Oi gente! Tudo bem com vocês? Então, me desculpem pela demora, mas acho que o capítulo está bem grande, então acho que talvez recompensse a espera de vocês. O capítulo inteiro é de flashback sobre a Miley e o seu passado. Espero que gostem!
Ah! Quero fazer uma divulgação de um blog novo da Bruna. Ele é sobre vampiros e outras coisas sobrenaturais. Quem gosta sobre esse tipo de história vai adorar! Eu por exemplo, estou super ansiosa para ela postar logo um capítulo ;D (sim, vou ficar fazendo pressão kkkkk Foi mal, Bruna. Mas amo história de vampiros, então você vai ter que me aguentar hahaha). Então aqui está o link : Story's the vampires...
Comentem, por favor!!!! E se não é pedir muito, eu adoraria que divulgassem o blog :)
Beijos para os meus cupcakes
Boa leitura ;D
Flashback on
Autora Narrando
Abraçando
o travesseiro, ela se segurava para não explodir e não fazer nenhuma besteira.
Ela estava muito aborrecida. Finn, o único garoto que ela já gostou na vida,
não dava a mínima para ela. Miley apenas estava sofrendo com o típico coração
quebrado adolescente. Como ele não conseguiu perceber que eu sou a garota certa
para ele?, ela se perguntava insistentemente durante toda aquela tarde.
Seus
devaneios foram acordados quando sua mãe bateu na porta a chamando para jantar.
-Eu não
estou com fome. –resmungou.
-O que houve,
hein? Vem logo comer, para de bobagem, Miles! – a mãe mandona, de acordo com a
Miley, insistiu.
-Eu não
quero! Já falei que não estou com fome. – ela cruzou os braços, mal humorada.
-O que
está acontecendo aqui? – uma voz masculina e calma ecoou do corredor. Não
demorou muito para Billy aparecer no solado da porta ao lado de Tish.
-Oi,
pai. – Miley cumprimentou não tão animada.
-Deixa
que eu resolvo isso. – o homem calmamente avisou a sua esposa, dando uma
piscadela. – Vai colocando a mesa pro resto do pessoal. Braison está quase
mordendo a mesa de tanta fome. – ele comentou e Miley tentou conter um riso,
querendo manter a carranca, mas não conseguiu evitar um leve sorriso. – Pelo
visto, não é tão grave assim. Já está sorrindo!
Billy
tinha o poder arrancar um sorriso de Miley em qualquer ocasião. Sempre
equilibrado e calmo, costumava revolver as coisas com um bom humor. E Miley
simplesmente adorava isso.
-Então,
vai me contar o que fez a garota mais sorridente de Nashville ficar mal
humorada? – perguntou sentando-se na ponta da cama.
-Nada
demais, pai. – murmurou um pouco pra baixo.
-Como
assim nada demais? Você sabe como seu pai detesta ver você assim. Vamos, conta!
– ele disse.
Ela
suspirou e decidiu contar. – Um garoto que eu gosto, não dá a mínima para mim.
O que eu tenho de errado? – perguntou tristonha.
-A
pergunta certa é “o que ele tem de errado?”.
– ele respondeu um pouco mais sério. – Você é linda, Miles. E não merece
ficar chateada por causa de um Zé ruela qualquer.
- Acho
que vou desistir do amor. – ela comentou pensativa. – Olha o que acontece
comigo quando aparece um cara errado!
-O
que?! Miles, você ainda vai fazer dezesseis anos! Ainda tem muito que viver! – ele
disse surpreso com o pensamento doido da própria filha. Os dois eram tão amigos
que não se incomodam em conversar sobre esse tipo de coisa. Billy era tão
tranquilo e carinhoso com ela que a Miley as vezes o considerava até como um
melhor amigo. – É claro que eu só quero que a senhorita se case e saia de casa
com mais ou menos uns cinquenta anos de idade...
-Pai! –
repreendeu Miley enquanto ria.
-Tudo
bem, com quarenta e cinco anos você pode. – Billy respondeu sorridente,
satisfeito em irradiar o bom humor para a garota dos adoráveis olhos
azuis. – Mas um dia você vai encontrar
um cara que te faça feliz pelo resto da vida. Só tem que ter paciência, minha
flor. Cada um tem sua hora.
-Fazer
feliz pelo resto da vida? – repetiu Miley descrente. – Hoje em dia isso é
impossível!
-Olha
eu e sua mãe. Tudo bem que ela é um pouco durona e mandona, mas nós nos amamos
tanto ou até mais do que quando éramos namorados. E tenho certeza que vamos
continuar assim até velhinhos. Viu?
Quando o “impossível” acontece, nada vai poder desfazer. – ele apertou a ponta
do nariz de Miley que logo deu um leve tapinha na sua mão de brincadeira.
-Obrigada
pai. – ela abraçou carinhosamente o homem a sua frente. – Te amo muito.
-Também
te amo, minha flor. – eles se separaram. – Agora vamos jantar logo? Porque
nessa sua idade você precisa se preocupar mesmo é com comida para crescer forte,
não com falsos conquistadores. – Será
que ele ainda acha que eu tenho cinco anos? , se perguntou Miley.
-Ta
bom. Só vou comer porque que eu sei que hoje tem lasanha. – disse com uma cara de
marrenta.
-E se
comer tudo, amanhã eu te levo para tomar sorvete. – Com certeza ele acha que eu
tenho cinco anos! , concluiu Miles.
-Pai,
eu não sou mais uma criancinha! – protestou.
-Então
você não vai querer tomar uma banana split amanhã? – perguntou Billy
desconfiado.
-Claro
que quero! - respondeu animadoramente.
