Trecho da música “No light, No light” – Florence + the
machine :
You are the hole in my
head (Você é o buraco na minha cabeça)
You are the space in my
bed ( Você é o espaço na minha cama)
You
are the silence in between (Você é o silêncio entre)
What I thought and what I
said (o que eu pensei e o que eu disse)
You
are the night-time fear (Você é o medo noturno)
You
are the morning when it's clear(Você é a manhã quando está claro)
When it's over you’re start (Quando acaba, você é o início)
You're my head, you're my
heart (Você é a minha cabeça, você é o meu coração)
No light, no light in
your bright blue eyes (Sem luz, sem luz nos seus brilhantes olhos azuis)
I never knew daylight
could be so violent (Eu nunca soube que o a luz do dia poderia ser tão
violenta)
A revelation in the light
of day (Uma revelação à luz do dia)
You can’t choose what
stays and what fades away (Você não pode escolher o que fica e o que
desaparece)
Nicholas Narrando
Eu não
conseguia processar bem tudo o que tinha acabado de ouvir. Meu pai. Aquele
homem que me criou, que me educou durante todos esses anos é um crápula. Como
ele poderia ser capaz de fazer todas aquelas maldades? Eram pessoas inocentes!
Ele foi o responsável de uma delas se transformar numa assassina fria e cruel.
Isso tudo foi por causa da sua ambição em conseguir a maldita empresa só pra
ele. Fiquei um tempo tentando refletir toda essa história. Me doía saber que
sou filho de um homem que fez tanta crueldade por poder. Me doía ainda mais saber
que a Miley, por mais que eu não queira, a mulher que eu amo tanto, sofreu
coisas absurdas antes de ser o que é.
Chad
tentou me empurrar mais algumas bebidas para poder esquecer e relaxar, mas eu
acho que agora seria impossível tomar até um gole de água. Como se um nó
estivesse formado na minha garganta e impedisse a passagem de qualquer líquido.
-Agora
que você sabe de tudo, finja que não ouviu nada, ok? Se soubessem que você
descobriu sobre a Miley, sobraria para mim. Ela recusa a demonstrar fraqueza
para as pessoas, e acho que essa história ainda não se cicatrizou nela. Eu só
contei para você porque o seu pai estava envolvido nisso e acho que você
deveria mesmo saber quem é o verdadeiro Paul Jonas. Talvez assim, você possa
nos ajudar de verdade nessa missão. – ele disse logo depois de tomar seu
terceiro drinque.
-Como
eu falei, eu não vou contar para ninguém. Ninguém vai desconfiar de nada. – eu
disse me levantando da cadeira.
-Para
onde você vai? – perguntou confuso.
-Eu vou
sair para respirar melhor e poder absorver essa história toda. - eu falei
pegando uma nota de cinquenta dólares e deixando em cima do balcão, não me
importando com o preço exato da minha bebida que eu nem sequer toquei.
Saí do
bar rapidamente e dei partida com o meu carro. Acelerado, levei o meu Ashton
Martin até um lugar já conhecido. Estacionei em frente à praia e saí do
automóvel e me apoiei no capô do carro para observar o mar a minha frente. De alguma forma, o cheiro, o barulho das
ondas ou até mesmo a visão de mar quase infinito, me deixa mais calmo. Por isso
escolhi vir para cá. Para poder botar minha cabeça no lugar e decidir o que
fazer a partir de agora.
Cenas
se formavam em minha mente de acordo com os relatos de acordo com o Chad. O
Billy sendo assassinado na frente da filha. A insistência da Miley por justiça
e sendo totalmente ignorada por um policial corrupto. Lágrimas de desespero
banhando seu rosto delicado. Miley enclausurada num quarto de um manicômio
ouvindo todas as noites gritos insanos de outros pacientes.
