Miley Narrando
O toque
do telefone fez que a nossa atenção para o corpo fosse interrompida. Eu nem me
dei o trabalho de parar para pensar se era deveria ter feito aquilo ou não.
Caminhei rapidamente até o celular e o atendi, já sabendo quem estava esperando
no outro lado da linha.
-Alô? –
ouvi a mesma voz de antes. Mas dessa vez
estava bastante nervoso. Provavelmente, ele não tem muita paciência para quem o
interrompe com ligações. –Bruno, fala logo o que você quer! Por que você
desligou na minha cara, o que está acontecendo?
-Não é
o Bruno que está falando. – eu respondi, tentando deixar minha voz mais firme
possível.
-Quem
é? – ele perguntou ainda mais estressado.
-É a
Miley.
O
silêncio já foi o suficiente para saber muito bem que ele reconheceu o meu
nome. Eu conseguia ouvir a sua
respiração do outro lado da linha.
-O
idiota do Bruno não conseguiu guardar o segredo, não é? – ele perguntou.
-Na
verdade, eu que descobri. Até que ele conseguiu ser muito fiel, Petrova.
Parabéns. –eu pronunciei o seu nome, fazendo questão de mostrar que eu sabia
muito bem com quem eu estava lidando. – É uma pena que você não vai mais ter a
ajuda do seu tão dedicado funcionário, parceiro, ou seja lá o que ele era para
você.
-O que
você quer dizer com isso? – ele perguntou num tom já desconfiado.
-Ele
está morto. – disfarcei a minha tensão e respondi tranquilamente, só para
provocá-lo. – Ele pagou o preço dele,
por se achar o espertinho para se meter na nossa vida assim. Mas isso não
interessa mais. Eu quero saber o porquê que você o mandou se infiltrar na nossa
casa e me dopar daquele jeito. O que você quer com todas aquelas mensagens,
hein?
Ele riu
do outro lado da linha. – Você acha mesmo que vai conseguir me fazer falar só
porque matou o Bruno?
-Mas
alguma coisa você quer. Então vamos ser diretos, ok? Chega de joguinhos.
-Quem
decide aqui quando os joguinhos acabam não é você. E quer saber? Só porque
descobriu meu nome, não quer dizer que você está tão na frente assim. Na
verdade não sou eu o grande interessado. Só estou fazendo alguns favores a
alguém e pelo visto tenho muito a ganhar nisso. Para essa pessoa sim que você
precisa perguntar.
-E quem
é essa pessoa? - eu perguntei irritada.
-Se
você acha que vai sair barato para você depois da morte do Bruno, - ele ignorou
a minha pergunta. – você está muito engana. Você quer jogar sujo? Então vamos
jogar sujo. – ele desligou na minha cara.
Eu
tentei ligar novamente para tirar mais satisfações, mas dizia que o telefone
estava desligado. Provavelmente, vai se livrar desse número para eu não ligar
de novo. Então notei que Nick escutou tudo apreensivo. Meu coração disparado no
meu peito parecia me impedir de respirar normalmente.
-O que
fazemos com ele? – Nick apontou para o corpo caído no chão e notei que ainda
tinha esse problema para resolver.
Eu
pensei por um tempo e depois balancei a cabeça. – Não tem muita coisa a fazer.
-E a
polícia?
-Eles
vão notar o óbvio. Ele morreu de overdose, ninguém o matou. O único que acha
que assassinamos ele é o Petrova.
-O que você
tinha na cabeça em dizer que nós matamos? – Nick perguntou indignado.
-Eu
quase o matei de qualquer maneira. – eu dei de ombros. – Pelo menos é um modo
de intimidação. Se algum capanga ou espião dele cruzar o nosso caminho, vai
pensar duas vezes antes ao lembrar o que aconteceu com o Bruno.
-Ok.
Agora vamos embora daqui antes que alguém chegue e note que estamos aqui. –
Nick me puxou pela mão. Eu fechei a porta, sem passar a chave e fomos embora
para casa.