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Numa
tarde ensolarada, Miley e Billy se deliciavam com a banana split. Mesmo sendo
um momento muito agradável para ela, Miley estranhou o fato de seu pai estar
numa sorveteria com ela no meio da tarde quando ele deveria estar no trabalho.
-Você
está de folga? – perguntou Miley enquanto largava, já satisfeita, a sua colher
na ponta do prato.
Ele
olhou para a Miles que ainda esperava a resposta. Hesitou em responder, porém
mais cedo ou mais tarde ela e toda sua família descobriria.
-Fui
demitido. – ele respondeu com nenhum pingo de culpa ou vergonha. Como se sua
consciência estivesse tranquila. O que foi bem estranho para ela.
Quase
que os grandes olhos azuis de Miley saltaram de seu rosto, pega de surpresa. –
Por quê?
-É
complicado, minha flor...
Ela
cruzou os braços em protesto e disse seriamente. – Eu te contei sobre o que
aconteceu comigo ontem, porque você não quer falar o que aconteceu com você?
Ele
suspirou vencido. Aliás, ele fez a coisa certa. Não precisava esconder nada
dela por vergonha.
-O dono
da empresa já está bem velhinho, então ele decidiu deixar a empresa nas mãos de
outra pessoa. Como ele não tem herdeiros, pelo menos não em quem confiasse, ele recrutou alguns funcionários de lá, os
mais eficientes, para fazer um grande e revolucionário projeto para empresa
crescer. Quem for o dono do melhor projeto, conquistaria a presidência e a
empresa só pra ele. – ela assentiu compreendendo o que ele dizia.
-Acho
que eu ouvi você falar sobre isso com a mamãe. E você foi um deles, né? –
perguntou interessada no assunto.
-É, eu
fui. – Billy balançou a cabeça positivamente. – Mas descobri que um dos
selecionados, planejava desviar uma parte do dinheiro da empresa. E eu pensei
em denunciá-lo, mas Paul Jonas conseguiu me impedir antes e conseguiu acabar
com qualquer tipo de prova contra ele. E advinha? O infeliz conseguiu roubar
meu projeto. E foi escolhido para liderar a empresa. Ele não perdeu tempo em me demitir. Porém, eu
conseguir contar para todo mundo o que ele fez. Eu ainda vou denunciá-lo por
tentativa de roubo! E falei isso para ele, mas Paul não se importou com a minha
ameaça.
-Que
horror! – comentou Miley indignada. – Então se ele não tivesse roubado seu
projeto, você teria comandaria a empresa toda? – perguntou ainda atônita.
Ele
assentiu um pouco desanimado. – Mas não me arrependo do que fiz, Miley. Se eu
tivesse escondido sobre o que eu soube, com certeza, eu não me sentiria bem
comigo mesmo. Mas fica tranquila, porque eu vou tentar achar algumas provas
contra ele e vou denunciá-lo. – Billy parou de falar e logo se deu conta com
quem estava falando e balançou a cabeça negativamente. – Eu não poderia ter
contado isso para você. Você é muito nova para ficar envolvida nesse tipo de
coisa.
-Não,
pai. Você está certo em ter contado isso para mim. Eu tenho muito orgulho do
senhor. Você fez a coisa certa. A vida dá voltas, não é? Você vai conseguir o
que merece!
Ele
abriu um leve sorriso. – Obrigado, filha. – ele analisou a taça de sorvete
vazio e logo mudou de assunto. – Vamos?
-Vamos!
– ela levantou igualmente ao Billy e foram embora logo depois de pagar conta no
caixa.
Os dois
foram caminhando calmamente até a rua onde o carro se encontrava estacionado.
Billy apalpou seus bolsos e deu falta de algo.
-Miley,
acho que esqueci a carteira lá na sorveteria. Você pode ir buscar lá pra mim
enquanto eu vou ligando o carro?
-Ok. –
assim ela o fez, fazendo caminho contrário até a soverteria. Buscou a carteira
que educadamente a caixa havia guardado, e voltou até o carro. No caminho, ela
sentiu uma movimentação estranha.
Algumas vozes masculinas discutindo. Então ela dobrou a esquina e
avistou seu pai discutindo com dois homens desconhecidos.
-Eu não
vou retirar o que disse! Pode mandar o recado para o Paul que eu ainda o vou
tirar do comando e colocá-lo na cadeia! – Billy vociferou irado. Miley nunca
havia o visto tão irritado. Era uma visão totalmente inédita e desagradável
para ela. E quem são aqueles homens?, se perguntou Miley. – E na próxima vez,
peçam para ele mesmo vir falar comigo, se ele é homem de verdade. Parece que
ele está com medo de se resolver comigo e manda dois capangas que nem vocês,
achando que vou me sentir acuado.
-Você
não sabe com quem está se metendo, Billy. – um deles se pronunciou. – Você tem
uma ultima chance, desista de passar a perna no Paul ou vai se dar muito mal.
Enquanto
eles continuavam discutindo, e seu pai negando terminantemente se render, Miley
viu um deles puxar uma arma por trás, do cós da sua calça. O medo foi tanto,
que a garota nem mesmo conseguiu gritar ou até mesmo correr até lá, para evitar
mais nenhuma confusão. Eles estavam armados. Estavam dispostos a feri-lo. Antes
que ela pudesse ao menos se mexer, o homem puxou de vez o revolver e atirou
três vezes contra o peito de Billy, que automaticamente, caiu no chão cimentado.
Um deles pegou as chaves do carro que ainda estavam em uma das mãos do Billy e
entrou no carro rapidamente.
