-Nicky... – a voz manhosa de Miley soou pela casa. –Volta logo.
O calor de todo o meu rosto foi embora. Aposto que devo estar branco que nem um papel. Eu tentava falar alguma coisa pra dispersá-los, mas eu não tinha ideia do que falar. Um sorriso malicioso surgiu no semblante de Brian e Joe quase esbugalhou os olhos de surpresa. Quer dizer, Joseph devia achar que até hoje eu não tinha superado o meu relacionamento com a Miley depois da sua “morte”. A presença de uma “nova garota” na minha vida, ou melhor, na cama já seria um motivo de surpresa pra ele que achava que eu ainda me prendia ao passado que ficou em Los Angeles.
Estou perdido.
-Espere um instante. - eu gritei em resposta
pra Miley, rezando para que ela não tenha a brilhante ideia de descer até mim
ou de responder algo que faça os dois suspeitarem.
Sem saber como agir naturalmente, passei as
mãos no cabelo, fingindo arrumá-lo. Eu estou encrencado. Em momento nenhum eu
pensei em contar a verdade pro Brian e muito menos pro Joe, que tenho certeza
que mesmo "morta", Miley estava presente na sua consciência
acompanhada de um sentimento de ódio. O que eu faço? Peço pra Miley se esconder?
Fugir? Ou eu mando meu irmão e meu melhor amigo para fora?
-Pelo visto, a noite não foi boa. - frisou Brian com um sorriso
orgulhoso no rosto. -Foi ótima!
-Você
não disse nada sobre as garotas daqui da Itália, Nick. - Joe disse puxando os
lábios em um pequeno sorriso malicioso.
Eu dei de ombros. - Você nunca perguntou
sobre elas.
- Ah, você sabe. Pensei até que você ainda
não tinha superado... Ela. - que ótimo! Nem mesmo o nome da Miley Joe tem a capacidade
de pronunciar de novo.
-Pois é... Eu superei. – eu disse com um
sorrisinho amarelo.
-Apresenta a italianinha que te fez esquecer
aquela história de vez! Aposto que é um mulherão. - Brian fez um gesto com as
mãos em formato de conchas em frente ao seu peito, se referindo aos seios das
mulheres italianas que ele faz questão de lembrar toda vez que o assunto é
sobre mulheres. Se eu não estivesse nervoso, talvez eu tivesse rido.
-Brincadeira! Mas eu quero saber quem roubou seu coração desta vez, cara.
-Ela é muito gata, mesmo. Mas não quer dizer
que eu esteja namorando. A garota lá de cima é só diversão de uma noite. Nada
demais.
-Não tem problema. Apresenta ela pra gente!
Eu juro que vou tentar agir normalmente. – respondeu Brian animado.
-Ah, ela vai ficar com vergonha. Eu nem
tinha avisado que tinha visita e além do mais, não vai cair bem eu ficar a
exibindo que nem um troféu.
-Não é exibir que nem um troféu, você só vai
apresentar pro seu melhor amigo e pro seu irmão, cara. Nada demais. Você nunca
apresentou alguma garota que você esteja saindo desde que você se mudou! - Joe
contestou.
-É verdade... Parece até que a gente não faz
mais parte da sua vida. A gente não sabe quase nada sobre a sua vida nessa
cidade. - comentou Brian um pouco desanimado.
Que ótimo, agora eu estou me sentindo
culpado por estar me afastando do meu melhor amigo só pra esconder a verdade
dele. E pior de tudo é que eu teria que enfrentar a sua reação se eu realmente
jogasse limpo. Bem que eu poderia ter a opção de simplesmente sair correndo...
Pena que não resolve o meu problema. Eu preciso de um tempo. Preciso parar um
tempo pra pensar no que fazer.
-Ok, ok... Vocês estão
certos. Eu vou conversar com a... hum, garota, pra ver se ela não vai ficar
muito constrangida em vir aqui embaixo, tudo bem? – os dois assentiram. Na verdade, eu precisava falar com a Miley
sobre isso. Quer dizer, fomos pegos totalmente de surpresa e precisamos decidir
o que realmente fazer. – Se quiserem, tem comida, refrigerante e cerveja na
geladeira.
