quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Capítulo 11 - Night full of confusion


Miley Narrando
A caminho do grande evento, eu e Steve revisávamos o nosso combinado. Era a nossa chance de descobrir o que o tão misterioso cofre esconde. Porém, era preciso cautela. A festa estará cheia de pessoas por toda a casa, além dos seguranças que estarão de guarda ao redor. Confesso que não vai ser muito simples, mas essa façanha eu consigo.
– Tudo está combinado, mas há um “pequeno” problema: Joe. Ele sabe muito bem que você não é confiável. Aposto que ele ficará o tempo todo vigiando. – lembrou meu tio, enquanto dirigia.
–Não se preocupe, vou arrumar alguma distração para ele. – falei dando uma ultima checada no visual pelo retrovisor do automóvel. – Você pode ficar tranquilo, ele vai ser nossa menor preocupação. – sorri para o meu tio.
Na verdade, eu estava um pouco preocupada mesmo em relação ao Joe. Ao contrário do irmão mais novo, ele não é nada bobo. Sei que ele ficará de olho em mim. Mas não posso transmitir essa tensão para o Steve. Eu que cometi o deslize, então terei que lidar com isso sozinha.
– Você ficou linda nesse vestido, Miles. – comentou Steve. – Você vai acabar conquistando mais pretendentes nessa festa, hein. – ele riu.
–Obrigada. – olhei para o meu traje. – Você também não está nada mal! Quem sabe você não consiga fisgar uma gata da alta sociedade? – dei um tapinha em seu braço e ele riu.
–Sabe como é, né? É difícil resistir ao garanhão aqui.- tio Steve passou a mão entre os cabelos de brincadeira.
Ele realmente não era feio. Steve é do tipo quarentão charmoso que faz as mulheres suspirarem. Aprendi muitos truques de sedução com ele.
Poucos minutos depois, chegamos ao nosso destino. Como se de costume não fosse o suficiente, a grande mansão estava graciosamente iluminada, combinando com o céu estrelado daquela noite. Manobristas se ofereceram para estacionar pra nós. Então sem hesitar, deixamos o automóvel. Onde será que deixariam tantos carros? Só me falta o Paul ter algum tipo de estacionamento enorme só para seus convidados.
O interior da casa, a sala especificamente, estava repleta de elegantes convidados exibindo seus smokings e vestidos glamorosos. Garçons passeavam pelo espaço servindo champanhes e finos petiscos. Uma música instrumental simples, mas agradável, espalhava-se suavemente pelo ambiente.
Sinceramente? Prefiro o caos da festa do Brian. Isto era muita frescura por metro quadrado pra mim.
Ao longe, avistei uma cabeleira loira. Vestida num impecável vestido vermelho, Cristine recebia simpaticamente os seus convidados. Logo que me viu, abriu um sorriso e veio ao meu encontro.
–Miley, minha norinha! – só eu que achei estranho ela me chamar de norinha sendo que ela não deve ser nem quinze anos mais velha do que eu? – Você está uma princesa com esse vestido! – então me deu um beijinho em cada bochecha.
–Obrigada pelo presente, senhora Jonas. Eu amei. – sorri.
–Que isso. Não precisa agradecer, querida! Só quis fazer um agradinho para começarmos um bom relacionamento.
Tio Steve limpou a garganta forçadamente para chamar nossa atenção. Só então me dei conta da minha falta de educação.
–Ah! Desculpe, papai. – me voltei à Cristine. - Acabei esquecendo de apresentar o meu pai, Steve.
A perua estendeu a mão para apertar a do Steve com aquele mesmo sorriso acolhedor.
–Sou Cristine, madrasta do Nick. – ela disse sorridente. – Prazer em conhecê-lo.
–O prazer é todo meu. – Steve abriu um sorrisinho que eu já conhecia muito bem. Estendeu a mão da loira até a sua boca e depositou um pequeno beijo. – Seu marido tem sorte. É a mulher mais linda da festa. - Rolei os olhos. Nossa, que cavalheiro!
Cristine riu um pouco sem graça. – Obrigada.
