Eu saí da minha aula de Recursos
Humanos e era última antes do almoço. Eu não me aguentava mais de fome! Miley
provavelmente vai estar me esperando em casa, já que não é todo dia que sou
liberado no horário de almoço, então nem sempre conseguia comer junto com ela
nesse horário.
-Nick! – ouvi uma voz me chamar
alguns metros atrás de mim. Olhei para trás para saber quem era. O corredor
estava cheio de gente, mas eu pude identificar muito bem quem me chamou. Bruno.
Aí tem!
-E aí, Bruno! Tudo bem? – eu
cumprimentei, fingindo estar feliz em vê-lo.
-Tá, ta tudo bem. – ele balançou
a cabeça rapidamente afirmativamente. –É... Você tem dupla para fazer o
trabalho de Recursos Humanos? – perguntou ele. Estranho, ele nunca me chamou
para fazer um trabalho com ele.
-Não... A aula acabou agora e
nem deu tempo ainda de combinar algo com alguém. – respondi.
-Posso fazer com você? –
perguntou ele com interesse.
-Hum... Pode. – perguntei
estranhando a sua pergunta. Alguma coisa ele quer. –Eu tenho horário livre hoje
de tarde para fazer. Está tudo bem para você? – é óbvio que eu não entrei nessa
a toa. Preciso descobrir quais são os próximos passos dele.
-Para mim está ótimo, cara! –
ele sorriu satisfeito. – Tem como ser na sua casa? Eu não consigo ter muita
concentração na biblioteca, sempre tem muita gente.
Ele está querendo se aproximar
de mim com um propósito. Bom, mas vou continuar fingindo que não sei de nada e
deixar que ele acredite que está tudo no controle. Vamos ver até onde esse cara
vai chegar.
-Claro, que pode. Lá é bem
tranquilo. Aliás, vamos agora. Aí você aproveita e almoça com a gente.
-“Com a gente”?
-É! Comigo e com a Miley, minha
namorada. Você se lembra dela? – ele balançou a cabeça afirmativamente. –Ela
mora comigo.
-É mesmo? Eu não sabia disso,
que legal. – ele comentou sorridente. – Mas tem certeza que eu não vou
incomodar vocês... ?
-Não! Nem um pouco! Ela vai
gostar em te receber. Miley gostou muito de você, sabia?
-É mesmo? – ele perguntou
surpreso com a minha afirmação.
-Aham, ela se dá muito bem com
gente que é festeira assim que nem ela. – eu respondi rindo falsamente e ele
riu junto comigo.
Bruno pegou carona comigo e
alguns minutos depois estávamos chegando em casa. Eu abri a porta e avistei
Miley descendo das escadas ao me ouvir chegar. Ela descia rapidamente,
entusiasmada em me receber. Ela me deu um beijo rápido na boca.
-Até que enfim você chegou!
Precisamos almoçar logo para já começarmos um treino novo e... – A presença de
Bruno atrás de mim, entrando em casa chamou a atenção dela, a fazendo parar de
falar. Os seus olhos azuis pareciam que estavam a ponto de fuzilá-lo quando o viu.
-Miles, trouxe o Bruno para
fazer um trabalho comigo hoje. Hoje vamos ter que adicionar mais um prato na
mesa para o almoço. – eu sorri. Tive o cuidado de manter um contato visual por
alguns segundos com ela até ela notar o que eu estava fazendo. Não demorou
muito para Miley perceber.
Ela abriu um sorriso
hospitaleiro quando voltou a sua atenção para o Bruno. – Claro! Amigos do Nick
são bem-vindos aqui a qualquer hora. Entra! – ela disse fazendo um gesto para
ele entrar.
Os dois se cumprimentaram educadamente
e ele entrou na casa. O almoço já estava pronto e logo todos nós no juntamos à
mesa para comer. Mantemos a conversa normalmente e a Miley se mostrando muito
simpática com ele. Bruno era bom de conversa e parecia bem divertido, mas mal
sabe ele que nós sabíamos fingir bem melhor.
-Então... Como vocês decidiram
vir morar por aqui? – perguntou Bruno.
Eu olhei pra Miley e ela olhou
pra mim. – Bom... Nick decidiu se mudar. Você já deve imaginar que a família
dele é bem rica. – ela fez um gesto com a mão se referindo à casa de praia.
–Mas o Nick nunca gostou daquele glamour excessivo de Los Angeles. Então ele
quis mudar um pouco de vida, me chamou pra vir com ele e eu nem pensei duas
vezes, né amor? – ela um abriu um sorrisinho romântico.
