quarta-feira, 20 de abril de 2016

2ª temporada: Capítulo 15 - Los Angeles (parte 1)

Nicholas Narrando

                Eu havia acabado de buscar a mala na esteira, e pela quinta vez bocejei de sono. Essa confusão de fuso horário e essa viagem longa me deixam exausto. Eu havia combinado com Brian para ele vir me buscar e me dar uma carona até em casa, já que o Joe ainda não está na cidade. Como eu sabia da possibilidade do meu melhor amigo se enrolar com hora e se atrasar, nada novo, pensei em tomar um café ali mesmo antes de ir para casa.

                Desci a escada rolante, procurando Brian entre os rostos das pessoas que aguardavam lá embaixo. Para minha surpresa, ele na estava lá, mas sim o meu pai. Rodeado de guarda-costas e com o seu inseparável celular na mão. Não que seja algo novo o ver desse jeito, mas eu simplesmente não esperava que ele tirasse um tempo livre para me buscar no aeroporto.  Ele tirou a atenção para um dos seguranças com o qual falava quando me avistou chegar.  Ele abriu um dos seus sorrisos discretos.

                -Pai? O que o senhor está fazendo aqui? – eu perguntei surpreso.

                -Eu vim rever o meu caçula. Não posso? – ele disse antes de me abraçar. – Há quase um ano que eu não te vejo e você ainda tem dúvida que eu não iria te buscar?

                -Ah, pai. Nem foi tanto tempo assim. A gente manteve o contato. – eu respondi, melhorando o meu humor. Um dos seguranças se ofereceu para levar as minhas mala para mim. Não achei que tinha necessidade, já que estavam no carrinho para bagagem e não estava fazendo peso nenhum. Eu recusei e agradeci.

                -Como foi a viagem, filho?

                -Cansativa. Odeio viagens longas. – respondi. Então me aproximei mais dele e falei mais baixo. – Pai, pra que tanto de segurança? – fiz gesto com a cabeça, me referindo os três homens de terno, escuta e um olhar de águia.

                -Mas filho, eu sempre tive um guarda-costas. – ele respondeu como se fosse óbvio. – Eu só aumentei um pouco mais o número. E contratei de uma empresa diferente. Esses são mais treinados e dois dele já serviram ao exército.

                -Ok, mas o senhor não acha que é demais, não? Está parecendo que o presidente da América está aqui.

                - Eu sou um homem influente, Nicholas. A empresa tem ganhado destaque a cada ano e cada ano fico mais rico. Você não acha que é motivo o suficiente? Não se lembra o que aconteceu ano passado? Eu preciso me proteger e proteger minha família de mais possíveis ameaças. É melhor seguranças demais do que de menos, não acha?

                Suspirei, desistindo de falar mais alguma coisa sobre. Meu pai está neurótico com o que aconteceu ano passado. É só o que me faltava.

                -Nick! – ouvi uma voz feminina e entusiasmada atrás de mim. Christine sorria adoravelmente, carregando um copo de café e um saquinho, acompanhada de outro segurança, que preferiu ser discreto e ficar um pouco mais distante de nós. – Você ainda está vivo! – ela apressou os seus passos curtos por causa dos saltos e me apertou num abraço. Eu ri.

                -Chris, que bom te ver. – eu respondi, enquanto me desvencilhava do abraço. 

                -Pensei que tinha esquecido de mim. – ela fez drama e eu rolei os olhos com o seu apelo emocional.

                -Deixa de besteira. Estava morrendo de saudade de você. Eu só não pude vir antes porque a faculdade está me deixando bastante atarefado. Só isso.

                -Tudo bem... Vou relevar suas desculpas. – ela estreitou os olhos pra mim. – Eu trouxe um lanchinho pra você. Imaginei que estivesse com fome. – ela me estendeu o copo de café e o saquinho, no qual tinha um salgado. Na melhor hora!

                -Eu já te disse que você é a melhor madrasta do mundo? – eu peguei o lanche antes de dar um beijo em sua bochecha.

                -Eu já sabia disso. – ela brincou, se fazendo de convencida.

                Enquanto Christine tagarelava sobre as novidades em Los Angeles, o celular do meu pai tocou e ele checou o identificador. Ele fez uma cara esquisita, típica de quando ele fica preocupado de demais. Ele se afastou de nós para atender e um dos seguranças foi atrás. Porém eu percebi que ele não deixou o segurança ficar em seu encalço, pedindo privacidade. Eu não sei porque, mas achei aquilo bem estranho. Talvez eu tenha ficado tanto tempo longe que desacostumei a ver meu pai super atarefado e preocupado com os problemas da empresa.

                -... E não é uma opção. Você está sendo intimado a me acompanhar, ok? – eu me toquei que Chris ainda estava falando comigo enquanto eu observava meu pai de longe. Ela dizia de algum lugar que eu não prestei atenção que ela queria que eu fosse com ela essa semana. 

                -Tudo bem, você que manda. – eu respondi, tentando não aprofundar muito no assunto e ficar na cara que eu não tinha prestado atenção. 

                No momento que eu tentei mudar de assunto com ela, eu avistei o meu melhor amigo correndo todo afobado, ainda me procurando entre as pessoas. Então depois de uns dois minutos ele me viu e veio rapidamente até mim. Percebi que Christine parou de conversar entusiasmada como antes, quando também percebeu a presença de Brian. Um dos seguranças ficou em alerta, provavelmente achando estranho o comportamento de um cara vindo correndo até mim.  Mas outro segurança, provavelmente o reconheceu como conhecido da família e assegurou o outro que estava tudo bem.

                -Nick! – ele chegou ofegante. – Eu estou muito atrasado?

                -Sorte a sua que eu me atrasei para chegar aqui. Se dependesse de você, eu ficaria mofando aqui te esperando. – nos abraçamos.

                Brian finalmente notou a presença de Chris e do meu pai, depois de alguns segundos. Christine estava quieta demais e vi que os dois evitavam ficar olhando para o outro. Ok, será que rolou uma briga e eu não sei?

                -Oi, Christine. Tudo bem? – Brian cumprimentou sério.

                -Oi... – Chris respondeu seca antes de olhar para o outro lado, onde meu pai estava.

                Meu pai terminou a sua ligação e voltou a se juntar a nós, ainda com uma cara de preocupação.  Todo mundo está esquisito e não faço ideia do que está acontecendo. Acho que essa semana vai ser muito mais conturbada do que eu imaginava.

