quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Capítulo 16 - Ladykiller

Link da música:     http://www.youtube.com/watch?v=tdQ2iknj3Ns

“Baby it's not alright (Baby, não está tudo bem)
The second that you turn your back (No minuto em que você virar as costas)
She'll be outta sight (Ela vai estar fora de vista)
Baby she'll break your heart, (Baby, ela vai quebrar seu coração)
The second that you spend the night apart (No segundo em que você passar a noite distante)
How could you do it? (Como você pode fazer isso?)
Oh, how could you walk away, from everything we made (Oh, como você pode deixar tudo o que fizemos?)
How could you do it?, oh you better watch yourself (Como você pode fazer isso? Oh, é melhor você tomar cuidado)
I think that girl's insane (Eu acho essa garota insana)”

“Ooooh
She's in it just to win it (Ela está nisso para vencer)
Don't trust her for a minute (Não acredite nela por um minuto)
Ooooh
It's a like cheap thriller (É como um suspense barato)
She's such a ladykiller (Ela é uma assassina)” 

“Baby she'll eat alive, (Baby, ela vai te comer vivo)
As soon as she smells your blood in the water (Logo que ela cheirar seu sangue na água)
You better run to survive, (É melhor você correr para sobreviver)
Before she makes you her latest slaughter (Antes que ela faça de você sua mais nova vítima)
How could you do it? (Como você pode fazer isso?)
Oh, just come back to me, (Oh, apenas volte para mim,)
Baby I'm begging please (Baby, eu estou implorando por favor)
How could you do it?, (Como você pode fazer isso?)
Oh she knows I love you still, (Oh, ela sabe, eu ainda te amo)
You're just a ladies killer (Você é apenas uma assassina)” 

Joe Narrando






Dirigindo numa rua estranhamente deserta de Los Angeles, eu procurava com o olhar o possível prédio do escritório do detetive particular. Chequei mais uma vez endereço no cartão. Era exatamente essa rua. Estranho... Mas até que faz sentido. Foi até sensato da parte de um detetive que provavelmente fez inimizade com várias pessoas não se expor no centro da cidade. Se essa história de detetive tem haver com a Miley? Obviamente que sim. Depois de tudo que descobri sobre ela e depois de tudo que o Nicholas passou por causa daquela vadia (e parcialmente por minha causa), o mínimo que posso fazer agora é contratar um detetive para conseguir provas concretas sobre ela. Assim, finalmente eu poderei entregá-la à polícia, FBI, CIA ou qualquer um que a dê uma lição e a bote por trás das grades.
Prédio 30. Finalmente achei. Como o resto da rua, o edifício está pra lá de antigo, mas pelo menos não está caindo aos pedaços. Estacionei meu Jaguar XJ (link nas notas) na calçada e saltei do carro. Um pouco antes de ativar o alarme, um carro parou bruscamente ao meu lado e de lá saíram alguns caras um tanto mal encarados. Um deles era enorme feito um armário, os outros dois eram mais ou menos da minha altura e não eram tão fortes assim, porém todos os três me fitavam sinistramente. Merda, só me falta agora ser assaltado.
–O que um mauricinho como você está fazendo aqui? Está a fim de pegar alguns negões ou gosta de apanhar? – um dos caras de tamanho mediano, um loiro, debochou.
–Nenhum dos dois, vim aqui mesmo pra dispensar a puta da sua mãe. – rebati irritado. Foda-se se ele é um homem perigoso. Já estou em perigo há muito tempo.
Em resposta seu sorriso cruel se dissipou da sua face que adotou uma carranca nada legal. Essa parada de xingar a mãe sempre cola. Seus olhos verdes demonstravam que eu não vou me dar muito bem hoje.
–Como é que é? – ele veio pra cima de mim arrogantemente. Ele não era muito forte quanto os outros, mas mesmo assim eu sabia que provavelmente ele estava armado. – Repete o que você disse e acabo com a sua raça, seu merda! – então ele sacou uma arma do cós da sua calça.