-Ok. Enquanto isso, eu vou
pegando as nossas malas. – Joe disse apontando para o seu carro do lado de
fora. Ótimo! Esqueci esse pequeno detalhe. Era óbvio que eles iriam se hospedar
aqui se viessem me visitar! Eles já fizeram isso uma vez, mas como fomos
avisados previamente, deu tempo para a Miley se esconder em um hotel até que
eles fossem embora.
Puta meda, estamos ferrados.
-Tá bom. – eu disse meio
confuso enquanto eu subia as escadas rapidamente em direção ao quarto.
Chegando ao cômodo, eu
fechei a porta rapidamente e a tranquei. Miley, que ainda estava deitada na
cama com uma cara de sono, me encarou confusa. Dava pra ver claramente que ela
ainda não se recuperou da ressaca, pois ela não aguentava abrir totalmente os
olhos por causa da luz. Pra mim, a ressaca é só mais um detalhe que eu desejava
ser o maior dos meus problemas.
-Que cara é essa, Nick? O
que está acontecendo? – ela perguntou começando a se despertar mais quando
percebeu que havia alguma coisa de errado.
-Joe e Brian chegaram. –
eu disparei as palavras.
-Como assim? Na cidade? –
Miley franziu a testa, enquanto se sentava sobre a cama.
-Eles já estão aqui em
casa! – eu respondi nervoso.
-Como é que é? E eles não
te avisaram? – ela levantou o tom de voz, começando a ficar igualmente nervosa.
-Shhhhhhhh!- eu coloquei o
indicador sobre os lábios. -Eles estão lá embaixo. Se continuar a falar alto
desse jeito eles vão reconhecer sua voz! – eu continuei a falar baixo.
Ela abaixou a sua cabeça e levou suas mãos a
testa em desespero. – E por que você não os mandou ir embora?
-Como é que eu vou mandar o meu irmão e o
melhor amigo irem embora? Eles
perceberiam na hora que estava acontecendo alguma coisa estranha!
-Ok... – Miley tentou se acalmar respirando
fundo. –Precisamos fazer alguma coisa. Mas o que?
-Eu estava pensando em contar a verdade de
uma vez. – eu cheguei ao ponto. Não tinha outro jeito, mesmo.
-Você está louco, Nick? – ela levantou o
olhar para mim novamente com os olhos arregalados. – Confiar no Joe pra guardar
um segredo, ainda mais sobre mim, é suicídio!
-Miley, se você parar pra perceber não tem
saída. Ou eu conto para eles, ou eles vão acabar descobrindo.
-Eu posso fugir para um hotel. Você os
distrai, e eu saio, sei lá, pela janela. – ela insiste em outra coisa que não
seja a verdade. E eu sabia porquê. Na verdade, assim como eu, Miley tem medo
que o Joe a entregue de volta para polícia. E percebi que ela não sentia
tanta confiança no Brian como eu sentia.
-Eles já sabem que tem uma garota aqui no
quarto. Eles acham que é uma moradora aqui da cidade, uma peguete nova, e eles
querem conhecer. Então não teria como fingir que não tinha ninguém aqui em
cima.
-Nick, tem que haver um jeito... – Miley
insistiu ainda ansiosa.
Eu me sentei na cama ao seu lado. Eu puxei
sua mão pra mim. – Miles... – eu a chamei, mas ela continuava pensativa,
forçando a sua mente para achar alguma solução. – Olha para mim. – ela suspirou
e direcionou a sua atenção para mim. – Não tem outro jeito. Vai ser melhor se contarmos
do que se eles descobrirem sozinhos. O Joe... Ele pode não gostar de você, pode
até reagir mal quando contarmos, mas ele não vai te entregar pra polícia.
-O que garante que ele não vai querer me ver
presa de novo?
-Se te pegarem de novo, eu vou junto. Você
não fugiu sozinha, lembra? Eu e Chad vamos ser considerados cúmplices. Joe não
vai querer colocar o próprio irmão na cadeia. Vai dar tudo certo, ok? Confia em
mim.
Ela respirou fundo e assentiu. – Eu só não
quero que você fique chateado comigo se, por necessidade, eu ameaçá-los de
alguma coisa, ok?