–Então, - interrompi. – Onde está o Nick? – perguntei.
–Ele está no jardim conversando com os amigos dele. – respondeu Cristine enquanto pegava uma taça de champanhe. – Ele deve estar te esperando lá.
–Ok, obrigada!
Deixei para trás o meu tio conversando com a Cristine e fui a caminho do jardim. Infelizmente me deparei com Joe. Ele estava sorrindo para alguns convidados que o cumprimentava amistosamente, mas quando me avistou seu sorriso se desfez e ficou me fitando, me fazendo lembrar tudo o que fiz com ele naquela noite. Odeio quando ele faz isso. É como se fosse um aviso: “Estou de olho em você. Pode enganar qualquer um, menos a mim.”
Provavelmente com uma cara de poucos amigos, fingi que não o vi e continuei minha procura até Nick. Eu preciso arrumar alguma distração para o Joe, e urgente!
Reencostado numa mureta, Nicholas conversava animadamente com Brian. Porém, eles não estavam sós. Três garotas estavam lá rindo e conversando junto com eles. Mas o que me chamou atenção foi uma morena de olhos verdes que acariciava o braço do Nicholas. E eu reconhecia o seu rosto de algum lugar... As fotos! Aquelas fotos que estavam em seu quarto das férias na Austrália.
Hum... Então ele costuma convidar ex-peguetes de férias de verão também? Interessante.
Seus olhos castanhos finalmente se dispersaram das pessoas em sua volta e me encontraram. Nick me olhou dos pés a cabeça e abriu um sorriso. Aquele mesmo sorriso bobinho e ingênuo. Saiu de perto de seus amigos e foi até mim. Sorri meigamente para ele. Sem nem se importar com os seus amigos nos assistindo, apoiou as mãos em minha cintura e me deu um suave beijo nos lábios. Sua testa ainda se encontrava colada a minha com seus brilhantes olhos fitando os meus.
–Você está linda. – ele sussurrou. Nos afastamos um pouco.
–Obrigada. – me fingi de um pouco tímida e sorri pra baixo.
O Nick também não estava na mal. Vestindo um smoking preto, usando aquele mesmo perfume gostoso e com o cabelo bem arrumado, ele estava irresistível pra qualquer uma.
Ele segurou minha mão e me levou até o seu grupinho de amigos.
–Meninas, esta é a minha namorada, Miley. – ele falou para as garotas que eu não conhecia.
A morena da foto me olhou de cima a baixo não muito animada, mas limitou-se a sorrir. As outras me pareceram sinceramente simpáticas apresentando seus nomes: Nicole e Rachel. E a morena antipática se chamava Carolina.
– Amei o seu vestido. – disse a Nicole. – É lindo.
Agradeci e conversamos por um tempo até o Trevor chegar e levar a Rachel para passear um pouco a sós. Pelo que me parece, eles eram namorados ou algo do tipo. A situação de Nicole e Brian era bastante semelhante, e acho que inspirados nos amigos, foram ficar a sós. Porém, eu não acho que foi pra namorar, pois ouvi alguma coisa vinda do Brian de estar com fome e procurar algo pra comer. A tal Carolina um pouco desconfortável por estar entre nós dois sozinhos, arrumou alguma coisa pra fazer.
Não demorou muito para ficarmos só nós dois naquele jardim.
–Eu já vi a Carolina em algum lugar. Ela está naquelas suas fotos de férias, não é? – perguntei.
Tentando disfarçar um sorriso ele assentiu. – Sim, é ela mesma.
–O que foi? – perguntei não entendendo muito o motivo do sorriso.
Ele não aguentou e riu. –Você está com ciúmes de novo!
–Não estou, não. – o repreendi. – O que? Não posso mais agora ser curiosa? Quer dizer, eu lembro que você disse que teve um romance com alguma dessas suas amigas na Austrália. E ela estava entre elas.
–Não foi um romance. Sei lá, foi apenas um... rolo. – ele deu de ombros. – Não houve sentimento nenhum envolvido nisso.