–Chad, nem pense! Não vale acabar com a brincadeira assim se eu nem me diverti ainda. – uma voz feminina e bastante familiar ecoou por trás dos caras. Não demorou muito para Miley aparecer com seu olhar de víbora e um sorrisinho sarcástico no rosto. Estremeci por dentro quando a avistei com um bastão de basebol na mão caminhando lentamente em minha direção. Ela estava com um olhar tão assustador, que só faltaria uma plaquinha em sua testa escrito “made in hell”. Eu estava ciente que ela iria me odiar quando descobrisse que fui eu que a entreguei para o Nicholas. E é obvio que não sairia barato para mim.
–Olá, Joe. Hoje está uma ótima tarde, não é? – ela ironizou enquanto brincava com seu bastão na mão. - Só não entendo porque você não está se refrescando na sua piscina e vem logo para um lugar como esse. Você não tem ideia como aqui é perigoso! – ela abriu mais um sorriso inocente falsamente. – Ainda bem que agora somos companhia um para outro. Seria horrível você ficar sozinho aqui.
–Você já deve saber que o Nick descobriu tudo. – falei tentando ser mais frio possível.
–Depois do escândalo que ele fez na minha casa seria impossível não perceber. – logo ela fechou seu sarcástico sorriso. – Também fiquei sabendo que foi você quem contou tudo para meu amado namoradinho.
–Então...Você vai me matar? –fui ao ponto principal. Fechei meus punhos em nervosismo. – Não estou com medo. Sei que se você fizer isso só vai piorar para o seu lado. Então que me mate logo.
–Claro que não! Por que faria isso com você? – ela me lançou um demorado olhar, mas em seguida soltou uma risada. – Não adianta falar que você não tem medo de mim, Joe. Eu sei que está se tremendo todo por dentro.
–Será que dá pra parar de brincadeirinhas e ir direto à parte em que você se vinga logo? Isso já está ficando ridículo.
–Como eu te falei, eu não vou te matar. Que falta de criatividade! – ela disse se afastando de mim e caminhando até meu carro. – Isso não quer dizer que eu não queira extravasar minha raiva. – Miley bateu com toda a força o bastão de basebol no para-brisa do meu carro.
–Para com isso sua louca! – berrei. – Isso vale mais do que sua vida, sua infeliz! – tentei impedir, mas dois dos seus capangas me seguraram me permitindo apenas assistir a aquela desgraçada acabando com o meu Jaguar apenas com um taco. A cada pancada que meu carro recebia, mais a raiva tomava conta de mim. Aquele carro sempre foi meu sonho de consumo, caríssimo. Eu sei que posso comprar outro depois, mas eu tinha um apresso por aquele automóvel.
Depois de quebrar todos os vidros e amassar todo o meu carro, ela jogou o taco no chão e caminhou de volta até mim.
–Pronto, você já destruiu o meu carro, está satisfeita? – gritei cheio de raiva.
–Satisfeita? Só estarei satisfeita quando você estiver queimando no inferno, seu infeliz. – seus olhos carregados de um brilho sádico me fitavam intensamente. - Você quase arruinou meu plano. Você acha mesmo que só deixaria alguns arranhõezinhos no seu carro e tudo bem? Acho que você não tem muita noção com quem você está lidando, né? – ela veio até mim e me deu um soco na cara. Infelizmente, não pude reagir do modo que eu desejava, pois dois daqueles caras ainda estavam me segurando firmemente. Além da dor, senti um cheiro metálico forte. Então pude perceber que sangue caia de meu nariz. A minha vontade era de simplesmente revidar cinco vezes mais forte, mas a única coisa que pude fazer era lutar inutilmente contra os braços dos dois capangas da Miley.
–Você vai se ver comigo, sua cachorra! – gritei extremamente irritado. Ela estava me fazendo de idiota e eu simplesmente estou sendo incapaz de reagir.
Ela simplesmente ignorou os meus insultos e deu uma joelhada no meu estômago. Puta merda! Essa garota é muito mais forte do que eu imaginava. E novamente senti o predominante gosto metálico na boca.