Eu ri. – Ok, desde que não machuque nenhum
dos dois de verdade... Agora vai se arrumar. Vamos resolver isso logo de uma
vez! - eu dei um selinho em seus lábios.
Eu via em seus olhos que ela ainda não
estava nem um pouco disposta em fazer aquilo.
-Eu ainda estou considerando fugir pela
janela, caso você mude de ideia na última hora... – ela disse hesitante, mas eu
a interrompi com um olhar reprovador. – Tá bom... Você venceu. – Miley disse se
levantando da cama. Ela caminhou até o closet para colocar uma roupa.
-Eu vou descer na frente, ok? Acho melhor eu
falar sozinho com os dois antes que eles deem de cara com você.
-Tá. Pode indo. – ela
gritou de dentro do closet.
Eu saí do quarto e fechei
a porta atrás de mim, já me preparando psicologicamente para reação de Brian e
Joe. E eu sei que a reação não vai ser nada boa, mas é melhor que eles
descubram sobre isso vindo da minha boca do que sozinhos. Respirei fundo e
desci as escadas. As malas dos dois estavam do lado do sofá. A dupla tinha
acabado de sair da cozinha. Joe estava com uma garrafa de cerveja na mão e
Brian estava com duas. Eles estavam
descontraídos, animados em me ver. O meu melhor amigo estendeu uma das garrafas
para mim.
-Toma. Vai aliviar a
ressaca por um tempo. – ele disse com um sorriso no rosto.
-Valeu.
Eu aceitei a oferta e abri a garrafa.
Realmente eu vou precisar de mais um pouco de álcool no sangue para poder falar
toda a verdade de uma vez. Antes que eu pudesse entornar um longo gole da minha
bebida, Brian me interrompeu.
– Ei,
ei! Primeiro vamos fazer um brinde!
Joe estendeu a sua
garrafa. – Um brinde aos próximos dias de farra com o meu irmãozinho. – com a
mão livre, ele bagunçou o meu cabelo. Ele estava claramente feliz. Joe estava
feliz por achar que eu esqueci a Miley de uma vez. –Um brinde a superação de
Nick!
-Um brinde ao Nick
pegador! – disse Brian risonho. – Já estava sentindo falta desse seu lado
macho, cara. – ele deu uns tapinhas no meu ombro, mas eu continuei sério. Isso
só está piorando a situação.
Logo em seguida,
brindamos.
Eu tomei em um gole uma
quantidade generosa de cerveja, respirei fundo e tomei coragem para acabar logo
com isso. – Gente, eu preciso falar uma coisa com vocês. – eu disse sério.
–Bom, faz um tempo que a gente não conversa... E eu preciso ter uma conversa
séria com vocês.
As feições dos dois
perderam a leveza da animação e direcionaram total atenção para mim.
-O que houve? – perguntou
Joe preocupado.
-É melhor vocês sentarem
primeiro. – eu disse e quase imediatamente os dois se sentaram no sofá. Eu me
sentei logo em seguida.
-Fala logo o que é. Já
estou ficando nervoso. – Brian me apressou.
-Bom... Eu não sei como eu
começo a falar isso para vocês dois. Vocês vão me odiar por ter escondido isso
por tanto tempo. – eu comecei sem jeito. Como é que eu vou contar que a Miley
estava comigo? Que na verdade ela não tinha morrido e que fazia tudo parte de
um plano que eu estava participando?
-Não precisa enrolar.
Assim só piora. Chega logo ao ponto e diga de uma vez! – respondeu Joe.
Puxei o ar com força e o
soltei todo de uma vez em uma só frase. – A Miley ainda está viva.
-O que? Eu acho que
escutei errado. – Brian disse desacreditado com o que eu acabei de falar.
Eu olhei diretamente nos
seus olhos, mostrando toda a seriedade sobre o que eu estava falando. – A Miley
não está morta. E eu sabia disso o tempo todo.
Joe soltou uma risada sem
humor. – Isso é uma piada, não é?
-Não, Joe. Eu nunca falei tão
sério na minha vida.
-Você enlouqueceu, Nick?
