segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

2ª temporada - Capítulo 6: This week is not gonna be easy

Miley Narrando
Já fazia um tempo que Nick foi até o hotel procurar pelo Joe e pelo Brian. Ele disse que ia tentar conversar e resolver a confusão pendente da discussão feia de ontem. Além da tentativa de convencê-los a se hospedarem aqui por um tempo. Eu suspirei. No fundo eu estava torcendo para que eles negassem. Era óbvio que a ideia maluca de Nick de eu dividir o mesmo espaço com dois caras que me odeiam não vai dar certo. 
Coloquei a louça do meu café da manhã na pia e me deitei no sofá. Depois eu lavo. Estou nervosa demais até para fazer coisas simples como isso. Eu estou nervosa demais para fazer qualquer coisa, na verdade.
Então a porta de entrada se abriu e eu avistei Nick adentrando a sala ainda falando com alguém. Ah não! Não é que ele conseguiu, mesmo?!
-Eu ainda tenho as aulas da faculdade, então durante uma parte do dia eu não vou poder passar com vocês, mas... Nas horas vagas a gente pode arranjar algumas coisas para fazer. A praia, piscina, podemos jogar alguma coisa, conhecer melhor a cidade e os meus amigos da faculdade também. – Nicholas tagarelava distraído demais para notar a minha presença na sala.
Brian entrou logo depois dele e sua visão logo me reconhece jogada no sofá, antes mesmo do Nick. Ele olhou para mim de um jeito esquisito. Não parecia ser raiva ou afronta, mas era claro o desconforto dele em perceber a minha presença.  Eu levantei meu tronco, me sentando no sofá e mantendo o contato visual. Eu esperava alguma reação dele, alguma palavra, algum gesto para mim. Tudo o que Brian fez foi desviar o olhar meio sem graça e fingir que estava prestando atenção em Nick, enquanto ele o ajudava a arrastar a mala grande e pesada.  
Joe entrou logo depois deles, ainda com uma carranca no meio da cara. Eu rolei os olhos. Eu vou pagar por todos os meus pecados com esse traste por aqui! E olha que para me fazer pagar por todas as merdas que eu fiz tem que ser digno de um diploma oficial de babaca. E não existe alguém melhor para o posto do que Joe. Eu fui a primeira coisa que atraiu a sua visão quando chegou.  Então, finalmente, Nick parou de conversar com Brian e prestou atenção no que o seu irmão estava encarando com tanta fúria. Confesso que eu retribuía o olhar com mesmo “amor”.
-Miles- Nick disse. – Eu nem tinha percebido que você tava aí. – ele disse caminhando até mim. – Eu não disse que ia conseguir convencê-los? – ele me deu um beijo nos lábios.
-Pois é... Você conseguiu. – eu disse claramente desanimada, enquanto olhava para os dois rapazes desconfortáveis que estavam parados em frente à porta.
-Eu só topei porque o Nick insistiu. Isso não quer dizer que virei amiguinho de ninguém, ok? – Joseph se pronunciou.
-Que bom, porque eu também não estou a fim de brincar de falsidade com nenhum de vocês. – eu respondi seca e cruzei os braços.
-Isso você já faz desde sempre, né? Convenhamos. – Joe rebateu fazendo com uma cara de tédio.
-Gente, por favor, eu não propus isso aqui para vocês continuarem trocando farpas. Pelo contrário. – Nick interviu olhando seriamente para mim e pro Joe. – Brian e Joe, deixem as malas de vocês lá nos quartos de hospedes e depois voltem aqui, para sala, para podermos conversar melhor.
Os dois, ainda não se mostrando muitos entusiasmados, fizeram o que o Nick pediu. Logo depois que a dupla subiu com as bagagens, Nick puxou meu rosto com delicadeza para olhar para ele. Ele deve ter percebido que eu também não estava nem um pouco feliz.
-Oh Miles, vai ser legal, ok? – ele foi se achegando mais a mim e envolveu meu corpo com os seus braços. - No começo vai ser difícil mesmo, mas quando eles conhecerem você melhor tudo vai melhorar. E aliás, eu também queria matar saudades desses dois. Até do Joe. – eu ri e ele me acompanhou no riso. – Pois é, apesar de tudo, até do Joe eu tava sentindo um pouco de falta. Ele é um babaca, mas ainda é meu irmão.
-Tudo bem, Nick. – eu suspirei. – Eu te entendo. Para ser sincera, não estou muito animada em me aproximar deles, mas eu também quero que as coisas se acertem. Só não imaginava que deveria ser desse jeito. – eu torci o nariz e o Nick sorriu.  
-Relaxa, ok? – ele me beijou a ponta do meu nariz. – Aliás, você ainda tem aquela sua lista de exigências essa semana. Aproveita que eu estou disposto a cumprir qualquer coisa, não é todo dia que isso acontece. – eu ri um pouco menos tensa.
-Eu até tinha me esquecido dessa lista! Bom ter lembrado. Realmente, eu vou querer uma semana de rainha nessa casa. Eu mereço. – eu joguei os meus cabelos para trás, fazendo cara de exigente e ele se divertiu com isso.
-É claro que merece. – Nick disse antes de eu beijar os seus lábios rosados e deliciosos.
Depois de um tempo nos beijando, ouvimos uma tosse forçada atrás de nós, imagino ter sido o Brian, e logo depois alguém falou:
-Eu não to a fim de ficar segurando vela por uma semana nessa casa, não. – Joe reclamou. Oh carinha azedo!
                Eu e Nick nos separamos e demos de cara com Joe e Brian sentados no sofá nos encarando meio entediados. Eu bufei e olhei para o Nick esperando que ele falasse alguma coisa para dar continuação ao seu processo de pacificação entre nós três. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, mas foi interrompido pelo Brian.
                -Ontem eu passei o dia inteiro intrigado pensando como que você conseguiu fugir da cadeia, não ser reconhecida e ainda ser dada como morta. Como vocês conseguiram fazer tudo isso? – ele perguntou nos analisando com curiosidade.
                -Bom, isso tudo foi um plano meu e do melhor amigo da Miles, o Chad... – Nick e eu nos sentamos no outro sofá enquanto nós dois explicamos juntos os detalhes do plano de fuga. Brian e Joe nos encaravam surpresos, intrigados e claramente interessados em saber cada passo do nosso plano.
                Depois que terminamos de explicar, Brian respirou fundo. – Ok... Isso foi louco! – ele sorriu. - Cara, parece aquelas cenas de filme de ação! – eu ri com a sua empolgação.
