Miley Narrando
Já fazia um tempo que Nick foi
até o hotel procurar pelo Joe e pelo Brian. Ele disse que ia tentar conversar e
resolver a confusão pendente da discussão feia de ontem. Além da tentativa de
convencê-los a se hospedarem aqui por um tempo. Eu suspirei. No fundo eu estava
torcendo para que eles negassem. Era óbvio que a ideia maluca de Nick de eu
dividir o mesmo espaço com dois caras que me odeiam não vai dar certo.
Coloquei a louça do meu café da
manhã na pia e me deitei no sofá. Depois eu lavo. Estou nervosa demais até para
fazer coisas simples como isso. Eu estou nervosa demais para fazer qualquer
coisa, na verdade.
Então a porta de entrada se abriu
e eu avistei Nick adentrando a sala ainda falando com alguém. Ah não! Não é que
ele conseguiu, mesmo?!
-Eu ainda tenho as aulas da
faculdade, então durante uma parte do dia eu não vou poder passar com vocês,
mas... Nas horas vagas a gente pode arranjar algumas coisas para fazer. A
praia, piscina, podemos jogar alguma coisa, conhecer melhor a cidade e os meus
amigos da faculdade também. – Nicholas tagarelava distraído demais para notar a
minha presença na sala.
Brian entrou logo depois dele e
sua visão logo me reconhece jogada no sofá, antes mesmo do Nick. Ele olhou para
mim de um jeito esquisito. Não parecia ser raiva ou afronta, mas era claro o
desconforto dele em perceber a minha presença.
Eu levantei meu tronco, me sentando no sofá e mantendo o contato visual.
Eu esperava alguma reação dele, alguma palavra, algum gesto para mim. Tudo o
que Brian fez foi desviar o olhar meio sem graça e fingir que estava prestando
atenção em Nick, enquanto ele o ajudava a arrastar a mala grande e pesada.
Joe entrou logo depois deles,
ainda com uma carranca no meio da cara. Eu rolei os olhos. Eu vou pagar por
todos os meus pecados com esse traste por aqui! E olha que para me fazer pagar por
todas as merdas que eu fiz tem que ser digno de um diploma oficial de babaca. E
não existe alguém melhor para o posto do que Joe. Eu fui a primeira coisa que
atraiu a sua visão quando chegou. Então,
finalmente, Nick parou de conversar com Brian e prestou atenção no que o seu
irmão estava encarando com tanta fúria. Confesso que eu retribuía o olhar com
mesmo “amor”.
-Miles- Nick disse. – Eu nem
tinha percebido que você tava aí. – ele disse caminhando até mim. – Eu não
disse que ia conseguir convencê-los? – ele me deu um beijo nos lábios.
-Pois é... Você conseguiu. – eu
disse claramente desanimada, enquanto olhava para os dois rapazes
desconfortáveis que estavam parados em frente à porta.
-Eu só topei porque o Nick
insistiu. Isso não quer dizer que virei amiguinho de ninguém, ok? – Joseph se
pronunciou.
-Que bom, porque eu também não
estou a fim de brincar de falsidade com nenhum de vocês. – eu respondi seca e
cruzei os braços.
-Isso você já faz desde sempre,
né? Convenhamos. – Joe rebateu fazendo com uma cara de tédio.
-Gente, por favor, eu não propus
isso aqui para vocês continuarem trocando farpas. Pelo contrário. – Nick
interviu olhando seriamente para mim e pro Joe. – Brian e Joe, deixem as malas
de vocês lá nos quartos de hospedes e depois voltem aqui, para sala, para
podermos conversar melhor.
Os dois, ainda não se mostrando
muitos entusiasmados, fizeram o que o Nick pediu. Logo depois que a dupla subiu
com as bagagens, Nick puxou meu rosto com delicadeza para olhar para ele. Ele
deve ter percebido que eu também não estava nem um pouco feliz.
-Oh Miles, vai ser legal, ok? –
ele foi se achegando mais a mim e envolveu meu corpo com os seus braços. - No
começo vai ser difícil mesmo, mas quando eles conhecerem você melhor tudo vai
melhorar. E aliás, eu também queria matar saudades desses dois. Até do Joe. –
eu ri e ele me acompanhou no riso. – Pois é, apesar de tudo, até do Joe eu tava
sentindo um pouco de falta. Ele é um babaca, mas ainda é meu irmão.
-Tudo bem, Nick. – eu suspirei. –
Eu te entendo. Para ser sincera, não estou muito animada em me aproximar deles,
mas eu também quero que as coisas se acertem. Só não imaginava que deveria ser
desse jeito. – eu torci o nariz e o Nick sorriu.
-Relaxa, ok? – ele me beijou a
ponta do meu nariz. – Aliás, você ainda tem aquela sua lista de exigências essa
semana. Aproveita que eu estou disposto a cumprir qualquer coisa, não é todo
dia que isso acontece. – eu ri um pouco menos tensa.
-Eu até tinha me esquecido dessa
lista! Bom ter lembrado. Realmente, eu vou querer uma semana de rainha nessa
casa. Eu mereço. – eu joguei os meus cabelos para trás, fazendo cara de
exigente e ele se divertiu com isso.
-É claro que merece. – Nick disse
antes de eu beijar os seus lábios rosados e deliciosos.
Depois de um tempo nos beijando,
ouvimos uma tosse forçada atrás de nós, imagino ter sido o Brian, e logo depois
alguém falou:
-Eu não to a fim de ficar
segurando vela por uma semana nessa casa, não. – Joe reclamou. Oh carinha
azedo!
Eu e
Nick nos separamos e demos de cara com Joe e Brian sentados no sofá nos
encarando meio entediados. Eu bufei e olhei para o Nick esperando que ele
falasse alguma coisa para dar continuação ao seu processo de pacificação entre
nós três. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, mas foi interrompido
pelo Brian.
-Ontem
eu passei o dia inteiro intrigado pensando como que você conseguiu fugir da
cadeia, não ser reconhecida e ainda ser dada como morta. Como vocês conseguiram
fazer tudo isso? – ele perguntou nos analisando com curiosidade.
-Bom,
isso tudo foi um plano meu e do melhor amigo da Miles, o Chad... – Nick e eu
nos sentamos no outro sofá enquanto nós dois explicamos juntos os detalhes do
plano de fuga. Brian e Joe nos encaravam surpresos, intrigados e claramente
interessados em saber cada passo do nosso plano.
Depois
que terminamos de explicar, Brian respirou fundo. – Ok... Isso foi louco! – ele
sorriu. - Cara, parece aquelas cenas de filme de ação! – eu ri com a sua
empolgação.
-Pois
é. Foi um dos momentos mais tensos que eu já vivi! – Nick disse mais relaxado
em ver o seu amigo se animar. – E olha que tive que passar por MUITOS momentos
tensos no ano passado. – Nick me lançou um olhar cúmplice, fazendo me lembrar
de toda a loucura que passamos juntos até estarmos aqui. Eu sorri feito uma
boba. Quem diria que eu, uma golpista mais do que vingativa, um dia pudesse me
apaixonar, namorar e morar junto com o filho caçula do Paul Jonas?