Chegando
em casa, eu expliquei tudo para o Nick sobre a ligação e cada palavra que
Petrova disse para mim. A sensação é que cada vez mais a tensão aumentava. Dava
para senti-la no ar. Depois de um tempo, nos acalmamos e decidirmos esperar os
próximos dias sem alarde. Vamos
intensificar os treinos de tiro e luta para estarmos mais preparados para o que
vier.
Nicholas
Narrando
Eu me
joguei na cama cansado. Essa noite tinha sido mais do que complicada e eu já
estava exausto. Bruno estava morto e agora o chefe dele acha que nós causamos
essa morte. Estamos, no mínimo, encrencados.
Ir para Los Angeles depois de toda essa confusão? Nem pensar! Agora
mesmo que eu estava decido que não deixaria Miley sozinha nessa casa com a
ameaça iminente do Petrova. Eu
arranjaria alguma desculpa para não ir. Já estava acostumado a mentir para não
ir para LA outras vezes. Dessa vez não será tão difícil assim. Talvez eu
apareça por lá só depois que as coisas por aqui se resolvessem. E pelo visto,
não vai ser tão cedo.
Ouvi
meu celular tocar e tomei um susto. É
tanta coisa acontecendo através de ligações e mensagens, que eu fico tenso até
mesmo ao escutar um simples toque de telefone. Eu rolei os olhos e suspirei
cansado. Isso já está passando dos limites. Vi pelo identificador que era uma
ligação dos Estados Unidos. Mais especificamente lá de casa. Atendi o celular.
-Alô? –
eu atendi.
-Nick,
como você está? Sou eu. – reconheci a sua voz.
-Oi,
pai. – cumprimentei não tão animado assim. –Estou bem e o senhor?
-Está
tudo bem. Eu queria saber como estão as coisas por aí, faz tempo que eu não te
ligo. Estou com saudades, filho.
Eu vi
Miley sair do banheiro enrolada na toalha
-Está
tudo ótimo por aqui. Não tem com o que se preocupar. – menti.
-E aí?
Tem alguma novidade sobre a faculdade, amigos... namoradas?
Miley
tirou a toalha na minha frente só para me provocar e me tirar a concentração da
ligação. Ela não teve pressa nenhuma em secar o seu cabelo com a mesma toalha
antes, totalmente nua. Eu abri um sorriso quando ela me lançou um olhar
travesso.
-Algumas,
pai... Estou me dando muito bem. – eu comentei a observando se vestir
lentamente. Foco, Nick. Concentração! –Quer dizer, mas nada muito sério. Você
sabe, apenas diversão.
-Ah
sim. Está certo. Está na idade de aproveitar mesmo. Então... mudando um pouco
de assunto, Christine pediu para avisar que os convites já foram enviados por
correio. Logo, logo você vai receber.
-Ta
bom. – Droga, a festa.
-Estou sentindo sua falta. Estava
pensando em você ficar por aqui por alguns dias, além da festa. Não
prejudicaria os seus estudos, não é?
-Olha
pai... Eu não sei se vou poder ir nessa festa.
-Por
que não? – ele perguntou decepcionado.
-Você
sabe... Época de provas chegando. Seria complicado para eu faltar esses dias.
-De
novo? Nicholas, quantas vezes mais você vai dar uma desculpa qualquer para não
vir para Los Angeles? – ele perguntou impaciente.
-Pai,
não é uma desculpa qualquer... Estou mesmo atarefado. – eu insisti. Miley se
deitou ao meu lado, prestando atenção na conversa.
-Nicholas,
já faz um ano que você não vem para cá.
E em todas as oportunidades que teve para vir, você arranjou algum
motivo para nos evitar. Você é meu filho! Estou sentindo sua falta. Custa
alguma coisa você vir fazer a vontade do seu pai pelo menos uma vez? – Apelação
emocional, não. Por favor, não.
-É
complicado... – eu comecei a falar, mas meu pai me interrompeu.
-Eu sei
que você ainda não superou toda aquela confusão, mas um dia você vai ter que
superar de vez e seguir com a sua vida normalmente. Eu sei que aquela garota
bagunçou com a sua cabeça e depois da morte dela... Você deve ainda estar pouco
afetado por isso. Mas você precisa enfrentar tudo isso. Não pode se esconder na
Itália para sempre.