                -Pois é. Foi um dos momentos mais tensos que eu já vivi! – Nick disse mais relaxado em ver o seu amigo se animar. – E olha que tive que passar por MUITOS momentos tensos no ano passado. – Nick me lançou um olhar cúmplice, fazendo me lembrar de toda a loucura que passamos juntos até estarmos aqui. Eu sorri feito uma boba. Quem diria que eu, uma golpista mais do que vingativa, um dia pudesse me apaixonar, namorar e morar junto com o filho caçula do Paul Jonas?
                -Tenho que confessar que foi muito bem armado, mesmo. – Joe disse. – Em nenhum momento desconfiei que tinha alguma coisa errada nessa história. E olha que eu tenho uma boa percepção para coisa que não presta. – Joseph intensificou o seu olhar em mim. Engoli a minha vontade de mandá-lo ir à merda e apenas sorri pra ele com deboche. Isso o fez fechar ainda mais a cara.
                -E... É verdade aquela história de vingança? Sobre o Sr. Jonas e o seu pai? – Brian perguntou pra mim um pouco hesitante. Acho que pra ele ainda é um pouco estranho falar comigo, depois de eu ter sido considerada morta por um ano.
                Joe apoiou os seus cotovelos sobre os joelhos, colocando o seu corpo mais pra frente. Acho que a sua atenção se intensificou ainda quando o esse assunto foi tocado. Nick olhou para mim, esperando que eu respondesse o Brian. Sua mão quente se aconchegou na minha e eu puxei os lábios em um pequeno sorriso para ele, em agradecimento. Então eu voltei o olhar para os dois a minha frente.
                -É verdade, sim. Eu não sei exatamente o que o meu tio disse sobre o passado quando ele deixou vocês como reféns, mas eu vou fazer um resumo do que realmente aconteceu. Paul e meu pai se desentenderam dentro da empresa, por conta de algumas trapaças do Paul e a confusão só piorou quando o Jonas roubou o projeto do meu pai e conseguiu a presidência da empresa. Meu pai estava pronto para denunciá-lo e já tinha provas contra ele, mas Paul já sabia disso e mandou matá-lo antes da denúncia. – Brian e Joe em nenhum momento me interromperam. Nem mesmo um suspiro. Eu sei que o Joe tem ideia do motivo da vingança graças ao meu tio e ao Nick, mas não acredito que ele saiba os detalhes. Eles me ouviam sérios. – Ele foi morto na minha frente e eu ouvi uma conversa suspeita antes do meu pai ser baleado. Eu tinha certeza que o Paul estava por trás daquilo. Enfim, o xerife Holmes, aquele mesmo, o amigo do seu pai que foi assassinado em Los Angeles. – eu frisei para o Joe e ele me olhou surpreso. – Eu não sei se você já sabia disso, mas fui eu quem o matei. Talvez você já suspeitasse de mim e não soubesse o motivo. – então eu voltei à minha linha de raciocínio e terminei de contar sobre a confusão com o Holmes e que fui parar no manicômio, graças ao xerife e ao Paul. E expliquei como eu e meu tio decidimos fazer os golpes e o porquê de tantas pessoas inocentes envolvidas nisso.

                -Você sinceramente se arrepende? – Brian perguntou. – Dessas coisas que você fez?
                -Sinceramente? Me arrependo de ter envolvido pessoas inocentes nisso, sim. Me arrependo muito. Mas confesso que ter matado o xerife não me pesou na consciência. E só me arrependo do golpe ter chegado àquele ponto por causa do Nick. E também que iria envolver muitas pessoas que não tinham culpa nenhuma do sofrimento que passei, inclusive a Christine, você – eu apontei para o Brian e olhei para o Joe. – e o Joseph. Eu ainda não te suporto. – eu disse diretamente para Joe. – Mas não quer dizer que você também não merece passar pelo sofrimento que seria causado se o golpe fosse realmente concluído.
                -Mas você acha que o meu pai ainda merece sofrer? – Joe perguntou.
                -Não me force a falar o desagradável na frente do Nick. – eu disse lançando um olhar para o meu namorado, mas suspirei em derrota. Obviamente todos já sabiam a resposta.  – É claro que eu acho.
                -Você nunca parou para pensar que talvez ele possa estar arrependido do que fez da mesma forma que você diz ter se arrependido? – Pronto! Só me faltava isso. O Joe agora defendendo o Paul. Parece até piada! Mas levei a pergunta a sério e respondi.
                -Duvido que tenha. – eu balancei a cabeça com certeza. – Ele fez coisas horríveis comigo e com a minha família. Hoje eu mantenho contato com a minha família e sei que ele nunca ao menos tentou pedir perdão pelo que fez!
                -Com certeza você fez tantas famílias sofrerem do mesmo modo que o meu pai fez ou até pior. Famílias inocentes! E você em algum momento procurou pedir perdão a elas? Tentou consertar alguma coisa? – Joe rebateu, mas desta vez eu não tinha mais o que dizer. Essa me acertou em cheio. – Foi o que eu pensei.
                Um silêncio desagradável pairou sobre a sala de estar. As palavras do Joe foram duras, mas ele tinha razão. Fui tão cruel quanto o Paul, talvez até pior. Fui tão ambiciosa e egoísta quanto ele. E do mesmo jeito que o estrago que ele fez na minha família nunca teria conserto, tudo de mal que eu fiz para pessoas inocentes não tinha mais como ser retalhado. Quem sou eu para me achar melhor do que o Paul?
                Brian e Nick estavam claramente agitados diante do clima ruim entre nós. Eles trocavam olhares aflitos um com o outro, tentando pensar em alguma forma de reverter a situação e deixar o clima um pouco mais leve como estava o começo da conversa, mas era impossível escapar do assunto.
                -Olha, eu perdoei a Miley por tudo o que ela fez. – Nick tomou coragem para intervir. Joe suspirou profundamente, demonstrando a sua impaciência. – Independente do que ela fez ou deixou de fazer no passado, está no passado. Nós entramos em acordo para deixar tudo pra trás e começar uma nova vida aqui. Então vamos deixar esse assunto pra lá, por favor. Não quero que vocês comecem a remoer problemas pendentes que deixamos em LA. Eu quero que vocês se entendam!
                -Querer nem sempre é poder, não é? – Joe respondeu sério e se levantou. Caminhou em direção à escada e foi para o seu quarto.
                Nick jogou o seu tronco pra trás no encosto do sofá, em rendição. Era claro que estava sendo tão desgastante para ele quanto pra mim. O dia mal começou e a minha paciência já estava se esgotando. Eu estava irritada, chateada e cansada. Eu já estava me sentindo exausta só de imaginar que o resto da semana vai ser maçante desse jeito. Quer saber? Acho melhor me mandar, também.
                -Vou tomar um banho. – num tom de voz baixo e desanimado, eu usei o banho como desculpa pra ficar sozinha por um tempo e botar a minha cabeça no lugar.