-Tenho
que confessar que foi muito bem armado, mesmo. – Joe disse. – Em nenhum momento
desconfiei que tinha alguma coisa errada nessa história. E olha que eu tenho
uma boa percepção para coisa que não presta. – Joseph intensificou o seu olhar
em mim. Engoli a minha vontade de mandá-lo ir à merda e apenas sorri pra ele
com deboche. Isso o fez fechar ainda mais a cara.
-E... É
verdade aquela história de vingança? Sobre o Sr. Jonas e o seu pai? – Brian
perguntou pra mim um pouco hesitante. Acho que pra ele ainda é um pouco
estranho falar comigo, depois de eu ter sido considerada morta por um ano.
Joe
apoiou os seus cotovelos sobre os joelhos, colocando o seu corpo mais pra
frente. Acho que a sua atenção se intensificou ainda quando o esse assunto foi
tocado. Nick olhou para mim, esperando que eu respondesse o Brian. Sua mão
quente se aconchegou na minha e eu puxei os lábios em um pequeno sorriso para
ele, em agradecimento. Então eu voltei o olhar para os dois a minha frente.
-É
verdade, sim. Eu não sei exatamente o que o meu tio disse sobre o passado
quando ele deixou vocês como reféns, mas eu vou fazer um resumo do que
realmente aconteceu. Paul e meu pai se desentenderam dentro da empresa, por
conta de algumas trapaças do Paul e a confusão só piorou quando o Jonas roubou
o projeto do meu pai e conseguiu a presidência da empresa. Meu pai estava
pronto para denunciá-lo e já tinha provas contra ele, mas Paul já sabia disso e
mandou matá-lo antes da denúncia. – Brian e Joe em nenhum momento me
interromperam. Nem mesmo um suspiro. Eu sei que o Joe tem ideia do motivo da
vingança graças ao meu tio e ao Nick, mas não acredito que ele saiba os
detalhes. Eles me ouviam sérios. – Ele foi morto na minha frente e eu ouvi uma
conversa suspeita antes do meu pai ser baleado. Eu tinha certeza que o Paul
estava por trás daquilo. Enfim, o xerife Holmes, aquele mesmo, o amigo do seu
pai que foi assassinado em Los Angeles. – eu frisei para o Joe e ele me olhou
surpreso. – Eu não sei se você já sabia disso, mas fui eu quem o matei. Talvez
você já suspeitasse de mim e não soubesse o motivo. – então eu voltei à minha
linha de raciocínio e terminei de contar sobre a confusão com o Holmes e que
fui parar no manicômio, graças ao xerife e ao Paul. E expliquei como eu e meu
tio decidimos fazer os golpes e o porquê de tantas pessoas inocentes envolvidas
nisso.
-Você sinceramente
se arrepende? – Brian perguntou. – Dessas coisas que você fez?
-Sinceramente?
Me arrependo de ter envolvido pessoas inocentes nisso, sim. Me arrependo muito.
Mas confesso que ter matado o xerife não me pesou na consciência. E só me
arrependo do golpe ter chegado àquele ponto por causa do Nick. E também que
iria envolver muitas pessoas que não tinham culpa nenhuma do sofrimento que
passei, inclusive a Christine, você – eu apontei para o Brian e olhei para o
Joe. – e o Joseph. Eu ainda não te suporto. – eu disse diretamente para Joe. –
Mas não quer dizer que você também não merece passar pelo sofrimento que seria
causado se o golpe fosse realmente concluído.
-Mas
você acha que o meu pai ainda merece sofrer? – Joe perguntou.
-Não me
force a falar o desagradável na frente do Nick. – eu disse lançando um olhar
para o meu namorado, mas suspirei em derrota. Obviamente todos já sabiam a resposta. – É claro que eu acho.
-Você nunca parou para pensar que
talvez ele possa estar arrependido do que fez da mesma forma que você diz ter
se arrependido? – Pronto! Só me faltava isso. O Joe agora defendendo o Paul.
Parece até piada! Mas levei a pergunta a sério e respondi.
-Duvido
que tenha. – eu balancei a cabeça com certeza. – Ele fez coisas horríveis
comigo e com a minha família. Hoje eu mantenho contato com a minha família e
sei que ele nunca ao menos tentou pedir perdão pelo que fez!
-Com certeza
você fez tantas famílias sofrerem do mesmo modo que o meu pai fez ou até pior.
Famílias inocentes! E você em algum momento procurou pedir perdão a elas? Tentou
consertar alguma coisa? – Joe rebateu, mas desta vez eu não tinha mais o que
dizer. Essa me acertou em cheio. – Foi o que eu pensei.
Um
silêncio desagradável pairou sobre a sala de estar. As palavras do Joe foram
duras, mas ele tinha razão. Fui tão cruel quanto o Paul, talvez até pior. Fui
tão ambiciosa e egoísta quanto ele. E do mesmo jeito que o estrago que ele fez
na minha família nunca teria conserto, tudo de mal que eu fiz para pessoas
inocentes não tinha mais como ser retalhado. Quem sou eu para me achar melhor
do que o Paul?
Brian e
Nick estavam claramente agitados diante do clima ruim entre nós. Eles trocavam
olhares aflitos um com o outro, tentando pensar em alguma forma de reverter a
situação e deixar o clima um pouco mais leve como estava o começo da conversa,
mas era impossível escapar do assunto.
-Olha,
eu perdoei a Miley por tudo o que ela fez. – Nick tomou coragem para intervir. Joe
suspirou profundamente, demonstrando a sua impaciência. – Independente do que
ela fez ou deixou de fazer no passado, está no passado. Nós entramos em acordo
para deixar tudo pra trás e começar uma nova vida aqui. Então vamos deixar esse
assunto pra lá, por favor. Não quero que vocês comecem a remoer problemas
pendentes que deixamos em LA. Eu quero que vocês se entendam!
-Querer
nem sempre é poder, não é? – Joe respondeu sério e se levantou. Caminhou em
direção à escada e foi para o seu quarto.
Nick
jogou o seu tronco pra trás no encosto do sofá, em rendição. Era claro que
estava sendo tão desgastante para ele quanto pra mim. O dia mal começou e a
minha paciência já estava se esgotando. Eu estava irritada, chateada e cansada.
Eu já estava me sentindo exausta só de imaginar que o resto da semana vai ser
maçante desse jeito. Quer saber? Acho melhor me mandar, também.
-Vou
tomar um banho. – num tom de voz baixo e desanimado, eu usei o banho como desculpa
pra ficar sozinha por um tempo e botar a minha cabeça no lugar.
-Miley,
não precisa... – Nick me segurou pela mão e insistiu, já percebendo que eu já
não estava bem. Mas eu o interrompi.
