segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

2ª temporada - Capítulo 5: Let's resolve this

Joe Narrando

Rolei sobre a cama macia do hotel pela milésima vez. Minha mente estava a mil por hora e simplesmente eu não conseguia fechar os olhos, dormir e esquecer, por algum momento, toda a confusão de horas atrás. Olhei para luz do sol que insistia em aparecer sutilmente na fresta entre as cortinas. É claro que é o jat leg. Por isso que eu não consigo repor minhas horas de sono. O que mais seria?
Eu desisti e me levantei do maldito colchão. Quem eu quero enganar com essa desculpa?

Tudo aquilo me deixou perturbado. A Miley ainda viva, o Nick ajudando num plano louco de fulga, a rejeição clara dele hoje de manhã... É coisa demais para minha cabeça. Quer dizer, se passou um ano depois de toda aquela loucura e quando finalmente pensei que tudo ia se ajeitar, Nicholas me joga essa bomba no meu colo. Passei as mãos em meu cabelo em nervosismo. O que aquele animal tem na cabeça?!

Tirei a minha cueca, a única peça de roupa que eu usava, e fui direto para o chuveiro da minha suíte. Abri a torneira, apoiei uma das minhas mãos na parede e abaixei minha cabeça, deixando que a água morna relaxasse os meus músculos tensos, numa tentativa válida de me acalmar.

Mas não era só raiva e incredibilidade que eu estava sentindo. Confesso que eu estava decepcionado. Ele perdoou aquela vagabunda por tudo o que ela fez, mas faz questão de desconsiderar de sua vida todo o resto que ele deixou em Los Angeles, inclusive eu. E o pior de tudo é que eu tenho certeza que eu não vou saber falar um não na cara daquele babaca quando a Miley o passar a perna e ele vier me pedir ajuda.

É sempre assim. Quer dizer, antes da bruxa da Miley aparecer na vida dele, sempre quando ele estava em apuros eu tava lá, mesmo eu não querendo na maioria das vezes.

Quer saber? Eu não vou ficar aqui sozinho me chateando com os meus próprios pensamentos, preso nesse quarto. Terminei o meu banho, me arrumei rapidamente e fui até o quarto onde o Brian estava hospedado. Bati na porta algumas vezes e logo fui atendido por ele.

-O que foi?- perguntou ele com uma expressão cansada. Ele também parecia bastante chateado ainda.

-Como é que é? Vai ficar aí se lamentando feito uma mulherzinha? Já que atravessamos o oceano para vir para esse lugar, vamos pelo menos fazer alguma coisa que preste!

Brian me lançou um olhar de "você está brincando, né?" e logo depois bufou.

-Olha Joe, eu não to muito no clima para bancar o turista, não. - ele respondeu com um tom de voz que quase me matou de tédio.

-É justamente por isso que eu estou aqui. Deve haver algum bar que preste por perto. Vamos beber e esquecer o imbecil do Nicholas que nem ele fez com a gente. Vou te dar dez minutos para se aprontar. - Brian abriu a boca para me responder, mas eu o interrompi. -Não aceito não como resposta. Não quero ficar bêbado e sozinho numa cidade que nem conheço.

Vinte minutos depois, chegamos a um bar que havia ali por perto. A decoração era rústica, mas parecia ser bem confortável. Mas quem se importa com o conforto? Eu só quero encher a cara e nada mais além disso! Eu e Brian nos sentamos em frente ao balcão e pedimos nossas bebidas, que foram rapidamente servidas.

-Tudo parece tão surreal ainda. Quer dizer, a Miley está viva! Quem poderia imaginar uma coisa dessas? – falou Brian antes de tomar um gole grande do seu pedido.

-Pois é, é difícil de acreditar. Mas tudo é possível de acontecer na minha família. Você já deveria estar preparado para encarar coisas inesperadas desse tipo. – eu disse tomei um gole do meu drinque.

Percebi que Brian por um breve momento ficou distante, pensando sobre alguma coisa que tenha a ver com o que estávamos falando. Então, ele acordou de seus devaneios e voltou o seu olhar para mim.

-Você acha mesmo que depois de tanto tempo morando junto com o Nick, ela ainda não sinta nada por ele? – ele perguntou curioso. – Quer dizer, aquele acontecimento em Los Angeles da Miley salvar o seu irmão do tio dela... Aquilo me fez achar mesmo que ela gostava dele.