Eu
fechei os olhos. – Eu vou fazer o que posso, ok? Não posso confirmar nada.
-Está
bem. Mas se você não vier dessa vez, eu mesmo vou te visitar. Não vou mais
ficar esperando você aparecer só quando der na telha. Preciso ir. Depois eu
quero que você ligue de volta para confirmar.
-Ta ok.
Tchau, pai.
-Tchau.
Eu
encerrei a ligação e me virei para Miley que me encarava já há algum tempo.
-O que
ele disse? – perguntou curiosa.
-Ele
está insistindo que eu vá e já notou que estou dando desculpas para evitar ir
embora da Itália. Agora ele me deixou numa situação complicada, porque disse
que se eu não for, ele vai vir até mim.
-Droga.
– murmurou ela. – Você vai ter que ir, Nick.
-Não,
eu não posso te deixar sozinha desse jeito. Ainda mais agora que esse tal de
Petrova te ameaçou depois que Bruno morreu ... Não vou te deixar exposta assim.
Eu não conseguiria ir embora sabendo que você corre perigo sem ninguém por
perto.
Ela riu
e beijou o meu rosto carinhosamente. – Eu sei me virar, Nicky. Já passei por
situações piores. Relaxa que eu vou ficar bem.
-Mas...
–ela me interrompeu.
-Nick,
já imaginou se seu pai vier aqui com toda essa confusão? Pior, imagina se ele
descobrir sobre mim? Você precisar ir para evitar que a situação piore.
-E se
eu levasse você junto comigo? Arrumamos uma identidade falsa pra você, vamos
pelo jatinho mesmo e ninguém percebe. Aí você fica hospedada e segura num hotel
lá por perto. – eu sugeri, sem querer dar o braço a torcer.
- FBI
já me marcou, Nick. Se, por algum descuido, me descobrirem eu não só volto para
cadeia, como te colocam atrás das grades também por ser cúmplice. Seria arriscado demais.
-Eu não
vou conseguir embora sabendo que você corre perigo com essas pessoas da máfia,
ou seja lá quem elas são.
-Olha,
se acontecer qualquer coisa, eu ligo pro Chad e ele me ajuda. Não estou tão
sozinha aqui.
É isso.
O Chad pode ficar aqui enquanto eu estiver longe. Pelo menos é alguém de
confiança, tão bem treinado quanto ela, que vai estar por perto. Assim eu me
sentiria mais aliviado em saber que ela está mais segura e não vai estar
totalmente sozinha nessa casa e exposta a qualquer perigo.
-Eu só
vou para Los Angeles se o Chad ficar aqui de guarda. – eu disse.
-Agora
eu vou precisar de uma babá? – ela perguntou rindo. – Você não acha que estou
bem grandinha pra isso?
-Eu
estou falando sério, Miley. Não vou embora para LA se você ficar sozinha aqui,
correndo esse perigo.
Ela
suspirou em rendição. –Fechado. Amanhã eu converso com o Chad sobre isso.
Christine
Narrando
Paul
dormia ao meu lado profundamente. Virei na cama mais uma vez e encarei o
relógio. Já eram três horas da manhã e eu não conseguia dormir. Meu coração
disparado em ansiedade. Fechei os olhos, me concentrei e respirei
profundamente... Não adianta! Eu me sentia como uma criança boba e nervosa que
esperava ansiosamente para algo acontecer no dia seguinte e não conseguia
fechar os olhos e cair no sono.
Desisti
de vez e saí da cama. Talvez andar um pouco pela casa possa acabar com essa insônia.
Caminhei pela enorme mansão, respirando o ar puro que entravam das janelas.
Tudo estava silencioso e calmo. Em compensação, minha mente estava a mil. Desci
as escadas, sentindo o mármore frio nas solas dos meus pés e fui até a cozinha,
tentando organizar os pensamentos na minha cabeça.
Abri a
geladeira e peguei um pouco de água para mim. Eu bebi o copo inteiro
rapidamente. Eu não conseguia tirar aquela cena da cabeça. Ele me beijando com
desespero e tanto desejo. Aquela boca irresistível na minha. E sua voz ofegante
dizendo que estava apaixonado por mim.