                -Miley, não precisa... – Nick me segurou pela mão e insistiu, já percebendo que eu já não estava bem. Mas eu o interrompi.
                -Me deixa, Nick. – eu puxei minha mão e fui caminhando rapidamente pro meu quarto.
                Nick Narrando
Durante a tarde cada um ficou na sua. Acho que o clima ainda estava estranho demais entre a Miley e o Joe. Depois de eu conversar um pouco com ela, a Miley melhorou um pouco de humor, mas ainda não queria interagir com Joe tão cedo. Apesar de Brian estar um pouco mais a vontade comigo ao passar das horas, ele achou melhor não mexer com a dupla do temperamento forte. Conclusão: cada um almoçou numa hora diferente justamente para se evitarem.  Mas no jantar seria diferente. Vai ter que ser! Como eu pedi comida por delivery, a comida de todo mundo vai chegar na mesma hora e todos vão se obrigar a comer ao mesmo tempo.
Enquanto os nossos pedidos não chegavam, eu e Brian conversávamos na sala de estar sobre as novidades em Los Angeles. Fiquei feliz por ele quando eu soube que ele finalmente conseguiu um carro de presente. Desde os dezesseis anos ele sonhava em ter um. E nesse ano que eu estive fora, o Sr. Chase deu um de presente de aniversário.  
-Não, cara! Eu estou te falando que eu dirijo bem! – Brian falou pra mim enquanto eu ria.
-Falando sério, cara! Você acha que eu acredito nessa ladainha? Me diz. Quantas multas você já recebeu? – eu perguntei duvidando do que ele falava? Do jeito que Brian é desligado, duvido que não tenha recebido nenhuma até agora!
-Ah... Eu só recebi uma ou outra... – ele disse tentando disfarçar.
-Quantas?
-Umas oito... – ele respondeu já rindo junto comigo.
-Eu não falei!?- eu me joguei pra cima dele no sofá e ele gargalhou mais alto. -Eu te conheço! – eu zoei enquanto bagunçava o seu cabelo e ele tentou me afastar colocando a mão no meio do meio rosto. – Achei até pouco pra você!
-Até parece que você é todo certinho. – ele disse fazendo careta enquanto ele se sentava de novo.
-Nem me fala! Você não sabe da maior.
-Que merda você fez? –ele perguntou arregalando os olhos.
-Em algumas festas da universidade daqui rola algumas rachas. Eu participei de uma essa semana.
-O que? – ele praticamente gritou. – Você enlouqueceu?!
-Calma, eu to vivo, ta bom? E ainda ganhei de primeira! – falei comemorando enquanto ele me encarava perplexo.
-Acho que essa doidinha – Brian apontou para o andar de cima, se referindo à Miley. – está te fazendo perder o juízo.
-Você diz isso como se fosse o cara mais normal do mundo. Fique sabendo que aprendi a fazer merda com o mestre, ok? – ele riu. – E você tem razão. A Miley me faz mesmo perder o juízo. Na verdade ela me faz perder o juízo desde que a conheci. – eu sorri feito um bobo apaixonado. Ela me fez perder o juízo no bom e no mau sentido. O amor que eu sinto por aquela mulher chega a ser delirante. 
- Você é loucamente apaixonado por ela. Dá pra perceber pelas doideiras que você já fez pela Miley. – Brian sorriu.
-Cara, eu sei que o meu amor por ela pode parecer a maior loucura que existe para as outras pessoas, mas para nós dois é a coisa mais certa. –eu me abri para o meu amigo.- Eu posso ser um maluco com a Miley, um sem juízo. Mas sem ela eu não sou nada.
Brian me encarava sério, como se estivesse entendendo perfeitamente o que eu estava dizendo. Então com um olhar distante, ele completou. – É como se as coisas só passassem a fazer sentido com ela por perto. 
-Isso mesmo! – eu respondi contente por estar me entendendo.
É um alívio ver que ele está feliz por mim, mesmo que ele ache toda essa ideia de viver com a Miley na Itália uma missão suicida. Eu ri baixinho. A situação chega a ser engraçada. É totalmente inédita uma conversa tão séria assim com o Brian que ele me compreendesse tanto sem nenhuma gracinha... Espera. Será durante esse tempo alguém conseguiu fazer o Brian se apaixonar?
-Brian, - eu o chamei com um sorriso brincando em meu rosto. – durante esse tempo que eu estive longe de Los Angeles, apareceu alguma garota em especial?
-Está brincando, né? Apareceram muitas! – eu comecei a rir. Brian apenas sendo Brian. -Você tem que ver as belezas que tem na UCLA!
-Não, seu cabeção! Eu quero saber de alguém especial mesmo... – eu dei um pequeno empurrão de brincadeira em seu ombro e ele riu meio esquisito, desviando o olhar.
No momento em que eu ia insistir mais alguma vez para conseguir tirar alguma informação dele, Miley surgiu no meu campo de visão. Ela carregava um papel na sua mão direita e a mão esquerda estava em sua cintura com uma postura mandona. Ih, lá vem! Brian a olhou confuso e, assim como eu, esperou pelo que ela iria dizer.
-Minha lista já ta pronta. Bom, você falou que eu podia fazer as exigências que eu quisesse. Aqui estão. – Miley me entregou o papel. –Como está escrito aí, ela está sujeita a mudanças durante a semana. – ela continuou falando enquanto eu a lia.
A primeira exigência da lista dizia que a Miley não será responsável por nada na casa, incluindo arrumação, comida, louça para lavar e semelhantes. Então isso quer dizer que eu terei que me virar (não sei como) durante uma semana inteira. Eu sorri ao ler a segunda exigência. Eu teria que satisfazê-la na hora e no lugar que ela bem quiser. Isso vai ser moleza! Ao final do segundo tópico tinha uma observação: apenas as suas posições favoritas (que eu já deveria saber quais são) e os seus fetiches do momento. Nada de submissão! O terceiro tópico dizia que ela poderá usar o meu Ashton Martin para passear a hora que quiser. Eu torci o nariz. Ela sabe que esse carro é o meu xodó. O quarto tópico dizia que ela não é obrigada a ficar no mesmo cômodo do que o Joe e nem é obrigada a aturar suas chateações. Tudo bem. Talvez isso seja até bom por questão de segurança. E ao final: “Lista sujeita a modificações e adicionais durante a semana”.
 –Ah! O seu irmão e o seu amigo estão proibidos de me ofenderem. Acho que isso é meio obvio, então eu não coloquei na lista.
Eu balancei a cabeça, demonstrando compreensão. Eu olhei para cara de Brian e ele estava claramente segurando o riso. Eu dei um tapa na nuca dele para ele parar de palhaçada e ele reclamou com um “Ei!”.