-Me
deixa, Nick. – eu puxei minha mão e fui caminhando rapidamente pro meu quarto.
Nick
Narrando
Durante a tarde cada um ficou na
sua. Acho que o clima ainda estava estranho demais entre a Miley e o Joe.
Depois de eu conversar um pouco com ela, a Miley melhorou um pouco de humor,
mas ainda não queria interagir com Joe tão cedo. Apesar de Brian estar um pouco
mais a vontade comigo ao passar das horas, ele achou melhor não mexer com a
dupla do temperamento forte. Conclusão: cada um almoçou numa hora diferente
justamente para se evitarem. Mas no
jantar seria diferente. Vai ter que ser! Como eu pedi comida por delivery, a
comida de todo mundo vai chegar na mesma hora e todos vão se obrigar a comer ao
mesmo tempo.
Enquanto os nossos pedidos não
chegavam, eu e Brian conversávamos na sala de estar sobre as novidades em Los
Angeles. Fiquei feliz por ele quando eu soube que ele finalmente conseguiu um
carro de presente. Desde os dezesseis anos ele sonhava em ter um. E nesse ano
que eu estive fora, o Sr. Chase deu um de presente de aniversário.
-Não, cara! Eu estou te falando
que eu dirijo bem! – Brian falou pra mim enquanto eu ria.
-Falando sério, cara! Você acha
que eu acredito nessa ladainha? Me diz. Quantas multas você já recebeu? – eu
perguntei duvidando do que ele falava? Do jeito que Brian é desligado, duvido
que não tenha recebido nenhuma até agora!
-Ah... Eu só recebi uma ou
outra... – ele disse tentando disfarçar.
-Quantas?
-Umas oito... – ele respondeu já
rindo junto comigo.
-Eu não falei!?- eu me joguei pra
cima dele no sofá e ele gargalhou mais alto. -Eu te conheço! – eu zoei enquanto
bagunçava o seu cabelo e ele tentou me afastar colocando a mão no meio do meio
rosto. – Achei até pouco pra você!
-Até parece que você é todo
certinho. – ele disse fazendo careta enquanto ele se sentava de novo.
-Nem me fala! Você não sabe da
maior.
-Que merda você fez? –ele
perguntou arregalando os olhos.
-Em algumas festas da
universidade daqui rola algumas rachas. Eu participei de uma essa semana.
-O que? – ele praticamente
gritou. – Você enlouqueceu?!
-Calma, eu to vivo, ta bom? E
ainda ganhei de primeira! – falei comemorando enquanto ele me encarava
perplexo.
-Acho que essa doidinha – Brian
apontou para o andar de cima, se referindo à Miley. – está te fazendo perder o
juízo.
-Você diz isso como se fosse o
cara mais normal do mundo. Fique sabendo que aprendi a fazer merda com o
mestre, ok? – ele riu. – E você tem razão. A Miley me faz mesmo perder o juízo.
Na verdade ela me faz perder o juízo desde que a conheci. – eu sorri feito um
bobo apaixonado. Ela me fez perder o juízo no bom e no mau sentido. O amor que
eu sinto por aquela mulher chega a ser delirante.
- Você é loucamente apaixonado
por ela. Dá pra perceber pelas doideiras que você já fez pela Miley. – Brian
sorriu.
-Cara, eu sei que o meu amor por
ela pode parecer a maior loucura que existe para as outras pessoas, mas para
nós dois é a coisa mais certa. –eu me abri para o meu amigo.- Eu posso ser um
maluco com a Miley, um sem juízo. Mas sem ela eu não sou nada.
Brian me encarava sério, como se
estivesse entendendo perfeitamente o que eu estava dizendo. Então com um olhar
distante, ele completou. – É como se as coisas só passassem a fazer sentido com
ela por perto.
-Isso mesmo! – eu respondi
contente por estar me entendendo.
É um alívio ver que ele está
feliz por mim, mesmo que ele ache toda essa ideia de viver com a Miley na
Itália uma missão suicida. Eu ri baixinho. A situação chega a ser engraçada. É
totalmente inédita uma conversa tão séria assim com o Brian que ele me compreendesse
tanto sem nenhuma gracinha... Espera. Será durante esse tempo alguém conseguiu fazer
o Brian se apaixonar?
-Brian, - eu o chamei com um
sorriso brincando em meu rosto. – durante esse tempo que eu estive longe de Los
Angeles, apareceu alguma garota em especial?
-Está brincando, né? Apareceram
muitas! – eu comecei a rir. Brian apenas sendo Brian. -Você tem que ver as
belezas que tem na UCLA!
-Não, seu cabeção! Eu quero saber
de alguém especial mesmo... – eu dei um pequeno empurrão de brincadeira em seu
ombro e ele riu meio esquisito, desviando o olhar.
No momento em que eu ia insistir
mais alguma vez para conseguir tirar alguma informação dele, Miley surgiu no
meu campo de visão. Ela carregava um papel na sua mão direita e a mão esquerda
estava em sua cintura com uma postura mandona. Ih, lá vem! Brian a olhou
confuso e, assim como eu, esperou pelo que ela iria dizer.
-Minha lista já ta pronta. Bom,
você falou que eu podia fazer as exigências que eu quisesse. Aqui estão. –
Miley me entregou o papel. –Como está escrito aí, ela está sujeita a mudanças
durante a semana. – ela continuou falando enquanto eu a lia.
A primeira exigência da lista
dizia que a Miley não será responsável por nada na casa, incluindo arrumação,
comida, louça para lavar e semelhantes. Então isso quer dizer que eu terei que
me virar (não sei como) durante uma semana inteira. Eu sorri ao ler a segunda
exigência. Eu teria que satisfazê-la na hora e no lugar que ela bem quiser.
Isso vai ser moleza! Ao final do segundo tópico tinha uma observação: apenas as
suas posições favoritas (que eu já deveria saber quais são) e os seus fetiches
do momento. Nada de submissão! O terceiro tópico dizia que ela poderá usar o
meu Ashton Martin para passear a hora que quiser. Eu torci o nariz. Ela sabe que
esse carro é o meu xodó. O quarto tópico dizia que ela não é obrigada a ficar
no mesmo cômodo do que o Joe e nem é obrigada a aturar suas chateações. Tudo
bem. Talvez isso seja até bom por questão de segurança. E ao final: “Lista
sujeita a modificações e adicionais durante a semana”.
–Ah! O seu irmão e o seu amigo estão proibidos
de me ofenderem. Acho que isso é meio obvio, então eu não coloquei na lista.
Eu balancei a cabeça,
demonstrando compreensão. Eu olhei para cara de Brian e ele estava claramente
segurando o riso. Eu dei um tapa na nuca dele para ele parar de palhaçada e ele
reclamou com um “Ei!”.
-Acordo é acordo, não é? Eu te
disse e vou cumprir. – eu respondi. Miley sorriu satisfeita e me deu um
selinho.