-Claro. Eu não viria pra cá se
não fosse junto com ela. – eu respondi. – Aliás, foi a Miley que mais me
incentivou.
Bruno revezou o olhar entre nós
dois e balançou a cabeça. –Fugir de toda aquela caretice, né? Muito legal,
cara. É sempre legal mudar de estilo de vida.
-É isso mesmo. – eu concordei.
-E você, Miley? Ta se adaptando
bem aqui? – Bruno olhou pra Miley.
-Sim, eu estou adorando esse
lugar. Eu não me senti tão afetada assim porque eu já sabia falar italiano e eu
trabalho em casa, mesmo. Sou artista plástica. – Nas horas vagas, porém não é
cem por cento mentira, né?
A conversa foi rendendo. Bruno
fazia perguntas “despretensiosas”, procurando saber sobre a nossa vida pessoal
e depois disfarçava com algum assunto diferente. Ele estava procurando mais
informações sobre a nossa vida e isso estava me incomodando profundamente, mas
eu tinha que manter a pose e me fingir de inocente. Miley não parecia fazer
isso com tanta dificuldade. Ela sabia enganar muito bem. Miles entendeu muito bem que tínhamos que
esperar a hora certa e que precisamos observar até onde ele vai com toda essa
aproximação.
Alguns minutos depois, todos nós
terminamos de almoçar. Eu me dispus a ajudar a
Miley
a tirar a mesa. Quando eu levei as
ultimas coisas para cozinhas, aproveitei que ficamos sozinhos para
conversarmos.
-Esse filho da puta está
tentando se aproximar a todo custo. – comentei baixo com a Miley.
-Eu sei. É muito perigoso manter
esse cara aqui dentro de casa. Ainda bem que tinha guardado todas as armas e
nenhuma delas está ao alcance dos olhos dele. Mas precisamos deixá-lo achar que
está dando tudo certo. Pelo menos, por
enquanto...
Eu concordei e voltamos
rapidamente para a sala onde ele estava. Bruno observava cada detalhe da casa
ao seu redor e quando percebeu que chegamos, ele tentou disfarçar.
-Casa bonita. – ele comentou
sorrindo.
-Valeu. – eu respondi. – Então.
Vamos ao que interessa? – eu cruzei os braços. Ele me olhou confuso. –O
trabalho.
-Ah sim! Vamos.
-Vou deixar vocês à vontade aqui
embaixo. – Miley disse subindo às escadas. Eu olhei para ela e fiz leitura
labial. –“Se precisar, é só me chamar.” – ela fez um gesto, que significava
arma e apontou para o andar de cima. Ela queria dizer que tinha uma arma lá em
cima, caso precisasse. Eu balancei a cabeça em afirmação.
A tarde se passou
tranquilamente. Não conseguimos fazer o trabalho por completo, porque sempre
Bruno puxava algum assunto comigo e atrasava os nossos afazeres. E
sinceramente, acho que ele atrasou de propósito para que ele tenha que vir aqui
de novo para finalizar o trabalho comigo amanhã. E foi isso que combinamos. Ele viria aqui
amanhã mais uma vez depois da aula. Miley me incentivou com a ideia de deixá-lo
cada vez mais próximo, mas a ideia desse cara estar na nossa casa, sabendo do
que ele aprontou com a Miley, me deixa extremamente incomodado.
No dia seguinte, ele veio de
novo, sempre muito simpático e comunicativo. Nos cumprimentou normalmente. Eu e
a Miley continuamos com a simpatia de antes.
Miley Narrando
Bruno almoçou conosco mais uma
vez. Assim como ontem com perguntas sobre nossas vidas e detalhes sobre a casa.
O infeliz estava querendo conhecer melhor o espaço, mas eu sempre,
“inocentemente”, desviava o assunto para outra coisa para que ele não
conseguisse tantos detalhes sobre nós.
Não é a toa que o Nick estava
apreensivo com toda essa situação. Eu também não estava gostando nem um pouco.
Ainda mais que não fazíamos ideia de qual é a intenção desse cara de se meter
na nossa vida desse jeito e ainda saber segredos sobre mim. Depois desses dois
dias conhecendo nossa casa e detalhes da nossa vida, ele já terá informações o
suficiente para repassar para quem for que está por trás disso também.
Logo depois do almoço, Nick o
apressou para terminar o que restava do seu projeto da faculdade. Os dois se juntaram na sala de estar para fazer
o que restou e eu fazia questão de aparecer de vez em quando por perto para
observá-lo melhor.