-Eu não sei, Brian. Mas não acho que seja um amor puro. Aquela biscate já tem um passado muito comprometedor para ser capaz de se redimir totalmente do jeito que o Nick tanto acredita.

-Também duvido que ela tenha ficado boazinha de uma hora para outra depois de tudo que ela fez, mas... Eu não sei. Ela é confusa. – ele balançou a cabeça encarando o seu copo cheio pela metade.

-Não, Brian. Você é confuso, eu sou confuso, Nick é confuso. Miley é uma bomba-relógio. Só que a diferença é que ninguém faz ideia de quando ela vai explodir. – eu disse com certeza absoluta. – Mas por incrível que pareça, quem mais me preocupa não é ela, e sim o Nick. Foi ele quem quis que ela estivesse solta, foi ideia dele trazer ela pra cá para que ela pudesse se esconder.

-E vai ser ele quem vai sair machucado nisso. – Brian chegou à conclusão óbvia.

-Exatamente.

-Quando isso acontecer, não sei se conseguiria virar as costas pro Nick. Quer dizer, eu mandaria ele se foder primeiro. – eu ri. Com certeza, eu faria o mesmo. – Mas eu acho que ficaria do lado dele. E você?

Eu esvaziei meu copo num só gole e dei de ombros. –Família não se escolhe, né?

                Brian riu comigo e pedimos mais outra dose. Essa conversa com ele, fez que a minha mente vagasse por algumas memórias do passado.

Flashback on

Gabe Parker esperava impacientemente Nick ceder. Gabe era bem maior que o Jonas e seu melhor amigo, Brian, assim como os outros amigos da sua pequena "gangue" de valentões do sétimo ano. A dupla de amigos pensou a mesma coisa: eles estavam encrencados.

-Anda, seu otário. - o valentão empurrou o garoto de cachos. - Entrega logo essa porcaria de game pra mim antes que eu quebre essa sua cara de babaca.

-Não!- Nicholas respondeu firme. -Foi um presente do meu pai e não vou entregar pra ninguém.

Depois das férias de verão, a notícia do enriquecimento da família Jonas se espalhou rapidamente, provocando fofocas e inclusive inveja de alguns. E esse era o caso de Gabe Parker. O garoto de doze anos não conseguia suportar que Nicholas Jonas fosse o assunto da vez, muito menos que o seu game de ultima geração e seus muitos outros presentes caros do seu pai tenham atraído tanta atenção e admiração dos seus colegas de série. Ele nunca foi alvo das brincadeiras de mal gosto ou de provocações de Gabe e seus amigos, mas Nick sempre foi do tipo de criança mais na dele, compartilhando apenas a amizade fiel de Brian.

   Apesar da firmeza na sua decisão, assim como Brian que estava ao seu lado, Nick estava com muito medo. Os dois estavam na rua, a caminho da casa de Brian, que não era muito longe dali. Ou seja, não se encontravam mais sob a proteção da direção da escola.

-Anda, seu boiola. Vou ter que te dar uma lição antes que você faça o que eu to mandando?

-Ele não vai fazer o que você quer, porque você não manda em ninguém, seu bosta. - gritou Brian, que tomou partido na briga. -Deixa o Nick em paz!

-É melhor você parar de bancar o heroizinho e ficar na tua, Evans. Senão você vai apanhar o dobro. - Avan, um dos amigos de Gabe, se pronunciou apontando o dedo ameaçadoramente para o Brian, que por dentro estava morrendo de vontade de sair correndo, mas se manteve firme sob a ameaça do garoto visivelmente mais forte.

-Deixa Brian fora disso. - Nicholas deu um passo a frente em defesa. -E se você quiser um game igual ao meu, Gabe, arrume o seu próprio dinheiro e vá comprar na loja. Porque eu não sou de abaixar a cabeça pra um bando de babacas que nem vocês, não.

-Acho que você ainda não entendeu muito bem o que eu quis dizer. - Gabe se aproximou com um seu sorriso metálico carregado de maldade. - Ou você faz o que eu quero por bem. - deu um empurrão novamente em Nick. Porém, dessa vez foi com tamanha força que ele se trombou com o seu melhor amigo, que estava logo atrás.

-Ou faz por mal. -mais um outro garoto, que o Nick não lembrava o nome, o empurrou com ainda mais força, o fazendo  perder o equilíbrio e cair junto com o Brian sobre o chão cimentado. Os garotos riram do modo desajeitado que a dupla caiu diante deles.