–Mas acho que ela acredita que houve um sentimento. – falei observando local a nossa volta. O jardim estava repleto de pequenos pisca-piscas. Mesmo com pouca luz comparado ao ambiente interno, era possível perceber as fortes cores de algumas rosas.
–Por quê?
–Ela não gostou muito de mim. E sabe, eu percebi o quanto ela te dava mole. – levantei um olhar um tanto suspeito.
Ele ficou pensativo, mas logo depois sacudiu a cabeça. Como espantasse qualquer tipo de pensamento sobre isso. Sua expressão não estava mais leve e descontraída como antes. Acho que esse assunto não o agrada tanto. Ou será que estou parecendo ciumenta demais? Não, com certeza não.
–Quer saber? Que se dane a Carolina e o que quer que sinta por mim. Vamos mudar de assunto?
–Por acaso estou sendo possessiva demais? – perguntei com uma carinha de coitada. – Se for é só me avisar... – Nick me interrompeu.
–Não, Miley. – ele sorriu carinhosamente para mim. – Não há problema nenhum com você. Só... que não quero conversar muito sobre isso. Ela é legal, mas esse “rolo” que tivemos não teve um fim muito agradável.
Tentei imaginar o que poderia estar incomodando tanto Nicholas para ele não querer tocar no assunto. Me veio a cabeça motivos óbvios como amor proibido, traição e esses draminhas básicos para séries adolescentes. Entretanto, achei melhor não atormentá-lo mais com perguntas já que ele não quer mais falar sobre isso. Além do mais, o meu objetivo não é cuidar do Nick e seus sentimentos idiotas. Estou aqui por causa do meu trabalho. Fazer companhia a sós com o meu namoradinho é só mais um jeito de me livrar do Joe.
–Então... – tentei mudar assunto. – O que está achando da festa?
–Pra mim tanto faz. – ele deu de ombros. – Na verdade eu não gosto muito desse tipo de festa, muito menos quando é relacionada ao trabalho do meu pai. Mas só o fato de você está aqui melhora bastante.
–Para com isso, Nick. Assim você me deixa convencida. – dei um empurrãozinho nele. Ele riu.
–Tudo bem, parei. Já que você não gosta de romantismo eu não vou te mostrar o que comprei pra você. – Nicholas me lançou um olhar esperto. Ele sabia que eu não aguentaria de curiosidade.
–O que você comprou? – perguntei ansiosa.
–Feche os olhos . – falou com entusiasmo. E assim o fiz. – Não abra até eu falar.
Pela sua respiração, senti que ele estava atrás de mim. Sua mão afastou cuidadosamente meu cabelo da nuca, jogando para o ombro. Seus lábios tocaram no meu pescoço depositando um singelo beijo e simultaneamente me arrepiei. Então senti algo delicado e gélido em torno do meu pescoço. Sorri já tendo em mente o que era. Ele colocou meus cabelos de volta pra trás dos ombros.
–Pode abrir. – sussurrou ao pé do meu ouvido.
Olhei para o meu colo e vi um pingente brilhante e azul. Reconheci logo de primeira. Safira.
–Nick... É lindo! Obrigada. – me virei para ele que ainda estava atrás de mim. – Mas por que um presente tão caro? Não precisava.
Ele olhou para o chão um pouco embaraçado. Suas bochechas estavam levemente coradas. Então Nicholas levantou o olhar para mim.
– Eu não sei... Você tem mexido tanto comigo, que eu queria te presentear para mostrar o quanto você é especial pra mim. – ele desviou o olhar novamente agitando as mãos. – Eu sei que é idiotice presentear do nada só por causa disso, mas sei lá. Eu vi esse colar na loja e logo lembrei de você. Pensei que iria gostar.
Eu abri um sorriso. Fala sério, ele está aos meus pés! Em forma de agradecimento, fui ao seu encontro para um beijo. Mas fomos bruscamente interrompidos quando Joe chegou.