Tentei
segurar lágrimas que ameaçavam cair de meus olhos, engolindo em seco e tentando
respirar profundamente o ar carregado com o cheiro de maresia. Passei
nervosamente meus dedos entre meus cabelos. Eu não posso fazer nada. Miley não
pode saber que eu descobri sobre ela. Com certeza ela se sentiria humilhada e
poderia perder a cabeça e tomar atitude precipitada. Mas não posso evitar
sentir tristeza em saber o que tudo o que aconteceu com ela foi por culpa do
meu pai. A amo demais para encarar isso com tanta facilidade. Por uma parte eu
também me sinto mal. Como se apenas o fato de eu ser um herdeiro do Paul já me
desse a culpa por tudo o que ela passou.
Miley
Narrando
Sentada
de frente a televisão, as imagens se passavam despercebidas por mim e os sons
totalmente ignorados. Eu decidi descer para a sala para evitar qualquer drama. Abracei meus joelhos, encolhendo meu corpo. A
cada dia que se aproxima da minha tão esperada vingança, mais as memórias me
assombravam cada vez mais. Como se estivessem testando a minha resistência.
Realmente, elas conseguem fazer seu papel, me fazendo sentir cada vez mais
enfraquecida.
O
barulho da campainha me fez despertar do meu próprio mundo. Então achei melhor
eu mesma ir atender. O Chad ainda estava em seu quarto descansando do seu porre
e o Steve subiu para seu quarto para tirar mais uma soneca e fazer mais planos,
como sempre. Quando atendi a porta dei de cara com o intrometido do Nicholas.
Rolei olhos ao vê-lo. Só falta ele ficar me chateando de novo para contar a
verdade.
-O que
você quer? – eu perguntei impaciente.
Ele
estendeu um aparelho de celular para mim. – O Chad esqueceu no carro. – ele
disse sem se afetar com a minha grosseria. E isso me pareceu muito esquisito.
Talvez ele esteja tentando me ignorar para não discutir mais comigo.
Eu peguei o
celular em sua mão e inevitavelmente meus dedos roçaram nos seus. Puxei
rapidamente o celular para perto do meu corpo e afastando nossas mãos. Eu ainda podia sentir o calor da sua pele irradiada na
minha. Por um motivo totalmente estranho, cruzei os braços em frente ao meu
corpo, me sentindo um pouco desconfortável com a sua presença. Levantei meu
olhar ao perceber que eu fitava um ponto qualquer do chão e encontrei seus
olhos castanhos me encarando de um modo totalmente indiscreto. Como se
estivesse avaliando o meu semblante para descobrir o que penso. Eles não
carregavam raiva, muito menos aquela paixão iludida... Me pareciam tristes. Respirei
fundo decidi quebrar o silencio entre nós.
-Só isso? - perguntei
fazendo Nicholas acordar de seus devaneios. Ele balançou a cabeça em afirmação.
-Só. - ele disse um
pouco antes de me dar as costas e voltar o seu caminho para o seu carro.
Estranho... Ele
não insistiu novamente em contar a minha verdadeira história com o xerife
Holmes. Normalmente ele ficaria teimando até que eu perdesse a paciência para
contar.
-Nick! – eu o chamei.
Ele automaticamente virou-se para mim de novo, parando no seu caminho até o seu
automóvel. – Você desistiu de me chatear para contar aquela história? – eu me
apoiei no batente de porta.
Ele deu de ombros. –
De um jeito ou de outro, você nunca me contaria mesmo. Se você tiver alguma
coisa pessoal com meu pai ou com o xerife isso é problema seu. Como você me
mesma disse, não é nada que eu me importe. – ele respondeu de um modo frio e
impassível.
De alguma forma, a
sua resposta me surpreendeu. Então se eu tiver algum passado ruim com o pai
dele, ele não vai se importar? Ele não se preocupa com o seu pai e muito menos
de mim. Ele conseguiu superar rápido... Não sei por que, mas aquilo me
incomodou. Talvez porque eu me acostumei em sempre ser o centro da sua atenção.