Como é que você quer que nós acreditemos em você? Foi transmitida em todo o
país a tragédia que teve no presídio da Miley. O corpo dela foi encontrado
carbonizado com o colar que você deu pra ela. Ela está morta! - Joe começou a levantar a voz. Eu sabia que
ele só estava assim porque ele tinha medo de que o que eu estava falando era
verdade. Ele quer que tudo o que eu tenha dito, não passasse de uma brincadeira
de mal gosto. Mas não era.
-Como você sabe que ela
está viva? – perguntou Brian com um tom de voz mais baixo do que o Joe, mas
dava pra perceber a sua preocupação.
-Porque eu fugi com ela.
Era tudo parte de um plano, para que ela pudesse fugir comigo.
A partir daí, eu estava
preparado para tudo. Para um escândalo por parte do Brian, um soco na cara dado
pelo Joe, um interrogatório, ameaças, o caos. Mas aconteceu o pior do que eu
esperava. O silêncio. Aquele silêncio esmagador e sufocante, que deixava minha
mente girar em confusão. Aquele silêncio só me forçava a tentar imaginar o que
se passava na cabeça dos dois, a imaginar o que seria daqui para frente. Aquilo
estava me deixando aflito.
-Por favor, falem alguma
coisa!
-O que você quer que eu
fale? – respondeu o Joe. – Que eu estou orgulhoso de você em ter participado da
fuga da assassina mais procurada da Europa? Por ter mentido para todos nós esse
tempo todo? Que eu estou feliz pela inutilidade das noites que passei em claro
preocupado como você se sentia enquanto você estava fugindo com aquela puta? Você
sabe muito bem como eu devo estar me sentindo, então eu não preciso falar mais
nada!
Aquilo calou minha boca.
-Nick... – pronunciou
Brian meio atônito. – A garota lá de cima... É a...?
-Sim, é a Miles. Ela está
morando comigo aqui desde o dia que viemos para cá. – eu respondi. Pude ver que
ao mesmo tempo em que eu disse isso, Joe jogou a cabeça para trás levando suas
mãos à testa, tentando controlar a sua raiva.
-Como você consegue ser
tão imbecil?! – gritou Joe. - Como foi trazer aquela puta pra dentro da sua vida de novo? Você já
tinha conseguido se livrar dela, colocá-la na cadeia onde é o lugar dela! Como
foi fazer uma idiotice dessas Nicholas?! – Joe levantou e não conseguiu se
aquietar, andando de um lado para o outro. – Você arriscou a sua liberdade para ajudar
aquela golpista a fugir. Você mentiu para nossa família e pro seu melhor amigo,
por causa dela. Esqueceu o que ela fez com a nossa família? Com o nosso pai?! Com você? Aquela vagabunda... - Interrompi
com medo de que a Miley acabasse escutando aquilo tudo.
-Já chega! – eu levantei a voz. – Primeiro, eu quero você
tenha respeito com ela! Porque, aliás, ela também mora aqui. E segundo, como é
que você consegue ser tão ingrato em dizer isso tudo sobre a Miley? Ela
preferiu matar o próprio tio para salvar a nossa pele, para salvar a pele do
nosso pai, o cara que arruinou com a vida dela.
Enquanto eu continuava a gritar cara a cara com o meu
irmão mais velho, Brian ainda se encontrava confuso demais diante da notícia
tão chocante. Ele ainda estava sentado no sofá tentando absorver tudo o que
acabou de escutar.
-E você acha que isso faz dela uma boa pessoa? Aquela
biscate só foi esperta, isso sim! Ela percebeu que uma hora ou outra seria pega
pela polícia e apelou pro joguinho do sentimentalismo com você. – Joe sacudiu a
cabeça com um sorriso irônico no rosto. – Aquela notícia da morte dela estava boa
demais para ser verdade...
-Como é que é? – eu continuei a gritar.
-É isso mesmo que você ouviu! Se ela estivesse morta
agora, tudo estaria melhor. Você não ia ser o mesmo idiota de agora, você não
teria se afastado de nós por causa dela. Agora tudo faz sentido! É por causa
dela – Joe apontou para o andar de cima, se referindo à Miley. – que você se
esqueceu de nós, não é?