–Nick, nosso pai está te procurando. – Nick bufou com má vontade e eu revirei os olhos. Esse terá uma morte especial, tenho certeza disso. - Todo mundo está reunido lá dentro. E vocês isolados do mundo. Parece até que querem esconder alguma coisa do resto dos convidados – ele me encarou significativamente. Se meus olhos pudessem falar já estariam berrando um “vá pro inferno” para o Jonas mais velho. Então ele sorriu falsamente. – E aí, vêm curtir a festa ou não?
–Fazer o que, né? – Nick disse um pouco indisposto, mas com um tom de voz mais brincalhão. – Você vem, Miles? – ele se voltou para mim.
Assenti e o acompanhei até o seu pai. Paul conversava alegremente com alguns homens da mesma faixa de idade. Pareciam todos como ele: ricos, presunçosos e ambiciosos. Nick não pareceu muito confortável enquanto se juntava ao grupo.
– Nicholas, este é o Kyle Francis, pai da Carolina, lembra? – ele apresentou animadamente para seu filho mais novo um dos seus amigos.
–Sim, claro que lembro. – Nicholas abriu um sorriso um pouco fraco. Só eu que percebi que ele estava odiando isso?
Kyle apertou a mão do Nick em cumprimento. -Você cresceu! Está praticamente um homem feito. – apoiou a mão no ombro do Nicholas. -Então, seu pai e eu estávamos conversando como você tem potencial para herdar a liderança das Jonas Cicle.
–Ah, claro. Como sempre papai falando do seu trabalho e de seu futuro em minhas mãos... – Nicholas falou um pouco sarcástico. Pelo visto, Paul não gostou nada. Sua expressão se fechou automaticamente quando seu filho falou, mas logo tentou disfarçar ajeitando desnecessariamente sua roupa e rindo para seus amigos.
–E quem é essa bela mocinha? – Kyle perguntou mudando de assunto. Ele se dirigia a mim que estava um pouco acuada atrás do Nicholas.
–Sou Miley, estou namorando o Nick. - falei tentando discretamente enfatizar a palavra namorando. Bom, ele é pai da morena atiradinha... É melhor informar bem, né?
– Prazer em conhecê-la, Miley. – ele apertou minha mão simpaticamente.
–Prazer. – falei sorridente.
–Sabia que ela pretende seguir a carreira da administração, também? – disse Nick desviando atenção dele para mim.
–É mesmo? – perguntou Paul um pouco interessado. – Não sabia disso.
– Ela é bastante inteligente e ainda fala várias línguas. Ela também tem um ótimo futuro pela frente. – ele olhou pra mim tentando prender o riso. Ele estava querendo mesmo que ninguém mais prestasse a atenção nele.
–Pois é, muitas línguas. – concordei. – Mas se os senhores não se importarem, eu vou procurar o meu pai. Tchau. – De jeito nenhum eu iria ficar respondendo perguntas sobre de onde eu sou, que línguas falo e o que pretendo ser “quando crescer”. Nicholas que se vire com esses chatos.
Nick virou-se para mim com um olhar suplicante. Eu fiz um biquinho engraçado e dei de ombros. Ele riu. Então ele voltou à conversa com os poderosos enquanto eu me esquivava. Eu pedi ao garçom um copo de Whisky então ele foi buscar. Enquanto esperava quietamente sentada numa das cadeiras do jardim, uma voz um tanto sensual murmurou em meu ouvido me surpreendendo.
–Por acaso posso saber por que está sozinha num jardim? – por reflexo, olhei para trás. Era o Joe com aquela expressão de escárnio. Bufei.
–O que você quer? – perguntei cortante.
–Calma... Só vim fazer companhia. – ele se sentou ao meu lado com as mãos rendidas para cima. – Por que? Algum problema?
–Algum problema? – repeti a sua pergunta. Ri sem humor. – Eu quero saber quando não tem problema se você estiver envolvido.
–Pelo visto você não está gostando muito da minha presença. Por que será? Foi alguma coisa que eu fiz? -respirei fundo para não subir em seu pescoço e sufocá-lo até a morte.
No momento em que responderia, o garçom chegou com a minha bebida. Eu agradeci e ele foi embora novamente. Joe me fitava sem nenhuma discrição.