-Onde que é o banheiro? –ele
perguntou pro Nick depois de alguns minutos fazendo o seu trabalho.
-Segundo andar, segundo à
direita. – Nick respondeu.
Ele se levantou e subiu às
escadas para o segundo andar. Eu e Nick
trocamos olhares desconfiados. Ele não
deve ter perguntado isso à toa. Me certifiquei se o Bruno nos vigiava lá de
cima antes de me aproximar do meu namorado e conversar entre sussurros.
-Não acho seguro ele sozinho lá
em cima. Sabe-se lá se ele realmente está com intenção de ir ao banheiro. –
Nick comentou.
-Eu sei... E a minha arma está
lá no quarto. Ele não pode entrar lá de jeito nenhum, mas ele não pode saber
que estamos desconfiados.
-Vamos esperar mais um pouco. Se
ele demorar, um de nós sobe para ver o que está acontecendo.
-Ok. – eu concordei com o seu
raciocínio.
Assim como desconfiamos, ele
demorou alguns minutos torturantes para nós simplesmente esperarmos alguma
coisa acontecer daqui de baixo. Nick
olhou para mim e apontou para cima. Eu balancei a cabeça, compartilhando o
mesmo pensamento.
-Eu vou lá. – avisei.
Subi as escadas numa velocidade
normal, sem que desse algum sinal de desespero. Ele não estava no corredor.
Caminhei silenciosamente para o meu quarto e tive certeza que ele não estava lá
também. A porta do banheiro estava fechada. Bruno ainda estava lá. Aproximei
meu ouvido da porta e ouvi a sua voz conversando num volume propositalmente
baixo.
-Então, eles não desconfiaram de
nada até agora... – o ouvi dizer. Estava conversando com alguém suspeito pelo
celular. – Não, nenhum dos dois chegou a comentar sobre o roubo do celular.
Acho que eles querem ser mais discretos sobre isso... A casa? É enorme. Tem uma
piscina nos fundos e um galpão bem grande do lado de fora... Não, ainda não
entrei lá para saber o que tem... Tudo bem, vou tentar convencê-los a mostrar,
mas não sei se vou conseguir sem que eles desconfiem. Voltando, segundo andar
tem uns quatro quartos, além de dois banheiros. Estou em um deles agora... O
quarto deles? Eu entrei rapidamente só para dar uma olhada sem que percebessem.
Não tive tempo para vasculhar com mais cuidado... Tem uma suíte lá dentro e um
closet. Pela rapidez que vi ali, não conseguir ver nada de diferente. Olha,
preciso desligar. Estou muito tempo aqui em cima e eles vão acabar achando
estranho. Você quer que eu faça mais uma
coisa? – um breve silêncio. – Ok, vou tentar. Tchau.
Me afastei do banheiro antes que
ele abrisse e me pegasse o escutando atrás da porta. Em passos silenciosos e o
mais rápidos que eu pude, fui em direção à escada. Bruno abriu o banheiro e
fingi que estava subindo os degraus a seu encontro.
-Bruno, está tudo bem? Você
demorou e fiquei preocupada, pensando que você tinha ficado trancado ou alguma
coisa parecida. – eu me pronunciei, fazendo a cara mais adorável possível.
Ele forçou um sorriso e balançou
a cabeça. – Está tudo bem, não precisa se preocupar.
Eu abri um sorrisinho sínico
para ele. – Nick está te esperando lá embaixo.
Ele assentiu e desceu as escadas
junto comigo. Esse desgraçado já estava repassando detalhes daqui para alguém.
Provavelmente, a pessoa que o instigou a roubar o meu celular e se infiltrar na
nossa vida. Aquilo já estava me deixando irada por dentro. Seja lá o que tiver
em mente, eu não vou mais permitir que essa espionagem toda passe de hoje.
Nick olhou nos meus olhos,
tentando saber se havia alguma coisa de errado, mas eu desviei o olhar e deixei
os dois terminarem os seus afazeres sozinhos. Eu estava começando a ficar
nervosa e se eu deixasse que o Bruno percebesse isso, não daria certo.
A tarde se passou lentamente
para mim, que esperava ansiosa para que esse cara fosse embora. Durante esse
tempo, ele continuou com o mesmo joguinho de antes, com perguntas e olhares
criteriosos sobre a casa. Finalmente, terminaram o trabalho. Bruno se despediu
de nós e eu fiz questão de ir até a porta para uma despedida simpática. Logo
depois que ele saiu, eu fechei a porta.