–Adoraria ficar aqui acabando com sua raça, mas não quero me sujar de sangue. Ainda tenho compromissos. – ela massageou a mão do soco. Eu me encontrava curvado para me compor da pancada no estômago, mas logo a Miley segurou firmemente pelo maxilar e olhou bem em meus olhos. – Espero que essa seja a primeira e ultima vez que apronta comigo, está me ouvindo. Se houver uma próxima vez, o castigo vai ser muito mais trágico. Não duvide de mim, pois eu tenho uma imaginação muito fértil de como acabar com meus inimigos. – ela soltou meu rosto bruscamente e voltou-se para os três caras. - Rapazes, espero que façam um bom trabalho. – como assim ‘’um bom trabalho”? - Ligarei para Steve buscar vocês aqui. Caprichem!
Então ela me fitou com repugnância e caminhou até o carro em que veio. Não demorou muito para perder seu o automóvel de vista.
Nick Narrando
É simplesmente insuportável tentar fingir que está tudo bem quando sei que nada está certo. Meu pai e Christine sabem que alguma coisa aconteceu comigo. Até me perguntaram o que estava havendo, mas apenas respondi que tive uma briga boba com a Miley. Logo eles se deram por satisfeitos. Quem me dera se o problema só fosse uma briga boba! Ainda me sinto péssimo. Preferi faltar aula e pra não ter que encarar Brian e contar mais outra mentira e forçar um sorriso.
Ela arrancou qualquer resquício de vida em mim. Tudo o que me dava vontade de fazer era apenas continuar trancado dentro do quarto sozinho. Porém não posso deixar que meu pai desconfiasse. Se ele descobrisse, a história só iria de mal à pior.
–Nick - Christine me chamou entrando no quarto. Tirei o fone de ouvido para atendê-la.
–Hum?
–Tem certeza que está tudo bem, meu docinho? – ela perguntou preocupada pela décima vez no dia.
Não, não está nada bem.
–Tenho, Chris. Fica tranquila. Só estou um pouco chateado porque eu e Miley discutimos. Só isso. – esbocei um sorrisinho.
–Bom, falando nela... – minha madrasta abriu um sorriso. –Miley acabou de chegar. Ela quer muito conversar com você. Acho que ela quer fazer as pazes.
O que? O que ela está fazendo aqui? Confesso que fiquei com um pouco de medo. Com certeza, as suas intenções não eram boas. Descrente, arranquei de vez o outro fone para ter certeza da cara de pau voltar aqui pra querer trocar qualquer palavra a mais comigo.
–A Miley? – perguntei.
–Ela mesma. Vou chamá-la pra subir, tá bom? – antes que ela se dirigisse às escadas, eu a interrompi.
–Chris, por favor. Fica lá embaixo, longe dela. Quer dizer da gente. – corrigi rapidamente. Eu precisava garantir pelo menos a segurança dela. Vai que aquela louca decide nos matar agora? – Eu quero ficar a sós com a Miley.
A loira estranhou um pouco o meu pedido, mas não me contrariou. – Bom, se é assim, tudo bem. Eu fico longe. Mas Nicholas, volta pra ela. Vocês fazem um casal tão lindo...-ela fez um biquinho. - Ela é a garota certa pra você.
Senti um aperto no peito. “Ela é a garota certa para você”. Só se for certa para arruinar a minha vida.
–Não se preocupe, eu vou resolver isso. Pode chamar. – eu respondi.
–Mas antes você quer meu corretivo emprestado? Sabe, acho que você não dormiu muito bem essa noite e ficou com umas olheirinhas. Pra ficar bem lindo para ela. –sugeriu animada. - Ah!Caso vocês dois reconciliem, eu tenho algumas camisinhas guardadas. É só pedir...
Se eu estivesse com o meu humor usual, sem dúvida estaria gargalhando por causa da minha madrasta tentando dar um de cupido. Entretanto, acho que nem mais forças eu tenho pra rir.