–Me deixa em paz, tá? Daqui a pouco o Nick está chegando e não quero que ele fique nesse clima ruim entre a gente. Sei lá, vai dançar, encher a cara, envergonhar seu pai... Tem tanta coisa útil pra fazer nessa festa e você está disposto a ficar me perturbando?
–Você não estava tão raivosa no dia em que nos encontramos no hotel... – ele repousou seu braço encosto do banco, virado pra mim.
–Cala a boca.- resmunguei depois que terminei minha bebida em dois goles. Estava um pouco forte, mas eu já estava acostumada. – Aliás, o que você quer comigo? Acho que nosso problema foi resolvido, não foi? – deixei o copo vazio em uma mesinha e cruzei os braços.
–Eu só quero saber por que está fugindo de mim, se como você falou o problema já está resolvido. Por acaso você ainda esconde algo de mim? – ele arqueou as sobrancelhas, falando agora em tom sério.
Sinceramente, esse Joe está desconfiado demais pra mim. Acho que se eu desse um murro no meio de seu nariz intocável de modelo, ele acreditaria em mim num passe de mágica.
–Pelo que sei, você já sabe tudo o que devo esconder. E se você não percebeu estou nervosa com você por justa causa. Ou você não sabia que garotas normais não gostam de ser chantageadas contra o próprio namorado? – respondi com o máximo de segurança possível. Pelas minhas palavras ele não mais desconfiaria. Sei mentir como ninguém.
Ele me encarou por um tempo dissolvendo minha desculpa. Aparentemente ele não desconfiou muito, porque pelo menos o que eu disse faz todo o sentido. O que mais uma garota de dezessete anos poderia esconder? Ou melhor, fazer? Ele se levantou vagarosamente do assento ao meu lado e voltou-se a mim.
–Então tá, né? Foi bom conversar com você. A gente se vê por aí, aspirante a vigarista.
O fuzilei com os olhos e ele riu. Então Joe saiu caminhando para dentro da festa. Ainda caindo numa desculpa bem feita como essa, acredito que mais uma garantia que Joe estaria longe quando eu estiver na minha procura seria ótimo. Por uma luz divina, a minha solução surgiu perambulando pelo extenso jardim.
–Carolina! – chamei. Em reflexo, ela olhou para minha direção. Fiz um gesto com a mão para chegar mais perto. Sei que parece loucura considerar uma ex-peguete do Nick a solução para a noite, mas me parecia um plano perfeito. Hesitante, ela veio até mim e sentou-se no lugar onde a segundos atrás Joe estava.
–Oi, você é a Miley, né? – ela tentou ser um pouco simpática, mas não muito entusiasmada.
–Sim, sou eu. – sorri amigavelmente. – Bom, eu chamei você aqui para conversar sobre um dos Jonas. - Seu semblante tornou-se confuso. – Porém não estou falando do Nick. E sim, sobre o Joe.
–Joe?
–O Joe mesmo! – eu falsamente olhei pros lados para garantir que ninguém ouviria. Então abaixei meu tom de voz, como se eu estivesse prestes a contar um segredo. – Eu estava conversando com ele há pouco tempo, e sem querer ele deixou escapar que estava interessado em uma garota. Mas ele não está se sentindo muito confortável para dar iniciativa, pois ela já teve algum caso com o Nick. Aí ele me contou que era você.
Carolina surpreendeu-se com a novidade. Ficou pensativa por um tempinho para absorver tudo. Então seu rosto iluminou-se.
– Está falando sério? – arregalou os olhos.
–Sim, mas ele se sente um pouco culpado por estar interessado em você, então ele tenta fingir ser um pouco indiferente. Porém, achei que isso não é nada de mais. – a garota assentiu em concordância. – Aí eu decidi dar esse toque pra você.
Ela sorriu agradecida com a informação. Pelo jeito, ela não estava tão gamada assim no Nicholas... Pelo menos Joe terá uma nova companhia essa noite.
–Você acha que devo investir nele? – perguntou um pouco insegura.