-Que bom. – eu
respondi tentando ser tão fria quanto ele.
-Era só isso que
queria falar? – ele perguntou.
-Não, amanhã nós
vamos te levar ao banco para ver o esquema do seu acesso à conta bancária do
seu pai. Nos encontramos uma hora da tarde em ponto aqui, ta bom?
-Tá. – ele assentiu.
– Tchau, Miles. – ele pigarreou, se dando conta que me chamou pelo apelido. –
Miley.
-Tchau. – eu esbocei
um pequeno sorriso.
Nicholas Narrando
Foi
tão difícil encará-la e fingir que não sei de nada, que eu não me importo com
nada. Por mais cruel que ela tenha sido ultimamente, eu ainda podia sentir a melancolia
em seus olhos. Eu tive que me conter em não abraçá-la e me pedir desculpas por
tudo o que meu pai fez. Mas infelizmente ela me odiara por isso. Além do mais,
ela não está certa em escolher a vida do crime para preencher o vazio que
sente. Isso nunca será uma justificativa. Ela poderia ter feito pessoas
sofrerem como ela sofreu com meu pai. Mas como eu posso convencer isso ao meu
coração, para me livrar dessa culpa que nem é minha, que só quer saber de
confortá-la e de amá-la?
Eu
estacionei o meu carro em frente a minha casa. Minha casa... Acho que nem isso eu
posso considerar agora, não é mesmo? Foi construída com dinheiro que deveria
ser de outras pessoas. Subi a escadaria daquela enorme mansão em que eu
costumava chamar de lar. A sensação é como se eu estivesse entrando numa casa
de estranhos. Eu entrei na casa e percebi a maleta do meu pai em um dos sofás.
Ele já deve ter chegado.
-John,
onde está meu pai? –eu perguntei para o mordomo.
-Eu
acho que o Sr. Jonas está no escritório dele.
-Ok,
obrigado.
Obviamente
eu não contaria tudo o que sei para ele. Eu só pioraria as coisas. Mas eu
precisava pelo menos confirmar pela boca do meu próprio pai se ele seria capaz
disso. Subi as escadas até o segundo andar e bati algumas vezes na porta.
-Pode
entrar. – Paul disse.
Entrei
no cômodo e me deparei com meu pai vasculhando a sua escrivaninha, como se
estivesse à procura de alguma coisa.
-Nick,
por acaso você viu onde está a minha agenda de contatos? Eu juro que a ultima
vez que eu a vi, ela estava guardada aqui na gaveta. Eu já estou até começando
a desconfiar que um dos empregados pegou. Você sabe que só tem contato de
pessoas importantes, né? – ele falava ainda sem tirar os olhos da sua
escrivaninha toda bagunçada.
Com certeza a Miley
pegou. Eu lembro sobre o que o Joe me disse que havia a pego mexendo nas coisas
de meu pai aqui no escritório. Ela não deve ter perdido tempo e levou a agenda.
Talvez para conseguir contato com pessoas que a possam ajudar a armar contra
meu pai... Quer saber? Tomara que consiga, porque ele merece cair do seu
pedestal.
-Eu acho que peguei
para procurar o número do Dj para minha festa e acabei não encontrando. Eu acho
que esqueci na casa do Brian. Se quiser eu busco para você amanhã. – eu menti.
Pelo menos assim, ele não teria que botar a culpa em nenhum empregado e ninguém
seria demitido por uma coisa que não fez.
-Então
tá. Assim eu fico mais aliviado. Você sabe que não pode deixar nas mãos de
qualquer um, não é? – ele me advertiu.
-Eu sei. - eu respondi
automaticamente. –Pai, eu estou com uma dúvida. Sabe, logo depois das férias eu
vou entrar na faculdade, então só agora que eu estou me tocando mesmo que o meu
futuro só depende de mim agora...