                Meu pai cumprimentou normalmente o Brian e vice-versa. Christine nos apressou para ir embora para casa e meu pai concordou. Brian e Christine continuaram a evitar troca de olhares, mas pelo visto só eu que parecia meu confuso com isso. Eu chamei Brian para almoçar hoje com a gente, pra passar um tempo comigo. Mas Brian recusou e meu pai educamente insistiu. O mais estranho é que Christine reforçou o fato de Brian ter recusado e que não precisava insistir, como se não quisesse a presença dele em casa hoje. Eu tentei perguntar a Brian o que estava acontecendo ali, mas ele inventou uma desculpa e arrumou um jeito de ir embora sem me dar explicações. Disse que ligaria para mim para se encontrar comigo e logo depois foi embora.

                 Essa história está me parecendo cada vez mais suspeita e não vou voltar para Itália até saber o que está realmente acontecendo aqui.

No dia seguinte...

                Tomei um gole do sofisticado drinque enquanto observava a grande mansão encher de pessoas. Nunca vi essa casa tão bem decorada quanto hoje. Devo admitir que a festa estava realmente bonita e apesar do luxo, estava até um pouco acolhedora,  ao contrário das festas frias e chatas relacionadas à empresa que meu pai dava. Mas não duvido nada que ele possa usar a ocasião para suas estratégias de empreendedorismo.

                Avistei Joe de longe chegar, vestido num terno e acompanhado de uma mulher deslumbrante. Eu ri e balancei a cabeça. Como sempre mulherengo. Ele abraçou a Chris mais uma vez no dia e cumprimentou nosso pai, dando os parabéns pela segunda vez, pelo dia de hoje. Apresentou brevemente a sua nova companhia e a deixou conversando animadamente com Christine e veio até a minha direção.

                -Quando é que você vai deixar de trocar de mulher como se fosse de roupa? – perguntei bem humorado e ele riu. Bagunçou meu cabelo, como se eu ainda tivesse treze anos e o fiz parar empurrando o seu braço. Ele tinha chegado há pouco tempo de Nova York, onde trabalhava numa campanha de uma grande marca de perfume.

                -E quando você vai aprender que ficar com uma só é um saco? – ele retrucou.

                -A minha já vale por dez. – eu respondi e ele rolou os olhos.

                -E eu posso ter dez. – ele debochou, roubando o drinque da minha mão e tomando. –Falando na Miley, como estão as coisas por lá? Você chegou a comentar no telefone que não queria vir.

                Minha mudança de semblante já deve ter respondido a sua pergunta. – De mal a pior.

                Expliquei sobre a todos os últimos acontecimentos para ele com detalhes, tomando cuidado para não falar muito alto para que ninguém ouça, principalmente o nome da Miley, que já está bem difundido na memória da alta sociedade.

                Joe torceu um pouco a boca em reação ao que eu contei.

                -Você precisa voltar de vez, Nicholas. – ele respondeu sério.

                -O que?! Claro que não. – eu reagi.

                -Claro que sim! Você não está vendo que está em perigo virando alvo desse cara? Se o tal Bruno tinha tanto medo dele, é porque realmente ele é perigoso.

                -Mas pelo que parece, não é ele o grande interessado. Ele está apenas ajudando alguém.

                -Pior ainda. Você nem faz ideia de quem quer que esteja por trás disso. Com toda certeza cheio de más intenções.

                -Uma hora ou outra essa pessoa vai ter que aparecer e nos deixar claro quais são as suas intenções. É só questão de tempo.

                -Questão de tempo pra que? Pras vocês levarem um tiro no meio da cara? Ou para conseguirem entregar a Miley para polícia internacional e você ser preso junto com ela? Se você quer se ver vivo e livre é melhor arrumar as suas coisas para dar o fora.

                -Não importa, Joe. – eu respondi firme. –Em hipótese alguma eu vou embora de lá. Só se a Miley for embora junto comigo.

                - Se você tiver de levar ela junto, pode esquecer Los Angeles. E que saber? Já está na hora de você deixar esse romantismo idiota de lado e começar a pensar de verdade.

                -Foda-se Los Angeles! Foda-se você e sua mania de querer sempre estar certo!  – retruquei já irritado. Pelo visto eu falei alto demais e senti alguns olhares de reprovação de convidados que estavam por perto.

                -Isso são modos, Nicholas? – ouvi uma voz familiar e reprovadora. Me virei em sua direção e avistei meu pai com um olhar carrancudo para mim, mas fazia esforço para parecer tranquilo  graças às pessoas que o acompanhavam e que provavelmente ouviram o meu desabafo.
                Respirei fundo. – Desculpa, o Joe às vezes consegue me tirar do sério. – respondi e abri um sorriso sem graça para o grupo de pessoas que acompanhavam meu pai. A morena entre eles fazia força para segurar o riso.

                -Desculpem-me pelo meu filho. –ele disse para os convidados, abrindo um sorriso. –Ele e o irmão têm gênios fortes. – ele riu. – Nicholas, você se lembra do meu companheiro, William? – meu pai gesticulou em direção ao seu amigo.

                -É claro que eu lembro! – eu abri um sorriso educado. William Culpo. Havia anos que não o via. Ele era bastante amigo de meu pai na época em que eu era mais novo. Ele tinha se mudado para alguma cidade da Inglaterra e imaginei que ele ficaria por lá pra sempre, depois de tantos anos na Europa.

                Eu o cumprimentei simpaticamente. E logo após, Joe o cumprimentou.

                -Você acredita que ele e sua família voltaram para Los Angeles? – meu pai disse.

                -Você é aquele caçulinha? – ele apontou para mim. Eu assenti achando graça da sua surpresa. –Uau, já está um homem!

                Cumprimentei toda a sua família, que incluía a sua esposa e seus quatro filhos. A do meio era a morena que achou graça de mim, ela parecia ter a minha idade. Meu pai e William começaram com aquele papo furado, tentando incluir filhos no meio da conversa e já estava me entediando. Joe foi esperto e usou a acompanhante como desculpa para sair de fininho.  Mas por minha sorte, meu celular toca, me salvando do tédio sem fim.

                Pedi licença e fui para a parte de fora da casa para atender ao telefone.