Eu fechei os olhos com força. A mesma cena que repetia várias e várias
vezes na minha memória, me tirando o sono. Eu nem consigo imaginar o que seria
de mim se alguém daqui tivesse visto o nosso beijo. Nosso? É claro que é nosso!
Querendo ou não, eu retribui. E infelizmente, lá no fundo, eu sabia que não
tinha me arrependido.
Isso é
tão errado. Eu sou uma mulher casada e o Brian era só um amigo... Ele é o
melhor amigo do meu enteado! Sinceramente, eu nunca tinha notado alguma coisa
de diferente do modo que ele me tratava ou que sentia por mim. Talvez durante
esse tempo eu estava distraída demais com a sua presença que eu tanto me sentia
bem e acabei não notando nada. O que ele tinha na cabeça em me agarrar daquela
forma?
E o que
eu tinha na cabeça por ter gostado tanto disso? Eu me sentia suja, culpada,
nervosa, estranha, desejada... e com medo de admitir que talvez apaixonada.
Não! É tudo coisa da sua cabeça, Christine!
Tentei
afastar esses pensamentos que confundiam a minha cabeça indo atrás de um
calmante no banheiro.
Alguns
dias depois...
Miley
Narrando
A chuva
caia forte lá fora. Eu podia ver as gotas grossas sendo jogadas pelo vento
forte contra os vidros das janelas. Todo o nosso plano para fazer um piquenique
na praia foi para o espaço naquela noite chuvosa. Hoje era o ultimo dia antes que Nicholas
fosse passar uns dias lá em Los Angeles.
Passamos por dias tão estressantes que queríamos pelo menos uma noite
mais tranquila e romântica, pelo menos para compensar um pouco os dias que
vamos ficar longe um do outro.
Apesar de toda a tensão dessas
ultimas semanas, nada de novo aconteceu em relação àquelas ameaças. O corpo de
Bruno foi encontrado e o laudo foi dado como overdose de heroína, assim como
realmente aconteceu. Ele se matou.
Talvez intencionalmente, talvez não. Mas ninguém o matou além dele mesmo. Bom,
não é isso que Petrova deve estar achando agora. Em sua cabeça, eu tive a
brilhante ideia de forjar um suicídio e que aquilo tudo fazia parte do plano.
Menos mal para mim. Pelo menos eu não estou preocupada com a polícia atrás de
um possível assassino se eu tivesse realmente o matado com a roleta russa se
aquela discussão toda tivesse dado continuidade. Eu respirei fundo. Eu e minha impulsividade...
Ainda bem que não deu tempo de eu fazer qualquer idiotice que me dava dando
vontade naquele momento.
O trovão gritou estrondoso do
lado de fora, me fazendo acordar para realidade. Eu pude ouvir Nick rir e
percebi que ele estava se divertindo com o susto que levei, por ser acordada
dos meus pensamentos com o barulho alto. Eu tentei fechar a cara, mas não eu
aguentei me segurar com o seu bom humor e ri junto.
-Eu não sei como você ainda
mantém o bom humor. Nosso piquenique de despedida já era. – eu resmunguei.
-Mas você está fazendo um jantar
gostoso para gente. – Nick tentou ser otimista se achegando a mim no sofá. Eu
estava fazendo um prato que ele gostava. Ainda estava no forno, mas seu cheiro
bom já invadia não só a cozinha, como a sala de estar.
-Que nem todo dia. – fiz beicinho
e ele o mordeu, me provocando.
-Para de ser rabugenta. – ele
disse. Seu braço envolvendo a minha cintura e o seu casaco quentinho me
aconchegando. Ele tinha acabado de sair do banho e estava absurdamente cheiroso
para eu resistir. –E quem disse que não vai ter piquenique hoje?
-Claro, é só colocar umas capas
de chuva e comermos comida toda molhada. Isso se não formos atingidos por um
raio ou o vento jogar alguma coisa em cima da gente. Que romântico, Nick.
-Uau, seu bom humor me contagia!