-Que cara é essa Miley? – Nick
perguntou.
-Ele estava repassando tudo que
sabe de nós por telefone. Pra alguém provavelmente que está acima dele. Eu ouvi
tudo lá em cima. - eu comentei. – Precisamos segui-lo agora mesmo!
Em
Los Angeles...
Brian
Narrando
Lá estava eu mais do que perdido
no meio de um bando de madames e almofadinhas. Só a espera dela. Sinceramente,
Rodeo Drive não foi o melhor lugar para Chris me chamar para encontrá-la.
Apesar de eu estar um pouco acostumado a conviver com gente podre de rica,
graças à minha amizade de anos com o Nick, eu sentia que estava no lugar mais
inapropriado do mundo. Chegava a ser engraçado ver aquelas pessoas esquisitas
demorarem o olhar em mim e eu abria um sorriso debochado quando estacionei meu
carrinho simples ali por perto.
-Moça,
você sabe onde fica o Café Rodeo? – eu perguntei a uma vendedora de uma das
lojas sofisticadas que tinham por lá.
Ela
me deu algumas referências e descobri que eu não estava muito longe. Pelo
visto, o café ficava dentro de um hotel conhecido por ali e eu pude avista-lo à
distância quando saí da loja.
Entrei no tal café e como
imaginei, era todo chique. Até o cheiro do expresso que impregnava o ar parecia
ser caríssimo. Não demorei muito para reconhecer Christine de longe sentada em
uma das mesas. Uau, ela estava uma gata hoje... Brian, foco! Sem me conter,
tentei ajeitar improvisadamente o meu cabelo rapidamente e fui até ela.
Ela abriu um daqueles sorrisos
encantadores quando me viu andando em sua direção. Não pude evitar senão sorrir
de volta. Chris caminhou até mim e meu um beijo na bochecha antes de se sentar.
Ela deixou suas incontáveis sacolas nas mãos do seu segurança e motorista,
Jackson.
-Obrigada, querido. Você pode
guardar essas bolsas no carro pra mim, por favor? – ela pediu simpaticamente. –
Ainda vou andar muito hoje e carregar ainda mais novas sacolas! –Chris disse
direcionando o seu olhar animado pra mim e eu não entendi nada.
-Chris, se você continuar
comprando roupa desse jeito, não há mansão que tenha espaço para caber tanta
coisa! – eu comentei assustado. Quando me dei conta, Jackson já tinha ido
embora com as várias bolsas.
Ela riu e balançou a cabeça. – A
partir de agora, eu não vou comprar roupas para mim hoje. São para você!
O que? Eu não quero que o Paul
me culpe por ser o novo motivo de compulsão por compras da Christine! Ela deve
ter percebido minha reação obvia de surpresa e rolou os olhos.
-A festa, Brian. Acorda! Eu
estou quase te obrigando a comparecer. O mínimo que posso fazer é te ajudar com
as despesas das roupas.
Eu ri com a sua explicação. –
Não precisa se preocupar com isso. Eu tenho um terno lá em casa. – eu dei de
ombros.
-Brian Chase, não discuta
comigo! – ela me chamou a atenção e eu suspirei contrariado. - Eu vou te deixar
deslumbrante. Você vai ver. – piscou e não pude evitar sorrir. É impossível
contrariar essa perua.
Quase perdemos a noção da hora
quando fizemos um lanche por ali. Era incrível como a hora passava rápido
quando eu estava com ela. Chegava a ser engraçado nós dois com as nossas
diferenças obvias nos dando tão bem, mas simplesmente fluía. Em alguns momentos
quando eu olhava no fundo dos olhos azuis e doces dela, me dava vontade absurda
de contar tudo de uma vez, mas aí a minha consciência me obrigava a olhar para
a aliança grossa e imponente na sua mão esquerda para me lembrar exatamente do
motivo para não fazer isso.
Quando percebemos que estava
ficando tarde, tivemos que nos apressar para ir embora dali e para finalmente
eu ser usado como manequim de Christine. Ela dispensou Jackson por telefone e o
avisou que não tinha hora para voltar pra casa.
Sua mão delicada me puxava com
insistência para dentro de uma loja de grife e logo um casal de vendedores veio
prontamente nos atender. Pelo visto,
eles já conheciam Christine, pois não paravam de conversar. E eu? Bom, eu estava totalmente disperso,
checando as peças de alta costura que tinham por lá sem muito interesse,
enquanto Chris já pedia estilos de roupas específicos que nem prestei atenção
para o que dizia. Tanto faz, ela deve entender melhor do que eu.