–Claro! Por que não? Afinal, ele não é de se jogar fora e nem você. Só peço um pouquinho de paciência, pois ele fingirá que não está interessado.
–Tudo bem, não me importo. – ela se animou. – Obrigada pela dica. Você é muito legal.
–Nada!
A Carolina levantou-se e foi para a festa. De longe lançou outro sorrisinho e aceno de mão. Eu acenei de volta. Quando ela saiu do meu campo de visão, comemorei silenciosamente. Como de usual, sempre consigo o quero. Meu dom de persuasão chega até me assustar um pouco, mas não tenho nada a reclamar.
Eu voltei ao interior da casa para falar com o Steve. Não demorou muito para avistá-lo conversando animadamente com um homem um pouco mais velho. Caminhei até eles. Meu tio riu de alguma coisa que o outro falou, então quando percebeu a minha presença, disse:
–Miles, você precisa conhecer esse cara. – disse apontando para o homem ao seu lado. –Ele é demais!
–Oi, sou Miley a filha dele. – eu me referi ao Steve, então apertei a mão do seu mais novo amigo.
–Prazer, Miley. Meu nome é Ryan Turner. – disse simpático. De imediato o reconheci pelo nome. Ele era o tal contador da empresa do Paul que tinha alguns atritos com o chefe. Meu tio como sempre, estava enxergando longe. Ele está se aproximando do Ryan para depois descobrir segredos da empresa. Qualquer coisa que nos ajude a roubar todo o dinheiro que pertence ao Paul.
Me virei para o meu tio. – Papai, será que não podemos conversar a sós só por um tempinho?
Ele assentiu, pediu licença para o Ryan e se afastou um pouco para falar comigo.
– O que foi?
–Vou subir daqui a pouco. – falei. Não precisou mais palavras do que isso para ele compreender sobre o que eu estava mencionando. –Se eu precisar, ligarei pro seu celular. Fique atento.
–Ok. Tenha cuidado! Ah! E o Joe? Está certa que ele não vai ficar te vigiando? – perguntou em baixo tom.
–Eu penso em tudo, Steve! Fica tranquilo, pois eu já resolvi esse problema. – sorri. Finalmente vou conseguir despistar aquele chato.
–Boa sorte.
–Obrigada, mas não preciso. Sou esperta o suficiente para me sair bem. – falei orgulhosa. Steve sorriu negando com a cabeça.
–Egos grandes demais podem atrapalhar uma missão inteira. Eu sei que você é ótima, mas não relaxe. – ele me orientou um pouco cético. É sempre assim. Ele é o cérebro: faz tudo muito bem calculado e com toda a cautela possível desviando-se das mais possibilidades de um desagradável imprevisto. Eu sou a emoção: Faço tudo que me der na telha, mesmo às vezes sendo um pouco calculista como meu tio. Sou muito levada pelas emoções e pelo imediato.
–Fica frio. Eu sei o que estou fazendo.- afastei-me e lancei um sorrisinho simpático para o Ryan Turner. Ele retribuiu com outro. – Espero que essa “amizade” dê em alguma coisa útil.
–E dará. – respondeu Steve que logo depois voltou-se para o Turner.
Olhei ao meu redor e então avistei Joe distraído conversando com a Carolina. Essa é a minha hora. Fui em direção à escadaria, mas fui interrompida quando alguém me se segurou pela mão.
–Para onde você vai? – perguntou Nick.
–Vou para o banheiro. – respondi de imediato. – Espero que não tenha uma fila muito grande na porta, pois estou muito apertada. – ri para quebrar o gelo. Ele sorriu divertido.
–Tudo bem. Se quiser, vai para a minha suíte se estiver muito cheio lá em cima.
–Ok. Obrigada, Nick. – dei um carinhoso beijinho em sua boca. – Voltarei logo.
Ele assentiu e eu finalmente subi as escadas. Quando cheguei ao segundo andar da casa, me certifiquei se Nicholas estava me olhando. Entretanto, ele já estava recebendo convidados do seu pai e alguns amigos seus. Por sorte, não havia ninguém naquele corredor. Talvez seja por causa de algum tipo de discurso que o Paul faria para a comemoração de mais um ano de sua empresa. Ouvi falar que ele fará daqui a pouco. Como não estou nem um pouco animada para ouvir essa ladainha, não há problema de fazer isso logo.