Dessa vez eu não pude me conter. Quando me dei por mim, o meu punho já
estava atingindo o rosto de Joe. O tempo que ele colocou a própria mão sobre o
local atingindo, foi o suficiente para ele me lançar um olhar furioso e vir com
tudo para minha direção e acertar outro soco no meu rosto. Desesperado, Brian
correu até nós dois e se colocou no meio para tentar apartar a briga.
-Seu babaca, como é que
você pôde falar uma coisa dessas? – eu gritei, tentando me desvencilhar do
braço de Brian que tentava me afastar do Joe.
-Como você – Joe apontou
para mim. Ele já estava vermelho de ira. – pôde fazer uma idiotice dessas?
-Parem com isso, caras.
Vocês estão vendo o que estão fazendo? Vocês estão quase se matando por causa
da Miley! – Brian disse igualmente nervoso.
-E você não acha que é o
motivo suficiente? – eu perguntei para o meu amigo.
-O Joe é seu irmão! –
Brian gritou para mim como se fosse óbvio.
-Joe é um imbecil e a
Miley é a minha namorada! – eu gritei de volta.
-A Miley é uma piranha!
–Joe rebateu do outro lado de Brian, tentando inutilmente acertar mais um soco
em mim, ignorando totalmente o meu melhor amigo que se colocava entre nós.
-Mas que merda que está
acontecendo aqui? – eu ouvi a voz feminina soar firme.
Eu me virei e vi Miley descendo correndo as
escadas. O Joe parou naquele momento de resistir ao Brian, já o meu amigo
paralisou na mesma hora. Pude sentir todos os seus músculos endurecerem.
-Que gritaria é essa? – perguntou a Miley
preocupada. – O que está acontecendo?
Eu me recompus e me afastei de Joe e Brian.
– Nada, só aquilo que você já esperava.
-Olha só se não é a rainha do caos. Ainda não
cansou de destruir a família, não? – Joe se pronunciou amargo.
-Feliz em me
rever, Joe? – ela disse com um sorriso sarcástico no rosto, quando percebeu que
Joe a fuzilava com o olhar. Miley, isso não é hora para provocações!
-Transbordando
em felicidade. – respondeu ele no mesmo tom. – Já deveria saber que vaso ruim
não quebra, não é?
-Exatamente.
– rebateu Miley, enquanto cruzava os braços a um metro de distância do meu
irmão.
-Por
que você não me disse isso antes? – perguntou Brian, direcionando o seu olhar
de decepção para mim. – Por que você teve que me contar só agora?
-Brian,
é complicado...
-Complicado
é tentar entender como você ainda diz que me considera seu melhor amigo. – ele
cuspiu as palavras. Nos seus olhos era possível perceber a amargura refletida.
– Eu sempre o último a saber de tudo. Desde o ano passado, quando tudo começou,
você escondeu todas as coisas que estavam acontecendo de mim. – ele balançou a
cabeça. – Parece que nós somos completos desconhecidos agora. – ele disse decepcionado.
-Eu
não quis contar nada para não te envolver em coisa que não deve... Eu nunca
perdi a confiança em você, cara. – eu respondi, já sentindo o peso na
consciência me esmagando. – Não diga uma besteira dessas.
-Besteira?
– Joe repetiu a palavra com sarcasmo. – Eu não sei se você ainda não notou, mas
desde que essa vagabunda chegou na sua vida, – ele apontou para Miley – você
nunca mais foi o mesmo. Nem comigo, nem com Brian e nem com ninguém! Você está
completamente mudado. A Miley fez sua cabeça pra se afastar de todos por ela.
-Joe
está certo. Desde que você entrou na vida dele, tudo o que você fez foi usá-lo
e manipulá-lo. Por que seria diferente agora?
- Brian disse. Até ele?
-Parem
com isso! Eu nunca influenciei o Nick para parar de falar com vocês. – Miley se
defendeu. – Eu sei que é meio inútil falar isso para vocês, mas eu amo de
verdade o Nicholas e dessa vez eu não estou de má intenção nenhuma com ele.
-Isso
mesmo. – eu reafirmei. – E para sua informação, o plano de fuga quem quis
primeiramente fui eu e melhor amigo dela. Miley não pediu em nenhum momento
para ajudá-la a fugir da cadeia.