-Entra
logo aqui, anda! – apressou o outro que procurava alguma coisa nos bolsos de
Billy, mas não achou. Talvez seja a carteira que estava nas mãos de sua filha.
Entrou no carro também, e logo, deram partida, deixando Billy sozinho jogado na
calçada.
Miley
não conseguia crer no que acabou de assistir.
Seu pai, um homem tão honesto, bem-humorado e amoroso, alguém que ama a
vida com intensidade, estava caído ensanguentado no chão, inerte. Era uma visão
surreal demais. Sua boca estava aberta em descrença e seus olhos marejados
piscavam insistentes em não acreditar no que via. Era seu pai!
-Pai! –
puxou todas as suas forças para gritar com a voz falha. Ele tem que estar vivo!
Miley
correu até o Billy e o abraçou. Ele não se mexia, e Miley não sentia mais o
calor em seu corpo. Lágrimas corriam sobre seu rosto. Por que logo com ele?,
ela se perguntava. Os soluços de desespero tomaram conta dela. Ele não pode
morrer! Não agora, não tão cedo. Um
grito agudo de socorro arranhou sua garganta e ecoou por toda a rua. Miley se
sentia sem chão, inconsolável. Todas as histórias que o bem vencia o mal eram
uma mentira. Uma mentira cruel e esfarrapada.
Ela abraçou mais forte o corpo sem vida de Billy e chorou incansavelmente,
esperando que toda essa cena horrível fosse apenas um pesadelo.
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Sentadas na sala de espera, Miley
e Tish esperavam para ser atendidas e dar parte na delegacia. Miley ainda se
encontrava com olhar distante e triste. Ela queria que tudo se resolvesse, mas
sabia que seu pai não voltaria mais. Não desistiria em fazer o Paul pagar pelo
que fez. Ela ouviu muito bem a discussão entre Billy e os bandidos. Sabe que
foi o Paul que mandou eles para matá-lo. Seu pai era uma ameaça para Paul. Ver
Paul por trás das grades era tudo o que a Miley queria agora.
Ela
sentiu uma lágrima teimosa ainda rolar sobre sua bochecha e deitou a cabeça no
ombro da mãe, procurando por um conforto. Tish a abraçou de lado carinhosamente.
Miley havia contado tudo o que sabia para ela. Ela ficou igualmente indignada,
mas não havia alguém mais abalado do que sua filha. Ás vezes Miley se culpava
por não conseguir fazer nada enquanto assistia tudo o que ocorreu. Talvez se
ela estivesse chegado antes, ou chamado a atenção dos três para interromper
aquela confusão. Talvez alguma outra ação dela poderia ter evitado o que
aconteceu.
Alguns
policiais saíram da sala do delegado, fazendo Miley acordar de seus devaneios.
Eles chamaram as duas para dentro da sala para finalmente depor. E assim que as
duas se sentaram de frente para mesa do delegado, o xerife Holmes, um conhecido
policial da cidade, entrou também e sentou-se de frente para as duas.
-No que
eu posso ajudar? – perguntou ele extremamente calmo revezando o olhar entre
Miley e Tish.
-Quero
fazer uma denuncia de um assassinato. E de um roubo, também. – falou Miley.
O
xerife apoiou os seus braços sobre a mesa, ligeiramente interessado no
depoimento da garota.
-Então,
prossiga. – ele disse.
Ela
contou tudo o que sabia, tudo o que presenciou e tudo o que ouviu tanto do seu
pai, quanto dos bandidos. A sua voz falhava entre algumas frases, não querendo
lembrar a cena horrível daquele dia. Porém, era necessário lembrar cada detalhe
para poder dar o Paul o que ele merece.
-Minha
querida, não podemos prender esse tal de Paul Jonas se você não tem uma prova
concreta que ele que mandou esses homens, muito menos se ele tentou mesmo
roubar essa empresa antes de conseguir o comando. – respondeu o xerife
estranhamente calmo, o que deixava Miley cada vez mais nervosa.
-Como
não tem prova concreta? – pronunciou Tish. – Ela ouviu a briga entre os
bandidos e o meu marido! Eles falaram sobre Paul essa confusão sobre o dinheiro
da empresa em que eles trabalhavam.
-Ela só
pode dar depoimento contra o que ela viu. A senhora nunca parou para pensar que
essa conversa pode ter sido forjada? Talvez eles sejam contratados para
incriminar o Paul. Nós temos que investigar esse caso com cuidado. Há muita
coisa além de um simples assassinato. – falou ele.
-Simples
assassinato? – Miley repetiu a frase com indignação. – Um “simples assassinato”
acabou com a vida do meu pai! Não tem mais nada para investigar. – ela
aumentava o tom de voz, perdendo a paciência com a calma e o descaso do xerife.
– Está na cara! Qualquer um que ouvir essa história vai ter certeza que quem
foi o mandante disso tudo foi o Paul. Além do mais, se ele mandou matar meu
pai, é porque meu pai sabia coisas demais sobre ele. Não tem nada de complicado
nisso. Não existe mais nenhum suspeito.
-Senhorita
Cyrus, - ele disse ainda tranquilo. – Não podemos colocar alguém na cadeia
simplesmente porque a senhorita acha que é o culpado. Nada é assim tão simples.
Algumas testemunhas do local disseram que levaram o carro da vítima também, é
verdade?
Ela
assentiu. – É.
-Já
parou para pensar que foi apenas um roubo de carro seguido de um assassinato?
Isso é muito comum.
-Você
quer que eu repita que eu ouvi toda a conversa deles? O Paul está envolvido
nisso! – Miley vociferou levantando-se da cadeira, não aguentando mais toda
essa palhaçada. – Qual é o seu problema?