Tranquei o escritório no instante em que entrei. Apoiei minhas mãos na cintura e suspirei. Hora do trabalho. Observei todo o espaço antes de começar a fazer qualquer coisa. Quem sabe se a senha estiver escondia ali mesmo? Peguei da minha bolsinha um par de luvas e as vesti. Não é muito seguro expor minhas digitais aqui, ainda mais nessa noite. Se sentirem falta da algo minha marca não estará nesse lugar.
Remexei a estante. Procurei atrás dos livros, nos cantinhos dos móveis, até tentei abrir algumas gavetas, mas não guardavam nada de útil. Então fui verificar a mesa principal. Não achei nada além de papeis vazios e algumas cartas de agradecimento pelo convite. Tentei abrir a gaveta da mesa que estava trancada. Até tentei forçar um pouco, mas não consegui.
Opa! Tem alguma coisa grudada debaixo daquela mesa, e tenho certeza absoluta que não era chiclete. Quando fui tentar forçar a gaveta, minha mão que estava na parte de baixo da mobilha passou por algo fora do comum, talvez algum adesivinho ou papel. Então arranquei dali pra ver o que é. Era um papelzinho para lembretes.
“28011305”
Abri um sorriso logo quando percebi o que estava escrito. Ou o Paul fez uma aposta na loteria ou aquilo era a senha do cofre. Obviamente, era a segunda hipótese. Tirei o quadro da parede e digitei os respectivos números. Na tela do cofre, apareceu escrito “senha correta”,então abriu o cofre revelando o que se escondia a ali dentro.
Havia um colar ali. Um colar enorme e ofuscante com tantos brilhantes que compunham uma mesma joia. Uma coisa dessas deve custar milhões de dólares. Além disso, tinha um pouco de dinheiro, talvez para caso de urgência. Porém, não era isso o que eu esperava. Maços de dinheiro e um colar? Se eu roubasse isso, não faria diferença nenhuma na vida de um homem tão poderoso quanto Paul. Apenas a Christine sentiria falta de seu luxuoso colar que ganhou de presente.
Antes que fechasse o cofre de vez, avistei a discreta presença de um papel dobrado ao meio no fundo do esconderijo. Levada pela curiosidade esperança de algo produtivo para essa noite, fui dar uma checada no que se tratava. Ao ler, eu abria um sorriso ainda maior. Tentei dar pequenos e silenciosos pulinhos de alegria, mas logo desisti da comemoração ao lembrar do meu salto alto. Eu estava com informações de uma conta bancária do exterior do próprio Paul Jonas. Nem seus próprios funcionários saberiam disso. Aposto que ele guarda uma grande parte do seu dinheiro naquele banco. A outra parte ele deve guardar no mesmo banco da sua empresa. Admito que o Paul não é nada idiota ao fazer isso, ele está apenas assegurando da sua segurança financeira. Mas não esperto o suficiente para preocupar-se com sua casa exposta a convidados ambiciosos como eu. Dobrei o papel com carinho e enfiei dentro do meu vestido. Arrumei as coisas de volta e guardei minhas luvas na bolsa.
Após verificar se não tinha ninguém no corredor, saí da sala normalmente e voltei para a festa no andar de baixo. Steve me esperava ao pé da escada. Não sei porque, sentia o clima um pouco estranho, tenso. Algumas pessoas fofocavam entre si, outros covidados olhavam preocupados para outro ponto da sala, prestando atenção em algo. Pelo menos, a atenção não se voltava a mim, o que é um alívio e até estranho, pois as coisas estão começando a ficar mais fácies. Abri um pequeno sorriso ao meu tio deixando claro que eu consegui algo. Seus lábios curvaram-se em um sorriso satisfeito. Ele fez um sinal para mim fomos para um canto vazio e entreguei rapidamente o papel para ele. Steve pegou e guardou em seu bolso interno do paletó.