                -Alô? – atendi sem prestar atenção no identificador.

                -Boa noite, senhor Jonas. – ouvi a sua voz de deboche do outro lado da linha e eu sorri. Não poderia ser uma ligação melhor do que essa.

                -Oi, encrenqueira. Já está morrendo de saudades, é? – eu perguntei convencido.

                -Não... Estou muito bem sem você e com essa cama enorme só pra mim.

                -Duvido.

                -Continue duvidando, então. – ela disse como se eu estivesse errado. Eu sei muito bem que não estou e que ela adora fazer um charme. – Como está a tal festa?

                -Por enquanto nada demais aconteceu. Bom, a única novidade é que todo mundo ainda está muito estranho. Com exceção do Joe que continua o mesmo de sempre. – comentei, lembrando o clima estranho que eu sentia com Christine, meu pai e Brian.

                -Você chegou a comentar isso ontem. E se você continuar com essa sensação, é porque com certeza algo de esquisito está acontecendo.  Será que o Paul descobriu a paixão platônica do Brian pela Chris?

                -Não sei... Não posso dizer que ele está se comportando como se estivesse com ciúmes.  Sei lá, a sensação é que ele está diferente e está escondendo algo de mim. – eu disse sinceramente. – Hoje de manhã, eu acordei cedo e o ouvi conversar no telefone com o advogado dele. Não entendi muito bem sobre o que era e ele tentou disfarçar quando notou a minha presença. Joe não sabe de nada, também.

                -Primeiro o carinho excessivo, uma coisa muito estranha vinda do seu pai, e depois isso... Alguma coisa realmente séria está rolando e ele não quer que você saiba.  Aproveita essa semana pra arrancar alguma informação e finja que você não notou nada demais.

                Eu concordei com o seu raciocínio. Era melhor eu fingir que eu não sabia de nada. Assim vai ser muito mais fácil para descobrir as coisas que andam rolando nessa família.

                -Vou fazer isso. Mas não quero mais conversar sobre eles. – eu sorri, mudando o meu tom de voz para mais descontraído. – Quero saber de você.

                -Se você quer saber se eu ando aprontando, pode ficar tranquilo. Eu estou um anjinho.

                -Sei o tipo de anjinho que você pode ser. –eu respondi desconfiado.

                -É sério! Está tudo muito tranquilo por aqui. Tão tranquilo que estou até entediada. – ela disse e eu ri. Sempre atrás de uma confusão! – E você?

                -Estou ótimo e compartilho o sentimento de tédio, por enquanto.  Estou louco para que essa festa acabe e eu possa sair com Brian pra encher a cara em algum lugar de Los Angeles.

                -Não gostei dessa ideia.  – ela resmungou.

                -Por que não?

                -Imagina só você sozinho, sexy para caralho num terno de grife, enchendo a cara todo soltinho no meio da madrugada de Los Angeles.  Ainda por cima um milionário! Alvo fácil para as mulheres.

                -Está com ciúmes, Miles? – eu perguntei de forma provocativa.

                -Não! – ela arredou o pé.

                -Claro que não. - eu disse rindo.

                -Eu só queria meu Nick de terno, bêbado e facinho só pra mim. – eu a imaginei fazendo beicinho que costuma fazer quando quer muito alguma coisa.

                -Eu prometo que visto um terno para você quando eu chegar à Itália e deixo você me embebedar e se aproveitar de mim.  – eu ouvi a sua risada gostosa do outro lado da linha.

                -Fechado!

                -Como é bom ouvir essa risada. – eu comentei.

                -E como é bom você me fazer rir desse jeito. – ela respondeu num tom de voz mais baixo e sexy. O meu corpo começou a esquentar, sentindo sua falta e a minha mente viajar em desejo dessa mulher.

                -Eu queria beijar a sua boca agora mesmo. – eu deixei escapar o pensamento que veio agora.

                Ouvi um suspiro seu.

                -Ainda falta muito para você voltar para casa. Não me provoque desse jeito. – ela pediu.

                Avistei Brian ali por perto, acabando de chegar. E já estava notando a movimentação por perto.

                -Preciso desligar, senhora Jonas. – ela achou graça. –Mais tarde eu converso com você.

                -Se estiver sóbrio o suficiente para se lembrar da sua namorada. – ela resmungou.

                -É impossível eu não me lembrar de você.

                -Ok, Dom Juan.

                -Tchau, gostosa. Te amo.

                -Também te amo.

                Desliguei o telefone celular e notei que Brian já estava bastante próximo e nem tinha percebido.

                -“Tchau, gostosa. Te amo.” – ele repetiu, debochado.

-Ei, anda ouvindo a conversa dos outros, é? 

-Só de vez em quando. - ele respondeu, ajeitando o seu terno elegante. Eu notei assim que ele chegou. 

                -Desde quando você tem esse bom gosto todo para ternos? - eu estranhei.

                -Christine insistiu em comprar um para mim. - Brian deu de ombro e tentou desviar os olhos. Eu o encarei desconfiado. Sabia que o comportamento estranho dele desde ontem tinha alguma coisa a ver com Christine. 

-Pode ir contando. Eu sei que você está escondendo alguma coisa de mim. Na verdade quase todo mundo dessa casa está esquisito e quero saber o porquê.  - eu cruzei os braços, a espera de uma resposta. 

-Eu não to escondendo nada. - ele mentiu. E eu continuei o encarando desconfiado. Ele sabe que o único jeito agora era contar. Ele rolou os olhos e bufou. -Ok... Tudo bem, vou contar.

                -Quero que me conte agora. Não tenho muita coisa de importante para fazer mesmo.

Brian fez um gesto para que eu me aproximasse e me afastasse ainda mais da parte coberta e movimentada da festa. Caminhamos mais em direção ao jardim para termos certeza que ninguém iria ouvir.  

-Eu não consegui esconder por muito tempo. Eu beijei a Chris.

                -Você beijou a Chris!? - eu perguntei surpreso. Ele assentiu com a cabeça. - Quando foi isso? 

                -No mesmo dia que ela comprou isso para mim. - ele apontou pro terno. - Ela dispensou o motorista dela e eu ofereci uma carona. Bom, no meio do caminho eu não estava mais conseguindo disfarçar.  Quando eu parei o carro aqui em frente, antes dela sair, eu a peguei de surpresa e beijei. Disse toda a verdade para ela... A única reação que ela teve foi sair do carro e correr para dentro de casa. Eu não sei como olhar para ela agora depois de tudo isso que aconteceu. 