-Você já pediu o nosso jantar? –
ela perguntou. –To morrendo de fome.
-Já. Logo, logo a comida vai
chegar. – eu respondi sorrindo para ela.
Miley só disse um “Ok” e subiu as
escadas novamente para o nosso quarto. Eu sei que o Brian só estava esperando
ela sair de perto para começar a me sacanear. Dito e feito. Quanto eu me virei
para o meu amigo e ele carregava um sorrisinho debochado no rosto.
-Listas de exigências? – ele
perguntou – Pelo jeito, o amor só não te fez maluco, não. Agora você é pau
mandado, também! – então ele soltou a gargalhada que ele tanto segurava.
-Você vai ver só quem é o pau
mandando!
Brian saiu correndo antes que eu
pudesse ir pra cima dele. Nós dois já estávamos rindo juntos. Mesmo que o clima ainda não seja uns do
melhores com o pessoal aqui em casa, eu estava me sentindo feliz em estar
matando saudades do meu melhor amigo. Por um momento, depois daquela briga feia
que tivemos, eu pensei que ele nunca mais iria olhar na minha cara. Com
certeza, o medo de ter destruído para sempre a nossa amizade bateu. Felizmente,
Brian é uma pessoa bem mais fácil de lidar do que o meu irmão, por exemplo.
Bastaram algumas horas juntos novamente para que deixarmos os desentendimentos
para trás e voltássemos a ser como antes.
Poucos minutos depois, o nosso
pedido já tinha chegado. Brian me fez o favor de chamar as feras, conhecidas
como Miley e Joe, para jantar enquanto eu pagava o entregador.
Miley Narrando
Eu deveria estar me deliciando
com o meu fettuccine ao molho funghi e queijo, um dos meus pratos favoritos, mas
o olhar enojado do Joe em minha direção espantava completamente o meu conforto.
Tomei um gole generoso do meu vinho e suspirei pesadamente. Será que ele não
vai se cansar em tentar me perturbar a todo custo? Fala sério! Até pelo olhar
ele me incomoda!
Senti
uma mão acolhedora acariciar a minha coxa por de baixo da mesa e me virei para
o Nick, que estava ao meu lado. Ele me sorriu com os olhos, como se estivesse
me pedindo paciência silenciosamente. Respondi com a minha mão sobre a sua,
como se estivesse tudo sob controle, e voltei a atenção para o prato de massa a
minha frente.
-Então, Joe. Você não vai falar
nada? Como estão as coisas em Los Angeles? – ouvi a voz de Nick perguntar.
-Nada de especial acontecendo por
lá... Quer dizer, eu saí com algumas atrizes famosas, mas isso não é nenhuma
novidade. – ele continuou falando com um tom de voz entediado. - A única
novidade que eu tenho é recebi algumas propostas para filmes depois do
acontecimento do golpe e tudo mais, - Joe torceu o nariz -mas eu insisti
falando que eu acho a ideia ridícula de me colocarem em um filme. E nem sou
ator! Quem foi o imbecil que teve a ideia de colocar modelos para atuar em
filmes?
Eu não pude me conter ri
baixinho. Nisso eu tenho que concordar. Seria ridículo o Joe durante o filme
inteiro fazendo aquelas caras sensuais de modelo. Fala sério! É só isso que ele
sabe fazer.
-Falando em novidades em Los
Angeles... Então, Brian. Vai me dizer ou não se tem uma garota na parada? –
Nick perguntou com um sorriso cúmplice para o seu melhor amigo.
Brian riu um pouco. Ele aparecia
um tanto nervoso. E antes que ele pudesse dizer alguma coisa, o Joe se
intrometeu.
-Conta logo para ele, cara. –
Joseph o cutucou com o cotovelo.
-Espera... então é verdade? Até o
Joe já sabe? – Nick começou a ficar mais animado e curioso.
-Ele não sabe de nada! – Brian
respondeu, devolvendo a cotovelada em Joe.
-Você não precisou me falar nada,
Brian. Você sabe que eu percebo as coisas rapidamente. – Joe rebateu. – Conta
logo pro Nick!
Até a minha curiosidade foi
desperta com toda essa enrolação. Vendo que todos esperavam a sua resposta,
Brian fechou os olhos e suspirou. Eu tomei mais um gole do meu vinho, sem tirar
os olhos deles. Brian puxou o ar mais uma vez e soltou tudo de uma vez em uma
só frase:
-Acho que eu estou apaixonado
pela Christine. – ao ouvir a ultima palavra, minha respiração falhou e a minha
garganta fechou a passagem do vinho que eu tinha acabado de tomar. Comecei a
tossir sem parar. Olhei para o lado, esperando que o meu namorado me acudisse,
mas ele ainda não tinha percebido que eu estava engasgada. Nick estava
paralisado. Sua mente deve estar ocupada demais tentando absorver a frase que o
seu amigo acabou de dizer.
-Toma logo essa água. Não quero
que você morra enquanto eu estiver comendo. – Joe resmungou, enquanto me
passava um copo que ele acabou de encher de água.
Eu peguei o copo com rapidez,
tentei puxar o ar pelo nariz e tomei toda a água de uma vez.
-Christine? – eu perguntei
praticamente gritando, depois de conseguir me recuperar. –Você está falando da
mesma moça que eu estou pensando?
-É... Essa mesma. A madrasta do
Nick e do Joe. – Brian respondeu um pouco hesitante com a reação do Nicholas.
–Eu estava esperando um momento melhor para dizer isso, mas tudo mundo ia saber
do mesmo jeito e você estava insistindo...
-Isso é... Meu Deus! Isso é
maluquice! – Nick se pronunciou ainda perplexo.
-Se o Paul descobrir... – eu
pensei alto. – Você vai estar lascado.
-Nós não temos um caso, ok? Ela
não sabe sobre isso ainda. – Brian respondeu, começando a ficar um pouco mais
triste com a nossa reação, por mais que seja a reação esperada, não são lá as
mais positivas.
-Desde quando você se apaixonou
por ela? –Nick perguntou.
-A gente começou a ficar amigos,
eu fui me aproximando mais dela, a conhecendo melhor... Ela é incrível e tão
adorável. Eu não esperava que eu pudesse sentir alguma coisa assim por uma
mulher. Cara, amar alguém é a sensação mais louca que existe! Pior ainda é
quando você tem certeza que é um amor impossível.
Nesse
momento, eu senti um pouco de empatia por ele. Eu sabia muito bem como era amar
alguém que julgam ser impossível para ficar com você.
-Me
conta melhor como vocês ficaram tão amigos. – eu pedi, morrendo de curiosidade.
Brian
suspirou – Tudo bem. – ele tomou um gole do seu vinho. – Tudo começou num fim
de semana na estrada...