Ele ignorou a bagunça no móvel a
sua frente e deu mais atenção a mim. Um pequeno sorriso orgulhoso tomava conta
de seu rosto.
-Eu sei, e acho que você tomou a
decisão certa, filho.
-Pai, o que eu teria que fazer
para conseguir o que quero? O que você é capaz de fazer para conseguir a
liderança? – eu perguntei me aproximando mais dele e avaliando com mais
precisão o seu rosto.
Ele parou um pouco para refletir
nisso, lembrando-se do que fez ao Billy e a Miley, talvez. Ou até mesmo outras
coisas ruins com outras pessoas. Se ele foi capaz de fazer o que fez, pode
fazer qualquer coisa. Mas eu queria ouvir isso vindo dele.
- Qualquer coisa. – ele voltou
seu olhar para mim. – Custe o que custar. – ele se levantou da sua cadeira e se
aproximou de mim, apoiando sua mão em meu ombro. – Filho, infelizmente a vida não
é tão fácil quanto vocês, jovens, imaginam. Você nunca vai chegar ao poder se
não lutar por isso com unhas e dentes. – disse olhando em meus olhos de um modo
firme. Espero que ele não perceba o ódio e o nojo que eu sinto por ele agora
estampado no meu olhar. – Mas você não precisa se preocupar muito com isso.
Você é o herdeiro da empresa, isso ninguém vai conseguir tirar de você. Além do
mais, eu sei que você é bastante destemido quando quer, e que faria o que for
preciso. – Não, nunca faria qualquer coisa por dinheiro. Não quero ser um homem
repugnante como o meu pai.
Eu balancei a cabeça, fingindo
compreensão. – Obrigado pela dica.
-Era só isso? – ele perguntou
sorrindo.
-Aham.
-Essa fase é meia confusa mesmo,
a gente começa a se preocupar com o nosso futuro, não é? – ele disse sorrindo.
-Bastante. – eu não conseguia responder
nada além de poucas palavras. Tinha medo de perder a paciência e falar mais o
que deveria.
-Seu futuro já está traçado, garoto. Não tem necessidade para
se esquentar com isso. – ele riu. Eu tentei fingir uma retribuição com um
sorriso. Espero mesmo que tenha parecido um sorriso.
-Você pode avisar o resto do
pessoal que eu não vou jantar. Estou muito cansado, acho que eu vou pra cama
mais cedo. - eu disse colocando as mãos no bolso.
-Tudo bem. Tenha uma boa noite.
– ele falou enquanto arrumava toda a sua escrivaninha do jeito que estava
antes.
-Para você também.
Miley Narrando
Eu toquei apenas uma vez a
campainha da enorme casa e como já era de se esperar, o mordomo atendeu
prontamente. Ele abriu um simpático sorriso. Ainda bem que eu não acordei com
um humor tão terrível quanto eu imaginei, pelo menos eu ainda tenho humor o
suficiente para fingir simpatia com as pessoas.
-Boa tarde, senhorita Cyrus. –
ele cumprimentou.
-Quantas vezes eu preciso pedir
para você me chamar só de Miley? – eu perguntei em um tom descontraído.
-Tudo bem. Boa tarde, Miley. –
ele respondeu segurando o riso.
-Agora, sim! Boa tarde, John.
- eu disse adentrando a casa.
-Miley! Como você está, querida?
– Christine apareceu descendo as escadas com o mesmo impecável sorriso de
sempre.
-Eu estou ótima, tirando o fato
do Nick está atrasado há uma hora. Nós combinamos para ele me buscar para
almoçarmos juntos num restaurante novo e ele simplesmente não apareceu. – eu
disse. Sim, o Nick está atrasado uma hora comigo e com o Steve. Já era para ele
estar naquele maldito banco! O que está dando nesse cara?
-Sério? Ele ainda está dormindo.