Antes que o Nick se preparasse para levar um chute de Gabe, uma voz soou alta e ameaçadora atrás dele e de Brian.

-Se você tocar mais um dedo nele, você vai se arrepender de ter nascido!

A pessoa ainda não se encontrava no campo de visão de Nicholas e Brian, mas os dois reconheceram muito bem a voz firme e cheia de raiva que fez os valentões a sua frente estremecerem. Joe surgiu em seu campo de visão e estendeu a mão para o seu irmão mais novo se levantar e logo depois fez o mesmo para o Brian. Salvos pelo gongo! A dupla de melhores amigos suspirou aliviada.

-Só porque você é mais velho do que nós, não quer dizer que temos medo de você. Não passa de um imbecil que nem o seu irmãozinho gay. – Gabe cruzou os braços, enquanto mentia, tentando mostrar uma falsa coragem diante de Joseph.

-Ah, é mesmo? – Joe se aproximou, fazendo questão em amedrontar os garotos com a sua diferença de altura e seu corpo atlético. – Estou vendo como vocês são corajosos. Só de se meterem com o meu irmão, tem que ter muito desapego à vida, mesmo. – ele puxou Gabe pela gola da camisa, fazendo que suor frio brotasse da testa do garoto. Joe aproximou o seu rosto bronzeado do rosto redondo e infantil de Gabe. - Você ainda quer a porra do game do meu irmão? Porque se você ainda quiser, vai ter que se resolver comigo primeiro.

-Deixa pra lá, Gabe. – Avan, o seu companheiro de confusões, aconselhou. – Vamos embora.

Os outros meninos da pequena gangue concordaram, hesitando arrumar confusão com Joseph. Além do mais, se tentassem fazer alguma coisa contra o moreno, eles estariam chamando os amigos da idade dele para a briga, também.

-Me larga, por favor.  – pediu Gabe assustado. Por causa da diferença de altura, Gabe se encontrava na ponta dos pés e com dificuldade de respirar.

-Só se você me prometer que nunca mais vai se meter com o Nick ou com Brian. – disse o Joe puxando mais a gola da camisa.

-Eu prometo, eu prometo. – o menino respondeu rápido, querendo sair daquela situação o mais rápido possível. Joe o largou e o Gabe deu alguns passos para trás rapidamente, para garantir uma distância segura do jovem alto.

-Se tentarem fazer alguma coisa pro meu irmão e pro amigo dele, eu não vou ter pena de ninguém. Vocês me entenderam? Isso serve para qualquer um. Então é melhor que vocês espalhem para os seus amigos que ninguém vai se meter com eles. – Joe apontou para o Nick e Brian que assistiam a cena com um sorriso de divertimento nos lábios e a surpresa estampada nos olhos.

Os meninos assentiram nervosos e no segundo seguinte, dispararam os passos para bem longe de Brian, de Nicholas e, principalmente, do seu irmão mais velho e forte.

-Vocês estão bem? – perguntou Joe para os dois garotos, que afirmaram com a cabeça. Antes que qualquer um dos dois falasse alguma coisa, ele interrompeu. –Se aqueles caras ou qualquer outra pessoa tentar machucar vocês de novo, me avisem. – Nick ia abrir a boca para responder, mas novamente, o mais velho desandou a falar. –Nunca, Nick. Nunca deixe que as pessoas te façam de idiota, você me ouviu? Agora estamos ricos e a quantidade de gente má intencionada, falsa e invejosa que vai aparecer no nosso caminho vai ser absurda. Abre bem o olho e tome cuidado com isso.

-Eu vou tomar mais cuidado da próxima vez. Eu prometo. – Nick disse confiante.

Joe viu olhos escuros de Nick brilharem de um jeito diferente e um sorriso no rosto contagiante. Ele tentou reprimir um sorriso, também, mas deixou escapar por alguns segundos. Tentou desviar a sua atenção para o seu carro novo no qual o seu amigo ainda o esperava no banco de carona.

-Vamos logo para casa. Eu ainda tenho que dar carona pro Erick. – deu as costas para os dois e começou a caminha em direção ao carro.

Brian e Nick trocaram olhares cúmplices. Não foi necessário dizer nada. Na linguagem visual que só os dois entendiam, aquilo significava “Você viu o que eu vi?”.


– Vocês estão mais lerdos do que duas lesmas. Anda logo! – apressou Joseph.