-Uau! Por isso ela realmente não esperava. Quer dizer, é normal ela ter reagido daquele jeito.

-É óbvio! Eu sou o melhor amigo do enteado dela! Isso é loucura. - ele desabafou nervoso.  

-Isso explica o motivo dela estar tão estranha desde que eu cheguei. 

-Ela está? - perguntou. -Sim. Sinceramente, eu não sei se isso é bom  ou ruim. Só sei que se isso chegar aos ouvidos do meu pai, isso não vai sair nada bem, Brian.

-Eu sei. - ele balançou a cabeça, desanimado. - Eu não deveria ter vindo.

 -Agora você já está aqui, cara. Não adianta mais fugir. - eu apoiei a mão em seu ombro para dar algum suporte. 

Eu me distraí quando o meu olhar se desviou do Brian para uma movimentação vinda do jardim. Será que alguém estava escutando nossa conversa? Brian também percebeu a mesma movimentação e caminhamos em direção a pessoa que estava zanzando por ali. Me deparei com a filha do Willian Culpo com  caminhando pelo jardim, distraída demais com o ambiente a sua volta para notar a nossa presença.  

-Oi? - tentei chamá-la atenção. Ela levou um susto quando notou que tinha mais alguém além dela ali.

-Vocês me deram um susto.- colocou a mão sobre o peito e riu nervosa. 

Brian olhou para mim, preocupado com a possibilidade dela ter escutado alguma coisa, mas eu dei de ombros em resposta. Acho muito difícil ele ter escutado algo suspeito.

-Vocês se conhecem? - perguntou Brian, curioso. 

-Acabamos de nos conhecer lá dentro. Nossos pais são amigos. - eu respondi. - Esse é meu melhor amigo Brian. - eu apontei para ele. - Ela é a... - demorei um pouco para dizer seu nome, tentando me lembrar.

-Olivia. - ela estendeu a mão simpaticamente para o Brian. - Prazer. - sorriu. 

-Prazer. - Brian respondeu igualmente simpático. - Bom, vou pegar uma bebida pra mim, vocês querem, também?

 -Não, obrigada.  - ela disse.

Eu neguei com a cabeça e logo Brian estava caminhando em direção à parte coberta da casa. 

-A sua casa é linda. – ela comentou sorrindo.

-Bom, ela é mais do meu pai e da Chris... Eu não moro mais aqui. Mas obrigado mesmo assim. - eu sorri de volta. – Minha mãe tinha muito bom gosto. Ela fazia questão de opinar em cada detalhe dessa casa na época da construção. – eu comentei com um sentimento bom de saudades dela enquanto observava a beleza da casa que eu estava tão acostumado a ver.

-Eu soube que você a perdeu bem novo... Sinto muito.

-Obrigado. 

Caminhamos um pouco mais a adiante, enquanto ela conversava e conhecia os arredores externos. Eu não tinha muito que fazer naquela festa e ela também não. Então ficamos por ali mesmo, que estava bem mais agradável do que a parte de dentro da casa. Olivia parecia ser uma pessoa legal. Ficamos horas conversando ali sobre muitas coisas. Ela é uma dos quatro herdeiros da empresa do Willian, mas de acordo com ela, trabalhar com exportações não era a sua praia. Ela cursava administração como eu, mas ao contrário de mim, aquele curso era de sua vontade desde sempre. Olivia já experimentou alguns trabalhos como modelo, mas a sua vontade é de trabalhar na indústria da moda, como empresária, não modelo. Comentei que estava morando e estudando na Itália, mas tomei cuidado para não entrar em detalhes demais.

Percebi que durante essas horas de conversa, Brian não voltou até agora com sua bebida que tinha dito que ia pegar. Onde será que ele se meteu?


Christine Narrando


-Aí ela me disse: “Brianna, nunca mais faça isso!”. Ela ficou apavorada! – eu caí na risada junto com as minhas amigas. –Não é culpa minha se eu gosto de um pouco mais de emoção.

-“Um pouco mais de emoção”? Brianna, um pouco de emoção eu consigo vendo um filme do Nicholas Sparks, não escalando um vulcão na Ásia. – eu respondi e as meninas continuaram a rir.

A nossa divertida conversa perdeu totalmente a minha atenção quando eu notei a sua presença. Lá estava Brian, pedindo alguma coisa ao bartender, descontraído e relaxado. Brian estava incrível no terno que comprei, o qual caía perfeitamente bem no seu corpo atlético. Ele pegou o drinque que havia pedido e se virou em minha direção. Fui lenta demais em tentar disfarçar que eu não estava o encarando. Eu tenho certeza que notou.

Já ele não fez muita questão em disfarçar. Ele estava me olhando intensamente de longe. Senti minhas bochechas queimarem e olhei para baixo, tentando manter a compostura. O que está acontecendo comigo? Christine, tenha um pouco de dignidade!

                Tentei fingir que estava prestando atenção na conversa das meninas, mas eu não me contive e olhei rapidamente para onde ele estava. Brian não estava mais lá. Quando eu me toquei, ele cumprimentava o meu marido simpaticamente, o chamando de senhor Jonas e parabenizando pelo dia de hoje. Era bem fofo o modo como tratava o Paul como se fosse um tio. Mas ele não deveria estar aqui. Não mesmo.

                Eu virei para outra direção, puxando o máximo de ar possível. Essa é a nossa festa de casamento e eu não deveria estar pensando o quão bom era o beijo do melhor amigo do meu enteado logo agora.

                -Chris. – ouvi sua voz, que costumava sair tão relaxada e divertida, soar hesitante.

                Tarde demais de mais para fugir, Christine.  Tenha um pouco de coragem pelo menos uma vez na vida e o encare de vez!

                Assim eu fiz, fazendo esforço em abrir um sorriso simpático, para disfarçar todo aquele clima. Eu não sabia definir muito bem o seu semblante.  Seus olhos ainda me encaravam com uma espécie de desejo tão proibido que me deixava desnorteada. Mas ele também parecia estar tão confuso quanto eu, como se estivesse com medo da minha reação.

                -Brian! Que bom te ver aqui. – eu disse tentando parecer natural.