Posso saber por que a senhorita está tão irritada assim? É só por causa da
chuva? – Não! Eu vou sentir sua falta e não quero que fique longe. Não quero
parecer uma mulherzinha carente, por isso não vou admitir.
-É, só por isso. Queria uma coisa
especial. – eu cruzei os braços.
-Eu já te disse que vai ter o
piquenique. – ele me beijou na bochecha. – Vai tomar o seu banho que eu vou
fazer uma coisa aqui pra gente. – eu olhei desconfiada pra ele. – Confia em
mim.
Então eu desliguei o forno, já
que a comida já estava pronta e fui para o meu banho, cheia de curiosidade.
Alguns minutos depois, já de banho tomado, desci as escadas e percebi que a
chuva forte ainda não tinha dado trégua. Ouvi um barulho diferente vindo da
sala e apressei os meus passos até lá.
A lareira estava acesa deixando o
ambiente mais quentinho e confortável. De frente para ela, Nick ainda jogava
alguns pedaços de lenha, para alimentar o fogo aconchegante. No tapete felpudo
o nosso jantar estava arrumado despejadamente e uma garrafa de vinho ainda
fechada estava próxima. Eu não pude evitar um sorriso. Estava tudo
perfeito. Ele virou para mim e me olhou
com expectativa.
-E então? Gostou do nosso
piquenique? – ele perguntou divertido.
Eu balancei a cabeça em afirmação
e pulei em seu colo para um beijo. –Eu amei.
Ele riu convencido e me deu mais
alguns beijos rápidos nos lábios, enquanto me levava para o tapete onde seria o
nosso jantar.
Quando
ele sentou no chão junto comigo, eu me sentei ao seu lado e me ajeitei melhor
para me aconchegar perto de seu corpo. Ele abriu a garrafa de vinho e serviu
pra nós dois. Eu tomei um gole da bebida.
-O que
você vai fazer durante uma semana lá em Los Angeles? – não consegui me conter.
-Eu não
sei muito bem. – ele deu de ombros. –Talvez passar um tempo com a família e com
Brian.
-É...
Seria bom pra você. – eu comentei sinceramente. Ficar se escondendo aqui na
Itália o tempo todo não faria bem a ele.
-Eu
queria tanto que você fosse, sabe, como minha namorada. Às vezes me sinto mal
em não poder te assumir de vez. – e eu me sinto mal por colocá-lo nessa
situação.
-Infelizmente,
sempre vai ser assim enquanto estivermos juntos, Nick. – eu respondi
desanimada.
-Nós
vamos dar um jeito... Algum dia. – eu amava o seu otimismo que ás vezes chegava
a ser ingênuo, mas tão animador. Ele me encarou nos olhos por alguns segundos.
Estava pronto para dizer alguma coisa, mas deixou para lá. Era sempre assim
quando conversávamos sobre o que o futuro nos aguardava. Era sempre muito
delicado.
Logo
depois conseguimos mudar de assunto e saborear o jantar, deixamos só o vinho
por perto e ficamos sentados de qualquer jeito no tapete confortável enquanto
conversamos. Parecia que não pararíamos nunca de falar. Conversamos sobre
faculdade dele, a nossa infância, sobre até uns filmes bobos que estávamos
interessados.
Nick
pegou o seu violão e cantou uma musica qualquer que eu pedi para que ele
cantasse para mim. Toda vez que fazíamos um piquenique na praia, ele levava o
seu violão. Fazia tanto tempo que não o ouvia cantar e tocar... Ele cantou mais
algumas bem no clima de romance, não tirando os olhos de mim.
Uma
semana é tanto! Ficar dias sem ouvir o seu bom dia preguiçoso, sem suas
conversas, sem seu jeito que tanto me alegra, sem seu corpo perto do meu, sem
essa voz sedutora me cantando músicas muitas vezes baixinho ao pé da orelha... Parecia
insuportável. Quer dizer, é absurdo eu ficar pensando desse jeito. É só uma
semana! Aliás, se eu transparecesse com clareza esses sentimentos, Nick usaria
como desculpa para ficar. Ele precisa ir. Ele não merece viver uma vida em
função de mim. Eu nunca quis virar um estorvo ou uma mulherzinha que precisava
de atenção o tempo todo. E não é agora que eu vou ser. Mas preciso admitir que
vai ser difícil lidar com essa saudade.