-Espera
aí. Cadê o escrivão? Ele deveria estar aqui registrando tudo o que a Miley
falou! – Tish disse quando olhou para trás apenas encontrou dois policias ao
lado da porta e mesa do escrivão vazia.
-Ele...
Adoeceu. Não pode estar aqui.
-Então
deveria ter outro! Que tipo de policial é você? Parece até que está evitando de
investigar direito nosso caso.
-Eu sou o xerife. Eu sei o que o deve e o que
não deve fazer. Eu que mando aqui. – ele respondeu cortante. – Vocês não podem
vir aqui me ensinando como eu devo trabalhar.
Demorou
um pouco para ligar os pontos. Mas logo uma faísca surgiu na mente da Miley que
logo fez tudo ficar mais claro. Ele está fazendo isso de propósito, pensou
Miley. Nenhum policial poderia trabalhar com tanto descaso desse jeito e indo
totalmente contra as palavras de uma testemunha como ele está fazendo.
-Imprestável.
– pronunciou a garota. Todos direcionaram o olhar para ela, incrédulos com a
sua ousadia. – Será que você não pode tomar vergonha na cara e fazer seu
trabalho direito?
-Como é
que é? – perguntou o xerife totalmente descrente com as palavras da garota a
sua frente. – Só porque você é menor de idade, não quer dizer que você não
esteja errada em falar desse jeito com uma autoridade. – ele disse quase a
fuzilando com o olhar.
-E só
porque você é o xerife daqui, não quer dizer que você não esteja errado em
acobertar o Paul por dinheiro, seu desgraçado! – A raiva e o ódio apenas
cresciam ainda mais no peito de Miley. Ela não suportava mais viver de um jeito
tão injusto. Será que nem a dignidade da memória do seu pai haverá?
-Saia
já da minha sala, garota! – ele gritou apontando o dedo indicador para a porta.
Aquela adolescente irritante já estava abusando da sua paciência. – Agora
mesmo, antes que eu mande meus homens te tirarem daqui à força!
Ela
encarou no fundo dos olhos no homem, agora não tão mais calmo assim. O olhar
que aqueles olhos azuis transmitiam dizia que isso ainda não acabou. Ele sabia
que a garota não desistiria tão fácil assim. Ela fechou seus punhos fortemente e
repirou profundamente, se contendo para não avançar nele. Por mais que ele
pudesse negar ou fingir, ela sabia que aquelas palavras só o atingiram porque
eram verdadeiras. Ela deu as costas e saiu da sala acompanhada pelos policias.
Tish
também se levantou da cadeira e deu meia volta para seguir o mesmo caminho que
a filha, mas uma mão apoiou-se sobre o seu ombro, a interrompendo.
-Senhora
Cyrus. – o xerife Holmes a chamou um pouco menos nervoso. Ela virou-se para o
policial e cruzou os braços esperando impacientemente o que ele tinha a dizer.
Ela também estava nervosa, muito. Ela sabia que tudo o que sua filha falou era
verdade, e também queria Paul Jonas na cadeia mais cedo possível. Porém,
parcialmente, o policial está certo. Nada é tão simples assim. Por mais que ela
desejasse ao contrário, toda essa coisa de denuncias e condenações é algo muito
complicado. – Me desculpe pelo o que aconteceu. E se pareci ofensivo, não foi a
minha intenção. Mas ás vezes não dá pra controlar. Eu sei que sua filha está
muito abalada com a morte do pai, mas não dá para me controlar quando sou
acusado de corrupção. Eu só estou fazendo o meu trabalho. A senhora sabe que é
complicado. Nós vamos investigar melhor o caso. Só peço para que não espalhe
que o Paul é o principal suspeito, segundo a sua filha. Para o bem e a
segurança da sua família. Sabe como é, nunca é bom se expor muito. – Tish
assentiu diante do comentário. A segurança dos seus filhos era tudo o que ela
quer preservar agora. - Vamos procurar por câmeras de segurança e outras
testemunhas. Quando tudo estiver resolvido, eu ligarei para senhora, tá bom?
-Só
espero que façam isso o mais rápido possível. Miley não é a única que quer ver
o Paul por trás das grades. – a respondeu indiferente para o policial e logo
depois o dando as costas.
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Ela
olhou mais uma vez em volta, para se certificar que não tinha ninguém por
perto. Mesmo na escuridão da noite, ela tinha certeza que não havia ninguém a
olhando. Então pulou a cerca branca do quintal bem cuidado e correu até a
grande casa.
Bom, só
pra recapitular, depois de alguns dias de “investigação”, a Tish recebeu uma
ligação do xerife Holmes. Eles haviam encontrado os bandidos. Miley reconheceu
os dois, mas por incrível que pareça, eles negaram a tal conversa. Os bandidos
confessaram que foi uma tentativa de roubo e que não havia nenhum objetivo
pessoal com o Billy e muito menos conheciam Paul Jonas. Miley não se conformou
com todo esse mistério e acobertamento. Ela tinha certeza do que tinha ouvido e
vai provar isso para todos. Ela sabe que o xerife está envolvido nisso. Depois
dessa estranha e suspeita investigação, Miley conseguiu ouvir escondida uma
conversa dele com um “Sr. Jonas”. Ela precisa tirar isso a limpo. As pessoas
terão que acreditar nela. Havia pessoas até especulando que ela havia ouvido
coisas, que não estava bem. Dizendo que o choque da morte de seu pai a fez
imaginar coisas que não havia acontecido. Para ela, essa história já está mais
do que absurda.