–Não precisa, Chris. Obrigado. Mas agora será que você pode mandá-la subir?
–Ok, se é assim... – ela deu de ombros e desceu as escadas.
Não demorou muito para a responsável por toda a minha perturbação aparecer na porta do meu quarto. Um sorriso não tão doce quanto de costume surgiu em seu rosto.
–Oi. – ela disse estranhamente animada. – Será que posso entrar? – essa educação toda estava até soando irônica vinda dela.
–O que você está fazendo aqui? – ignorei sua pergunta e falei rispidamente. – Adianta logo o que você quer. – cruzei os braços. – Vai tentar me matar de novo?
–Não, vim fazer uma proposta. – Miley jogou sua bolsa na minha cama e sentou-se em um dos pufes relaxadamente. Essa naturalidade em vir conversar comigo depois de tudo o que aconteceu ontem estava me deixando mais do que confuso.
–Que tipo de proposta? – perguntei.
–Quero que você me ajude a roubar todo o dinheiro da empresa.
Ela estava tirando com a minha cara. Não é possível que a Miley esteja me pedindo uma coisa dessas! Ri sem humor. Será que ela acha que eu sou idiota o suficiente para ajudá-la?
–Obvio que não vou. Será que o tapa que você levou ontem afetou seu cérebro? O que te veio à cabeça pra achar que eu aceitaria a sua proposta?
–Simplesmente o fato de você poder salvar não só a sua própria pele como toda a sua família. Se você me ajudasse, eu garantiria a segurança de toda a família Jonas. Além do mais, você sempre odiou todo esse poder que subiu a cabeça do seu pai. Você nunca gostou de toda essa fortuna. Acho que não vai fazer muita falta pra você, né? – ela sorriu ironicamente.
–Isso é loucura.
–Olha, eu estou aqui porque não tenho mais escolha. Foi ideia do Steve e estou tentando ser menos grosseira possível com você. Eu também não gostaria muito em ter você como parceiro de crime. – ela rolou os seus grandes olhos azuis. Parecia que para ela, conversar comigo sobre isso é uma das coisas mais entediantes que existe.
–E se eu não aceitar? – perguntei desafiador.
–Você vai ter que lidar com o risco de botar todas as pessoas que você ama em perigo. Paul, Christine, Joe, Brian e até daria um jeito de achar e liquidar o seu irmão desaparecido. Ah, você também, é claro. Seria idiotice deixar testemunhas de um assassinato. Enfim, faria seus últimos momentos de vida um espetáculo de carnificina. – Algumas assustadoras cenas se passaram por minha mente e me lembrei que ela não é apenas uma ex-namorada infiel. Ela é realmente capaz de fazer esse tipo de coisa e até piores. Sacudi minha cabeça tentando espantar aterrorizantes pensamentos.
Miley cruzou os braços em espera à minha resposta. – E então? Vai me ajudar ou não?
A minha vontade era gritar um claro e sonoro não, mas não posso deixar as pessoas que amo em risco. Se eu tenho a chance de deixar todos em segurança, eu terei que engolir o meu orgulho e trabalhar com essa bandida. Não há uma terceira opção. Ou eu faço parte do golpe, ou eu sou assassinado com toda a minha família.
–Isso não quer dizer que ainda não te odeio. – informei. Miley levou essa frase como um sim e abriu um sorriso satisfeito.
–Ótimo. Sabia que você entraria nessa. Aliás, agora será muito mais fácil com você como parceiro. Porém nós só seremos cúmplices. Não pense que estou arrependida de tudo que fiz. – ela advertiu se levantando do pufe e desamassando seu short jeans.
Era só o que me faltava. Não basta descobrir que a Miley me enganou esse tempo todo. Agora eu tenho que trabalhar com ela para roubar o dinheiro da minha própria família. Tudo está acontecendo tão rápido e intensamente que não conseguia nem mais reagir direito.