Depois de me apresentar vários
tipos de ternos e Christine por algum motivo colocar os tecidos na altura do
meu rosto para ver se a cor e a textura combinam comigo, fui levado para a
cabine. Vesti um dos modelos que achei
que ficaria mais legal em mim.
-Gostou de algum, Brian? – ouvi
sua voz por trás da porta da cabine. Eu chequei mais uma vez o meu visual no
espelho antes de responder.
-Acho que já tenho um favorito.
– respondi, enquanto abria a cabine para mostrar qual eu escolhi.
Entre vários que Christine tinha
escolhido para mim, esse era um conjunto de terno, gravata e camisa com tons
escuros. Não tinha cores extravagantes e
nem texturas que chamam atenção, eu gostei exatamente por isso. Ela me olhou de
baixo para cima com uma expressão de surpresa e logo depois abriu um sorriso.
-Uau! Está impecável! – ela
disse e fez um gesto para que eu desse uma volta completa. Eu não pude impedir
que um sorriso convencido surgisse no meu rosto quando notei que os seus olhos
checavam cada detalhe do meu corpo com admiração. –Brian... Você fica maravilhoso
de terno!
-Já me disseram isso quando
estou sem ele, também. – eu brinquei dando de ombros e ainda convencido. Ela
rolou os olhos e riu.
-Porque não me surpreendo com
uma frase dessa vinda de você? – ela caminhou em minha direção para alinhar o terno
e ajeitar a gravata que eu coloquei de qualquer jeito.
A aproximação dela fez que meu
coração disparasse. Por um momento, respirar passou a ser uma atividade
bastante difícil quando senti o seu perfume feminino e sensual tão de perto. O
seu corpo pequeno e elegante perto do meu, me fazendo imaginar como seria se
ficássemos presos ali dentro daquela cabine e eu a prensasse contra a parede
dali para roubar um beijo intenso e quente. Acordei para realidade quando
percebi que ela já tinha terminado de dar os ajustes.
-Prontinho. – sua voz saiu baixa
e me toquei que eu não tinha parado de fitá-la nem por um segundo. Seus olhos
perceberam a intensidade do meu olhar e se desviaram de volta para a roupa. Ela
alisou o paletó para alinhá-lo. Suas mãos macias correndo pelo meu tronco, de
uma forma que eu pude perceber que tinha despertado partes do meu corpo que não
deveriam. –Tira logo essa roupa, ok?
–ela disse dando um passo para trás.
Eu me sentia distante e meio
tonto quando ouvi a última frase. – O que? – perguntei desacreditado. Ela me
mandou tirar a roupa?
-Tira logo essa roupa para pagar
logo e irmos embora. Já está tarde. –
ela repetiu inocentemente.
Apenas
balancei a cabeça afirmativamente, me sentindo meio idiota por estar imaginando
coisas demais.
Depois
de eu ter trocado de roupa e Christine ter pagado o que eu tinha escolhido, nós
fomos em direção ao meu carro. Chris disse que pegaria um taxi ali por perto,
mas fiz questão de dar uma carona. Durante o caminho até a sua casa, ela tagarelava
como sempre, mas dessa vez eu apenas dava respostas curtas. Eu não parava de
pensar no efeito que ela me provocou naquela loja. De algum modo sabia que
aquela situação não seria a ultima, se continuássemos tão próximos assim. E
sabe-se lá até quando eu conseguiria esconder isso dela.
-Brian,
o que houve? Você está meio distante. Está chateado com alguma coisa? – ela
perguntou.
-Eh...
Não... Quer dizer, eu estava aqui pensando se não teria problema eu devolver
esse terno. Eles reembolsam, né? – eu perguntei um pouco hesitante e ela me
encarou confusa.
-Você
não gostou?
-Eu
gostei, mas... eu não sei se vou à festa, Chris.
Meu
carro travessou os grandes portões da mansão dos Jonas e seguiu o caminho de
pedras.
-Por
quê? – ela perguntou decepcionada.
-Eu...
– tentei arrumar uma boa desculpa, mas nada vinha à cabeça. – eu não sei vai
ser bom se eu for.
-Ah,
Brian, fala sério! Vai me dizer que está com vergonha e que não gosta de se
misturar com “gente rica”? Não é a
primeira vez que você vem para uma festa aqui e nem vai ser a última.
-Não
é isso. Deixa pra lá. – eu balancei a cabeça. – Mas obrigado mesmo assim.