Flashback on
Brian Narrando
Como eu amo fim de semana! O vento quente e revigorante invadia o meu carro pelas janelas. Eu havia acabado de sair da praia e logo na parte da tarde eu já tinha que voltar para casa, descansar e me preparar para uma festa da UCLA. Confesso que o ritmo acadêmico de universitário já está bastante puxado, mas não podia negar que eu era louco por essas festas que aconteciam toda semana. A música que tocava na rádio já havia acabado e começou a tocar "Maps" do Marron 5. Sorri satisfeito. Adoro essa banda.
Como eu amo fim de semana! O vento quente e revigorante invadia o meu carro pelas janelas. Eu havia acabado de sair da praia e logo na parte da tarde eu já tinha que voltar para casa, descansar e me preparar para uma festa da UCLA. Confesso que o ritmo acadêmico de universitário já está bastante puxado, mas não podia negar que eu era louco por essas festas que aconteciam toda semana. A música que tocava na rádio já havia acabado e começou a tocar "Maps" do Marron 5. Sorri satisfeito. Adoro essa banda.
Enquanto a minha boca acompanhava a letra da música e a minha cabeça balançava no ritmo, meus olhos não saiam da estrada e do que está ao redor dela. Até que tinham muito poucos carros por aqui. Geralmente as rodovias mais cheias são as do centro da cidade, não nessa parte das praias.
Então uma coisa puxou minha atenção. Um carro importado estava parado no acostamento, provavelmente deve ter quebrado, e uma loira mega gostosa se apoiava no capô, visivelmente cansada por causa do calor. Como eu não sou bobo, decidi exercer a minha gentileza e o meu cavalheirismo. Óbvio que eu ia ajudar a loira gata! No exato momento em que parei o carro em frente à moça para oferecer ajuda, dou de cara com um rosto bem familiar.
-Sra. Jonas?! - eu perguntei surpreso.
-Brian?! - ela tirou seus óculos escuros do rosto ao me reconhecer e perguntou no mesmo tom do que eu. -Caramba, você caiu do céu! Você não faz ideia de quanto que sofri aqui na estrada. - ela desandou a falar afobada, mas ao mesmo tempo aliviada por ter encontrado alguém conhecido. - Paguei todos os meus pecados nesse sol escaldante, inclusive aqueles que ainda não cometi! Eu tinha encontrado com umas amigas minhas na praia e na volta, do nada, essa lata velha cisma de quebrar no caminho de casa! - se ela acha aquele possante uma lata velha, não quero nem imaginar o que ela acha do meu simples carro popular que ganhei depois de me formar. -Não consigo de jeito nenhum chamar o reboque, porque o meu celular está sem sinal. - ela bateu as unhas impecáveis na tela do seu Iphone com raiva. - Além do calor, eu tive que aturar um bando de safados que passaram por mim "oferecendo ajuda", mas não conseguiam nem tirar os olhos das minhas pernas ou poder disfarçar um sorriso pervertido. - eu assenti em concordância com a sua indignação com a falta de vergonha na cara de alguns homens. Hipócrita? Eu? Imagina! - Enfim, estou nesse desespero há um tempão... Será que você pode me emprestar o seu celular para poder chamar o reboque? - Christine finalmente tomou ar para respirar.
-Claro!
– eu respondi. –Entra aqui. Podemos esperar o reboque chegar pelo menos na
sombra e com o ar condicionado.
-Seria
ótimo! – ela disse em um suspiro de alívio e abriu um sorriso cansado. – Ah! Estou te dizendo pela milésima vez para
não me chamar de Sra. Jonas! Isso faz me sentir uma cinquentona da alta sociedade.
– Christine disse enquanto entrava no carro. Eu sorri automaticamente em
simpatia, mas na verdade a minha atenção estava sendo desviada para o corpo
esbelto e bem esculpido da loira que estava coberto por apenas um short de
cintura alta e uma blusa de tecido fino que deixava transparecer a parte de
cima do seu biquíni. Uau, que pernas são essas? O que? Eu não acredito que eu
estou secando a madrasta do Nick! Foco, Brian!
Para
disfarçar a meu olhar impróprio para a Sra. Jonas, eu me concentrei no meu
celular enquanto eu discava o número do reboque. Então eu a entreguei o
aparelho.
-Você
sabe o número de cabeça? – ela perguntou surpresa enquanto aguardava o
atendimento no telefone.
-Digamos
que esse carro é novo para mim, mas eu já me meti em alguns sufocos com ele e
tive que chamar o reboque algumas vezes.
Ela riu
com a minha resposta. –Típico. – ela disse baixinho.
-Ei, eu
ouvi isso! – eu a chamei atenção e ela apenas fez um biquinho e desviou o olhar
para a janela, me fazendo rir.
Depois
de alguns longos minutos, o reboque finalmente veio buscar o carro enguiçado do
acostamento. Ela disse que depois que chegasse em casa, ela pediria ao
motorista uma indicação de um bom mecânico para o seu carro.
-Bom,
por causa do calor e da falta de ferramentas eu não dei uma checada no seu
carro, mas eu entendo um pouco de mecânica. Eu mesmo dou uns reparos no meu
carro com a ajuda do meu pai. Talvez com alguns equipamentos, eu possa tentar
concertar de graça. – eu disse ligando o motor do meu carro, logo depois que o
da Christine foi levado pelo caminhão.
-Desde
que você não termine de destruí-lo, tudo bem.
-Aí é
questão de confiança! E sorte, também. – eu falei e a ela sorriu.
-Tem
notícias do Nick? – mudou de assunto enquanto checava o estado do seu cabelo
pelo espelho do retrovisor.
-Soube
que ele está muito bem por lá. Ele fez algumas amizades na faculdade. Eu nem
sei como ele conseguiu entrar lá tão rápido. Nick chegou naquele lugar sem ao
mesmo falar italiano direito.
-Digamos
que o meu marido conseguiu convencer o diretor a facilitar as coisas. – Christine
fez um gesto com as mãos significando dinheiro.
-Ah...
– eu balancei a cabeça. – Claro. Deveria ter imaginado. Mas acho que o Nick
está compensando muito bem. – eu completei.
-Que bom!
O pessoal lá de casa está mantendo pouco contato com ele. Não temos nos falado
muito. Acho que ele evita por causa do Paul.
-É bem
provável, mesmo...
Depois
de alguns minutos de conversa furada, Christine interrompeu a conversa com
agitação.
-Ah minha
nossa! – eu me assustei com o gritinho entusiasmado da Christine. Antes que eu
pudesse perguntar o motivo da animação, ela mesma se tratou em responder. – Faz
séculos que eu não passo por esse caminho.
Como eu amo a praia de Santa Monica! Esse lugar é perfeito! – Ela disse
apontando para a paisagem a nossa frente. Lá estava a longa costa de Santa
Monica. Ao final dela dava pra ver de longe a enorme roda gigante e a montanha
russa do Pacific Park, um dos principais cartões postais de LA e uma das minhas
paisagens favoritas.
-Pelo
jeito, Pacific Park já está funcionando.