-Acordo é acordo, não é? Eu te disse e vou cumprir. – eu respondi. Miley sorriu satisfeita e me deu um selinho.
-Você já pediu o nosso jantar? – ela perguntou. –To morrendo de fome.
-Já. Logo, logo a comida vai chegar. – eu respondi sorrindo para ela.
Miley só disse um “Ok” e subiu as escadas novamente para o nosso quarto. Eu sei que o Brian só estava esperando ela sair de perto para começar a me sacanear. Dito e feito. Quanto eu me virei para o meu amigo e ele carregava um sorrisinho debochado no rosto.
-Listas de exigências? – ele perguntou – Pelo jeito, o amor só não te fez maluco, não. Agora você é pau mandado, também! – então ele soltou a gargalhada que ele tanto segurava.
-Você vai ver só quem é o pau mandando!
Brian saiu correndo antes que eu pudesse ir pra cima dele. Nós dois já estávamos rindo juntos.  Mesmo que o clima ainda não seja uns do melhores com o pessoal aqui em casa, eu estava me sentindo feliz em estar matando saudades do meu melhor amigo. Por um momento, depois daquela briga feia que tivemos, eu pensei que ele nunca mais iria olhar na minha cara. Com certeza, o medo de ter destruído para sempre a nossa amizade bateu. Felizmente, Brian é uma pessoa bem mais fácil de lidar do que o meu irmão, por exemplo. Bastaram algumas horas juntos novamente para que deixarmos os desentendimentos para trás e voltássemos a ser como antes.
Poucos minutos depois, o nosso pedido já tinha chegado. Brian me fez o favor de chamar as feras, conhecidas como Miley e Joe, para jantar enquanto eu pagava o entregador.
Miley Narrando
Eu deveria estar me deliciando com o meu fettuccine ao molho funghi e queijo, um dos meus pratos favoritos, mas o olhar enojado do Joe em minha direção espantava completamente o meu conforto. Tomei um gole generoso do meu vinho e suspirei pesadamente. Será que ele não vai se cansar em tentar me perturbar a todo custo? Fala sério! Até pelo olhar ele me incomoda!
                Senti uma mão acolhedora acariciar a minha coxa por de baixo da mesa e me virei para o Nick, que estava ao meu lado. Ele me sorriu com os olhos, como se estivesse me pedindo paciência silenciosamente. Respondi com a minha mão sobre a sua, como se estivesse tudo sob controle, e voltei a atenção para o prato de massa a minha frente.
-Então, Joe. Você não vai falar nada? Como estão as coisas em Los Angeles? – ouvi a voz de Nick perguntar.
-Nada de especial acontecendo por lá... Quer dizer, eu saí com algumas atrizes famosas, mas isso não é nenhuma novidade. – ele continuou falando com um tom de voz entediado. - A única novidade que eu tenho é recebi algumas propostas para filmes depois do acontecimento do golpe e tudo mais, - Joe torceu o nariz -mas eu insisti falando que eu acho a ideia ridícula de me colocarem em um filme. E nem sou ator! Quem foi o imbecil que teve a ideia de colocar modelos para atuar em filmes?
Eu não pude me conter ri baixinho. Nisso eu tenho que concordar. Seria ridículo o Joe durante o filme inteiro fazendo aquelas caras sensuais de modelo. Fala sério! É só isso que ele sabe fazer.
-Falando em novidades em Los Angeles... Então, Brian. Vai me dizer ou não se tem uma garota na parada? – Nick perguntou com um sorriso cúmplice para o seu melhor amigo.
Brian riu um pouco. Ele aparecia um tanto nervoso. E antes que ele pudesse dizer alguma coisa, o Joe se intrometeu.
-Conta logo para ele, cara. – Joseph o cutucou com o cotovelo.
-Espera... então é verdade? Até o Joe já sabe? – Nick começou a ficar mais animado e curioso.
-Ele não sabe de nada! – Brian respondeu, devolvendo a cotovelada em Joe.
-Você não precisou me falar nada, Brian. Você sabe que eu percebo as coisas rapidamente. – Joe rebateu. – Conta logo pro Nick!
Até a minha curiosidade foi desperta com toda essa enrolação. Vendo que todos esperavam a sua resposta, Brian fechou os olhos e suspirou. Eu tomei mais um gole do meu vinho, sem tirar os olhos deles. Brian puxou o ar mais uma vez e soltou tudo de uma vez em uma só frase:
-Acho que eu estou apaixonado pela Christine. – ao ouvir a ultima palavra, minha respiração falhou e a minha garganta fechou a passagem do vinho que eu tinha acabado de tomar. Comecei a tossir sem parar. Olhei para o lado, esperando que o meu namorado me acudisse, mas ele ainda não tinha percebido que eu estava engasgada. Nick estava paralisado. Sua mente deve estar ocupada demais tentando absorver a frase que o seu amigo acabou de dizer.
-Toma logo essa água. Não quero que você morra enquanto eu estiver comendo. – Joe resmungou, enquanto me passava um copo que ele acabou de encher de água.
Eu peguei o copo com rapidez, tentei puxar o ar pelo nariz e tomei toda a água de uma vez.
-Christine? – eu perguntei praticamente gritando, depois de conseguir me recuperar. –Você está falando da mesma moça que eu estou pensando?
-É... Essa mesma. A madrasta do Nick e do Joe. – Brian respondeu um pouco hesitante com a reação do Nicholas. –Eu estava esperando um momento melhor para dizer isso, mas tudo mundo ia saber do mesmo jeito e você estava insistindo...
-Isso é... Meu Deus! Isso é maluquice! – Nick se pronunciou ainda perplexo.  
-Se o Paul descobrir... – eu pensei alto. – Você vai estar lascado.
-Nós não temos um caso, ok? Ela não sabe sobre isso ainda. – Brian respondeu, começando a ficar um pouco mais triste com a nossa reação, por mais que seja a reação esperada, não são lá as mais positivas.
-Desde quando você se apaixonou por ela? –Nick perguntou.
                -A gente começou a ficar amigos, eu fui me aproximando mais dela, a conhecendo melhor... Ela é incrível e tão adorável. Eu não esperava que eu pudesse sentir alguma coisa assim por uma mulher. Cara, amar alguém é a sensação mais louca que existe! Pior ainda é quando você tem certeza que é um amor impossível.
                Nesse momento, eu senti um pouco de empatia por ele. Eu sabia muito bem como era amar alguém que julgam ser impossível para ficar com você.
                -Me conta melhor como vocês ficaram tão amigos. – eu pedi, morrendo de curiosidade.
                Brian suspirou – Tudo bem. – ele tomou um gole do seu vinho. – Tudo começou num fim de semana na estrada...