Então
escondida, Miley fugiu de casa a noite e foi até a casa do Sr. Holmes. Ela
conseguiu uma escuta com a ajuda de um amigo nerd do colégio. Ele achou que ela
já estava exagerando, mesmo assim, aceitou a ajudar. Nessa noite, ela vai fazer
o xerife admitir e vai conseguir incriminá-lo com a suas provas concretas.
Miley
pegou uma lanterna para poder enxergar com mais clareza a janela e viu que
estava aberta e que não havia nenhum obstáculo no interior da casa. Miley deu
um impulso e pulou para dentro da sala. Não havia ninguém ali. A luz da
lanterna percorreu todo o cômodo. Ela
avistou um celular sobre a mesinha de centro da sala e o pegou. Provavelmente
era do xerife. Miley verificou as ultimas chamadas. Várias ligações para um
número nomeado “Paul”. E ainda a achavam louca! Miley xingou baixinho,
praguejando o empresário por ser tão esperto em comprar o xerife da cidade. Ela
teve que confessar que foi uma jogada de mestre. Ninguém poderia ir contra a
palavra de um xerife, muito menos uma garota de dezesseis anos emocionalmente
abalada. Ela guardou o celular dentro do bolso de sua calça e continuou
procurando por mais provas. Mas a sua procura foi interrompida quando as luzes
da sala se acenderam. Holmes se encontrava perto da escada vestindo uma calça
de moletom e uma regata branca. Seus olhos levemente inchados denunciavam que
tinha acabado de acordar, mas isso não escondida a raiva que seu rosto
demonstrava.
-Sinceramente,
não achei que você tinha chegado a esse ponto. – ele cruzou os braços a
encarando.
Miley
sabia que uma hora outra, ele se perceberia sua presença ali. Por isso ela veio
com uma escuta. Mesmo assim, aquele olhar furioso sobre ela a dava medo. Ele é
um policial, por mais que seja corrupto, ele não poderia fazer nada contra ela,
não é mesmo? Ela tentou disfarçar seus dedos trêmulos fechando-os fortemente.
-Eu
ainda não desisti. – ela disse tentando soar mais firme possível. – Você não me
engana. Sei que Paul te pagou alguma coisa. Confessa logo!
-Olha
Miley, você já está passando dos limites. – ele advertiu caminhando em direção
a ela. A cada passo que Holmes se aproximava dela, Miley recuava um. – Eu fiz o
que pude. Prendi os responsáveis pelo terrível incidente com o seu pai. Chega
te tentar incriminar mais pessoas. Isso não vai fazer bem para você. – ele
disse com um sorriso sarcástico, entregando que suas palavras são falsas.
Então, ele deu falta de algum objeto que deveria estar em cima da mesinha. – Você pegou meu celular.
-Eu
não! – ela respondeu.
-Isso
não foi uma pergunta. Eu sei que você pegou. Me devolva. – ele estendeu a mão
para ela.
-Por que? Tem medo que saibam sobre as suas
ligações com o Paul? – ela perguntou com um sorriso vitorioso.
-Miley,
eu já te falei que não há nenhum Paul Jonas no caso de seu pai. Eu preciso do
meu celular. Ele tem informações importantes do meu trabalho! – ele começou a
vociferar mais, perdendo a paciência com Miley. Ela ainda recuava alguns
passos, fazendo questão de manter certa distancia do xerife.
-Por que
você não admite logo? – Miley levantou a voz.
-Porque
eu não sou idiota em admitir isso sabendo que você tem uma escuta. Você pensa
que eu nasci ontem, é? – ele gritou irado.
Miley
percebeu que a partir de agora, ela teria que sair dali o mais rápido possível.
Ela não perdeu tempo e correu até a porta de entrada. Obviamente estava
trancada. Ela tentou correr em direção até a janela, mas os braços grandes do
xerife conseguiram a agarrar a tempo. Miley sentiu seu coração bater
freneticamente contra o seu peito, em alerta. Ela sabia que iria se dar mal.
-Me
solta! – ela gritava enquanto se debatia contra os braços de Holmes. – Me deixa
em paz!
-Onde
está a escuta? – ele gritava também, se igualando ao tom de voz da garota. Ele
a apertava mais forte cada vez que ela tentava se soltar. Miley não o respondeu,
apenas continuou tentando lutar contra o corpo grade, em relação ao seu
delicado corpo. – Me diga logo onde está a escuta – ele continuou gritando. A
jogou brutalmente no sofá. Instintivamente, Miley se encolheu, em defesa diante
da visão de um homem irado a sua frente. – antes que eu seja obrigado a
arrancar toda a sua roupa para achá-lo. Você não vai querer isso, não é? – ele
abaixou o seu tom de voz, mas ainda mantendo-a firme.
Ainda
assustada, Miley balançou a cabeça em negação. – Está no meu casaco. – ela
disse se levantando para tirar o agasalho. – Aqui por dentro num bolso secreto.
Holmes
a ajudou a tirar o casaco. Miley aproveitou que o homem estava distraído
procurando a escuta em seu casaco e correu até a cozinha, em busca da porta dos
fundos. Ele rapidamente correu até lá.
Novamente, a porta estava trancada. Antes que ela fosse pega de novo, ela
correu até as gavetas e tirou de lá uma faca de cozinha. Ela estendeu a faca em
direção ao xerife. Ele levantou as mãos em rendição.
-Você
não faria isso comigo. Você não seria louca o suficiente de me atacar com essa
faca. – ele disse confiante.
-Por
que você acha que não? – ela pergunta ainda a apontando o obejeto cortante para
Holmes.
-Você é
muito inocente. Não teria coragem de fazer mal a uma mosca. – ele dizia se
aproximando dela. – Agora deixa essa faca em cima da pia.