–Antes de tudo, eu tenho que impor algumas condições. – Miley disse se aproximando, ficando a poucos centímetros de mim. Senti seu delicioso perfume doce exalando junto com o calor da sua pele. Droga! Como a detesto por isso! - É claro que você terá que atuar tão bem quanto eu. Nós continuaremos como namorados para todo mundo, entendeu?
–Fazer o que, né? – respondi contrariado.
–Ah! Fique sabendo que eu e Steve temos parcerias com outras gangues. Então se quiser dar um de engraçadinho e nos botar na cadeia, é melhor estar ciente que os nossos amiguinhos acabarão com você aqui fora. Nem pense em falhar comigo. – ela continuou com o tom de voz autoritário. Isso já estava me irritando. – Se você me trair como seu irmão fez comigo, você não terá um final nada feliz. Ah! Antes que eu me esqueça, quero você em minha casa hoje de noite, às oito horas. Nós nos reuniremos para a mudança de planos. Não se atrase.
–Nossa, a vadiazinha está exigente demais, não acha? – debochei já farto de ordens vinda dela.
–Você não viu nada. – afetada com o xingamento, Miley me fuzilou com olhar.
–Ui, que medo! – ironizei.
–Você está perdendo a noção do perigo, garoto?
–Acho que você vai ter que me aturar de qualquer jeito. Só comigo você vai conseguir aquele dinheiro, então eu espero que seja bem boazinha. Vou seguir essas condições, mas você também terá que trabalhar comigo conforme o meu jeito. – Miley bufou de raiva com as mãos fechadas em punho. Aprendendo com ela, percebi que o sarcasmo é a melhor forma de irritar os seus inimigos e conseguir lidar com eles. Eu sei que tenho que ser cauteloso com ela agora, mas não posso simplesmente a obedecer como um cachorrinho treinado. – É só isso que queria falar comigo? Sabe, sua presença ainda não é muito bem-vinda aqui.
–Graças a Deus eu já estou de saída. – ela respondeu ainda um pouco durona. – A sua companhia também me dá nojo.
Antes de Miley sair de meu quarto, ela pegou a sua bolsa e virou-se para mim.
–Espero que você não me decepcione. –deu as costas e saiu corredor a fora.
No momento em que a Miley estava descendo as escadas, ouvi um grito de desespero de Christine vindo do andar de baixo. Meu corpo em alerta, instintivamente correu até lá. Parei no meio do caminho entre os degraus quando me deparei com o meu irmão mais velho todo ensanguentado e cheio de hematomas na entrada da casa. Nem sei como ele conseguiu chegar aqui num estado tão deplorável. Tossindo sangue, ele foi amparado por uma Christine em prantos. Todos nós sabemos que a minha madrasta já é um pouco exagerada demais, e todo esse choro escandaloso é dramático demais. Porém, Joe não estava nada bem. Com a ajuda de minha madrasta, ele deitou no sofá.
–Meu Deus! O que aconteceu com você? – Chris perguntava entre soluços. Logo apareceram empregados em volta oferecendo a ajuda e em resposta, ela pediu. – Chamem um médico, rápido!
Olhei para o meu lado e a Miley ironicamente fez uma cara triste. – Tadinho, né? Isso que dá se meter com pessoas erradas...
–Vá à merda. – rebati impaciente.
Terminei de descer as escadas e logo fui seguido pela minha ex-namorada. Joe notou nossa presença e picou um pouco assustado quando percebeu que a Miley está entre nós.
–O que você está fazendo aqui? – Joe perguntou com uma voz carregada de dor, como se até o ato de falar o incomodava.
–Vim fazer as pazes com o Nick. Nós voltamos. – ela abraçou meu braço e não demorou muito para me afastar com repulsa para evitar o seu toque o máximo possível.
Meu irmão me olhou confuso, mas pude perceber que ele sabia que não foi exatamente por minha livre e espontânea vontade. Ainda bem que ele não fez questão de perguntar mais coisas.
–Quem fez isso com você? – perguntou Christine ainda abismada com tamanha violência. –Você se meteu em brigas?
Joe logo lançou um olhar acusador à Miley, mas rapidamente desviou-se para a loira. – Fui assaltado.