Os dois apressaram o passo a até o carro. Nick parou de frente para o irmão mais velho e não soube muito bem o que fazer. Era estranho esse momento de paz entre os dois que passavam mais tempo brigando do que agindo normalmente um com o outro. Antes que Joe pudesse dizer alguma coisa Nicholas deu um abraço rápido e desajeitado nele. Meio sem jeito, Joe retribuiu nos poucos segundos que o abraço durou.

-Obrigado. – envergonhado, Nick disse num tom quase inaudível.

-Não tem de que. – Joe bagunçou o cabelo do caçula do jeito que ele sempre fazia quando implicava com o Nick, mas dessa vez o mais novo riu.

Para o Nick era estranho de acreditar que Joe, aquele cara implicante e rebelde, foi o grande herói do dia. Mas a estranheza não impediu de que um sentimento novo tenha se despertado dentro de seu peito: orgulho.

Flashback off

Sacudi a cabeça, espantando as lembranças da minha mente. Como Nicholas é idiota!

-O que está pensando? – perguntou Brian. Ele é fraco para bebidas e já dá para perceber que os seus olhos já estão levemente caídos.

-Eu estava me lembrando de uma coisa. Mas nesse momento eu estou socando o Nick mentalmente.

-Ah... Chega! Você me chamou para esse lugar para esquecer o Nick e não falar sobre ele! – falou Brian impaciente.

Eu balancei a cabeça achando graça da sua cara de raiva. –Você tá certo! Vamos mudar de assunto.

-Qual vai ser o assunto da vez agora? – ele perguntou.

Eu olhei para a entrada e abri um sorriso malicioso. –Talvez a morena gostosa que acabou de chegar. –acompanhei com o olhar a mulher que caminhava sem nem mesmo olhar na minha cara, exalando pura confiança.

-Uau, você é bem rápido para encontrar uma gata. – disse Brian observando de cima a baixo a recém- chegada.

-Digamos que acabei criando um radar natural com o tempo. – eu disse e Brian riu.
A jovem mulher se sentou ao meu lado do balcão e eu tive que me conter para não ficarem obvias as minhas intenções. Disfarcei e fingi prestar atenção na minha bebida que eu estava quase acabando de tomar.

A atitude levemente afrontosa que ela exalava, apesar de ser familiar, me chamou bastante atenção. Eu me sentia atraído por mulheres de personalidade forte, assim como parecia ser aquela morena. Talvez se distrair com mulheres hoje possa fazer bem pra mim.

-Uma cerveja, por favor. – ela pediu ao barman.

-Uma não, duas. Por minha conta. – eu tirei o dinheiro da minha carteira e coloquei sobre o balcão. Essa frase foi o suficiente para cativar a atenção da recém-chegada. Seus olhos castanhos escuros me encararam com estranheza. – Se você não se importar que eu pague, é claro. – eu sorri sedutoramente.

Ignorando o meu sorriso, ela continuou séria. As cervejas foram servidas. A morena clara cruzou as pernas naquele jeans apertado, que tirou o foco da minha atenção por um momento, e virou-se para minha direção.

-Americano? – ela perguntou com curiosidade.

-Sim, já visitou a América? – eu perguntei esperando puxar um bom assunto.

-Já e detestei. – ela respondeu azeda. - O patriotismo daquele povo me incomoda.

-Uma pena. Tem muitas coisas dos Estados Unidos que, com certeza, você iria amar. – eu olhei diretamente nos olhos, deixando que a minha voz saísse mais baixa e que as palavras saíssem ambíguas por entre um pequeno sorriso travesso. Ela demorou alguns minutos encarando os meus lábios molhados da bebida anterior e meus olhos. Um ponto pra mim!

-Você acha que vai conseguir me comprar com uma cerveja? – ela mudou de assunto drasticamente. Então o que eu disse a deixou tão desnorteada que foi necessário mudar de assunto? Bom.

-Não se compra ninguém com uma cerveja. Mas talvez uma cerveja seja um bom motivo para começar algum assunto. E talvez a partir de um assunto, o interesse possa despertar.

-Como você tanta certeza que eu vá me interessar por você? Você pode correr o risco de pagar uma cerveja a toa. – sabia que alguma coisa na sua fala era diferente. Ela carregava um sotaque britânico forte, que chegava a ser sexy ao soar por entre os seus lábios.

-Dinheiro não é problema para mim. – eu não pude conter a presunção no meu tom de voz. – Conquistar mulheres também não.

                -Nossa, o seu ego é tão grande que me enoja. – ela disse torcendo o nariz.