-Esse
lugar é tão nostálgico. E eu adoro isso! – ela disse ainda com um olhar
distante e alegre. Eu sorri.
-Vamos
lá. – eu disse me animando com a ideia de dar um passeio por ali.
- O
que? Agora?
-Sim, agora mesmo. – respondi o óbvio.
-Não! – ela interviu.
-Por
que não? – eu perguntei com confuso. Cadê a animação dela?
-Vai
demorar... E o Paul vai ficar preocupado. Ainda mais que a porcaria do sinal do
meu celular ainda não voltou. – ela respondeu desanimada.
-Ah,
Christine! Duvido que você não esteja louquinha para ir naquela montanha russa.
– eu rebati e ela abriu um sorriso, confirmando a minha frase. –E se o Sr.
Jonas for o problema, é só fazer uma ligação pra ele no meu celular. Vamos,
você só vai se divertir. Não tem nada demais nisso.
Ela
mordeu o lábio, tentando se segurar para responder o que nós dois já sabíamos o
que. Christine respirou fundo e soltou o seu lábio inferior dentre os dentes. O
lábio ficou levemente rosado e um pouquinho inchado, de um modo bem discreto,
mas o suficiente para puxar a minha atenção. – Tudo bem, tudo bem... Só se você
prometer que não vai me fazer demorar!
-Prometo!
– eu sorri enquanto estacionava o carro em frente ao calçadão da praia. – Só
preciso te avisar que eu não sou muito bom em cumprir promessas.
-Ai
caramba! – ela murmurou olhando para o céu. – Sei que você não vai querer
cumprir, mas eu vou arriscar.
-É
assim que se fala! – eu comemorei colocando os meus óculos de aviador, pronto
pra sair do carro.
Era um
dia quente, mas mesmo assim a brisa do litoral aliviava o calor. Como a praia
era gigantesca, a costa não estava lotada de gente, mesmo sendo um lugar
conhecido num dia de calor. Havia algumas pessoas pegando sol e alguns
surfistas iniciantes se arriscando pegar o pouco de onda que tinha no mar.
Mesmo assim, havia bastante distancia entre as pessoas dando a impressão que a
praia estava quase vazia.
-Então
quer dizer que Pacific Park pra você é nostálgico? – eu passei a puxar assunto,
enquanto caminhávamos na areia macia em direção ao parque que ficava quase do
outro lado da costa. –Você não vem mais
aqui?
-Sim,
eu vinha muito aqui quando eu era adolescente. – ela disse carregando uma
saudade no olhar. – Depois que eu me casei com o Paul nunca mais passei por
este lugar. Às vezes eu até esqueço qual é o verdadeiro lado da diversão
californiana.
-Hoje
você vai se lembrar rapidinho, você vai ver! – eu disse e ela sorriu. –Desculpa
te perguntar isso, mas como já comecei a falar... Como é que você conheceu o
Paul? É, quer dizer, vocês parecem tão diferentes no modo de ser. Como uma antiga
fã numero um de Santa Monica e Pacific Park foi se casar com o cara mais sério
que eu já conheci?
-Você
não fez mal perguntar, Brian. – ela balançou a cabeça com um sorriso
compreensivo no rosto. – Bom, eu trabalhava como modelo de fotografias de
marcas e revista de moda. E ás vezes eu recebia alguns convites de eventos da
alta sociedade. Bom, aí eu conheci o Paul numa festa beneficente. Apesar da nossa diferença de idade, ele me
tratava tão bem, com tantos mimos e cavalheirismo. Isso era e ainda é difícil
de encontrar em homens, sabe? Não me apaixonei por ele de um jeito avassalador
como nos filmes. – ela fez um gesto exagerado com as mãos. – Mas ele me fazia
sentir bem, eu me sentia segura com ele. Sentimental e financeiramente falando.
Depois de tantas decepções com caras que me tratavam feito um lixo, eu achei
que ele valeria a pena ter alguém que pudesse me dar uma vida de rainha, que me
tratasse como uma.
-“Valeria
a pena”? – eu perguntei. – Não vale mais?
Christine
ia responder minha resposta, mas espremeu os seus lábios no outro e suspirou. –
Deixa pra lá. Bobagem. – ela disse balançando a cabeça. – Crise normal de
casal...
-Desculpa.
Eu que estou sendo enxerido e perguntando coisas que eu não devo. Foi mal... –
eu pedi desculpas um pouco sem graça. –Às vezes eu falo algumas coisas antes de
pensar. - Eu e minha boca grande! Por que eu tinha que ser tão curioso?
-Eu já
disse para você não se desculpar. Aliás, você é quase da família, não é mesmo? Você
conhece os Jonas há bem mais tempo do que eu. – ela falou gentilmente.
-Hum...
Ta bom.- eu olhei pros meus pés cheios de areia. -Vamos mudar de assunto.
Depois de um bom tempo curtindo o famoso
parque de Santa Monica, decidimos parar em algum lugar para poder comer em uma
das lanchonetes do píer. O píer, ao contrário da praia, estava lotado. Era
divertido passar por ali. Você podia encontrar pessoas de todo o tipo. Como uma
família de turistas estrangeiros, muitas gatas passeando de patins,
mochileiros, casais de velhinhos, casais gays, casais jovens, skatistas, fotógrafos
aproveitando a paisagem e até músicos que se arriscavam mostrar seus talentos
para ganhar uns trocados. Percebi que o céu estava começando a colorir com as
cores do pôr do sol e que daqui a pouco anoiteceria, porém preferi não avisar à
Chris. Senão ela iria querer ir embora correndo e não estava nenhum um pouco a fim
de ir embora daquele lugar.
-Ali. –
ela apontou para a entrada de uma lanchonete chamada “Ruby’s Diner”. – Você vai
provar o melhor milk-shake da sua vida! – ela disse entusiasmada. – Eu amo esse
lugar! – ela disse batendo palminhas. E eu ri. – Minha dieta que me perdoe, mas
eu tenho que comer aqui. – Então Christine pegou a minha mão e me puxou pra o
restaurante a dentro.
O lugar
parecia com aquelas lanchonetes retrôs com garçonetes circulando de patins pelo
ambiente. A decoração era típica daquelas lanchonetes dos anos 50, até com
direito a jukebox.
-Uau. –
foi só o que eu consegui dizer.
-Perfeito,
não é? Imagine só quando você provar a comida daqui.
Nos
sentamos e fizemos os nossos pedidos. Não demorou muito para sermos rapidamente
atendidos.
-Aqui
está as duas porções de hambúrguer acompanhado de fritas com cheddar. –a garçonete
entregou. – E dois Oreo Shakes. Bom apetite! – a moça sorriu com simpatia e
agradecemos.
Aquilo
parecia estar ótimo. Mal o pedido foi colocado na mesa e nós dois começamos a
comer com vontade de sobra.
-E aí?
O que achou? – ela perguntou depois de tomar um gole do seu milk-shake.