                -Parabéns... Pelo dia de hoje e pela festa, também.  Eu sei que você organizou tudo e está muito bonita.

                -Obrigada. – eu respondi apenas.

                Eu estava nervosa. E estava mais nervosa ainda em pensar que alguém pode notar meu nervosismo. E ele não parava me olhar daquele jeito. Tomei o champanhe todo de uma vez.

                -Com licença. – eu saí dali depois de deixar a taça vazia com um dos garçons. Depois de alguns metros, apressei meus passos, cada vez mais ansiosa para estar longe dali.

                Eu subi as escadas, indo pra longe dele, longe do Paul e longe daquele ambiente cheio que estava me dando sensação de claustrofobia. Eu precisava colocar minhas ideias no lugar, ficar um pouco longe de possíveis olhares desconfiados e do medo ser pega pelos meus pensamentos. Eu não tinha que sentir culpa nenhuma. Eu não era a culpada. Ele que me beijou!

                -Christine! – ouvi sua voz e fechei os olhos com força, engolindo a minha vontade de soltar um palavrão. Droga, Brian!

                Eu virei em sua direção. Olhei em volta e não havia a presença de mais ninguém no corredor dali de cima.

                -O que foi? – perguntei seca. Eu nunca o tratei desse jeito. E o modo que me olhava agora, me fazia sentir como uma megera destruidora de corações.

                -Me desculpa. – ele se aproximou. – Me desculpa, mesmo. Eu sei que você estar se sentindo... desrespeitada e ofendida. Você deve estar no me odiando, né?

                -Eu não te odeio. – eu respondi baixo, enquanto o sentia cada vez mais próximo.

                -Então porque está fugindo de mim? Por que não me deu um tapa na cara e me xingou, sei lá, ter feito alguma coisa?

                -Porque você está me deixando confusa. Justamente por isso eu não sei o que fazer.  – eu decidi contar a verdade de uma vez. – Brian, aquilo que aconteceu no outro dia... Eu não esperava por isso, não mesmo. Você me pegou completamente desprevenida. Eu pensei que a gente era amigo e de repente você se declara pra mim e me beija daquela forma... Como você quer que eu reaja?

                -Me desculpa. – ele se desculpou mais uma vez. – Eu não consegui me segurar. Eu juro que eu não estou fazendo jogo nenhum com você.

                -Eu estou me sentindo péssima. – desabafei e soltei um suspiro tentando controlar as lágrimas de desespero que queriam cair.

                -Não é culpa sua. – ele tocou em meu braço e sua mão corria pela minha pele em um carinho. – Você não tem que se sentir assim. Eu fui o culpado. E além do mais ninguém mais viu. Eu juro que eu nunca mais faço isso de novo. Me perdoa.

                -Como eu não sou culpada? Eu sou uma mulher casada! Eu te dei espaço para se aproximar daquele jeito e me beijar... E eu gostei. – rebati. – O pior de tudo é que eu gostei de cada segundo daquele beijo. Eu gostei de ouvir o que você disse. Esse é o problema.

                Os seus olhos ganharam outro tipo de brilho. Ele deu mais um passo a frente, mais confiante, se colocando a poucos centímetros de mim. Eu encarei seus lábios entre abertos, apreensiva e desejosa.

                -Sabia o quanto isso é errado? – eu continuei a dizer. - Eu gostei e quero outra vez. Eu quero mais. Esse sentimento me assusta. Isso tudo me assusta. – Eu sussurrei quando notei que o seu rosto estava cada vez mais próximo do meu. Seus olhos verdes brilhando em desejo, encarando a minha boca. O meu coração socava o peito, acelerado.

                -O quanto você quer? – ele perguntou no mesmo tom de sussurro.

                Eu já não conseguia ter algum resquício de razão.

                -Muito. – eu olhei diretamente nos seus olhos, incapaz de mentir para mim mesma.

                Suas mãos se apoiaram na parede atrás de mim e os seus braços me encurralaram, me forçando ficar tentadoramente próxima demais do seu corpo e sentir o seu cheiro bom.

                -Eu posso? – ele perguntou no mesmo tom sedutor de antes. Como essa pergunta ridiculamente óbvia desse algum tipo poder de escolha para mim. Agora ele já sabia que não. Eu puxei o ar com dificuldade. Não havia mais escapatória. Eu não tinha mais para onde fugir.

                -Me beija logo.

 Ele não perdeu tempo e juntou a sua boca à minha. Fechei os olhos na mesma hora e senti algo explodir dentro de mim. A adrenalina estava correndo em minhas veias, deixando rastros por onde passava. Minhas pernas não tinham mais sustentação o suficiente para ficar de pé, minha mente estava a uma velocidade impossível do resto do meu corpo acompanhar. Senti o seu corpo másculo me aprisionando contra a parede e a temperatura daquele lugar subir significativamente. Senti os seus lábios sugarem os meus e retribui o beijo com muito mais vontade do que da última vez.

Aquilo não poderia estar acontecendo. Era errado, sujo e imoral. Em plena festa de aniversário de meu casamento e há poucos metros do nosso quarto, eu beijava outro homem com um desejo que eu nunca senti em toda a minha vida.  Mas já estava totalmente fora do meu controle. Eu queria o Brian. Eu queria ele com aquele jeito irreverente. Eu queria ouvir a sua voz inexperiente dizer “eu te amo” com a maior sinceridade do mundo. Eu queria sentir todos os dias aquele olhar sobre mim.

Seu lábio deslizou deliciosamente entre os meus, para logo depois eu sentir demorados e suaves selinhos, me provocando a querer ainda mais de sua boca. Mas algo me tirou do transe daquele momento. Passos e vozes se aproximavam perigosamente de nós. Em alerta, eu empurrei Brian o suficiente para que ele parasse de me beijar e perceber que tinha alguma coisa errada. Estavam muito perto para eu mandá-lo embora. Brian estava com os lábios manchados do meu batom vermelho e isso seria muito mais do que suspeito. Provavelmente eu também deveria estar no mesmo estado do que ele.  Seus olhos carregados de apreensão me encaravam, esperando uma solução. Ainda tonta com toda aquela mistura de sentimentos explodindo, o puxei pelo terno para a primeira porta que vi.