Flashback on
Brian Narrando

                Como eu amo fim de semana! O vento quente e revigorante invadia o meu carro pelas janelas. Eu havia acabado de sair da praia e logo na parte da tarde eu já tinha que voltar para casa, descansar e me preparar para uma festa da UCLA. Confesso que o ritmo acadêmico de universitário já está bastante puxado, mas não podia negar que eu era louco por essas festas que aconteciam toda semana. A música que tocava na rádio já havia acabado e começou a tocar "Maps" do Marron 5. Sorri satisfeito. Adoro essa banda. 

                Enquanto a minha boca acompanhava a letra da música e a minha cabeça balançava no ritmo, meus olhos não saiam da estrada e do que está ao redor dela. Até que tinham muito poucos carros por aqui. Geralmente as rodovias mais cheias são as do centro da cidade, não nessa parte das praias.

                Então uma coisa puxou minha atenção. Um carro importado estava parado no acostamento, provavelmente deve ter quebrado, e uma loira mega gostosa se apoiava no capô, visivelmente cansada por causa do calor. Como eu não sou bobo, decidi exercer a minha gentileza e o meu cavalheirismo. Óbvio que eu ia ajudar a loira gata! No exato momento em que parei o carro em frente à moça para oferecer ajuda, dou de cara com um rosto bem familiar.

                -Sra. Jonas?! - eu perguntei surpreso. 

                -Brian?! - ela tirou seus óculos escuros do rosto ao me reconhecer e perguntou no mesmo tom do que eu. -Caramba, você caiu do céu! Você não faz ideia de quanto que sofri aqui na estrada. - ela desandou a falar afobada, mas ao mesmo tempo aliviada por ter encontrado alguém conhecido. - Paguei todos os meus pecados nesse sol escaldante, inclusive aqueles que ainda não cometi! Eu tinha encontrado com umas amigas minhas na praia e na volta, do nada, essa lata velha cisma de quebrar no caminho de casa! - se ela acha aquele possante uma lata velha, não quero nem imaginar o que ela acha do meu simples carro popular que ganhei depois de me formar. -Não consigo de jeito nenhum chamar o reboque, porque o meu celular está sem sinal. - ela bateu as unhas impecáveis na tela do seu Iphone com raiva. - Além do calor, eu tive que aturar um bando de safados que passaram por mim "oferecendo ajuda", mas não conseguiam nem tirar os olhos das minhas pernas ou poder disfarçar um sorriso pervertido. - eu assenti em concordância com a sua indignação com a falta de vergonha na cara de alguns homens. Hipócrita? Eu? Imagina! - Enfim, estou nesse desespero há um tempão... Será que você pode me emprestar o seu celular para poder chamar o reboque? - Christine finalmente tomou ar para respirar. 
                -Claro! – eu respondi. –Entra aqui. Podemos esperar o reboque chegar pelo menos na sombra e com o ar condicionado.
                -Seria ótimo! – ela disse em um suspiro de alívio e abriu um sorriso cansado.  – Ah! Estou te dizendo pela milésima vez para não me chamar de Sra. Jonas! Isso faz me sentir uma cinquentona da alta sociedade. – Christine disse enquanto entrava no carro. Eu sorri automaticamente em simpatia, mas na verdade a minha atenção estava sendo desviada para o corpo esbelto e bem esculpido da loira que estava coberto por apenas um short de cintura alta e uma blusa de tecido fino que deixava transparecer a parte de cima do seu biquíni. Uau, que pernas são essas? O que? Eu não acredito que eu estou secando a madrasta do Nick! Foco, Brian!
                Para disfarçar a meu olhar impróprio para a Sra. Jonas, eu me concentrei no meu celular enquanto eu discava o número do reboque. Então eu a entreguei o aparelho.
                -Você sabe o número de cabeça? – ela perguntou surpresa enquanto aguardava o atendimento no telefone.
                -Digamos que esse carro é novo para mim, mas eu já me meti em alguns sufocos com ele e tive que chamar o reboque algumas vezes.
                Ela riu com a minha resposta. –Típico. – ela disse baixinho.
                -Ei, eu ouvi isso! – eu a chamei atenção e ela apenas fez um biquinho e desviou o olhar para a janela, me fazendo rir.
                Depois de alguns longos minutos, o reboque finalmente veio buscar o carro enguiçado do acostamento. Ela disse que depois que chegasse em casa, ela pediria ao motorista uma indicação de um bom mecânico para o seu carro.
                -Bom, por causa do calor e da falta de ferramentas eu não dei uma checada no seu carro, mas eu entendo um pouco de mecânica. Eu mesmo dou uns reparos no meu carro com a ajuda do meu pai. Talvez com alguns equipamentos, eu possa tentar concertar de graça. – eu disse ligando o motor do meu carro, logo depois que o da Christine foi levado pelo caminhão.
                -Desde que você não termine de destruí-lo, tudo bem.
                -Aí é questão de confiança! E sorte, também. – eu falei e a ela sorriu.
                -Tem notícias do Nick? – mudou de assunto enquanto checava o estado do seu cabelo pelo espelho do retrovisor.
                -Soube que ele está muito bem por lá. Ele fez algumas amizades na faculdade. Eu nem sei como ele conseguiu entrar lá tão rápido. Nick chegou naquele lugar sem ao mesmo falar italiano direito.
                -Digamos que o meu marido conseguiu convencer o diretor a facilitar as coisas. – Christine fez um gesto com as mãos significando dinheiro.
                -Ah... – eu balancei a cabeça. – Claro. Deveria ter imaginado. Mas acho que o Nick está compensando muito bem. – eu completei.
                -Que bom! O pessoal lá de casa está mantendo pouco contato com ele. Não temos nos falado muito. Acho que ele evita por causa do Paul.
                -É bem provável, mesmo...
                Depois de alguns minutos de conversa furada, Christine interrompeu a conversa com agitação.
                -Ah minha nossa! – eu me assustei com o gritinho entusiasmado da Christine. Antes que eu pudesse perguntar o motivo da animação, ela mesma se tratou em responder. – Faz séculos que eu não passo por esse caminho.  Como eu amo a praia de Santa Monica! Esse lugar é perfeito! – Ela disse apontando para a paisagem a nossa frente. Lá estava a longa costa de Santa Monica. Ao final dela dava pra ver de longe a enorme roda gigante e a montanha russa do Pacific Park, um dos principais cartões postais de LA e uma das minhas paisagens favoritas.

                 


                -Pelo jeito, Pacific Park já está funcionando.
                -Esse lugar é tão nostálgico. E eu adoro isso! – ela disse ainda com um olhar distante e alegre. Eu sorri.
                -Vamos lá. – eu disse me animando com a ideia de dar um passeio por ali.