-Está
brincando? Essa lanchonete é a mais foda... – eu dei uma mordida no hambúrguer
e respondi de boca cheia. – de toda a galáxia! – ela jogou a cabeça pra trás e
riu alto.
-Hoje
foi tão bom. – ela disse apoiando o queixo sobre a mão. – Quero mais dias
assim.
-Eu
também adorei! E sinceramente? Eu nunca imaginei que você fosse tão...
-Jovem?
– ela perguntou risonha.
-Divertida.
– eu disse e ela sorriu de um jeito fofo. – Não sei. Talvez por sempre te ver
em eventos chiques e roupas elegantes, só andando com pessoas da alta
sociedade, eu nunca imaginei que você tivesse ele lado mais legal de ser. Não
que eu não te achava legal. Eu sempre te achei uma pessoa legal. Mas não legal
desse jeito, entendeu?
Ela
pendeu a cabeça para o lado e franziu o nariz. – Mais ou menos. Acho que isso
foi um elogio, então muito obrigada. Eu também gostei muito de você.
-Sério?
-Sério.
Estava sentindo falta de passar o tempo com pessoas como você. Pessoas que não
se importam com status, dinheiro, glamour ou coisa do tipo. Não que eu não me
importe com glamour. Por favor, eu sem glamour não sou nada! Falando nisso vou
precisar de um bom tempo no salão depois de toda essa coisa de praia e montanha-russa...
– eu ri do seu jeito patricinha. – Mas você é uma pessoa que encara as coisas
com leveza. Eu gosto disso.
Eu abri
um sorriso pra ela. – Então quer dizer que vamos passar mais momentos como esse
de novo?
-Com certeza.
Flashback
off
Miley
Narrando
-Foi assim que aconteceu.
No começo era só amizade, mesmo. Mas com o tempo, um sentimento diferente foi
crescendo. Quando me toquei, já era tarde demais. – Brian se explicou. Ele
parecia se sentir culpado por isso. – Eu nunca quis me apaixonar por alguém,
Nick. Muito menos por uma mulher casada.
E muito menos pela mulher do seu pai.
Nick
claramente tentava manter a calma, passando as mãos sobre o rosto. Pelo visto
não éramos só nós dois que tínhamos uma bomba pronta para jogar no colo de
alguém. Apesar a notícia ser surpreendente, eu não me sentia mais perplexa. Eu
estava triste pelo Brian. Ele sabe que lutar contra os seus sentimentos e
tentar fugir dele só o faria mal, mas tentar fazer alguma coisa acontecer entre
ele e Christine é missão suicida.
-Você
sabe que você não tem culpa nenhuma disso, não sabe? – eu perguntei.
-Eu
sei, mas... É meio óbvio que eu to mais do que fodido. – ele disse com ar de
derrota.
-Eu não
sei nem mais o que dizer... – Nick disse ainda em choque.
-Eu
jurava que eu estava me preparando pra te contar nessa semana por aqui na
Itália. Acho que seria melhor contar pessoalmente. – Brian disse sem saber muito
o que fazer. Ele percebeu o semblante perdido do meu namorado e perguntou
hesitantemente. – Você está chateado comigo?
Nick
balançou a cabeça rapidamente e negação. – Não! Claro que não. É que... Nossa,
por isso eu não esperava! Não precisa ficar desse jeito, ok? Como a Miley disse,
você não tem culpa nenhuma. Eu estou do seu lado, cara.
-Bom,
se precisar de um apoio a mais. Eu também posso estar junto nessa. – eu falei.
-Eu
ficaria surpreso vendo a Miley tão boazinha apoiando o Brian... – Joe comentou
com uma malicia carregada em sua voz. – Se eu não soubesse que ela está doida
para que a Christine coloque um par de chifres no meu pai. É por isso que está
torcendo por ele.
Mas que
filho da puta! Será que ele não me deixa em paz nem por um segundo?
-Cala a
porra da boca, Joseph. – eu rebati com nenhuma preocupação em economizar no
volume da minha voz.
-Eu só
disse o que todo mundo está pensando, Miley. – ele respondeu sarcástico. – Ou
algum de vocês – ele encarou o Nick e o Brian. – vão negar?
-Já
chega! Está ficando ridícula a sua implicância comigo! – eu dei um basta.
-Ridícula
é essa palhaçada de dividir o mesmo teto que você como se eu estivesse
esquecido que você é uma golpista e uma assassina em série. – ele rebateu.
Minha imaginação já borbulhava em várias cenas possíveis comigo jogando todo
tipo de louça no seu rosto ou eu pulando pra sua direção para bater nele até eu
cansar.
-Se
está incomodado, a porta é serventia da casa. – eu o respondi com um
sorrisinho. – Vou subir para o meu quarto. Comer olhando pra sua cara está me
dando indigestão. – eu falei enquanto eu levava o meu prato cheio de comida
comigo.
-Que
ótimo, hein Joseph! Estragando o clima mais uma vez!- eu ouvi Nick reclamar
numa voz cansada enquanto eu subia as escadas.
Algumas horas depois...
Joe Narrando
Eu saí
da minha cama e levantei num pulo. Ficar nessa casa está me deixando inquieto. Encarei
o relógio digital que estava no criado-mudo. Eram quase três horas da manhã. Mais
uma noite mal dormida por causa da maldita Miley. Eu não aguento mais. Eu
precisava usar essa semana para, de algum jeito, mostrar o Nick que eu estou
certo sobre aquela vigarista. Que ela não mudou coisa nenhuma. Mas
sinceramente? Tudo o que eu preciso agora é tirar essa mulher da cabeça, para
pelo menos conseguir dormir em paz.
Comecei
a caminhar pela casa, tentando me concentrar nas boas lembranças que eu passei
por aqui durante as férias de verão com a família alguns meses antes da minha
mãe vir a falecer. Eu e Nick mal parávamos em casa, só queríamos saber de ficar
o dia inteiro na praia. Eu sorri. Essas memórias me fizeram sentir a vontade
nessa casa pela primeira vez no dia.
Isso me
fez lembrar que a minha prancha de surfe que eu usei aqui pode ainda estar
guardada na antiga garagem que é feita de depósito e que fica do lado de fora. Talvez
se eu achá-la, eu posso usar amanhã na praia. Não tenho nada para fazer, mesmo.
Chegando
lá, consegui abrir o depósito com facilidade. Por sorte, não estava trancado. Procurei
entre o amontoado caixas cheias de coisa velha, mas eu não encontrei. Com o
tempo ali, fui acostumando melhor com a falta de luz, assim eu consegui avistar
o interruptor e acendi a lâmpada. Com o local melhor iluminado, consegui
avistar a prancha guardada na sua capa preta coberta de poeira. Ela estava
escondida bem no final da antiga garagem. Achei! Fui até ela pra buscar, mas antes
tropecei numa enorme caixa preta que estava no caminho. A caixa não estava
coberta de poeira, ela parecia nova. Talvez fosse de propriedade do Nick ou da
Miley. Por alguma razão aquela caixa chamou a minha atenção e não pude resistir
e tive que abrir.