-Qual
é o problema, então? – ela destravou o cinto de segurança e virou o seu corpo
para a minha direção para olhar bem para mim. – Você está brigado com o Nick?
Ou você tem alguma pendência com o Paul? Ah, é alguma coisa com o Joe?
-Não.
Não, é nada disso. – eu neguei, começando a me sentir pressionado demais.
-Não
é possível. Deve ser alguma coisa com alguém daqui. O problema é comigo? – ela
perguntou.
-É,
o problema é você. – eu não tive controle para me segurar e ela me olhou
surpresa. – Você é o problema. Não quero ir nessa festa por sua causa.
Chris
tentou reformular alguma coisa para dizer, mas demorou a dizer as palavras. –
E-eu não sabia... – ela parecia constrangida e triste. – Se você não gosta de mim, não precisava
passar todo esse tempo comigo. Eu não queria te chatear... Era só ter me avisado.
Eu
fechei os olhos e suspirei. – Eu gosto de você.
-Mas
então por que você disse que tem problema comigo? – ela parecia mais confusa do
que antes.
Eu
não me dei o trabalho de responder. Minhas mãos foram para sua nuca e a puxei
para um beijo. Ela ficou paralisada no
primeiro momento enquanto meus lábios pressionavam os seus até que abrissem.
Chris pareceu resistir por um tempo, mas deu passagem para a minha língua um
pouco depois de sugar e beijar seus lábios. Quando senti minha língua tocar a
sua, eu não resisti e inclinei mais o meu corpo em direção do dela, para
aprofundar ainda mais o beijo e conseguir sentir o seu corpo ainda mais perto
do meu. Com o tempo, percebi que ela também respondia tímida e hesitante ao
beijo e isso fez meu coração disparar forte contra o peito. Quando percebi que
ela também se entregava ao beijo, de algum modo eu sentia que estava fazendo a
coisa certa. Por mais errado que tudo aquilo pareça. Mas então, senti suas mãos
pousarem meu peito e me empurrarem para que eu parasse.
Afastei
meus lábios dos seus, mas ainda assim há poucos centímetros do meu seu rosto.
Nós dois estávamos ofegantes e ninguém teve coragem de dizer alguma coisa.
Christine tocou os seus lábios inchados e vermelhos com as pontas dos dedos
enquanto me encarava com os olhos arregalados, se dando conta do que acabou de
acontecer. Eu terminei de me afastar voltando para o meu lugar de antes.
-Estou
apaixonado por você. – eu ousei quebrar o silêncio.
Ela
ainda não respondeu, assustada e surpresa demais para reagir de alguma forma.
Ela olhou em volta, tentando certificar que ninguém ali por perto viu a cena
que acabou de acontecer.
-Diga
alguma coisa! –eu pedi nervoso.
-Eu...
–ela ainda estava ofegante e tentou desviar o olhar dos meus olhos. - eu
preciso ir. – ela abriu a porta do carro e saiu rapidamente do carro com
desespero.
Eu
assisti Christine subir os degraus da entrada casa quase correndo e parou em
frente à porta sem abri-la. Ela levou sua mão à sua boca novamente e abaixou a
cabeça, claramente confusa. Virou a cabeça para olhar mais uma vez para mim e
viu que eu ainda não tinha tirado os olhos dela. Desviou o olhar mais uma vez e
entrou na casa.
Joguei
minha cabeça para trás para apoiar no banco e fechei os olhos, sentindo a culpa
me esmagar. Acabei de agarrar a força uma mulher casada e de praxe consegui
arruinar de uma vez só a nossa amizade. Eu fiz a maior besteira de toda a minha
vida.
Nick
Narrando
Entre
passos apressados e discretos, eu e Miley não tirávamos os olhos do trajeto do
Bruno. Era tão arriscado segui-lo a pé desse jeito, mas não paramos para pensar
nem um segundo antes de decidirmos vigiá-lo pelas ruas. Pelo menos já era noite
e é muito mais fácil para se esquivar e não sermos percebidos. Ambos
carregávamos uma arma na cintura. Sabe-se lá o que nos espera depois da ideia
louca de persegui-lo há essa hora. Pelo
modo que a Miley falou sobre ele, eu já estava certo que o plano de continuar naquele
teatrinho tinha ido todo por água a baixo. Apesar da impulsividade da Miley, eu
tinha que concordar que já estava passando da hora de descobrir de uma vez por
todas o que esse cara quer com a gente. Nem que tenhamos que descobrir na
marra.