                - O que? Agora?
-Sim, agora mesmo. – respondi o óbvio.
-Não!  – ela interviu.
                -Por que não? – eu perguntei com confuso. Cadê a animação dela?
                -Vai demorar... E o Paul vai ficar preocupado. Ainda mais que a porcaria do sinal do meu celular ainda não voltou. – ela respondeu desanimada.
                -Ah, Christine! Duvido que você não esteja louquinha para ir naquela montanha russa. – eu rebati e ela abriu um sorriso, confirmando a minha frase. –E se o Sr. Jonas for o problema, é só fazer uma ligação pra ele no meu celular. Vamos, você só vai se divertir. Não tem nada demais nisso.
                Ela mordeu o lábio, tentando se segurar para responder o que nós dois já sabíamos o que. Christine respirou fundo e soltou o seu lábio inferior dentre os dentes. O lábio ficou levemente rosado e um pouquinho inchado, de um modo bem discreto, mas o suficiente para puxar a minha atenção. – Tudo bem, tudo bem... Só se você prometer que não vai me fazer demorar!
                -Prometo! – eu sorri enquanto estacionava o carro em frente ao calçadão da praia. – Só preciso te avisar que eu não sou muito bom em cumprir promessas.
                -Ai caramba! – ela murmurou olhando para o céu. – Sei que você não vai querer cumprir, mas eu vou arriscar.
                -É assim que se fala! – eu comemorei colocando os meus óculos de aviador, pronto pra sair do carro.
                Era um dia quente, mas mesmo assim a brisa do litoral aliviava o calor. Como a praia era gigantesca, a costa não estava lotada de gente, mesmo sendo um lugar conhecido num dia de calor. Havia algumas pessoas pegando sol e alguns surfistas iniciantes se arriscando pegar o pouco de onda que tinha no mar. Mesmo assim, havia bastante distancia entre as pessoas dando a impressão que a praia estava quase vazia.
                -Então quer dizer que Pacific Park pra você é nostálgico? – eu passei a puxar assunto, enquanto caminhávamos na areia macia em direção ao parque que ficava quase do outro lado da costa.  –Você não vem mais aqui?
                -Sim, eu vinha muito aqui quando eu era adolescente. – ela disse carregando uma saudade no olhar. – Depois que eu me casei com o Paul nunca mais passei por este lugar. Às vezes eu até esqueço qual é o verdadeiro lado da diversão californiana.
                -Hoje você vai se lembrar rapidinho, você vai ver! – eu disse e ela sorriu. –Desculpa te perguntar isso, mas como já comecei a falar... Como é que você conheceu o Paul? É, quer dizer, vocês parecem tão diferentes no modo de ser. Como uma antiga fã numero um de Santa Monica e Pacific Park foi se casar com o cara mais sério que eu já conheci?
                -Você não fez mal perguntar, Brian. – ela balançou a cabeça com um sorriso compreensivo no rosto. – Bom, eu trabalhava como modelo de fotografias de marcas e revista de moda. E ás vezes eu recebia alguns convites de eventos da alta sociedade. Bom, aí eu conheci o Paul numa festa beneficente.  Apesar da nossa diferença de idade, ele me tratava tão bem, com tantos mimos e cavalheirismo. Isso era e ainda é difícil de encontrar em homens, sabe? Não me apaixonei por ele de um jeito avassalador como nos filmes. – ela fez um gesto exagerado com as mãos. – Mas ele me fazia sentir bem, eu me sentia segura com ele. Sentimental e financeiramente falando. Depois de tantas decepções com caras que me tratavam feito um lixo, eu achei que ele valeria a pena ter alguém que pudesse me dar uma vida de rainha, que me tratasse como uma.
                -“Valeria a pena”? – eu perguntei. – Não vale mais?
                Christine ia responder minha resposta, mas espremeu os seus lábios no outro e suspirou. – Deixa pra lá. Bobagem. – ela disse balançando a cabeça. – Crise normal de casal...
                -Desculpa. Eu que estou sendo enxerido e perguntando coisas que eu não devo. Foi mal... – eu pedi desculpas um pouco sem graça. –Às vezes eu falo algumas coisas antes de pensar. - Eu e minha boca grande! Por que eu tinha que ser tão curioso?
                -Eu já disse para você não se desculpar. Aliás, você é quase da família, não é mesmo? Você conhece os Jonas há bem mais tempo do que eu. – ela falou gentilmente.
                -Hum... Ta bom.- eu olhei pros meus pés cheios de areia. -Vamos mudar de assunto.
                 Depois de um bom tempo curtindo o famoso parque de Santa Monica, decidimos parar em algum lugar para poder comer em uma das lanchonetes do píer. O píer, ao contrário da praia, estava lotado. Era divertido passar por ali. Você podia encontrar pessoas de todo o tipo. Como uma família de turistas estrangeiros, muitas gatas passeando de patins, mochileiros, casais de velhinhos, casais gays, casais jovens, skatistas, fotógrafos aproveitando a paisagem e até músicos que se arriscavam mostrar seus talentos para ganhar uns trocados. Percebi que o céu estava começando a colorir com as cores do pôr do sol e que daqui a pouco anoiteceria, porém preferi não avisar à Chris. Senão ela iria querer ir embora correndo e não estava nenhum um pouco a fim de ir embora daquele lugar.
                -Ali. – ela apontou para a entrada de uma lanchonete chamada “Ruby’s Diner”. – Você vai provar o melhor milk-shake da sua vida! – ela disse entusiasmada. – Eu amo esse lugar! – ela disse batendo palminhas. E eu ri. – Minha dieta que me perdoe, mas eu tenho que comer aqui. – Então Christine pegou a minha mão e me puxou pra o restaurante a dentro.
                O lugar parecia com aquelas lanchonetes retrôs com garçonetes circulando de patins pelo ambiente. A decoração era típica daquelas lanchonetes dos anos 50, até com direito a jukebox.
                -Uau. – foi só o que eu consegui dizer.
                -Perfeito, não é? Imagine só quando você provar a comida daqui.
                Nos sentamos e fizemos os nossos pedidos. Não demorou muito para sermos rapidamente atendidos.
                -Aqui está as duas porções de hambúrguer acompanhado de fritas com cheddar. –a garçonete entregou. – E dois Oreo Shakes. Bom apetite! – a moça sorriu com simpatia e agradecemos.
                Aquilo parecia estar ótimo. Mal o pedido foi colocado na mesa e nós dois começamos a comer com vontade de sobra.
                -E aí? O que achou? – ela perguntou depois de tomar um gole do seu milk-shake.
                -Está brincando? Essa lanchonete é a mais foda... – eu dei uma mordida no hambúrguer e respondi de boca cheia. – de toda a galáxia! – ela jogou a cabeça pra trás e riu alto.
