficiente para acordá-lo. Mas ele tem um poder de persuasão irritantemente poderoso durante o seu sono. Como a sua mãe o acordava quando criança para ir para o colégio?
                Eu me sentei ao seu lado na sua cama.
                -Nicholas... – eu o chamei, mas dessa vez mais baixo. Eu me deitei de lado, virada para ele, o observando dormir. – Nick... – sussurrei.
                Droga! Como sou covarde!Ah, quer saber? Depois eu o chamo daqui a dois minutos, ele deve estar com um sono muito pesado...
                Eu fiquei por um tempo analisando o seu rosto. O balanço suave da sua respiração me acalmava de algum jeito. O seu perfume marcante estava impregnado por toda a cama, me deixando até um pouco confusa sobre o que exatamente eu estava fazendo ali. Deixei escapar um sorriso quando vi um dos seus cachinhos caído na sua testa. Peguei a mecha de cabelo e joguei para trás, juntando com o resto de seu cabelo.
                Nicholas se mexeu e se espreguiçou, sinalizando seu despertar. Antes que ele abrisse os olhos me levantei rapidamente ficando de joelhos sobre o seu colchão.
                -Que saco, hein! Como você demora para acordar! – eu reclamei cruzando os braços. – Fiquei te chamando por um tempão! – eu sei que menti, mas é claro que eu não vou dar o braço a torcer.
                Ele coçou os olhos, ainda um pouco incomodado com a luz do sol que invadia seu quarto pela vasta janela. Ele piscou mais algumas vezes, talvez não acreditando no que via ao seu lado.
                -Miley? – ele perguntou com a voz ainda carregada de sono.
                -Não, Elvis Presley. – eu respondi irônica.
                Ele se sentou ficando na minha altura, ainda um pouco confuso com a minha presença.
                -O que você está fazendo aqui?
                -Eu vim te acordar, já que você não sabe fazer isso sozinho, não é? Por acaso você sabe que horas são?
                -Não... – ele franziu o cenho estranhando a minha pergunta.
                -São duas horas da tarde, sua anta! Eu não combinei com você para encontramos uma hora em ponto?  – eu levantei a voz. Ótimo, só agora eu tenho coragem de falar mais alto...
                Ele abriu a boca e levantou as sobrancelhas, se lembrando do meu pedido (e agora eu acho que deveria ter sido uma ordem). – Ah é! Eu esqueci disso. – Eu ainda estou impressionada com a naturalidade em que ele diz isso.
                -Então levanta logo daí e vai se arrumar! – eu ergui mais o meu corpo colocando as mãos na cintura. Mas eu perdi um pouco do meu equilíbrio quando estava prestes a cair da beirada da cama e tentei me equilibrar com os braços para não cair no chão, mas foi totalmente inútil.
            Antes que eu pudesse sentir minha cabeça ganhando um galo, Nicholas me pegou pela cintura e puxou mais para perto de si. E instintivamente me segurei em seus braços descobertos. Com os nossos corpos colados eu pude sentir a respiração falha dele batendo em mim. Seus olhos castanhos se encontraram com os meus e eu não soube exatamente o que fazer. Apenas fiquei o fitando aqueles olhos de cor chocolate tentando pensar em alguma coisa. Seu braço ainda se encontrava em volta da minha cintura, me apertando contra o seu tronco desnudo, atrapalhando ainda mais o meu raciocínio. Uma estranha sensação tomava conta de mim. Um tipo de pontinho de calor que se espalhava por mim. Não era um calor de excitação. Era um calor estranhamente confortável e confuso que fazia meu coração disparar e comprimia meus pulmões, me fazendo esquecer de respirar devidamente. Eu sabia muito bem que se ficássemos mais tempo juntos desse jeito nos beijaríamos. Não! Quer dizer, ele me beijaria. Se bem que não seria muito ruim beijar aqueles lábios avermelhados e convidativos... Olha, eu não tenho culpa disso. Com toda essa confusão e estresse sobre a missão, automaticamente minha tensão sexual aumenta junto com a emocional. É isso. Só isso...Eu pisquei algumas vezes, acordando para a realidade e desviei o meu olhar de seus olhos.

                -É... obrigada. – eu agradeci um pouco desconfortável.
                -Você ia cair muito feio. – ele disse logo antes de soltar uma risada. Eu o acompanhei imaginando a cena cômica que seria se eu caísse da sua cama.
                Nicholas então se deu conta que ainda estava me segurando, me soltou. Tentei ignorar o fato de o meu corpo protestar no momento que separei da sua pele quente. 
-Se você risse de mim, estaria encrencado comigo. Mais do que já está! - eu adverti cruzando os braços, me lembrando do motivo de eu estar aqui.