Acho que ele deve ter dormido tarde e perdeu a hora... Bom, o que foi estranho
já que ele foi para o quarto dele antes de servir o jantar... Mas enfim, por
que você mesma não vai lá chamá-lo? – ela perguntou animada com a sua própria
ideia. – Só não pode brigar com o coitadinho agora! – nós duas rimos.
-Só vou brigar um pouquinho... –
eu disse bem humorada. – Deixa que eu acordo ele com jeitinho, não vou matar
seu enteado. Pelo menos não hoje. – nós gargalhamos novamente.
-Se hoje ele ainda estiver vivo,
tudo bem para mim.
Eu lancei mais um simpático
sorriso para ela e subi as escadas. Dormindo? Aquele folgado está dormindo até
agora? Que pessoa normal dorme até às duas horas da tarde com um compromisso –
muito- importante? Ele vai ter que me ouvir muito! Nicholas vai ver só como eu
vou acordá-lo com “jeitinho”.
Abri a porta de seu quarto que
estava encostada e entrei no cômodo silenciosamente. Fechei a porta novamente
para evitar que ninguém fique ouvindo a nossa conversa ou a minha tentativa de
massacrá-lo e acordá-lo ao mesmo tempo.
-Acho melhor você levant... – eu
comecei falando alto. Mas logo meu olhar se direcionou para ele.
Nick dormia profundamente como
um bebê. Seus cachos levemente bagunçados davam ainda mais um ar adorável para
visão a minha frente. Maldito seja por ser tão fofo dormindo! Ele apenas vestia
uma calça de moletom, deixando todo o seu tronco a amostra. Os seus lençóis
estavam jogados no chão. Acho que alguém não teve uma noite muito boa...
-Anda, Nicholas. Acorda! – eu
falei. Ok, eu não falei alto o suficiente para acordá-lo. Mas ele tem um poder
de persuasão irritantemente poderoso durante o seu sono. Como a sua mãe o
acordava quando criança para ir para o colégio?
Eu me sentei ao seu lado na sua
cama.
-Nicholas... – eu o chamei, mas
dessa vez mais baixo. Eu me deitei de lado, virada para ele, o observando
dormir. – Nick... – sussurrei.
Droga! Como sou covarde!Ah, quer
saber? Depois eu o chamo daqui a dois minutos, ele deve estar com um sono muito
pesado...
Eu fiquei por um tempo analisando
o seu rosto. O balanço suave da sua respiração me acalmava de algum jeito. O
seu perfume marcante estava impregnado por toda a cama, me deixando até um
pouco confusa sobre o que exatamente eu estava fazendo ali. Deixei escapar um
sorriso quando vi um dos seus cachinhos caído na sua testa. Peguei a mecha de
cabelo e joguei para trás, juntando com o resto de seu cabelo.
Nicholas se mexeu e se
espreguiçou, sinalizando seu despertar. Antes que ele abrisse os olhos me
levantei rapidamente ficando de joelhos sobre o seu colchão.
-Que saco, hein! Como você
demora para acordar! – eu reclamei cruzando os braços. – Fiquei te chamando por
um tempão! – eu sei que menti, mas é claro que eu não vou dar o braço a torcer.
Ele coçou os olhos, ainda um
pouco incomodado com a luz do sol que invadia seu quarto pela vasta janela. Ele
piscou mais algumas vezes, talvez não acreditando no que via ao seu lado.
-Miley? – ele perguntou com a
voz ainda carregada de sono.
-Não, Elvis Presley. – eu
respondi irônica.
Ele se sentou ficando na minha
altura, ainda um pouco confuso com a minha presença.
-O que você está fazendo aqui?
-Eu vim te acordar, já que você
não sabe fazer isso sozinho, não é? Por acaso você sabe que horas são?
-Não... – ele franziu o cenho
estranhando a minha pergunta.
-São duas horas da tarde, sua
anta! Eu não combinei com você para encontramos uma hora em ponto? – eu levantei a voz. Ótimo, só agora eu tenho
coragem de falar mais alto...