-Eu
não quero saber quem teve a ideia, Nicholas. O problema foi que você a ajudou
do mesmo jeito, em nenhum momento você pensou em contar para a gente e ainda
nos enganou esse tempo todo. – Joe respondeu cruzando os braços.
-Eu
não sei por que você está tão interessado em se fazer de vítima agora. –
murmurou Miley, revirando os olhos. – “Fui enganado”, “sou injustiçado”, “eu
sou seu irmão querido e ela é a vigarista”. Você acha que Nick esqueceu do
tipinho que o irmão dele é?
-Tipinho
por quê? Porque você foi fácil o suficiente para conseguir o que queria? Porque
eu te comi? Se eu for um “tipinho” por causa disso, nós dois estão quites, não
acha? – Joe disse transbordando veneno em suas palavras.
Aquilo me deixou
irado, ele estava ultrapassando todos os limites. Ele queria humilhar a Miley
na minha frente. Minha raiva já estava fazendo que as minhas veias pulsassem
forte e trouxe a minha vontade de dar mais outro soco bem dado no meio do seu
nariz, mas eu fechei minhas mãos em punho fortemente e as mantive do lado do
meu corpo. Se controle, Nick!
-Olha
como você fala comigo, seu babaca! – Miley gritou apontando o dedo na direção
dele.
-Eu
não sabia que tinha um modo certo para tratar vagabundas agora, porque você não
passa de uma. Quem dá por dinheiro não é nada mais, nada menos do que uma
prostituta. Por acaso estou errado?
-BASTA!
– minha voz ecoou por toda a casa. - Já chega! Eu não quero você mais aqui
humilhando a minha namorada. – eu caminhei até a porta e abri. – Vai embora.
-Você
está me expulsando por causa dela? – Joe perguntou inacreditado.
-Estou.
– respondi firme. – Anda! Pega as suas coisas dá o fora daqui.
Joe
não hesitou em fazer o que eu pedi.
Pegou a sua mala e passou direito pela Miley sem direcionar nem um
vacilo de olhar para ela. Antes que ele passasse pela porta e parou a poucos
centímetros de mim e fitou diretamente nos olhos.
-Nunca
mais me procure. Quando ela te der o pé na bunda e você ficar na merda, por
favor, esqueça que eu existo. Desconsidere tudo o que passamos juntos e me
esqueça de vez. – dessa vez ele não gritou. Pelo contrário. Por causa da distancia
entre nós, foi o suficiente ele falar em voz baixa.
-Me
esquecer de você não vai ser um esforço muito grande. Pelo contrário, vai ser
um alívio. – eu respondi no mesmo tom de
voz, antes dele passar por mim e atravessar a porta.
Brian
pegou a sua mala e também seguiu o mesmo caminho de Joe. Eu estava me sentindo
péssimo por ele. Eu nunca queria que ele pensasse que eu não confiava nele. Ele
é meu melhor amigo desde sempre... Será mesmo que eu me afastei tanto assim?
Antes
que ele fosse embora, eu segurei o seu braço. – Ei, espera... Eu mandei o Joe
embora, aquilo não foi pra você.
Ele
puxou o seu braço pra si carregando um semblante com misto de raiva e tristeza.
– Eu quero ir embora. – ele respondeu sério. E só. Essa frase seca foi a única
coisa que ele disse antes de sair da minha casa e entrar no carro.
Eu
senti os braços da Miley me abraçarem por trás e ela apoiar o seu queixo em meu
ombro, enquanto eu observava o meu irmão e meu melhor amigo, ex melhor amigo
pelo jeito, irem embora numa arrancada de carro. Esses segundos foram
suficientes para o calor da ira se dissipar e eu conseguir recapitular tudo o
que aconteceu há alguns minutos atrás. Eu fiz a coisa certa em defender a
Miley. É claro que eu fiz! Então por que eu sinto tão mal? Então por que eu
sinto como se tivesse uma caixa de chumbo pesando em meu peito?
Miley
beijou a minha bochecha carinhosamente. – Eles só estão de cabeça quente. Vai
dar tudo certo, não se preocupe.