                -Ah, qual é? Eu só estava brincando! Relaxa... - eu disse e ela rolou os olhos em resposta. -Eu confesso que adoro mulheres difíceis, mas não precisa dificultar tanto.

                -Eu não estou dificultando, mas eu já estou de saco cheio de homens metidos a Dom Juan que nem você. – ela levantou um pouco mais estressada. – Quer saber? Fica com a merda da cerveja pra você e pro seu amigo. Perdi a vontade. – Assim, a britânica mal humorada saiu em passos largos de volta para a rua.

                Eu encarei Brian que ria do fora que eu levei, enquanto tomava a garrafa intocada de cerveja para ele. – Pelo visto, o Joe fodão não conseguiu se dar bem hoje. – ele disse debochado.

                -É só questão de tempo. – eu disse encarando saída, por onde a garota acabou de passar. –Porque se eu encontrá-la de novo, ela não vai escapar. Escreve o que eu estou dizendo. – agora é questão de honra. Sempre foi assim. Nunca gostei de levar um não, nunca aceitei. E nesse momento não é diferente.

                -Essa eu quero ver! – Brian disse em tom de desafio. –Você ouviu o que ela disse. Ela detesta conquistadores de plantão. Isso SE você encontrá-la de novo, o que é meio difícil.

                -Muito obrigado pelo apoio. – eu disse irônico enquanto tomava a cerveja.

                -Disponha. – ele disse risonho.

               
Algumas horas depois...

Nick Narrando

                Flashback on

                Já se completava uma semana. Uma semana que a família Jonas tinha vivenciado um verdadeiro inferno dentro da própria casa. Logo depois do funeral de Denise, Kevin, o mais velho dos irmãos, não conseguiu mais conter a sua revolta e teve uma briga terrível com o seu pai. Jogou toda a culpa sobre Paul, dizendo que a sua ambição, sua infidelidade e sua ausência que era responsável pela morte da mãe e, consequentemente, da destruição da felicidade dos filhos dele. Obviamente, Paul não escutou calado. Ao final da pior briga que a família já viveu, Kevin resolveu ir embora e não olhar para trás. Há sete dias, o mais velho do trio de irmãos não havia deixado qualquer rastro. Com toda a certeza ele já tinha ido embora de Los Angeles.

                No meio da madrugada, Nick bate na porta do quarto de Joe. Ele não atende, provavelmente está dormindo. Nick bate novamente com mais força dessa vez. Ele ouve o mais velho reclamar com sono e então a porta é aberta.

                - O que você q...? - ao abrir a porta, Joe se depara com o seu irmão de treze anos com o rosto molhado de lágrimas. – Nick? O que houve?

                Nick abriu a boca para responder, mas não conseguiu conter o soluço de choro, deixando ainda mais lágrimas escorrer pela sua bochecha. Não era necessária resposta alguma. Joe sabia muito bem o motivo do seu choro. O clima estava pesado demais e aquela casa estava vazia demais para os dois suportarem.

                -Vem, entra aqui. – Joe disse baixo, enquanto Nick entrava no quarto e ele fechava a porta do cômodo.

                -Hoje eu falei com nosso pai. Eu pedi para ele chamar a polícia para procurar o Kevin. – Nick disse com uma voz embargada. – Ele disse que não vai adiantar procurar se ele não quiser voltar e que tem certeza que ele nunca mais vai voltar. E eu sei que é verdade. – fungou e tentou secar inutilmente as lágrimas com a mão. – Primeiro é a nossa mãe, depois o Kevin... Por favor não me deixe, também. – Nick voltou a chorar. – Eu não quero que vá embora eu fique sozinho aqui.

                Joe sabe que muitas vezes pensou em fazer a mesma coisa que Kevin nos seus momentos de revolta, mas havia duas coisas que o impediram de fazer isso: o seu irmão e o seu comodismo. Era hipocrisia pensar que ele não gostava desse conforto e seria mentira se ele dissesse que não se importava com a ideia de deixar Nick encarando do esse turbilhão de problemas sozinho.

                -Eu não vou embora, Nick. Fica tranquilo. – Joe disse apoiando a mão sobre o ombro do mais novo. – A gente não se dá muito bem às vezes, mas agora nós temos que ficar unidos. – Nick balançou a cabeça afirmativamente. – Eu prometo que eu não vou te deixar, cara. Eu te dou minha palavra.