                -Hoje foi tão bom. – ela disse apoiando o queixo sobre a mão. – Quero mais dias assim.
                -Eu também adorei! E sinceramente? Eu nunca imaginei que você fosse tão...
                -Jovem? – ela perguntou risonha.
                -Divertida. – eu disse e ela sorriu de um jeito fofo. – Não sei. Talvez por sempre te ver em eventos chiques e roupas elegantes, só andando com pessoas da alta sociedade, eu nunca imaginei que você tivesse ele lado mais legal de ser. Não que eu não te achava legal. Eu sempre te achei uma pessoa legal. Mas não legal desse jeito, entendeu?
                Ela pendeu a cabeça para o lado e franziu o nariz. – Mais ou menos. Acho que isso foi um elogio, então muito obrigada. Eu também gostei muito de você.
                -Sério?
                -Sério. Estava sentindo falta de passar o tempo com pessoas como você. Pessoas que não se importam com status, dinheiro, glamour ou coisa do tipo. Não que eu não me importe com glamour. Por favor, eu sem glamour não sou nada! Falando nisso vou precisar de um bom tempo no salão depois de toda essa coisa de praia e montanha-russa... – eu ri do seu jeito patricinha. – Mas você é uma pessoa que encara as coisas com leveza. Eu gosto disso.
                Eu abri um sorriso pra ela. – Então quer dizer que vamos passar mais momentos como esse de novo?
                -Com certeza.
Flashback off

Miley Narrando
                -Foi assim que aconteceu. No começo era só amizade, mesmo. Mas com o tempo, um sentimento diferente foi crescendo. Quando me toquei, já era tarde demais. – Brian se explicou. Ele parecia se sentir culpado por isso. – Eu nunca quis me apaixonar por alguém, Nick.  Muito menos por uma mulher casada. E muito menos pela mulher do seu pai.
                Nick claramente tentava manter a calma, passando as mãos sobre o rosto. Pelo visto não éramos só nós dois que tínhamos uma bomba pronta para jogar no colo de alguém. Apesar a notícia ser surpreendente, eu não me sentia mais perplexa. Eu estava triste pelo Brian. Ele sabe que lutar contra os seus sentimentos e tentar fugir dele só o faria mal, mas tentar fazer alguma coisa acontecer entre ele e Christine é missão suicida.
                -Você sabe que você não tem culpa nenhuma disso, não sabe? – eu perguntei.
                -Eu sei, mas... É meio óbvio que eu to mais do que fodido. – ele disse com ar de derrota.
                -Eu não sei nem mais o que dizer... – Nick disse ainda em choque.
                -Eu jurava que eu estava me preparando pra te contar nessa semana por aqui na Itália. Acho que seria melhor contar pessoalmente. – Brian disse sem saber muito o que fazer. Ele percebeu o semblante perdido do meu namorado e perguntou hesitantemente. – Você está chateado comigo?
                Nick balançou a cabeça rapidamente e negação. – Não! Claro que não. É que... Nossa, por isso eu não esperava! Não precisa ficar desse jeito, ok? Como a Miley disse, você não tem culpa nenhuma. Eu estou do seu lado, cara.
                -Bom, se precisar de um apoio a mais. Eu também posso estar junto nessa. – eu falei.
                -Eu ficaria surpreso vendo a Miley tão boazinha apoiando o Brian... – Joe comentou com uma malicia carregada em sua voz. – Se eu não soubesse que ela está doida para que a Christine coloque um par de chifres no meu pai. É por isso que está torcendo por ele.
                Mas que filho da puta! Será que ele não me deixa em paz nem por um segundo?
                -Cala a porra da boca, Joseph. – eu rebati com nenhuma preocupação em economizar no volume da minha voz.
                -Eu só disse o que todo mundo está pensando, Miley. – ele respondeu sarcástico. – Ou algum de vocês – ele encarou o Nick e o Brian. – vão negar?
                -Já chega! Está ficando ridícula a sua implicância comigo! – eu dei um basta.
                -Ridícula é essa palhaçada de dividir o mesmo teto que você como se eu estivesse esquecido que você é uma golpista e uma assassina em série. – ele rebateu. Minha imaginação já borbulhava em várias cenas possíveis comigo jogando todo tipo de louça no seu rosto ou eu pulando pra sua direção para bater nele até eu cansar.
                -Se está incomodado, a porta é serventia da casa. – eu o respondi com um sorrisinho. – Vou subir para o meu quarto. Comer olhando pra sua cara está me dando indigestão. – eu falei enquanto eu levava o meu prato cheio de comida comigo.
                -Que ótimo, hein Joseph! Estragando o clima mais uma vez!- eu ouvi Nick reclamar numa voz cansada enquanto eu subia as escadas.
               
Algumas horas depois...
Joe Narrando
                Eu saí da minha cama e levantei num pulo. Ficar nessa casa está me deixando inquieto. Encarei o relógio digital que estava no criado-mudo. Eram quase três horas da manhã. Mais uma noite mal dormida por causa da maldita Miley. Eu não aguento mais. Eu precisava usar essa semana para, de algum jeito, mostrar o Nick que eu estou certo sobre aquela vigarista. Que ela não mudou coisa nenhuma. Mas sinceramente? Tudo o que eu preciso agora é tirar essa mulher da cabeça, para pelo menos conseguir dormir em paz.
                Comecei a caminhar pela casa, tentando me concentrar nas boas lembranças que eu passei por aqui durante as férias de verão com a família alguns meses antes da minha mãe vir a falecer. Eu e Nick mal parávamos em casa, só queríamos saber de ficar o dia inteiro na praia. Eu sorri. Essas memórias me fizeram sentir a vontade nessa casa pela primeira vez no dia.
                Isso me fez lembrar que a minha prancha de surfe que eu usei aqui pode ainda estar guardada na antiga garagem que é feita de depósito e que fica do lado de fora. Talvez se eu achá-la, eu posso usar amanhã na praia. Não tenho nada para fazer, mesmo.
                Chegando lá, consegui abrir o depósito com facilidade. Por sorte, não estava trancado. Procurei entre o amontoado caixas cheias de coisa velha, mas eu não encontrei. Com o tempo ali, fui acostumando melhor com a falta de luz, assim eu consegui avistar o interruptor e acendi a lâmpada. Com o local melhor iluminado, consegui avistar a prancha guardada na sua capa preta coberta de poeira. Ela estava escondida bem no final da antiga garagem. Achei! Fui até ela pra buscar, mas antes tropecei numa enorme caixa preta que estava no caminho. A caixa não estava coberta de poeira, ela parecia nova. Talvez fosse de propriedade do Nick ou da Miley. Por alguma razão aquela caixa chamou a minha atenção e não pude resistir e tive que abrir.