Ele
abriu a boca e levantou as sobrancelhas, se lembrando do meu pedido (e agora eu
acho que deveria ter sido uma ordem). – Ah é! Eu esqueci disso. – Eu ainda
estou impressionada com a naturalidade em que ele diz isso.
-Então levanta logo daí e vai se
arrumar! – eu ergui mais o meu corpo colocando as mãos na cintura. Mas eu perdi
um pouco do meu equilíbrio quando estava prestes a cair da beirada da cama e tentei
me equilibrar com os braços para não cair no chão, mas foi totalmente inútil.
Antes
que eu pudesse sentir minha cabeça ganhando um galo, Nicholas me pegou pela
cintura e puxou mais para perto de si. E instintivamente me segurei em seus
braços descobertos. Com os nossos corpos colados eu pude sentir a respiração
falha dele batendo em mim. Seus olhos castanhos se encontraram com os meus e eu
não soube exatamente o que fazer. Apenas fiquei o fitando aqueles olhos de cor
chocolate tentando pensar em alguma coisa. Seu braço ainda se encontrava em
volta da minha cintura, me apertando contra o seu tronco desnudo, atrapalhando
ainda mais o meu raciocínio. Uma estranha sensação tomava conta de mim. Um tipo
de pontinho de calor que se espalhava por mim. Não era um calor de excitação.
Era um calor estranhamente confortável e confuso que fazia meu coração disparar
e comprimia meus pulmões, me fazendo esquecer de respirar devidamente. Eu sabia muito bem
que se ficássemos mais tempo juntos desse jeito nos beijaríamos. Não! Quer
dizer, ele me beijaria. Se bem que não seria muito ruim beijar aqueles lábios
avermelhados e convidativos... Olha, eu não tenho culpa disso. Com toda essa
confusão e estresse sobre a missão, automaticamente minha tensão sexual aumenta
junto com a emocional. É isso. Só isso...Eu pisquei algumas vezes,
acordando para a realidade e desviei o meu olhar de seus olhos.
-É... obrigada. – eu agradeci um
pouco desconfortável.
-Você ia cair muito feio. – ele
disse logo antes de soltar uma risada. Eu o acompanhei imaginando a cena cômica
que seria se eu caísse da sua cama.
Nicholas então se deu conta que
ainda estava me segurando, me soltou. Tentei
ignorar o fato de o meu corpo protestar no momento que separei da sua pele
quente.
-Se você risse de
mim, estaria encrencado comigo. Mais do que já está! - eu adverti cruzando os
braços, me lembrando do motivo de eu estar aqui.
-Já estou encrencado do mesmo
jeito... – deu de ombros.
Mas em seguida, ele perdeu totalmente o foco do assunto encarando o meu
colo exposto por um decote que valorizava os meus seios. Minha boca se abriu
não acreditando na cara de pau dele de ficar me secando desse jeito. Nem para
disfarçar! Ele levou sua mão em direção ao meu decote, antes que eu pudesse
recuar. Para minha surpresa, ele pegou o pingente do colar que eu usava. Ah...
então era o colar? Ele tentou disfarçar um sorriso que se formava entre seus
lábios. Levei alguns segundos para me tocar do real motivo da atenção de
Nicholas. Eu estava usando o colar que ele me deu de presente na festa de seu
pai. Fitei o objeto e logo depois para o Nick.
-Então desistiu do colar de pimenta? – ele perguntou com ar de
divertimento.
-Pois é... Mas pelo visto você ainda não perdeu o interesse por decotes,
né? – eu entrei na brincadeira, o fazendo lembrar o dia em que nos conhecemos e
a história do colar da pimenta e o seu indiscreto olhar para os meus seios.
Nicholas soltou uma risada e o acompanhei. Então me dei conta do que
estava acontecendo. Nós estávamos... Nos dando bem? Ok, esse momento deve ter
sido uma estranha, bem estranha exceção. Eu me levantei da sua cama, evitando
mais algum momento embaraçoso entre nós.