                -Eu também não vou te deixar. Eu prometo. – Nick disse firme olhando nos olhos do irmão mais velho.

                Flashback off


                A água morna da banheira e o cheiro de sais de banho eram simplesmente relaxantes, mas poderiam ser muito mais se a minha mente não estivesse vagando desnorteada para longe daquele banheiro. Era óbvio que mesmo já de noite, o incidente de hoje de manhã ainda desgastava a minha atenção e humor. Não é pra menos. Às vezes me pegava me perguntando por que eu não falei para eles desde o começo, pra que ter escondido se em algum momento eles descobririam do mesmo jeito e o que deveria fazer agora.

                Fui desperto dos meus devaneios pela presença da Miles. Os seus olhos azuis fizeram que a minha cabeça parasse de borbulhar por um momento. – Oi, como você está? – ela tinha acabado de chegar em casa. Ela tinha saído para resolver algumas coisas, inclusive procurar o Chad.

                -Ainda estou um pouco chateado, mas vai passar. – eu respondi.

                -Tem espaço para dois? – ela perguntou, se referindo à banheira e abrindo um sorriso lindo. Era impossível não retribuir.

                -É claro que tem. E mesmo se não tivesse, daríamos um jeito. – eu disse um pouco mais relaxado por ter ela por perto.
               
                Miley se despiu com rapidez e entrou na banheira. Ela se sentou frente a frente para mim. Mergulhou a cabeça por alguns segundos e voltou a se sentar de novo. Ela olhou diretamente nos meus olhos e se aproximou de mim. Beijou a minha boca com suavidade e eu retribuí. Aquilo foi me relaxando ainda mais, me deixando menos tenso a cada segundo daquele beijo. 

                -Eu odeio te ver desse jeito. – ela sussurrou, roçando os seus lábios macios nos meus. Seus olhos transmitiam carinho e preocupação.

                -Vai passar. – eu acariciei o seu rosto molhado e corado de sol.

                -Desculpa.- ela disse ainda baixinho. -Eu não queria que você se afastasse do seu amigo por minha causa e... – eu a interrompi com mais outro beijo. Eu suguei o seu lábio inferior com a mesma suavidade de antes. Deixei que nossas línguas se roçassem lentamente. Me separei dando mais alguns beijos rápidos na sua boca.

                -Não foi culpa sua. – eu respondi a puxando para perto de mim. Miley reinclinou o seu corpo no meu enquanto eu a abraçava. Suas costas macias roçavam no peito e abdômen. – Quer dizer, é meio óbvio que eles brigaram comigo por sua causa, mas de jeito nenhum você está errada. Muito menos deve me pedir desculpas por isso. Tudo o que eu tive que perdoar, eu já perdoei e isso aconteceu lá em Los Angeles.

                -Onde você acha que você acha que eles devem estar agora? – ela perguntou.

                -Acho que hospedados no principal hotel da cidade, provavelmente. Não acho que deu tempo para eles comprarem outras passagens e irem embora.

                -Eu posso conversar com o Brian, se você quiser. Eu posso ir lá amanhã. – ela virou o rosto para olhar para mim. – Posso tentar convencê-lo a fazer as pazes com você.

                -Ele não escutaria você. Além do mais, Joe provavelmente estará por perto. Só vai causar ainda mais confusão. Eles acham que você não mudou, que você é a mesma pessoa manipuladora de antes. – eu disse e ela concordou com um aceno de cabeça. – Se eles pudessem ter a chance de te conhecer melhor da mesma maneira que eu tive... – eu falei pensativo. – Talvez eles mudariam de ideia e não teria mais confusão nenhuma. – então minha mente iluminou como uma lâmpada. – É isso!

                Miley virou a sua cabeça para trás e olhou para mim com uma expressão assustada. – Puta merda, Nick. Não diz que é que a sua ideia é o que eu to pensando...

                -Ah, vamos! Um dos lados tem que ceder primeiro. E nesse caso, o seu lado é o que cede. –eu disse. – É só por um período curto de tempo. Eu juro que se eles extrapolarem os limites, eles vão embora de novo. Esse é a única maneira de dar certo.

                -Ah, não! Eu quis ser a mediadora entre você e Brian. Eu nunca quis que o seu amigo e Joe venham conviver comigo por um tempo. Isso é totalmente diferente! – a Miley desandou a falar com nervosismo. – Além do mais qual é a garantia que eles vão topar numa boa? Eles estão com raiva da gente, de mim principalmente. O que levaria a convencer os dois de dividirem um teto por alguns dias com a golpista manipuladora que eles tanto detestam? E a nossa privacidade?