                -Já estou encrencado do mesmo jeito... – deu de ombros.
Mas em seguida, ele perdeu totalmente o foco do assunto encarando o meu colo exposto por um decote que valorizava os meus seios. Minha boca se abriu não acreditando na cara de pau dele de ficar me secando desse jeito. Nem para disfarçar! Ele levou sua mão em direção ao meu decote, antes que eu pudesse recuar. Para minha surpresa, ele pegou o pingente do colar que eu usava. Ah... então era o colar? Ele tentou disfarçar um sorriso que se formava entre seus lábios. Levei alguns segundos para me tocar do real motivo da atenção de Nicholas. Eu estava usando o colar que ele me deu de presente na festa de seu pai. Fitei o objeto e logo depois para o Nick.
-Então desistiu do colar de pimenta? – ele perguntou com ar de divertimento.
-Pois é... Mas pelo visto você ainda não perdeu o interesse por decotes, né? – eu entrei na brincadeira, o fazendo lembrar o dia em que nos conhecemos e a história do colar da pimenta e o seu indiscreto olhar para os meus seios.
Nicholas soltou uma risada e o acompanhei. Então me dei conta do que estava acontecendo. Nós estávamos... Nos dando bem? Ok, esse momento deve ter sido uma estranha, bem estranha exceção. Eu me levantei da sua cama, evitando mais algum momento embaraçoso entre nós.
-Eu vou te esperar lá embaixo. Já estamos muito atrasados. Vê se não demora muito, tá bom? – eu disse voltando com o tom de voz sério.
Ele balançou a cabeça em afirmação. – Mas chega de me apressar. Em quinze minutos estaremos saindo.

Nicholas Narrando

Saí do banco sozinho. A Miley e Steve já foram embora logo depois de me aconselhar o que fazer. Além do mais, eu era o único herdeiro entre nós três. Não seria muito confiável eu aparecer por lá querendo acesso a toda fortuna do meu pai com dois estranhos. Não fui permitido ter acesso algum por enquanto. Eu ainda teria que esperar a autorização do banco que geralmente, demora alguns dias.
No meio do caminho até o meu carro, me peguei com a mente em outro lugar. Mas exatamente hoje mais cedo. Pensando nela. Me recordei do seu olhar intenso e ao mesmo tempo um pouco confuso quando nossos rostos quase se juntaram. Do seu corpo curvilíneo colado ao meu, sentindo as batidas do seu coração bater contra o seu peito. Da sua surpreendente presença quando eu acordei.  A minha tentativa de esquecê-la é praticamente impossível. Eu juro que tento, mas tenho a sensação que nunca conseguiria.
Me surpreendi quando percebi que ela ainda usa o colar que dei de presente. Pelo menos, eu esperava que ela jogasse fora ou vendesse, se livrando de qualquer demonstração de carinho meu. Mas não. Ela não só guardou como ainda usa. Eu sei que essa esperança é totalmente sem nexo. Não teria nenhum motivo importante para ela ter guardado. Apenas gostou do objeto. Sinceramente, eu tenho que parar com isso. De ficar me martirizando, pensando que algum dia a Miley sentiria pelo menos um  afeto por mim. Isso nunca aconteceria.
Acordei dos meus devaneios quando senti uma movimentação estranha a minha volta. A rua não estava muito cheia, pelo contrário, não havia quase ninguém por aqui, além de mim e uns dois homens mal encarados que eu tinha a estranha sensação que me seguiam. Apressei os meus passos tentando me afastar deles o máximo possível até chegar ao estacionamento em que deixei o meu carro, e me livrar dessa estranha desconfiança. Porém, quando eu olhei para trás, vi os dois começaram a correr. Merda! O que está acontecendo? Eu não estou aliado da quadrilha do Steve? Então por que esses dois querem de mim? Não hesitei em correr também.
Rapidamente, uma vã surgiu e parou ao meu lado na calçada e saiu mais outro homem de lá, que também veio até mim. Eu dei um soco no nariz de um deles, quando senti me puxarem e recuei ainda mais. Desviei de um golpe que o que tinha acabado de sair da vã tinha feito e soquei sua barriga. Então corri enquanto os dois feridos de recuperavam dos meus socos. Porém, o imune, veio correndo até mim e paralisou, segurando fortemente os meus braços enquanto eu lutava contra ele para escapar.
 -O que vocês querem? -eu perguntei. -Eu já estou ajudando o Steve, já é o suficiente!
-Do que você está falando, garoto? -um deles perguntou um pouco confuso.
-Me larga! -eu gritei, ignorando a sua pergunta, ainda me rebatendo contra os braços de um deles que me seguravam firmemente. -Me lar...- eu fui interrompido pelo homem  a minha frente que pressionou um pano úmido contra o meu rosto. Tinha um cheiro forte de remédio. Eu tentei gritar contra o pano, mas logo uma sonolência pesada começou a dar conta de mim. Meus olhos começaram a pesar, e antes que eu pudesse analisar o que estava realmente acontecendo, tudo ficou preto.