Abri o cômodo rapidamente e puxei o Brian comigo na mesma velocidade. Tentei fechar a porta com o mínimo de barulho possível para ninguém percebesse que tinha alguém aqui e logo depois tranquei. Olhei em volta. Estávamos no escritório do Paul. Voltei minha atenção para o Brian. Com a boca manchada de batom, o cabelo antes bem arrumado, agora estava de volta ao visual rebelde de sempre e o maldito terno desalinhado.

-Por pouco. – ele disse baixo e ainda ofegante.

-Você não pode aparecer lá desse jeito. – eu ajeitei o seu terno, o alinhando perfeitamente como estava.

                -Tudo bem. Eu não me importo de sair daqui por um bom tempo. – abaixando o seu olhar para mim e deixando um sorriso travesso surgir entre os lábios. Senti minhas bochechas queimarem.

-Brian. – eu levantei o olhar do terno para os seus olhos. – Nós quase fomos pegos agora. Já imaginou se não desse tempo para nos escondermos? E você ainda quer arriscar de novo?

-Eu não quero arriscar de novo. Nós já estamos escondidos aqui. Ninguém vai nos ver. – ele dizia como se fosse a solução mais simples do mundo.

-Não posso demorar. Preciso descer de novo.

-É só você dizer que estava no quarto... – sua mão deslizou em meu rosto.

-Eu ainda vou levar um tempo para me arrumar. Aposto que o meu batom está...

-Depois você pensa nisso, por favor. – ele pediu numa voz aveludada.

-Para de me seduzir desse jeito, ok? Já está me deixando louca! – eu o repreendi, séria e ainda emocionalmente atordoada. Mas a única coisa que ele fez foi rir.

O que Brian pretendia com tudo isso? Ser um amante? O que eu pretendia depois tudo isso? E se isso tiver continuidade? O que será de nós daqui a um mês, uma semana, a cinco minutos? E se descobrirem? E se já tiverem descoberto alguma coisa? Eram tantas perguntas que me deixavam tonta. Eu parei a minha linha de raciocínio pra lá de bagunçada e tentei entender o motivo do seu riso. Ele notou a minha dúvida.

-Você já me deixa louco faz um bom tempo. – ele respondeu. – Bem-vinda ao clube.

-Brian, isso não tem cabimento nenhum. Quer dizer, se você está mesmo apaixonado, você espera que eu te ofereça alguma coisa. – ele se escorou na mesa atrás de si e me ouvia falar, sem parar de me olhar daquele jeito. -O que eu tenho pra oferecer? Eu tenho um compromisso, não existe possibilidade nenhuma de um relacionamento entre nós dois do jeito que você espera... Mas eu não quero que você suma, vá embora e nunca mais fale comigo. Isso é muito egoísta da minha parte? Porque eu quero você por perto, eu quero muito! Quer dizer, eu...  –Ele não esperou mais que eu falasse e me calou a boca com um beijo mais uma vez.

Deveria ser proibido alguém beijar tão bem assim! Se eu tinha alguma dúvida que eu pudesse resistir ficar sem beijá-lo desse jeito mais outra vez, agora perdi totalmente as esperanças.  O puxei mais para perto de mim quando senti a sua língua deslizar na minha. Minhas mãos subiram para a sua nuca e a sua pele se arrepiou ao meu toque. Naquele momento, tentei jogar pro alto qualquer tipo de preocupação pro alto. Agora não. Ele estava aqui, comigo, me beijando como se não houvesse mais amanhã, sem se importar se poderia ser pego ou coisa parecida. Porque a única coisa que importava para ele agora era nós dois. Só nós dois.

Fechei os olhos e me permiti me jogar no mesmo sentimento nem que seja por cinco, dez minutos. Eu sabia que lá no fundo eu desejava que fosse a noite inteira, dias, mais do que isso. Senti suas mãos deslizando sorrateiramente pelo meu corpo, mostrando o quanto me queria em cada pedacinho por onde suas mãos passavam.

Beijamos por mais alguns minutos, enquanto o clima esquentava cada vez mais. Os seus toques cada vez mais ousados e o beijo cada vez mais urgente. Então, Brian separou os seus lábios dos meus, carregando aquele olhar travesso. Ele começou a beijar o meu pescoço e a sensação era delirante. Fechei os olhos de prazer sentindo os seus lábios beijando e roçando na minha pele sensível. Enquanto isso, minhas mãos encontraram uma forma de tirar uma casquinha, tateando o seu abdômen por cima da camisa social.  Uma das suas mãos que se encontravam na minha cintura, passeou pelas minhas costas até encontrar o zíper do meu vestido e se preparar para abrí-lo.

O zíper!?  E foi assim que ficou mais do que óbvia a ereção que ele carregava nas calças. Estava na cara que isso teria um destino assim!

Tentei empurrá-lo, mas acho que ele não sacou muito bem o que queria dizer. Senti o zíper sendo aberto lentamente.

-Brian! – chamei o seu nome, um pouco mais urgente do que deveria soar, mas foi eficiente em interrompê-lo a tempo.  Brian afastou um pouco o seu rosto do meu pescoço para me encontrar preocupado.

-O que houve? – perguntou confuso.

-Não podemos fazer isso. – eu respondi.

-Eu tenho camisinhas aqui. – ele disse com uma naturalidade tão grande, como se o nosso único problema seria a falta de camisinha.

-Não é isso, Brian! – eu disse impaciente. – Você nem me deu chance de pensar sobre nós. Você não acha que é muito cedo para isso, não?

-Pra mim, não. Não sei pra você. – ele respondeu com sinceridade.

Suspirei antes de falar. –Pra mim é cedo demais. Você precisa me dar um tempo, ok?

-Isso quer dizer que vai ter uma próxima vez? Se você está me dizendo que precisa de tempo, você quer dizer que nós dois teremos mais tempo juntos, é isso? – ele perguntou esperançoso com os olhos brilhando em expectativa e era impossível olhar para eles e dizer não.

-É. – respondi sem me dar o trabalho de pensar. Se eu parar para pensar demais, acho que eu não seria capaz de responder nada. – Vou dar uma chance a você. – acariciei o seu cabelo, tentando arrumá-lo para trás, como estava antes de eu bagunçá-lo.

Ele abriu um sorriso capaz de ofuscar qualquer coisa naquela festa e foi impossível eu não sorrir de volta.