-Não.
Só se você me deixar ir embora com a minha escuta.
-Eu
nunca deixaria isso. Agora larga isso. – ele tomou coragem a avançou agilmente
sobre a Miley. Mas conseguiu ser rápida o suficiente para fazer um corte
superficial no braço do homem. Ele gritou de dor.
-Sai de
perto de mim! – ela gritou recuando ainda com a faca em suas mãos.
Ele
correu até ela e finalmente conseguiu arrancar a faca de sua mão. Mesmo com
sangue escorrendo de seu corte não muito profundo, ele a carregou a força até o
banheiro. Ela o arranhava e o batia em protesto pedindo para ser solta, porém
em nenhum momento se arrependendo do que fez. Xerife Holmes pegou a chave do
banheiro e a trancou lá dentro.
-Me
deixar sair! – ela gritava do lado de dentro batendo na porta. – Você acha que
me trancando aqui vai mudar alguma coisa? Agora que você confirmou tudo, eu vou
fazer da sua vida um inferno até você se entregar! – Miley berrava o máximo que
podia.
-E você
acha que eu só vou te deixar presa aí? – ele respondeu do corredor enrolando a
sua camisa no corte em seu braço. – Você nunca ouviu falar que quem brinca com
fogo se queima? - ele perguntou com um
sorrisinho. – Você pode ser esperta, garota. Mas não mais do que eu.
-O que
você vai fazer? – perguntou Miley.
Holmes
não respondeu. Apenas pegou o seu celular e discou rapidamente um número já
conhecido. Esperou por alguns segundos até ser atendido.
-O que
foi? – uma voz entediada soou do outro lado da linha.
-A
garota descobriu. – ele suspirou. – Você sabe que ela já estava desconfiada. A
vadiazinha veio até aqui em casa, viu as suas ligações no meu celular e ainda
trouxe uma escuta para cá. Ela tentou até fugir e me cortar com uma faca, mas
consegui pegá-la e trancar dentro do banheiro. E agora? O que eu faço com ela?
– ele perguntou nervoso.
Miley escutou tudo o que o xerife
disse de dentro do banheiro. Ela sentiu um aperto em seu peito. Um homem que
foi capaz de mandar matar seu próprio pai seria capaz de mandar fazer o que com
ela?
-Não acredito que essa garota fez
isso! – Paul exclamou nervoso. – Que atrevida... Mas não acho que você deve matá-la. Seria
suspeito demais. Acho que devemos dar um tratamento de choque. Um susto, para
ela saber com quem está lidando. Assim ela fica quieta de uma vez e que sirva
de exemplo para mãe e para os irmãos.
-E o que você tem na cabeça? –
Holmes perguntou.
-Algo que não há como te culpar.
Nem me culpar... – Paul refletia do outro lado do telefone. – Algo que fizesse
todo mundo acreditar que o que ela diz é uma mentira, coisas de sua imaginação.
Ligue para o manicômio.
-Bem pensado, Jonas. – o xerife
sorriu com a brilhante ideia. – Realmente vai ser um tratamento de choque, literalmente!
– os dois riram com o trocadilho. – Ainda bem que minha esposa está viajando a
trabalho. Imagina se ela encontra essa doida invadindo a nossa casa?
-É... Você teve sorte. Ainda mais
por conseguir pegá-la há essa hora. Agora não nos deixe mais dependendo da
sorte. Faça o seu trabalho direito!
-Ok, deixa comigo. – ele desligou
o telefone.
Miley escutou aflita o homem
conversar no telefone. Milhares de possibilidades se passaram pela sua mente do
que ele faria com ela. Torturas, os mais frios assassinatos, até apelação
emocional usando um dos seus irmãos ou a sua mãe. Ela poderia esperar qualquer
coisa a partir de agora.
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Ela
esperneava, gritava por socorro, tentava se debater contra os braços fortes de
um enfermeiro, mas ninguém a acudia. Para Miley, essa era a pior sensação do
mundo. Ela suplicava por ajuda, mas era como se ninguém a pudesse ouvir. Como
se ela fosse nada. Nada além de uma pobre garota insana. Mais lágrimas banhavam
seu rosto. Toda a rua acordou e a assistia ser trancada em uma ambulância de
loucos.
-Eu não
sou louca! – Miley gritava chorando, enquanto ainda tentava se esquivar dos
braços do enfermeiro. – Por favor... Não deixem me levar. – ela implorava para
um casal que morava em frente ao xerife e estavam parado a assistindo toda essa
cena do quintal.
-Vai
ser o melhor para você, querida. - a mulher falou com o coração apertado.
-Desculpe,
Miley. Mas foi preciso fazer isso. Para o seu próprio bem. – Holmes falou
sinicamente enquanto o outro enfermeiro se oferecia gentilmente em fazer um
curativo em seu corte.
-Seu
filho da - Miley foi interrompida pelo enfermeiro quando a colocou dentro da
ambulância e fechou a porta, a trancando dentro do veículo.
Dois
minutos depois, a ambulância deu partida, correndo a toda velocidade e
sinalizando com uma estridente sirene a sua passagem.
-A
coitadinha assistiu todo o assassinato do pai. Acho que isso a afetou muito. –
contava fingidamente o xerife a história de Miley para a vizinha preocupada. –
Ela disse que ouviu uma conversa estranha e cismou que um antigo colega de
trabalho do pai foi mandante do crime. Eu mesmo investiguei o caso, e não era
nada disso. Ela não se conformou e invadiu minha casa e até me atacou com uma
faca de cozinha. Acho que ela até teve algumas alucinações aqui em casa,
dizendo que eu estava conversando com o tal suspeito. Ela ainda está muito
abalada. É de partir o coração.