                -O que custa tentar? – eu perguntei a virando de frente para mim para ela olhar nos meus olhos. –Por favor, Miles. Faz isso por mim. Eu te amo e te defenderia até a morte, mas eu não quero viver em guerra com Brian e Joe pelo resto da minha vida. Isso vai fazer mal pra mim.

                Ela me encarou séria e suspirou. – Para de me olhar com essa cara, Nicholas. – eu sorri. Eu sei que quando ela fala assim é porque estou prestes a conseguir o que quero. –Você está sorrindo por quê? Eu não cedi. – Miley cruzou os braços. Ela fica linda quando faz essa cara de brava.

                -Eu prometo que se você topar, eu faço o que você quiser durante uma semana inteirinha. Viro o seu amo de luxo. – ela riu com a última frase. 

                -Tudo o que eu quiser? Tudo mesmo?

                -Tudo. Limpo a casa todinha, lavo a louça, compro todas as roupas que você quiser, treino até amanhecer, aprendo a cozinhar pra você... Totalmente a seu dispor. Em todos os sentidos. – eu falei num tom mais baixo para ela sacar a o segundo sentido. Miley sorriu maliciosa.

                -Você joga sujo, Nicholas. – ela respondeu tentando controlar o seu sorriso. Miley me jogou água e eu ri e fiz o mesmo com ela.

                -Aprendi com a mestra. – eu retruquei, enquanto a puxava para o meu colo. Ela olhou diretamente para os meus olhos e suspirou ao sentir a minha ereção. Ela não vai resistir por muito tempo. -Então... Topa ou não? – eu sussurrei passeando minhas mãos pelas suas costas. Me distraí por um tempo encarando os seus seios e voltei a olhar para os seus olhos, esperando uma resposta. Seu rosto já estava mais corado que o comum e os seus olhos estavam escuros.

                -Nick, isso não vai dar certo... – ela ainda resistia, mas agora com nem um pouco de vontade. Sua voz estava menos firme.

                Eu comecei a trilhar beijos pela sua nuca, até chegar na sua orelha e sussurrar. – Faz isso por mim. Só lembrando que é uma semana inteira do jeito que você quiser. Vai abrir mão disso? – eu suguei a sua orelha logo em seguida e senti toda a sua pele se arrepiar.

                -Droga, Nick. – ela resmungou com voz arrastada de tesão e eu ri em resposta. – Tudo bem! Mas vai ser tudo do meu jeito e se o Joe ou o Brian continuarem a me ofender...

                -Eles vão embora. – eu respondi em confirmação.

                -Você não presta, sabia? – ela brincou e eu sorri malicioso em resposta. Miley me puxou pela nuca e me beijou com ardência. Eu apertei sua bunda com força e retribui o beijo da mesma forma.


                No dia seguinte...
               
                Eu fui até o hotel para me certificar se os dois estavam hospedados ali. De acordo com a recepcionista, haviam dois rapazes americanos instalados. Eu pedi educadamente o número dos quartos para que eu possa encontrar pessoalmente com eles. Ela hesitou um pouco, por conta da segurança dos clientes, mas eu insisti e provei que era irmão de um deles com a minha identidade. Então, finalmente a moça deixou. Me passou os números dos quartos e eu fui rapidamente à procura.

                Chegando ao andar, bati primeiro na porta do Joe. Nada respondeu. Bati de novo com mais força. Ouvi um resmungo, mas nada de abrir a porta.

                -Oh Joe, abre logo essa porta! – eu bati com força de novo.

                -Quem é que está me perturbando a essa hora da manhã...? – ele reclamou do outro lado da porta enquanto a destrancava. Quando a porta foi aberta e ele me viu, nada foi dito. Ele apenas rolou os olhos e bufou. Não deu tempo de dizer nada, pois logo depois ele bateu a porta na minha cara.

                -Ah, qual é, Joe! Para de criancice e abre a merda dessa porta. Quero conversar sério com você.

                Ele me ignorou. Quanta maturidade!

                Eu bati com força mais uma vez até que ele não aguente mais e venha atender. E assim aconteceu.

                -O que você quer? – ele perguntou seco. – Eu estou numa puta ressaca e estou louco para voltar a dormir, então fala logo o que você para dizer e me deixar em paz.