-Me desculpa se fui apressado demais. Acho que não estou muito acostumado com romantismo, cavalheirismo, esse tipo de coisa. – eu ri. Com certeza, ele não estava. Pelo que conhecia do Brian, ele sempre foi do tipo de uma noite só e olhe lá. Mas não agora. Agora envolvia muito mais coisa.

-Tudo bem. –  eu acariciava o seu rosto, enquanto olhava nos seus olhos.

-Eu vou esperar o tempo que você quiser.  – ele se aproximou de novo, voltando as suas mãos para o meu zíper, mas dessa vez para fechá-lo. Com a mesma velocidade lenta do qual tentou abrir. – Eu sei que vai valer a pena do mesmo jeito. – ele sussurrou. – Chris, estou apaixonado demais por você.

E eu por você, minha voz mental respondeu. Mas eu não estava preparada para falar aquilo em voz alta. Como resposta, dei um beijo carinhoso em seus lábios. E mais outro, e mais outro.

Ficamos ali, por vários minutos, trocando carinhos e beijos. Mas eu tinha que sair daquela sala e voltar para festa. Paul deveria estar me procurando e de jeito nenhum ele deve saber que estávamos escondidos aqui.

-Precisamos sair daqui. – eu o lembrei. 

Brian concordou e o disse para ir ao banheiro, para tirar a mancha de batom em sua boca, enquanto eu me desse um jeito no meu quarto. Do jeito que estávamos, nem adiantaria nos separarmos que a nossa aparência já nos entregaria de cara. Brian checou se tinha alguém no corredor antes de sairmos. Não havia ninguém. 

Brian abriu a porta pra mim e eu saí primeiro, logo apertando o passo para o meu quarto e o mandei ir ao banheiro logo. Mas antes, ele foi até a porta do meu quarto comigo e me deu mais um beijo na boca.

-Eu te ligo. – ele disse antes de entrar no banheiro.

“Eu te ligo”. Nós teríamos um encontro? Meu coração disparou em expectativa.  Entrei no meu quarto logo, tentando conter o meu sorriso bobo, mordendo o meu lábio inferior. Ok, isso é maluquice. E o pior de tudo é que estou amando tudo isso. Eu estava me sentindo bem.

Tentei dar um jeito na minha maquiagem o mais rápido que eu podia e desci para a grande festa que ainda estava acontecendo.  Olhei a minha volta e não consegui encontrar Brian. Onde será que ele se meteu?

-Christine! Onde você estava durante tanto tempo? Eu estava te procurando. – Paul surgiu no meu campo de visão com um semblante preocupado e impaciente. Com certeza, eu o fiz procurar durante muito tempo!

Eu não tinha uma desculpa melhor, então achei melhor contar meia-verdade.

-Eu estava no quarto. – respondi rapidamente. –Ajeitando a maquiagem, querido.

-Tanto tempo só pra ajeitar a maquiagem? – ele perguntou desconfiado.

-Ah, eu aproveitei para ir ao banheiro lá mesmo. – eu dei de ombros, tentando parecer mais natural possível.

Ele balançou a cabeça negativamente. –Mulheres...  Bom, já que te encontrei, vamos ao que interessa.  – ele me puxou pela mão. – Vamos brindar.

O brinde. Claro. Provavelmente ele vai dizer algum tipo de discurso antes de brindar, como sempre faz nas festas na qual é o anfitrião. A princípio, na época do começo da organização de tudo, eu fazia questão de fazer um discurso também. Eu estava tão entusiasmada na época... Mas cedi para que o Paul fizesse, pois ele sempre tinha aquela mania de aparecer e facilidade com as palavras. Foi a melhor decisão que eu tomei nos últimos dias. Que tipo de discurso faria sobre o nosso casamento numa situação como essa? Eu estava tentando buscar palavras até mesmo para mentir!

Paul chamou a atenção de todos, batendo uma colher de sobremesa na sua taça de champagne. Eu me mantive ao seu lado ainda com uma irritante ansiedade e preocupação. Peguei duas taças quando o garçom passou ao meu lado. Uma delas eu virei com tanta rapidez que deu até tempo de devolvê-la vazia ao mesmo garçom. A outra eu mantive comigo, esperando a hora do brinde.  Até agora, nada do Brian aparecer. 

-Boa noite a todos... – Paul começou a falar. Suas palavras me pareciam distantes, enquanto eu sorria forçadamente para os convidados enquanto os meus olhos atentos procuravam o rosto de Brian no meio daquelas pessoas.  Eu não sei por quanto tempo eu estava distante, mas quando eu me toquei, Paul já tinha dito bastante coisa que eu não fazia ideia. - ... Eu só tenho que agradecer a essa mulher maravilhosa pelo ultimo ano conturbado que nós tivemos e mesmo assim se manteve forte ao meu lado e da minha família. Christine não é só uma excelente esposa, mas uma madrasta excepcional. Eu te amo, querida. – ele disse agora olhando para mim.  – Feliz aniversário de casamento. – eu senti a culpa me esmagando como se eu fosse uma barata nojenta.  – Um brinde a nós.  – ele ergueu a taça e todos brindaram entre si. – Saúde. – ele brindou a sua taça com a minha.

-Saúde. – eu disse apenas.

Nicholas Narrando


               -Saúde! – Olivia disse entusiasmada, batendo a sua taça na minha.

                -Saúde. – eu respondi igualmente sorridente. E bebemos a champagne ao mesmo tempo. 

                Finalmente avistei Brian depois de muito tempo sumido. Eu já tinha imaginado até que tinha ido embora sem me avisar. Ele parecia meio perdido procurando alguém, provavelmente eu. Eu levantei o braço e fiz um gesto para ele conseguir me ver.  Assim que ele me reconheceu no meio de tantos convidados ele caminhou em minha direção.

                -Brian! Onde você estava? – eu perguntei curioso. –Você tinha dito que ia buscar uma bebida há um tempão.

                -Nick, precisamos conversar. – ele respondeu sério. Eu fiquei preocupado, ainda mais depois de ouvir uma frase como essa vinda da boca da pessoa menos séria que  eu conheço. Mas a tensão diminuiu quando eu percebi um sorriso se formar em seu rosto, que ele tanto tentava esconder.

                - O que? Brian, o que  você aprontou dessa vez?

                -Eu não aprontei nada. Já está na hora de ir pra casa. – ele apontou para o relógio de pulso. – Não vai me dar carona?