–Que horrível! Você precisa dar parte para a polícia.
–Não! – ele vociferou. Mas logo tossiu mais um pouco, por conta do esforço de levantar a voz. –Não precisa, Chris. Além do mais, eu nem consegui ver o rosto dos criminosos. Eles estavam encapuzados. Não vai resolver o problema. Deixa pra lá. Se dermos parte só vai complicar ainda mais.
–Bom, eu tenho que ir. Meu pai deve estar me esperando em casa. – pronunciou Miley um tanto sorridente. – Te vejo mais tarde, Nick. – ela aproximou sua boca do meu ouvido e sussurrou – Isso é apenas uma amostrinha grátis. Espero que você e seu irmão se comportem direitinho a partir de agora. - me deu um falso beijo na bochecha que depois disfarçadamente limpei com a manga da minha camisa. Eu sei que eu teria que atuar tão bem quanto Miley de agora em diante, mas ainda não posso controlar a minha abominação e rancor que sinto por tudo o que ela fez. – Melhoras, Joe. – ela mandou um beijo pelo ar para o meu irmão que pela sua cara estava se segurando para não mandá-la o dedo do meio e alguns palavrões.
–Tchau, querida. – Christine despediu-se.
–Tchau, Christine. – Miley respondeu educadamente. – Se precisar de ajuda, é só me ligar.
–Ok, obrigada.
John, o mordomo, abriu a porta de saída cordialmente. Miley saiu sedutoramente com seu andar cheio de rebolado.
–Ela é terrível – pensei alto.
Ela estava sorridente, sinceramente sorridente. Estava se deliciando em ver o caos que nos causa. Só de pensar que eu ainda poderia estar a venerando agora mesmo se não tivesse descoberto tudo, mais a raiva crescia dentro de mim.
Mais tarde na casa dos Cyrus...
Apertei a campainha da conhecida casa, e rapidamente fui atendido por Chad, o suposto primo da Miley. Ele me cumprimentou educadamente e apenas acenei com a cabeça evitando qualquer tipo de simpatia. Adentrei a casa e vi que Steve, Miley e mais dois caras além do Chad estavam reunidos na sala de estar. Um silêncio desconfortável pairou no cômodo e os olhares maldosos se direcionaram a mim. Que irônico! Eu estou entre bandidos perigosos e eles me olhavam como se eu fosse o intruso, o errado. Tive que engolir em seco e quebrar a estranha quietação.
– E então? É aqui que vai ser a tal reunião? Não tenho tanto tempo pra desperdiçar com vocês parados que nem um bando de babaca me olhando. – ganhei mais confiança e comecei a deixar claro a minha impaciência.
–Você é o cara do cartão? – perguntou um cara alto e forte. Mesmo ele sendo forte e durão, tinha uma cara de pateta. Mas não pude deixar de levá-lo a sério quando vi algumas tatuagens em seus braços grandes. Tatuagens só feitas em presídios.
–Que cartão? - perguntei atordoado.
–Ele está se referindo ao cartão do buquê que você entregou à Miley. – respondeu o Chad.
–Richard só faz pergunta inconveniente. Apenas o ignore. – pronunciou Miley com o rosto levemente corado.
Lembrei-me do tal cartão. Das coisas bonitas que escrevi à ela e a agradecendo pelo seu apoio. Com certeza devo ter virado a piada da semana com aquilo.
–Olhem pra ela. O rosto está ficando todo rosa. – disse Chad rindo e apontando pra Miley. Os outros o acompanharam na risada, também.
–Não estou rosa. – negou Miley contrariada. Espera aí, ela está envergonhada?
–Eu que fui enganado e é você que se envergonha?- perguntei confuso. Ela me encarou irritadinha. - Oh... Eles devem ter lido a parte da “noite quente”, né? – falei com a intenção de provocá-la. Sinceramente, pra uma golpista como ela ficar sem graça com esse tipo de coisa é até ridículo. Mas não vou perder a chance de tirar sarro.