Eureca! Sem nem mesmo querer, descobri um
podre recente daquela vadia. Dentro da caixa havia vários tipos de armas e
algumas munições. E aquela filha da puta ainda queria se fingir de arrependida
pra cima de mim! Ela pode enganar o Nick, mas nunca a mim. Vi que tinha outra
caixa parecida ao lado e dentro dela havia ainda mais munições e facas. Fiquei
perplexo com o número de armas que ela guardava dentro de casa. Dentro da
própria casa que dividia com o trouxa do meu irmão! Como o idiota do Nick,
durante um ano, não percebeu isso?! A minha raiva foi crescendo ainda mais.
Quer saber? Que se foda! Vou fazer essa vagabunda admitir pra mim agora o que
ela está tramando!
Voltei
para a enorme casa silenciosamente, mas em passos rápidos. Subi as escadas
tentando fazer menos barulho possível. Cheguei até o quarto do casal e abri a
porta do cômodo com cuidado. Fala sério!
Será que eles sabem que podem usar chaves nessa casa? Nick e a Miley
estavam dormindo profundamente.
Minha vontade é de fazer um escândalo
bem na frente dele, mas o meu objetivo é fazê-la admitir pra mim primeiro. Para
só depois eu conseguir provar ao Nick. Se eu acordasse a Miley aqui, com
certeza ela faria algum movimento brusco e o Nick acordaria. Então eu tive uma
ideia. Tirei o braço do Nick com cuidado de cima da minha querida cunhadinha e a
puxei pro meu colo. Olhei para o seu rosto. Ela continuava em sono profundo. Ótimo.
A carreguei pela casa até chegar
ao depósito que ainda estava aberto e com a luz acesa. Chegando à garagem, eu a
soltei com gosto de meus braços, deixando ela estabacar no chão. Miley acordou
assustada olhando pra os lados em confusão e logo depois gemeu de dor.
-O que...? Ai! – ela apoiou a mão
sobre cabeça com uma expressão de dor. A sua voz ainda estava arrastada e ela
não parecia estar com a vista acostumada com a luz. –O que está acontecendo? –
Miley perguntou com a voz arrastada.
-Para de manha e levanta logo. Eu
te descobri de novo, sua vadia. – eu respondi ríspido.
Ela levantou ainda meia perdida,
mas claramente mal humorada. – De que merda você está falando, Joseph? Você
enlouqueceu de vez, seu retardado? Como é que você me traz aqui a essa hora e
me acorda desse jeito? – ela disparou com as perguntas, enquanto colocava as
mãos sobre a cintura.
-Eu
encontrei os seus brinquedinhos. – eu apontei para as grandes caixas que
estavam abertas, revelando as armas. – Agora me diz o que você está planejando
dessa vez. Nós dois sabemos que não me engana, nem com esse papinho de
redenção.
-Joe,
isso não tem nada a ver. Eu não estou planejando nada! – ela se fingiu de inocente.
-Como
você não está planejando nada? Miley, você tem um estoque de armas e munição o
suficiente para travar uma guerra com a máfia italiana e você me diz que isso
não tem “nada a ver”? Por mais que eu seja irmão do Nick, eu não sou idiota que
nem ele! É melhor me dizer o que você tem em mente, senão eu te entrego para
polícia. – eu respondi levantando o meu tom de voz.
-Eu
comprei isso para nós dois. Para defesa pessoal! – ela respondeu gritando. –
Vocês, Jonas, são podres de ricos e são conhecidos em vários cantos do mundo
por isso. É obvio que uma hora vai aparecer mais gente má intencionada na vida
do Nick.
-Miley,
desiste de me enganar. O Nick nem sabe manusear uma arma. Como é que você
arrumou um monte dessas só para vocês dois?!
-Vai a
merda, Joe! Eu estou dizendo que é pra defesa pessoal. Não estou inventando
nada! Agora vê se me deixa em paz. – Miley rebateu histérica e me deu as
costas.
O
mínimo de paciência que me restava com ela foi simplesmente para o espaço e não
a deixei sair da garagem. Puxei a Miley pelo braço, mas ela virou o seu corpo e
me acertou um soco no meio do rosto, que me fez soltá-la. Mas a raiva cresceu
ainda mais em mim e mesmo com a mandíbula e o meu lábio latejando, eu emaranhei
meus dedos no cabelo castanho e longo e o puxei para mim. Miley gritou de dor e
me xingou enquanto me dava uma cotovelada no abdômen. Eu gemi de dor. Puta que
pariu! Aquilo doeu! Mas eu não a soltei e puxei com ainda mais força o seu
cabelo, fazendo a sua cabeça pender para trás. Eu aproximei o meu rosto do seu
ouvido e falei mais baixo.
-Se
você pensa que eu não estou falando sério, você está muito enganada. Se você
continuar com esse fingimento e não me admitir nada eu ligo pra FBI amanhã
mesmo, você está me ouvindo?
-Droga,
Joe. Eu não estou tramando nada!
-Você
não acha que eu não desconfio do porque que o seu amiguinho bandido também te
ajudou a fugir e ainda está rondando por aqui na Itália para se manter perto de
você? É claro que você não está sozinha nessa.
-Nós
dois não estamos planejando coisa nenhuma. Ele é só o meu amigo, por isso que
ele me ajudou e é por isso que ele está por perto! – ela gemeu de dor mais uma
vez. – Me solta! – ela reclamou tentando fincar suas unhas na minha mão que a
segurava pelo cabelo.
-Será
que é amiguinho mesmo ou é mais do que isso? Do jeito que você é vadia, duvido
que você nunca trepou com ele depois desses anos todos de parceria. - depois que
eu pronunciei essa frase, a Miley parou de tentar lutar contra mim. Por alguns
segundos eu só pude ouvir nossas respirações pesadas.
-P-por-
por favor, Joe. – ela disse com a voz falha. – Isso já tava ficando ridículo.
Antes
que eu pudesse a provocar ainda mais a falar alguma coisa, uma voz não muito
distante me interrompeu.
-O que
está acontecendo aqui? – Nick perguntou com a voz firme. Seu olhar ao mesmo
tempo confuso, estava carregado de raiva.
Na
mesma hora, a Miley soltou um suspiro que eu não pude saber se era um suspiro
de alivio ou um ainda mais tenso. Apesar dele chegar na hora certa para “salvá-la”
de mim, Nick deparou com uma cena acidentalmente estranha. Eu, com o lábio
vermelho e levemente inchado, puxado o cabelo de Miley e a trazendo para perto
de mim enquanto ela estava de apenas com uma camisola curta. Ambos com a
respiração falha. Nós dois nem tínhamos pensado na malícia da situação, mas
mesmo assim ficou extremamente estranho sob o olhar de Nick agora. Eu finalmente
a soltei e a empurrei para longe de mim.