                Foi aí que eu saquei o que ele estava querendo. Olivia ainda estava ao meu lado e  um monte do outros convidados a nossa volta. Ele queria conversar sozinho comigo e estava usando a carona como desculpa. Suspirei sem escolha.

                -Vamos lá. – eu disse. Deixei a taça vazia com um dos garçons e me voltei para Olivia. – Vou ter que ir. – sorri, tentando disfarçar a afobação do meu amigo. – Foi um prazer conhecer você.

                -Também. – ela sorriu simpática. – Talvez a gente se encontra por aí um dia desses.

                - Tchau. – me despedi.

                -Tchau.

                Caminhei até a garagem junto com Brian ao meu encalço.

                -Ela está totalmente na sua. – Brian comentou.

                -Quem? Olivia? – eu perguntei.

                -Sim. Você não prestou atenção no que ela disse? “Talvez a gente se encontra por aí um dia desses”.  Você com esse jeito todo cavalheiro está dando esperanças pra garota.

 Peguei a chave com um dos manobristas de lá e entramos no meu antigo carro que havia deixado em LA.

                -Qual é! Ela acabou de chegar na cidade e ainda não fez amizades. Só to sendo legal. – eu disse ligando o carro.

                -Acho que a Olivia não pensou a mesma coisa. Aliás, deixa a Miley saber que você está “só sendo legal” com a milionária gostosa e solitária na cidade.

                Eu ri balançando a cabeça. Com certeza Miley ficaria com ciúmes e, como sempre, fingiria que não está nem aí, até o momento em que perderia a paciência.

 -Você sabe que não é de meu interesse pegar mais ninguém. – dirigi para fora da garagem, pegando o caminho da saída da mansão. Então eu lembrei do motivo do qual eu estava saindo tão cedo da festa. – E você, hein? Me fez ir embora com você para conversar sobre um assunto e mudou completamente para outro.

-Vamos pro In-n-out. Estou morrendo de fome. No caminho eu te explico.

Eu rolei os olhos, dirigindo em direção a lanchonete. – Tudo bem... Já pode ir contando.

-Encontrei com a Christine. – ele começou a falar. Ele parou de falar para observar qual seria a minha reação. Eu o encarei desconfiado.

-Continua. – eu disse curioso.

Brian me explicou tudo o que aconteceu enquanto eu dirigia para o In-n-out.  Sobre conversa que teve com Christine no andar de cima, o quase flagra de algum convidado que estava se aproximando e as trocas de beijos no escritório do meu pai. Por isso que Brian tinha sumido, assim como a Chris. Depois de tudo o que ele disse, Brian esperou uma resposta minha.

-Você quer seguir com isso? –perguntei.

-Quero. – respondeu com certeza. – Eu to amando, cara. Eu não me importo de namorar as escondidas. E ela parece querer isso também.

É tão estranho saber da boca do seu melhor amigo que a minha madrasta está traindo o meu pai com ele. O que devo dizer? Eu gosto da Christine e do Brian e quero que eles sejam felizes, mas não imaginava que teria que apoiar uma traição.

-Você não está gostando dessa ideia, né? –ele disse notando o meu silêncio.

-Só não me parece certo. -  eu achei melhor ser sincero. – Você sabe, ela é casada com o meu pai. – eu estacionei meu carro, quando chegamos. Mas nenhum de nós saímos do carro.

-Nick, quantas vezes você ouviu que o relacionamento que você tem com a Miley não deveria acontecer? Você mesmo já não fez um monte de coisa errada por ela? – ele me perguntou, me olhando seriamente nos olhos.

-Sim. – eu respondi depois de um suspiro.

Dessa vez eu não pude negar e nem rebater. Ele estava certo. Se eu, por amor a Miley, era capaz de fazer qualquer loucura por ela,  Brian também sentia o mesmo pela Chris. Não sou eu quem deveria julgar, pois faria a mesma coisa se eu estivesse no seu lugar.

-Desculpa, cara. – eu disse. – Eu entendi o que você quis dizer. Faça o que te faz feliz... Só tenha cuidado pra não se meter em roubada, ok?

Ele sorriu satisfeito quando ouviu que tinha o meu apoio. –Ok! – ele respondeu. – Vamos logo, que eu estou morrendo de fome!

Saímos do carro e fomos pra dentro do restaurante. Eu e ele só deixamos os paletós no carro, afrouxamos as gravatas e demos um jeito naquelas camisas sociais super formais pra ficarmos mais confortáveis. Mesmo assim as nossas roupas de festa chamaram um pouco a atenção de alguns olhares lá dentro, mas não estávamos nem aí. Era como se estivéssemos em casa. Toda vez que íamos para essa lanchonete juntos, ele tinha alguma novidade pra contar. Frequentávamos essa lanchonete desde o começo da nossa amizade, quando pirralhos. Desde então, sempre vínhamos juntos para cá.

Olhei em volta e encontrei a mesa que sempre cismávamos de sentar desde os dez anos de idade. Estava vazia, então aproveitamos para pegar o nosso lugar. Estar ali novamente com Brian me dava a sensação, que apesar da nostalgia, eu nunca tinha ido embora dali. Era idiota, mas aquela lanchonete traz muita lembrança da nossa infância, adolescência e começo da nossa juventude. A Miley tinha razão, no final das contar. Voltar pra LA está me fazendo muito bem. 



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Oi galera! Tudo bem? Bom, acho que chegou uma pessoinha na história que você já devem ta criando antipatia, né? kkkkkk Imagino que sim.
Gente, é o seguite: Eu não tava planejando postar "só" isso. O motivo de eu estar demorando pra postar o capítulo 15 é que ele saiu mais longo do que eu imaginava. Ele está enorme! kkkkk Por isso, achei melhor dividir o capítulo em duas partes. Já tenho outra parte aqui que só precisa de mais uns ajustes, mas nada demorado, não. Quando esse capítulo receber o feedback de vocês e já estiver tudo certinho, eu postarei a parte 2. Nela vai ter o ponto de vista da Miley na Itália, já que aqui na parte 1 ainda não teve. E vai ter mais ponto de vista do Nick, também!
Espero que tenham gostado e me perdoado pela demora. E aí? O que estão achando do capítulo, curtiram a discreta estreia de Olivia, o romance do Brain e Chris? Quais são as suas apostas? Quero muito saber a opinião de vocês.
Beijosssss