–Posso saber o que é isso?
–Qual seria sua reação se descobrisse que sua querida sobrinha tivesse conseguido todas as informações de uma conta no exterior num só papel? – falei orgulhosa.
Ele arregalou os olhos. – Não acredito!
–Comprove quando voltar para casa, mas leia tudo direitinho. – ri um pouco mais leve e bem-humorada.
–É por isso que você é a minha sobrinha favorita. – então ele beijou minha testa e eu soltei mais uma risada.
–Agora, se não se importa, vou procurar pelo Nick. Ele deve estar esperando há um bom tempo e não posso deixá-lo desconfiado. – falei dando as costas ao Steve e caminhando para o meio da festa.
Quando eu o avistei, por minha surpresa, ele não estava com aquele sorriso fofinho e ingênuo quando ele sempre faz quando me encontra, ou pelo menos aquele sorriso forçado para os amigos de seu pai. Ele estava irado. Gritando, pouco se importando com a plateia que se diz fina ao seu redor. Seu olhar não se dirigia a mim, e sim ao seu próprio pai. O ambiente não estava nada bom entre os dois.
–Já chega! Não suporto mais esse teatrinho em que você insiste em mostrar a nossa família perfeita. Você é podre, Paul Jonas. E pra mim já deu. – numa visão totalmente inédita para mim, Nicholas berrava para o próprio pai com traços expressivos duros.
–O que você vai fazer? – dessa vez, seu pai deixou a sofisticação de lado e adotou um mesmo tom de voz. – Nicholas, você não passa de um moleque mimado e revoltado. Você não tem poder nenhum sobre mim, sabe por quê? Porque eu sou seu pai. E é melhor você me pedir desculpas agora e se retirar pro seu quarto calado, antes que seja pior pra você.
–Vá sonhando que um dia eu vá te obedecer. Se você quiser algum babaca pra ficar te bajulando, escolha alguns dos seus convidados. – Nicholas abriu os braços se referindo a todos a sua volta. – Eu não suporto te encarar nem por mais um segundo.
Nick virou-se e foi em direção à saída. Christine fungava quietamente limpando uma lágrima do seu rosto. Envergonhada com o vexame, foi às pressas para o segundo andar. Provavelmente para o seu quarto. Paul ainda irritado passava as os dedos entre seus cabelos sem saber muito o como agir na frente dos seus convidados. Independente do motivo, hoje houve um significativo conflito na família. Chega a dar um pouco de pena da Christine, mas não posso deixar de confessar que estou adorando. Além do mais, eu não estou aqui para causar o caos, mesmo? Chega ser até um pouco divertido ver o destino trabalhando ao meu favor.
Porém eu só me dei conta que Nicholas realmente foi embora agora. Apesar de tudo eu ainda era considerada sua namorada. Precisava saber do que se tratava tanto escândalo. Corri o máximo que eu pude com dificuldade por causa dos meus sapatos, até alcançar Nicholas ainda discutindo com o manobrista na porta de sua garagem até o mesmo entregá-lo a chave de seu carro.
–O que você está fazendo? Pra onde você vai? – perguntei um pouco ofegante.
– Vou fazer o mesmo que o Kevin fez e o que já deveria ter feito a muito tempo. Vou embora daqui, sumir no mapa. – ele falou indiferente desativando o alarme de seu Ashton Martin.
Corri até ele antes que abrisse o carro e segurei a sua mão e virou-se finalmente olhando em meus olhos. Perguntei com um tom de voz mais suave.
–Nick... O que está acontecendo? Conta pra mim.
Ele suspirou derrotado. Acho que não era sua intenção me tratar indiferentemente.
–Me desculpa, tá bom? Eu sei que eu fui grosseiro com você, mas você não tem culpa de nada. – Nick acariciou meu rosto. – Só que não quero conversar com você aqui.
–Então, eu sei um lugar em que podemos conversar a sós. Duvido que você não ficará melhor.
Um pouco mais descontraído, Nick abriu um pequeno sorriso.

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