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Dois
meses depois...
Steve
dirigia rapidamente até a casa de sua cunhada ainda atordoado. Faz poucos dias
que descobriu que seu irmão mais velho foi assassinado. Ele estava em
Califórnia resolvendo coisas com uma gangue. Estava tão ocupado e preocupado
que nem se deu conta do telegrama e dos vários e-mails da Tish. Primeiramente
ele pensou que fosse uma brincadeira, mas logo se deu conta que isso nunca se
brinca. Ele apenas sabe uma parte da história, de um resumo confuso que Tish o
mandou por e-mail. Que ele teve sérios problemas no trabalho semanas antes do
crime, que foi assassinado na frente da Miley e que a sua sobrinha foi internada
num hospital psiquiátrico. Ele ainda não acreditava não tinha descoberto, e
muito menos entendia.
Steve
sempre foi a ovelha negra da família. Sempre metido em más companhias e
gangues. A vergonha dos Cyrus. Mas Billy era o único que não o tinha abandonado.
Sempre convidava para ir visitá-lo para passar um feriado e ver seus filhos
como estão crescidos. Típico do Billy! Por mais que aprontasse, seu irmão
sempre o amaria. É lógico que ele não se orgulhava do que Steve fazia, mas não
tinha coragem de repudiá-lo e esquecê-lo, como se ele nunca fosse o seu irmão.
Quem imaginaria que um homem como Billy seria tão friamente morto?
Ele
estacionou o carro rapidamente em frente à casa dos Cyrus e andou até a porta.
Tocou a campainha apenas uma vez. Tish atendeu a porta e puxou seus lábios em
um pequeno sorriso ao vê-lo, mas seus olhos ainda denunciavam que não havia
nenhum motivo para sorrir. Ele abraçou calorosamente a sua cunhada,
compartilhando a mesma dor do que a mulher.
-Me desculpe não ter vindo esse
tempo todo... Eu só tinha visto o seu telegrama há poucos dias. – ele disse
quando se afastaram.
-Eu
entendo. Sem problemas. – ela respondeu. Tish deu um passo para trás dando
passagem para Steve. – Entra. – e assim ele fez.
Os dois
se sentaram no sofá da sala de estar. Tish contou toda a história, detalhe por
detalhe. Steve tinha o direito de pelo menos saber o que aconteceu com seu
irmão. Ele não se conformou, como todos da família.
-Só os
mais íntimos sabem disso. Não posso espalhar essa história para todo mundo. Isso
poderia botar a minha segurança e a dos meus filhos em jogo. Você sabe disso.
Depois do que aconteceu com a minha Miles, eu não quero arriscar mais nada.
Miles.
A sua sobrinha tão querida. Seu coração se apertou ao lembrar dela.
-Como
ela está? – ele perguntou hesitante.
-Ela
levou alta há uma semana. Ela não está nada bem. – Tish comentou com uma voz
falha e olhos marejados. Ela deu uma pausa e inspirou profundamente para evitar
chorar de novo. – Eu sinto que a Miles que a gente conhecia foi embora junto
com o Billy. Depois que ela voltou, não é mais a mesma. Sempre com um olhar distante,
quase não fala mais com a gente... Aqueles desgraçados acabaram com a minha
filha. – não aguentando mais segurar as insistentes lágrimas, Tish abaixou a
cabeça e começou a chorar baixinho. Steve ainda atônito com toda essa louca
história, a abraçou novamente. – Me desculpa. – Tish murmurou se afastando de
Steve enquanto secava suas lágrimas.
-Você
não tem que se desculpar, Tish. – ele disse compreensivo. – Onde está a Miley?
Eu quero conversar com ela.
-Eu não
sei. Ela saiu sem avisar. Talvez ela esteja visitando o túmulo de Billy. A
maioria das vezes em que ela sai, é para lá. Também acho que você deve
conversar com ela. Talvez você consiga a distrair mais um pouquinho. – ela abriu
um pequeno sorriso.
-Ta
bom. Vou atrás dela agora. – ele se levantou do sofá. – Vou ficar na cidade por
uns três dias. Se precisar de alguma coisa é só ligar, ok? – ele disse saindo
da casa.
Ela
balançou a cabeça em afirmação enquanto abria a porta para a sua visita.
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Abraçando seus joelhos, Miley
observava o vento carregar algumas folhas secas das árvores. Sentada sobre o
túmulo de seu pai, ela apenas olhava o lugar quieto ao redor. Esse era o único
lugar em que ela conseguia se sentir confortável. Ela sente que esse lugar é o
único em que a pudesse acolher bem com seu silêncio permanente. Talvez ela
sinta que uma parte da presença de seu pai ainda pairasse por ali. Então ela
decidiu ir a esse lugar mais vezes, para pensar ou até mesmo para desabafar
sozinha, ou com a tal presença de seu pai.
Ela não derramava mais nenhuma
lágrima desde que chegou em casa. Seus olhos já estão cansados demais de
chorar. Eles já derramaram muitas lágrimas desde a morte de Billy. E seu
coração estava cansado demais para sentir. Tantos sentimentos ruins que a
atormentaram ultimamente, que a única coisa que ela ainda faz questão de sentir
é o ódio.
Miley
desistiu ir atrás de justiça. Já passou por humilhações demais para suportar
mais alguma coisa. Todos ainda a olhavam estranho ou com pena, a vendo como uma
garota problemática. Talvez até a própria mãe esteja começando a ver assim.