Já estou tão mal acostumada!
A
tempestade continuava e a luz acabou. Só sobrou a luz da lareira e o seu calor,
tomando a sala. A nossa conversa se interrompeu.
-Ih,
faltou luz. – eu olhei ao meu redor.
-É
mesmo. Pena, que tem a lareira iluminando. Se estivesse escuro, pelo menos eu
teria uma boa desculpa para passar a mão boba em você. –ele comentou travesso e
eu ri.
-Você sempre
tem uma quando aparece oportunidade, Nicholas.
Ele
deixou o seu violão de lado de se aproximou de mim. –Qual desculpa eu posso dar
agora? - sua voz saía baixa acompanhada
de um sorriso travesso. Sua mão começou a deslizar pela minha coxa exposta pelo
short. Olhei para a sua mão e depois para os seus olhos. Não pude evitar, senão
sorrir.
-Você
não precisa de desculpas, se quiser. –eu disse igualmente baixo, sentindo a sua
presença ficar cada vez mais próxima. Seus olhos castanhos escuros me fitando
com intensidade.
Sua mão
foi subindo do meu quadril até a minha cintura e a puxou com suavidade para sua
direção. Seu hálito perfumado de vinho batia em meu rosto que estava tão perto
do dele. Fechei os olhos lentamente quando senti seus lábios tocando os meus.
Beijei a sua boca sem pressa e aquilo parecia tão bom que eu poderia ficar
assim a noite inteira. Sua língua abriu caminho entre meus lábios e explorou
minha boca com carinho e desejo. Correspondi o beijo, alisando as minhas mãos
em suas costas largas por cima da sua roupa. O beijo foi sem pressa e durou
alguns minutos, até que nos separamos.
-Miles.
– ele me chamou de uma forma um pouco mais séria. –Você não quer que eu vá, né?
– ele mudou de assunto.
-Só vou
sentir saudades. – eu disfarcei, brincando com o seu cabelo carinhosamente.
-Você
sabe que posso cancelar essa viagem a qualquer momento... – ele insistiu.
-Não!
Você vai, Nicholas. Já decidimos isso. – não posso me dar o luxo de ser motivo
de preocupação e ser o centro da sua atenção o tempo inteiro.
Trocamos
mais alguns beijos. Nick mais uma vez sendo super protetor, me intimou a fazer
nenhuma besteira enquanto ele estivesse fora, já que eu tenho bastante
tendência a me meter em roubada. Da mesma forma, eu fiz questão de intimá-lo a
trazer presentes de Los Angeles para mim. Ele riu e concordou com o nosso
acordo. Ficamos deitados ali naquele tapete felpudo conversando e trocando
carinhos. Nem percebemos quando a luz voltou de madrugada, pois já tínhamos
caído no sono ali mesmo. Dormi envolta
pelos seus braços e sentindo o seu perfume gostoso.
No dia seguinte...
Chegamos ao aeroporto particular
na hora certa. O piloto já o aguardava na pista de decolagem. Caminhamos até lá,
acompanhando meu namorado. Chad foi conosco para me fazer companhia e
despedir-se do Nick. Quando finalmente,
chegou a sua hora de ir, Chad devolveu uma das bolsas que estava ajudando o
Nick a carregar. Ele agradeceu e sorriu.
Nick se virou para mim, me
fazendo acordar para a realidade. Ele deu um daqueles sorrisos irresistíveis e
me envolveu com os seus braços fortes. O puxei pela nuca e o beijei demorada e
intensamente, sem me importar se estava
o atrasando ou não. Quando nos separamos, ele deu um beijinho na ponta do meu
nariz.
-Comporte-se. – ele disse
debochado.
-Acho um pouco difícil... – eu
sorri. – Relaxa, Nick. Vai dar tudo certo.
-Eu te ligo quando estiver lá. –
ele me lembrou.
Contra a vontade do meu corpo, me
desfiz do abraço com ele e observei Nick caminhar para longe de mim, até entrar
no avião.