–Claro que não. – ela respondeu com os braços cruzados. – E por que eu ficaria tímida com isso? Só foi uma noite idiota. E acho melhor você calar sua boca e ficar na sua porque você nem está com tudo isso, não, tá? – falou desdenhosa.
Os outros três vibraram com o rumo da discussão enquanto o Steve, o único que realmente estava levando a sério a reunião, apenas nos ignorava enquanto se despedia de alguém no telefone, provavelmente outra pessoa com o compromisso de vir.
–Não parecia isso quando você gemia meu nome feito uma cadela no cio. – retruquei não deixando barato as suas ofensas.
A pequena plateia vibrou novamente. Miley me fuzilou com olhar irada, se preparando para rebater de uma forma nada educada, quando Steve a interrompeu e pronunciou.
–Já chega! – ele vociferou. Todos não hesitaram em se calar. – Vocês parecem um bando de crianças retardadas! Basta! Estamos falando de um assunto sério.
–É ele. – Miley me acusou. – Eu sabia que não daria certo esse fedelho entre nós. Mal entrou na minha casa – ela deu ênfase palavra minha. – e já chega me destratando. Você acha mesmo que daríamos uma boa equipe? – ela perguntou sarcástica.
–É claro que ele vai te destratar. – falou o tal de Richard, o grandão. – Ele acabou de descobrir que foi enganado e ainda por cima descobriu que era corno. Você acha que ele ia te tratar como?
–Ninguém pediu sua opinião, Richard. – ela respondeu.
–Como eu ia falando... – Steve mudou de assunto tentando ignorar a briguinha boba entre Miley e Richard. – A reunião é um assunto sério, então vamos deixar as confusões de lado.- dessa vez ele se dirigiu a mim. – Então Nicholas, como você já sabe, estamos de olho no dinheiro do seu pai. Como você é um de nós agora...
–“Um de nós”? - repeti a expressão, totalmente indignado. – Eu estou aqui porque fui forçado! De jeito nenhum quero ser como vocês.
–Agora é. E você tinha opção de não aceitar. – disse Miley.
–Ah, claro! Me esqueci que tinha todo o direito de deixar minha família e meu melhor amigo serem assassinados e não participar disso. – ironizei.
–Sei que você deve ainda estar nervoso conosco, mas nós precisamos desse dinheiro. Gostaríamos muito que você nos ajudasse. Prometo que se a missão for concluída com sucesso, deixaremos parte do lucro com você. – disse Steve.
–Nossa, quanta generosidade! Vamos pular toda essa palhaçada e ser direto? O que eu tenho que fazer? – falei nervoso. Eu nem sei como estou aguentando tanta coisa ao mesmo tempo.
A própria Miley prosseguiu com a explicação e os detalhes sobre o golpe. Fui informado que estarei acompanhado de um deles em todo o momento da missão. Eu conheci um dos parceiros deles, o Black Bull. Ele é um dos traficantes mais poderosos da Califórnia e nos alertou para tomar cuidado com seu inimigo estava interessado na mesma fortuna do meu pai. Fiquei surpreso com tanta atenção que nossa família atraía por causa do dinheiro. Eu sei que é meio óbvio, pois somos muito ricos, mas em momento nenhum me veio à cabeça que poderíamos ser alvos de bandidos.
Mesmo eu sendo um dos “cúmplices”, eu não usaria arma. Suponho que eles ainda estejam hesitantes em relação a mim, talvez tenham pensado que eu posso matá-los quando estivessem desprevenidos. Por mais que eu sinta ódio por tudo que me fizeram ou pelo que estou sendo obrigado a fazer, acho que nunca teria coragem de tirar a vida de alguém. Muito menos da Miley. Eu sei que é puro masoquismo pensar dessa forma, mas ainda não achei uma forma de parar de sentir algo por ela. Por trás de todo aquele nojo e raiva, eu ainda sentia aquela mesma sensação estranha ao ver aqueles profundos olhos azuis. Sem dúvida o amor é o meu maior castigo.

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