                 Eureca! Sem nem mesmo querer, descobri um podre recente daquela vadia. Dentro da caixa havia vários tipos de armas e algumas munições. E aquela filha da puta ainda queria se fingir de arrependida pra cima de mim! Ela pode enganar o Nick, mas nunca a mim. Vi que tinha outra caixa parecida ao lado e dentro dela havia ainda mais munições e facas. Fiquei perplexo com o número de armas que ela guardava dentro de casa. Dentro da própria casa que dividia com o trouxa do meu irmão! Como o idiota do Nick, durante um ano, não percebeu isso?! A minha raiva foi crescendo ainda mais. Quer saber? Que se foda! Vou fazer essa vagabunda admitir pra mim agora o que ela está tramando!
                Voltei para a enorme casa silenciosamente, mas em passos rápidos. Subi as escadas tentando fazer menos barulho possível. Cheguei até o quarto do casal e abri a porta do cômodo com cuidado. Fala sério!  Será que eles sabem que podem usar chaves nessa casa? Nick e a Miley estavam dormindo profundamente.
Minha vontade é de fazer um escândalo bem na frente dele, mas o meu objetivo é fazê-la admitir pra mim primeiro. Para só depois eu conseguir provar ao Nick. Se eu acordasse a Miley aqui, com certeza ela faria algum movimento brusco e o Nick acordaria. Então eu tive uma ideia. Tirei o braço do Nick com cuidado de cima da minha querida cunhadinha e a puxei pro meu colo. Olhei para o seu rosto. Ela continuava em sono profundo. Ótimo.
A carreguei pela casa até chegar ao depósito que ainda estava aberto e com a luz acesa. Chegando à garagem, eu a soltei com gosto de meus braços, deixando ela estabacar no chão. Miley acordou assustada olhando pra os lados em confusão e logo depois gemeu de dor.
-O que...? Ai! – ela apoiou a mão sobre cabeça com uma expressão de dor. A sua voz ainda estava arrastada e ela não parecia estar com a vista acostumada com a luz. –O que está acontecendo? – Miley perguntou com a voz arrastada.
-Para de manha e levanta logo. Eu te descobri de novo, sua vadia. – eu respondi ríspido.
Ela levantou ainda meia perdida, mas claramente mal humorada. – De que merda você está falando, Joseph? Você enlouqueceu de vez, seu retardado? Como é que você me traz aqui a essa hora e me acorda desse jeito? – ela disparou com as perguntas, enquanto colocava as mãos sobre a cintura.
                -Eu encontrei os seus brinquedinhos. – eu apontei para as grandes caixas que estavam abertas, revelando as armas. – Agora me diz o que você está planejando dessa vez. Nós dois sabemos que não me engana, nem com esse papinho de redenção. 
                -Joe, isso não tem nada a ver. Eu não estou planejando nada! – ela se fingiu de inocente.
                -Como você não está planejando nada? Miley, você tem um estoque de armas e munição o suficiente para travar uma guerra com a máfia italiana e você me diz que isso não tem “nada a ver”? Por mais que eu seja irmão do Nick, eu não sou idiota que nem ele! É melhor me dizer o que você tem em mente, senão eu te entrego para polícia. – eu respondi levantando o meu tom de voz.
                -Eu comprei isso para nós dois. Para defesa pessoal! – ela respondeu gritando. – Vocês, Jonas, são podres de ricos e são conhecidos em vários cantos do mundo por isso. É obvio que uma hora vai aparecer mais gente má intencionada na vida do Nick.
                -Miley, desiste de me enganar. O Nick nem sabe manusear uma arma. Como é que você arrumou um monte dessas só para vocês dois?!
                -Vai a merda, Joe! Eu estou dizendo que é pra defesa pessoal. Não estou inventando nada! Agora vê se me deixa em paz. – Miley rebateu histérica e me deu as costas.  
                O mínimo de paciência que me restava com ela foi simplesmente para o espaço e não a deixei sair da garagem. Puxei a Miley pelo braço, mas ela virou o seu corpo e me acertou um soco no meio do rosto, que me fez soltá-la. Mas a raiva cresceu ainda mais em mim e mesmo com a mandíbula e o meu lábio latejando, eu emaranhei meus dedos no cabelo castanho e longo e o puxei para mim. Miley gritou de dor e me xingou enquanto me dava uma cotovelada no abdômen. Eu gemi de dor. Puta que pariu! Aquilo doeu! Mas eu não a soltei e puxei com ainda mais força o seu cabelo, fazendo a sua cabeça pender para trás. Eu aproximei o meu rosto do seu ouvido e falei mais baixo.
                -Se você pensa que eu não estou falando sério, você está muito enganada. Se você continuar com esse fingimento e não me admitir nada eu ligo pra FBI amanhã mesmo, você está me ouvindo?
                -Droga, Joe. Eu não estou tramando nada!
                -Você não acha que eu não desconfio do porque que o seu amiguinho bandido também te ajudou a fugir e ainda está rondando por aqui na Itália para se manter perto de você? É claro que você não está sozinha nessa.
                -Nós dois não estamos planejando coisa nenhuma. Ele é só o meu amigo, por isso que ele me ajudou e é por isso que ele está por perto! – ela gemeu de dor mais uma vez. – Me solta! – ela reclamou tentando fincar suas unhas na minha mão que a segurava pelo cabelo.
                -Será que é amiguinho mesmo ou é mais do que isso? Do jeito que você é vadia, duvido que você nunca trepou com ele depois desses anos todos de parceria. - depois que eu pronunciei essa frase, a Miley parou de tentar lutar contra mim. Por alguns segundos eu só pude ouvir nossas respirações pesadas.
                -P-por- por favor, Joe. – ela disse com a voz falha. – Isso já tava ficando ridículo.
                Antes que eu pudesse a provocar ainda mais a falar alguma coisa, uma voz não muito distante me interrompeu.
                -O que está acontecendo aqui? – Nick perguntou com a voz firme. Seu olhar ao mesmo tempo confuso, estava carregado de raiva.

                Na mesma hora, a Miley soltou um suspiro que eu não pude saber se era um suspiro de alivio ou um ainda mais tenso. Apesar dele chegar na hora certa para “salvá-la” de mim, Nick deparou com uma cena acidentalmente estranha. Eu, com o lábio vermelho e levemente inchado, puxado o cabelo de Miley e a trazendo para perto de mim enquanto ela estava de apenas com uma camisola curta. Ambos com a respiração falha. Nós dois nem tínhamos pensado na malícia da situação, mas mesmo assim ficou extremamente estranho sob o olhar de Nick agora. Eu finalmente a soltei e a empurrei para longe de mim.