Eles conseguiram o que queriam. Paul se vingou de meu pai e ainda saiu impune,
conseguindo fazer todos se virarem contra ela, a única que teve coragem de
enfrentá-lo.
-Miles?
– ela ouviu uma voz familiar ecoar no silencioso lugar. Miley olhou para trás e
avistou seu tio Steve, caminhando até ela.
-Oi,
tio Steve. – ela cumprimentou friamente, apenas por educação.
Ele
sentou-se ao lado dela. E a analisou por um tempo. – Você já é praticamente uma
mulher. Confesso que imaginei encontrar com uma garota baixinha e magrinha
usando trancinhas nas laterais do cabelo. – ele comentou tentando quebrar o gelo,
esperando pelo menos um sorriso.
-É...
Faz um tempo que a gente não se vê, não é?
- ela comentou séria.
-Desculpa
aparecer só agora. Eu soube há pouco tempo... Talvez se eu tivesse chegado meses
antes, eu poderia ter te ajudado.
-Ou
talvez não.
-Olha Miley, eu sei que eu não
tenho muita moral para falar disso, mas eles ainda vão receber o que merecem de
qualquer jeito.
-Você
acredita mesmo em mim? – perguntou levada pela curiosidade.
-Claro
que acredito! Eu sei muito bem do que esse tipo de gente é capaz. – ele disse
convicto. – Essa história está muito estranha para ser só uma tentativa de
roubo. Eu também não me conformo.
De
repente uma ideia brilhante a veio em mente. Ela olhou de uma forma mais
diferente, talvez esperançosa.
-Tio,
se você pudesse de vingar de algum jeito, você faria? – perguntou.
-Faria.
Se eu tivesse algum jeito, sim. – ele respondeu automaticamente.
-Eu já
sabia. Sei o que você faz. – ela falou. – Você vive metido em gangues, não é?
-Miley,
isso não vem ao caso agora... – ele disse um pouco cauteloso.
-Eu não
estou te julgando, foi só uma pergunta.
- É,
esse tipo de coisa. – ele assentiu.
-Você
aceitaria trabalhar comigo? Me ajudar a acabar com a raça do Paul? – ela perguntou
com um brilho nos olhos.
-O que?
– ele perguntou incrédulo. Será que sua sobrinha enlouqueceu mesmo de vez? Como
ela pode querer trabalhar com esse tipo de coisa. – Olha Miles, isso não é uma
coisa pra ser orgulhar. O que eu faço não é certo.
-E daí?
Já cansei de ser certa, de tentar concertar as coisas de forma justa. Olha o
que me aconteceu. – ela falava firme. – Não existe “o bem vence o mal”. O mais
forte consegue tudo. E eu quero ser a mais forte. – ela disse demonstrando toda
a raiva que guardava no peito.
-Miley,
isso...
-Não
venha me dar lição de moral, falando que vingança não leva a nada. Eu sei que
você lá no fundo também quer isso! – ela levantou a voz cortando a fala de seu
tio. – Eu estou disposta a fazer qualquer coisa para conseguir me vingar do
Paul. Podem levar dias, meses ou até anos, desde que eu consiga acabar com ele.
Depois
de muita insistência, Steve aceitou a proposta. Eles teriam que fazer vários
golpes para conseguir experiência e dinheiro, para conseguirem fazer uma jogada
de mestre contra o Paul Jonas. Inicialmente, Steve achou loucura levar sua
sobrinha de dezesseis anos para entrar no mundo do crime. Mas sua sede de
vingança e ganância gritavam mais alto do que sua consciência. Dois dias depois
ela iria embora e começaria todos os seus planos com Steve.
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Miley
pegou sua pequena mala, que levava apenas o essencial. E desceu as escadas
silenciosamente para ninguém escutar. Eram três horas da manhã. Era o melhor
horário para ir embora. Assim ninguém saberia, não haveria despedidas, não
haveria escândalos de mãe, não haveria drama. Pegou a carta que tinha acabado
de escrever do bolso e deixou em cima da mesa. Ela precisava dar uma explicação
a sua mãe. Ela sabe que Tish ficaria desesperada, mas tentou não pensar nisso.
Ela vai ficar bem, pensou Miley se livrando da culpa. Deu a sua mala para Steve
que rapidamente a guardou no porta-malas. Entrou no carro e esperou seu tio dar
a partida.
Carta:
“Mãe,
Essa carta eu escrevi para te
avisar que eu decidi ir embora com tio Steve. Desculpa se eu saí desse jeito,
sem avisar ninguém. Mas sei que você não aceitaria de jeito nenhum eu começar
uma vida nova com um tio que é criminoso. Pode parecer loucura, mas nada é mais
louco do que tudo que passamos nesses meses.
E se você estiver se perguntando
se eu fui embora para me vingar do Paul, a resposta é sim. Ainda vou resolver
tudo isso. Custe o que custar. Acho que não suportaria mais ficar aqui em
Nashville sendo taxada como uma doida. Ainda mais sobre a vigilância de xerife
Holmes. Eu preciso vingar não só o papai, mas a mim mesma. Por tudo que eles me
fizeram passar. Acredite, ir embora vai ser o melhor para mim.
Por favor, não procure por mim.
Ninguém deve saber que fui embora com tio Steve por causa de um acerto de
contas. Se perguntarem por mim, diga que me internou numa clínica melhor, e que
eu ficarei lá por tempo indeterminado. Com certeza todo mundo acreditaria
nisso.
Você sabe muito bom que ir atrás
de mim não vai mudar nada. Eu continuaria com o mesmo pensamento e tentaria
fugir de novo. Eu vou ficar bem. Quando puder eu te mando algumas cartas ou
e-mails.
Te amo,
Miles”