Bruno
parou em um dos prédios residenciais da rua mal iluminada. Era um prédio
pequeno, de poucos apartamentos. Miley me puxou pelo braço para se esconder
atrás de um carro no momento me que ele parou para procurar suas chaves nos
bolsos. Era ali onde ele morava.
-Não
temos muitas chances e nem tempo pra joguinhos. Vam... – eu não deixei que ela
terminasse de falar.
Antes
que Bruno pudesse entrar e fechar a porta, corri até lá segurei antes de ser
fechada. A minha ação rápida assustou o meu colega de faculdade que não soube
muito bem como reagir. Ouvi um xingamento baixo de uma Miley contrariada, que
logo me seguiu até lá.
-Nick!?
– ele perguntou sem entender muita coisa. – Como você sabe que eu moro aqui?
Você por acaso me seguiu?
-Isso
não importa agora. Queremos conversar com você.
-Não
vai nos convidar para entrar? – perguntou a Miley. Pude sentir um toque de
sarcasmo em sua voz e Bruno também notou, deixando o clima ainda mais estranho
entre nós. Obviamente, ele estava bem desconfiado.
Ele
nos encarou cheio de desconfiança. – Por que estão aqui?
-Nos
deixa entrar. – eu disse. – Lá dentro nós conversamos.
-Sobre
o que querem conversar?
-Sobre
o celular que você roubou de mim. – Miley foi logo ao ponto.
-Que
celular? – ele se fingiu de desentendido, mas estava claramente nervoso.
-A
essa altura você já deveria ter notado que a gente já está de saco cheio para
joguinhos e fingimentos. – Miley
retrucou com um olhar ameaçador.
– Agora vamos logo entrar na porra da sua casa, porque não quero tirar
satisfação com ninguém no meio da rua. Anda!
Se
sentindo, no mínimo, pressionado, ele fechou da porta de entrada do prédio logo
depois que entramos. Nos conduziu para o andar onde morava e em poucos minutos
já estávamos no apartamento. Era um apartamento típico de universitário:
despojado e bem bagunçado. Com exceção de alguns detalhes sobre a mesinha de
centro. Havia algumas drogas ali e parei para pensar se são para o se uso
pessoal ou era mercadoria para vender.
-Tudo
bem. Agora que estamos aqui, eu quero deixar claro que não foi nada pessoal,
ok? – ele disse.
-Quem
te mandou fazer isso? – eu perguntei depois de tê-lo empurrado para baixo, o
sentando na cadeira ao meu lado. Assim seria mais difícil que ele reagisse e
veríamos com clareza os seus movimentos.
-Quem
são vocês? – ele ignorou a minha pergunta, revezando o seu olhar entre mim e
Miley.
-Eu
sou Miley, namorada do seu colega Nick. – Debochada, Miley apontou para si
mesma e depois para mim falando pausadamente.
Ela colocou o revolver em cima da mesa. -E essa aqui é a arma que vou
brincar com você, se não começar a falar. Você gosta de roleta russa?
Pude
ver a glote do Bruno descer vagarosamente.
-Eu
não tenho muita coisa para falar. – ele respondeu ainda um pouco assustado.
-Ah,
tem sim! – eu disse. –E pode começar falando para gente quem te mandou dopar a
Miley e para quem você estava repassando detalhes da nossa vida.
-Eu
não posso dizer.
Miley
tirou todas as balas da arma ali mesmo. Ela deixou apenas uma no tambor e o
girou. Por um momento parei para pensar se a roleta russa seria para valer
mesmo ou ela apenas está fazendo isso para assustá-lo. Tentei não pensar muito,
antes que eu tente intervir e talvez estragar tudo.
-É
melhor você dizer. Se você tem medo do seu mandante, deveria começar a ter
ainda mais medo de mim. – disse ela já apontando o revolver para sua direção.
Ele
encarou Miley por um tempo, talvez pensando na possibilidade de se safar e
escapar de uma possível morte. Depois seu olhar preocupado foi para mim,
esperando alguma reação minha que o ajudasse.
-Miley
abaixa essa arma. – eu disse. – Ele vai contar tudo o que for necessário, não
vai? – eu perguntei com mais firmeza na voz. Ele afirmou com a cabeça
rapidamente em desespero. –Se ele não disser, você faz o que entender com ele.
Ela
abaixou a arma, sem tirar os olhos dele.
-Por
que você estava repassando detalhes da nossa casa? – ela perguntou.
-Eu
não sei. Só me mandaram fazer e eu fiz.
-Também
não sabe o motivo que te mandaram sedar a Miley e roubar o seu celular? – eu
arqueei uma das sobrancelhas.