-Eu vou te esperar lá embaixo. Já estamos muito atrasados. Vê se não
demora muito, tá bom? – eu disse voltando com o tom de voz sério.
Ele balançou a cabeça em afirmação. – Mas chega de me apressar. Em
quinze minutos estaremos saindo.
Nicholas Narrando
Saí do banco sozinho. A Miley e Steve já foram embora logo depois de me
aconselhar o que fazer. Além do mais, eu era o único herdeiro entre nós três.
Não seria muito confiável eu aparecer por lá querendo acesso a toda fortuna do
meu pai com dois estranhos. Não fui permitido ter acesso algum por enquanto. Eu
ainda teria que esperar a autorização do banco que geralmente, demora alguns
dias.
No meio do caminho até o meu carro, me peguei com a mente em outro
lugar. Mas exatamente hoje mais cedo. Pensando nela. Me recordei do seu olhar
intenso e ao mesmo tempo um pouco confuso quando nossos rostos quase se
juntaram. Do seu corpo curvilíneo colado ao meu, sentindo as batidas do seu
coração bater contra o seu peito. Da sua surpreendente presença quando eu
acordei. A minha tentativa de
esquecê-la é praticamente impossível. Eu juro que tento, mas tenho a sensação
que nunca conseguiria.
Me surpreendi quando percebi que
ela ainda usa o colar que dei de presente. Pelo menos, eu esperava que ela
jogasse fora ou vendesse, se livrando de qualquer demonstração de carinho meu.
Mas não. Ela não só guardou como ainda usa. Eu sei que essa esperança é totalmente
sem nexo. Não teria nenhum motivo importante para ela ter guardado. Apenas
gostou do objeto. Sinceramente, eu tenho que parar com isso. De ficar me
martirizando, pensando que algum dia a Miley sentiria pelo menos um afeto
por mim. Isso nunca aconteceria.
Acordei dos meus devaneios
quando senti uma movimentação estranha a minha volta. A rua não estava muito
cheia, pelo contrário, não havia quase ninguém por aqui, além de mim e uns dois
homens mal encarados que eu tinha a estranha sensação que me seguiam. Apressei
os meus passos tentando me afastar deles o máximo possível até chegar ao
estacionamento em que deixei o meu carro, e me livrar dessa estranha
desconfiança. Porém, quando eu olhei para trás, vi os dois começaram a correr.
Merda! O que está acontecendo? Eu não estou aliado da quadrilha do Steve? Então
por que esses dois querem de mim? Não hesitei em correr também.
Rapidamente, uma vã surgiu e
parou ao meu lado na calçada e saiu mais outro homem de lá, que também veio até
mim. Eu dei um soco no nariz de um deles, quando senti me puxarem e recuei
ainda mais. Desviei de um golpe que o que tinha acabado de sair da vã tinha
feito e soquei sua barriga. Então corri enquanto os dois feridos de recuperavam
dos meus socos. Porém, o imune, veio correndo até mim e paralisou, segurando
fortemente os meus braços enquanto eu lutava contra ele para escapar.
-O que vocês querem? -eu perguntei. -Eu já
estou ajudando o Steve, já é o suficiente!
-Do que você está falando,
garoto? -um deles perguntou um pouco confuso.
-Me larga! -eu gritei, ignorando
a sua pergunta, ainda me rebatendo contra os braços de um deles que me
seguravam firmemente. -Me lar...- eu fui interrompido pelo homem a
minha frente que pressionou um pano úmido contra o meu rosto. Tinha um cheiro
forte de remédio. Eu tentei gritar contra o pano, mas logo uma sonolência
pesada começou a dar conta de mim. Meus olhos começaram a pesar, e antes que eu
pudesse analisar o que estava realmente acontecendo, tudo ficou preto.