                -Eu quero conversar com você em Brian sobre a Miley. – eu disse enterrando as mãos nos bolsos da minha calça.

                -Nós não temos mais nada para conversar com você.

                -Como você pode responder pelo Brian? – eu perguntei indignado.

                -Porque como eu, ele está de saco cheio disso, Nicholas. Se duvidar ele está com mais raiva do que eu. Você enganou o seu amigo por um ano! E você ainda quer vir bater um papo? – Joe cruzou os braços e foi a minha vez de bufar.

                -Olha só, eu estou aqui para tentar resolver isso de uma vez e colocar um ponto final nisso. Será que você não pode se mostrar um pouco maduro para pelo menos tentar me ouvir? – eu insisti. –Chama o Brian para o seu quarto. Eu preciso conversar com os dois.

                Contra sua vontade, Joe digitou o número de Brian no telefone e ele rapidamente atendeu. Joe pediu para que viesse para o seu quarto. Ele não avisou sobre o que era, mas disse que era uma coisa importante. Em um minuto, Brian estava ali batendo na porta.
               
                Quando Joe abriu a porta e Brian me viu, a sua expressão se fechou. Eu suspirei em cansaço. Pelo visto vai ser difícil encarar esses dois.

                -O que você está fazendo aqui? – perguntou ele.

                -Eu preciso conversar com vocês.

                -Da última vez que tivemos uma conversa, eu fui despejado da sua casa. – Joe resmungou baixinho. Eu olhei feio para ele.

                -Então fala logo o que você tem pra dizer. – Brian disse sério com os braços cruzados.

                -Eu quero pedir desculpas. – eu falei logo de uma vez. – Eu não deveria ter escondido de vocês durante tanto tempo. Eu tive meus motivos, mas não fui justo em enganá-los.

                Quando Brian ouviu o que eu disse, aos poucos sua guarda foi abaixando. Sua expressão não era mais agressiva, mas ainda era séria.

                -Que bom que você sabe que estava errado. – ele respondeu.

                -E então? Vocês me perdoam? – eu perguntei.

                Joe e Brian trocaram olhares, esperando o outro responder primeiro.

                -Eu perdoo. Mas ainda estou chateado com você. – Brian respondeu.
               
-Não é tão simples assim. – Joe disse impassível. Como sempre, o mais complicado. – Você me expulsou da sua casa por ela. Você sabe muito bem que os nossos desentendimentos vão muito além de um simples segredo.

-Eu fiz isso porque você estava a humilhando na própria casa. Era obvio que eu tinha que fazer alguma coisa! E eu sei que vocês não confiam na Miley e acham que ela está comigo por interesse, mas eu posso provar para vocês que ela mudou, ela é uma boa pessoa e me ama com sinceridade.

-Como? –perguntou Joe num tom de voz desafiador e ao mesmo tempo curioso.

-Eu quero que vocês passem uns dias lá em casa. Junto com a Miley. Vocês vão ter mais tempo para conhecê-la melhor. Eu juro que vocês vão mudar de ideia sobre ela.

Brian me encarou um pouco hesitante. – Eu não sei se isso vai dar muito certo...

-Passar alguns dias no mesmo teto do que aquela...? – Joe começou a falar e o olhei com reprovação. - ...mulher?

-Sim. – eu respondi. – Eu já conversei com ela sobre isso. Ela ficou com um pé para trás sobre isso, também, mas ela topou.

-Eu não acho seguro. – Joe disse. – Vai que ela cisma de me matar enquanto eu estiver dormindo?

-Joe, eu estive morando com ela durante um ano e não me aconteceu nada. Para de ser covarde! – eu falei rolando os olhos.

-Eu não estou sendo covarde, mas eu sei muito bem com quem eu estou lidando. Eu não me esqueci do que ela é capaz de fazer.

-Olha, se você acha eu estou enganado sobre a Miley, essa vai ser a sua chance de você me provar isso. - eu olhei para os dois. Brian e Joe não estavam nem um pouco animados com a minha ideia. –Por favor!

-Tá, eu topo. – Brian se rendeu.


Nós dois encaramos o Joe esperando uma resposta. Ele deu de ombros. – Fazer o que, né? Vamos lá. 


Alguém prevê que isso vai dar em treta? kkkkkkkkkkkkk 
Espero que gostem! Por favor, não deixem de comentar. 
Beijos
Ah! Votem lá na minha fic na votação da Crítica de Fanfics :) Eu estou concorrendo.