Ele
apenas balançou a cabeça negativamente. –Eu não faço ideia. Eu só sei que vocês
vieram dos Estados Unidos e que o Nick é podre de rico. Nenhuma novidade. O que
vocês andaram aprontando, hein? Por que alguma coisa pendente vocês têm.
-Não
é você que faz as perguntas. Você apenas responde, ok? – eu dei um corte e
cruzei os braços impaciente.
-Bruno,
quem está por trás disso? – ela perguntou se aproximando dele. – Quem te mandou
fazer essas coisas?
Ele
balançou a cabeça. –Eu já disse que não
posso dizer.
-Você
vai ter que me dizer. – ela insistiu.
-Eu
não posso. Se eu contar, vão me procurar onde for para me matar. Não vou
contar. – ele respondeu extremamente nervoso.
-Se
me contar, eu te ajudo a fugir. Se não me contar, eu te mato antes deles e
ainda vou vasculhar essa casa até descobrir. Você não tem muita escolha.
A respiração dele estava pesada, claramente
não conseguindo controlar o nervosismo e o medo. Assim como Miley, ele não
quebrou o contato visual nem por um segundo. Mesmo com a sugestão dela, ele
parecia certo do que iria acontecer.
-Não.
Ela estendeu o revolver novamente em sua
direção.
-Último segundo para mudar de ideia. – ela
disse.
O
clima estava tão tenso e pesado, que eu podia sentir o meu coração bater forte.
A sensação era que eu podia ouvir as batidas ecoando por todo o apartamento. Miley
destravou a arma.
-Eu
não vou contar.
Ela
apertou o gatilho e me preparei para o barulho de tiro, mas não veio. Consegui
respirar fundo, como se tivesse me faltado ar por um momento. Também percebi
que Bruno respirou aliviado.
-Menos
uma chance. Você vai mesmo contar com a sorte? – Miley não desistiu. – Quem te
mandou fazer tudo isso?
-Eu
já disse que eu não posso contar. Por favor...
Ela
apertou o gatilho novamente, mas não disparou nenhum tiro.
-Menos
duas chances. E aí? – ela perguntou ainda apontando a arma.
Antes
que ele pudesse dizer mais alguma coisa, um toque de celular quebrou o clima de
tensão. Não era meu telefone e nem o da Miley. Olhamos em volta da casa e
depois para o Bruno. Miley abaixou a arma por um momento.
-Levanta.
– eu puxei Bruno pelo braço, para que ele levantasse da cadeira. Peguei o
celular do seu bolso.
Olhei
no visor do celular. Estava escrito “Petrova” no identificador.
-Petrova.
– eu disse lendo o nome do contato e estendi o celular para Miley para que ela
pudesse ver.
Miley
deslizou o dedo na tela e encostou o aparelho em seu ouvido. Bruno nos encarou
assustado e ainda mais nervoso. Ela ouviu alguma voz do outro lado da linha e
depois desligou sem falar um silaba.
-É
ele, não é? Petrova. Ele é o seu mandante. – Miley concluiu e Bruno não negou.
No
segundo seguinte vi Bruno correr em um supetão e pegar algumas coisas na sua
mesinha de centro. Eu peguei a arma do cós da minha calça e apontei para ele,
já destravando o revolver, pensando que ele iria tentar nos atacar de alguma
forma. Mas não. Ele rapidamente pegou uma seringa que tinha por lá.
-O
que você está fazendo?
-Heroína.
– ele injetou no seu braço, ofegante.
Provavelmente
ele já era dependente. Em momento de desespero, ele decidiu se dopar para não
entrar em surto, imaginei.
-Mas
isso é muito. – Miley comentou observando de longe ele já ter injetado.
Segundos
depois, a conclusão da minha namorada se confirmou. Bruno começou a se
estremecer e percebi que ele estava tendo uma convulsão e espumava pela boca.
Eu e Miley corremos até ele, com o intuito de segurá-lo, tentar fazer alguma
coisa para impedir, qualquer coisa. Mas não tinha nada a fazer. Em pouco tempo
depois, a convulsão parou e ele ficou gelado. Eu encarei Miley, no mínimo,
perplexo.
-Ele
morreu. – eu disse o obvio.
Miley
abriu sua boca em surpresa e voltou a olhar para o corpo inerte do Bruno.
-Puta
merda. – ela murmurou ainda sem reação.
-O
que fazemos agora? – eu perguntei me levantando.
Antes
que ela pudesse responder, o celular dele voltou a tocar de novo. Era Petrova
ligando.